O Condenado Brasileira

Autor(a): Guilherme F. C.


volume 1

Capítulo 17: O segredo das bolhas

O quarto escolhido por Henry foi o segundo do lado direito do corredor, localizado em frente ao saguão de entrada e que tinha na porta o número três.

Sentindo-se no dever de liderar a visitação ― afinal essa era sua recomendação pessoal ―, o sujeito de aparência dócil abriu a porta do alojamento e deu passagem para que Tércio entrasse primeiro através de um gesto de mão sutil e um sorriso simpático. E assim que o garoto entrou sem qualquer cerimônia, ele o seguiu.

A jornada através do reino logo após ser libertado de uma prisão cruel estava fora dos padrões e das expectativas de vida do ex-prisioneiro, e foi ao entrar em sua nova acomodação que ele teve uma das grandes surpresas que encontrou ao longo de toda essa experiência.

O quarto era enorme, muito maior do que aquele da Hospedagem do Descanso. Dentro havia duas camas gigantes, separadas por um espaço considerável, preservando, dessa maneira, a privacidade dos ocupantes. Elas estavam forradas com colchas feitas de tecidos de algodão puro. E na cabeceira, três travesseiros rechonchudos, em cada, e posicionados de forma estratégica chamavam a atenção. Mas isso não era tudo. Em frente a cada uma das camas notava-se uma mesinha contendo alguns livros, além de lápis novos e outros materiais de estudo.

As paredes do quarto tinham sido pintadas de branco e no centro da dos fundos, entre as camas, uma cortina bege cobria parcialmente a janela.

Ali, não existia detalhes em ouro ou lustres feitos de cristais e adornados com joias. A única janela, apesar de grande, mostrava-se um adereço simples, sem falar que a cortina não era de seda. Mas o lugar era lindo!

Aquele, sem dúvida alguma, era o quarto mais luxuoso que Tércio já havia entrado.

― Agora não é possível ver, mas há um jardim muito bonito do lado de fora ― disse Henry, que foi até a janela e entreabriu o véu. Depois ele se virou, contornou a cama, e continuou a apresentar. ― Veja, também há um lugar reservado para colocar suas roupas. ― Nas paredes próximas às camas ficavam caixas retangulares de madeira que se estendiam do chão ao teto, com portas contendo dobradiças de ferro. O simpático homem foi até uma delas e a abriu, revelando um espaço aberto com algumas tábuas fixadas horizontalmente, além de algumas gavetas na parte de baixo.

― Num tenho nem cueca pra guardar aí! ― brincou Tércio e Henry sorriu meio sem jeito enquanto desviava o olhar.

Nos instantes seguintes, o nobre pertencente à família Valérios mostrou o resto do quarto ao jovem condenado ― não que existissem muitos segredos a serem revelados. Ele também disse que os quartos do dormitório tinham sido feitos para duas pessoas, o que se mostrou uma revelação pouco inesperada. Porém, quando as aulas começassem, o recinto seria dividido entre duas pessoas, colegas de quarto. Mas a vantagem é que, por ter chegado primeiro, o maltrapilho poderia escolher a cama que desejasse.

Tércio ficou um pouco confuso com tal comentário, pois estava pensando que só dormiria ali por essa noite, afinal não era um estudante e sim alguém contratado para trabalhar na segurança.

― Muito bem! Deixarei você sozinho agora. Sinta-se livre para ir onde quiser... menos ao dormitório feminino. ― brincou Henry enquanto dava uma piscadela. E antes de ver a reação provocada por sua piada, Valérios se virou e se preparou para deixar o recinto, mas não antes de lembrar que o jantar logo ficaria pronto.

Agora sozinho, Tércio tomou toda a liberdade que lhe faltou um instante atrás para explorar o dormitório. Ele folheou os livros, mas não leu nada em particular. Deu uma espiada no guarda-roupa e se lembrou que Eliza tinha lhe prometido comprar roupas novas. Aos seus olhos, as camas eram iguais, então não importava em qual passaria a noite. Contudo, sem a menor dúvida, pegaria os travesseiros do vizinho mesmo que fosse jogar todos no chão pouco antes de dormir.

E depois dessa breve sondagem, como ainda demoraria um pouco para o jantar, o garoto decidiu fazer algo que tinha despertado o seu interesse e isso era...

Tomar banho!

Antes de sair e percorrer o caminho que lhe foi ensinado, Tércio foi até o guarda-roupa e pegou um pano branco feito de algodão, que segundo Henry se chamava toalha e deveria usar para se secar após o banho. Ele sabia o que era uma toalha, mas de onde vinha apenas chamava de “pedaço de pano” ―  nunca tinha usado algo tão luxuoso, ainda mais para se secar. Em seguida, também aproveitou para deixar o saco de cânhamo dado por Eliza, contendo o Núcleo de Cristal do Tardo em um lugar seguro, ou seja, debaixo do colchão.

E então, depois de fazer tudo isso, jogou o pedaço de pano sobre o ombro e deixou o quarto.

Ele se achava principalmente ansioso com o jantar, mas também estava empolgado para tomar um banho, afinal já fazia muito tempo que não sabia o que era isso. Na hospedagem não teve a oportunidade de se banhar, então desta vez não perderia a chance de curar a pele suja.

Assim como antes, o lugar estava vazio.

Logo ao entrar, Tércio arrancou suas roupas sujas e as jogou em um canto no qual tinha certeza que permaneceriam secas. Não teve sequer um pingo de vergonha em expor a pele nu, apesar da ausência de outros indivíduos ou da possibilidade de um estranho invadir seu espaço particular. Suas cicatrizes horrendas, espalhadas por todo o corpo, fizeram-se evidentes agora que se encontrava descoberto por completo. Pouco podia ver das marcas de chicotadas desferidas no Coliseu dos Condenados graças ao tratamento de Eliza, que durante toda a viagem cuidou zelosamente de suas feridas, mas os vestígios de seu passado turbulento continuavam marcando cada centímetro de tecido externo, através de relevos anormais e desenhos abomináveis.

Assim que se despiu, o primeiro pensamento do garoto foi se jogar dentro da grande banheira fumegante que parecia implorar por sua presença. Contudo, seu coração era forte e assim decidiu, antes de qualquer coisa, experimentar a agradável queda proporcionada pelas canaletas na parede.

Acostumado a ter suas costas esfregadas pela mãe enquanto se acomodava dente de uma grande bacia de madeira com água marrom ― pois a ordem na casa era de grande importância e o mais novo sempre ficava por último ―, o camponês ficou muito animado ao experimentar um, assim chamado, “chuveiro”.

A sensação de gotas quentes caindo sobre sua cabeça, amassando o cabelo seboso e depois descendo ao longo de sua pele foi estranha a princípio. Não era a mesma coisa que ser aquecido de uma só vez. Entretanto, quanto mais tempo sentia o couro cabeludo ser bombardeado de uma altura que era o dobro da sua, mais percebia que estava gostando da experiência.

Como era acostumado a fazer, Tércio esfregou o cabelo usando a ponta dos dedos e esfregou a pele para tirar as manchas mais evidentes de sujeira. Porém, enquanto deixava a água fazer o resto do trabalho, seus olhos captaram algo caído num canto, quase escondido dentro de uma falha no piso. Tratava-se de um bloco retangular dotado de um amarelo apagado e repleto de pontos escuros semelhantes a pedaços de terra acumulada.

Aquilo chamou a atenção do garoto que deixou o chuveiro e atravessou o banheiro. Curioso, pegou um bloco retangular que se achava gasto em um dos lados e o cheirou. Sentiu um aroma sutil de cravo e flores silvestres, algo que lembrava vagamente o cheiro presente no lavado. E então, por algum motivo que também não entendeu, ele se atreveu a dar uma lambida no estranho objeto.

Aquilo fez seu rosto se contorcer, pois o gosto não era nada natural como um cravo ou pétalas de uma flor. Mas a artificialidade do sabor, despertou uma compreensão em Tércio.

― Sabão! ― exclamou, surpreso.

Sabão era um artigo citado entre os produtos mais luxuosos de todo o reino. Naturalmente, Tércio nunca tinha visto nem usado um, mas já havia escutado muitas histórias sobre o seu aroma perfumado e as bolhas mágicas que fazem quando são colocados na água. Sua mãe sempre sonhou em comprar alguns. Toda a vez que colocava as mãos em uma quantidade generosa de dinheiro ou visitava uma loja extravagante, falava: ― Da próxima vez, vocês vão ver! Vou comprar uma pra casa. Daí todo mundo vai ficar cheirosinho!

Diante de um item tão precioso, Tércio se considerou um verdadeiro sortudo.

Bastante curioso, ele outra vez voltou a cheirar o sabão e confirmou que de fato o cheiro era muito agradável. O próximo teste foi o do paladar. Mas como esperava, e já havia comprovado há alguns instantes, o gosto era terrível. E por isso cuspiu tudo conforme esfregava a língua e tentava tirar a massa presa nos dentes. Por fim, veio a última prova.

O camponês encheu um balde próximo com água do chuveiro, jogou o tablete dentro e aguardou...

Mas nada de extravagante ou mágico aconteceu. A cor da água mudou um pouco, transformando-se numa substância um tanto leitosa, porém não houve nenhuma bolha.

Frustrado, Tércio jogou a mão com força dentro do balde, mas quando fez isso, a água se agitou com violência, espirrando para todos os lados, e as primeiras bolhas começaram a surgir.

Notando o que tinha acontecido, ele tirou o braço da água e esperou por mais. O segredo estava no tempo, concluiu. Mas depois de alguns segundos nada mudou. Irritado, voltou a jogar a mão dentro do balde. E foi quando, assim como antes, outra mudança aconteceu: espuma começou a acumular nos cantos à medida que as bolas de ar explodiam.

Naquele instante, o ainda inocente ex-prisioneiro percebeu: o verdadeiro segredo das bolhas é mexer com força!

Assim sendo, ele segurou o balde com uma das mãos, enfiou o braço do lado de dentro e começou a balançar feito um louco tentando apanhar mosquitos usando uma rede.

O garoto estava tão empolgado que quando percebeu quase toda a água do recipiente tinha sido jogada fora. Mas o que restou, formou uma substância branca, espumosa e repleta de pequenas bolhas.

Hahaha! Isso é tão legal! ― comemorou, encantado. Ele sorria de orelha a orelha enquanto brincava com a espuma feito um gato brincando com uma bola.

Para o menino sujo ― embora não tão sujo quanto antes ―, que passou parte da vida em um casebre miserável e a outra na prisão, não havia nada mais divertido do que assistir aquelas bolhas estourarem.

Tércio tornou a encher o balde, mas desta vez jogou a água com sabão sobre a cabeça, como sua mãe sempre falou que deveria ser feito.

Ai! ― gritou de dor, pois esqueceu de fechar os olhos. Mas também, quem poderia julgá-lo. Jamais imaginou que algo tão encantador pudesse ser tão malicioso.

Contudo, apesar do ardor e da dor, isso não foi uma coisa tão ruim assim. Pois nesse momento, qualquer descoberta para o menino era algo bastante divertido.

Tércio limpou os olhos na água que corria pela canaleta e depois que a sensação excruciante diminuiu, tornou a virar o balde sobre a cabeça, mas agora com os olhos bem fechados.

Ele fez isso tantas e tantas vezes, que quando se deu conta, a barra de sabão tinha desaparecido por completo. Ficou chateado, porém já tinha se divertido tanto que não se importou muito. Seu único arrependimento foi não ter guardado um pouco para outro dia.

Agora que o sabão tinha acabado, Tércio decidiu ir para a banheira. No entanto, seu corpo ainda estava coberto por bolhas, então quando se jogou contra a água, uma grossa nuvem branca se espalhou, poluindo todo o recipiente.

Tércio, que havia aprendido a não afundar com seu irmão mais velho, flutuou e nadou pela banheira, tratando-a como se fosse uma grande piscina natural. Ela não era tão funda, mas era o suficiente para fazer isso.

Enquanto nadava, percebeu que em um canto da poça aquecida a água saía um tanto mais quente. Determinado a descobrir o porquê disso, ele mergulhou e quando sentiu a temperatura subir ainda mais, abriu os olhos.

Na região mais funda da banheira, existia um brilho escarlate. O garoto quis se aproximar e ver mais de perto a origem do brilho, mas foi repelido pela estranha sensação desagradável de irritação nos olhos, já que o calor não o afetava tanto.

Depois de voltar à superfície e esfregar o rosto por alguns instantes, Tércio se escorou na parte mais rasa e relaxou. A água era quente e agradável, no ponto certo. Era tão reconfortante ficar ali, que por um momento ele fechou os olhos sem qualquer preocupação e se permitiu ser dominado pela sonolência e tranquilidade.

Mas então, de repente, lembrou-se de algo muito importante...

O jantar!

Tércio ficou tão entretido com as bolhas de sabão que acabou se esquecendo do jantar. No começo, ele planejou se limpar bem rapidinho e ir direto para o refeitório, mas agora, depois de tanto enrolar, não havia dúvidas de que estava atrasado.

Então, logo tratou de sair da banheira, pegou a toalha que estava junto às suas roupas e se secou com a fúria de um touro tentando tirar a família de carrapatos do couro. Com seu longo cabelo ainda molhado, vestiu os trapos sujos e ensanguentados, trazendo de volta o odor desagradável para o corpo ― algo que só reparou depois de se perfumar usando o sabonete ―, e deixou a área de banho.

A passos largos, o faminto cruzou o corredor, mas quando alcançou a bifurcação que levava na direção do refeitório, de longe foi capaz de ver algumas pessoas nas mesas enfileiradas, apreciando suas refeições.

Ver aquilo o fez ter certeza de que estava muito atrasado. Assim sendo, ele começou a andar ainda mais rápido, até que por fim chegou ao quarto de número 3.

Quando Tércio girou a maçaneta para abrir a porta, ele escutou uma voz familiar vinda do corredor, de suas costas para ser mais específico.

― Finalmente o encontrei! ― O garoto se virou e se deparou com Henry Valérios, seu guia. O nobre estava um tanto quanto ofegante e trazia nas mãos um conjunto de roupas dobradas junto de uma bota preta.

― Quer algo comigo? ― questionou o jovem com rispidez.

― De certa forma... ― exibiu um meio sorriso impassível. ― A Srta. Wovous mandou que eu lhe entregasse essas roupas. – Henry se aproximou para entregar o conjunto que tinha em mãos, mas quando chegou perto do garoto parou, esticou o pescoço e fungou algumas vezes, feito um cão farejando algo interessante. – Ah! você achou o sabonete que estava guardado na gaveta da mesa! Eu tinha me esquecido de falar sobre isso, por isso fiquei preocupado que não o encontrasse. Mas parece que me preocupei por nada.

– Sabonete? Então tem mais daquilo?! – Disse Tércio se sentindo alegre pela descoberta.

― Claro que sim! Faz parte da higiene básica dos alunos e a academia faz questão de fornecer. ― explicou o nobre divertindo-se com a euforia do menino. ― Se o seu acabar, basta pedir mais.

Tércio ficou muito feliz em saber que poderia conseguir mais algumas daquelas coisas cheirosas. Depois de hoje, seu sovaco nunca mais voltaria a ter o cheiro do traseiro de um Troll e não voltaria a atrair ursos quando entrasse na floresta.

― Então isso aí é pra mim? ― indagou, fazendo um gesto com a cabeça.

Ah... Sim, elas são para você. ― Henry entregou o conjunto de roupas que estava segurando ao garoto que as recebeu de bom grado.

Impaciente como era, ele queria desdobrá-las ali mesmo, para ver como eram, mas Valérios o interrompeu antes que agisse feito um animal sem etiqueta.

― Porque a gente não entra, para você ver se são de seu agrado? ― sugeriu. Ele abriu a porta do quarto, mas Tércio não disse nada, nem se mexeu.

― O que foi? Aconteceu alguma coisa.

― É só que... Comida... ― murmurou parecendo abatido. Para o garoto, nesse momento, mais importante que vestimentas novas, era a comida. E como já havia perdido muito tempo no banho, não queria se arriscar a perder ainda mais olhando para um conjunto de tecido bonito e novo e acabar ficando sem jantar.

― Não se preocupe com isso. Quando eu estava a sua procura, passei pelo refeitório e me disseram que você ainda não havia passado por lá. Assim sendo, tomei a liberdade de pedir que reservassem a sua refeição.

― Para um cara enfeitado, você até que é prestativo, hein! ― Tércio abriu um sorriso animado e sem desgrudar os olhos do conjunto, ele abriu a porta e avançou. Estava ansioso para vesti-las.

Os dois entraram no quarto. Tércio colocou as roupas e a bota sobre a cama e jogou a toalha contra a mesa, em cima dos livros. E Valérios permaneceu de pé, próximo da porta.

Antes que desdobrasse as roupas, o ex-prisioneiro perguntou:

― Porque a tal conselheira megera resolveu me dar isso?

― Conselheira Megera? Esse é um bom nome ― brincou. ― A Dir.ª Eliza disse que você entraria para a equipe de subjugação e a Srta. Wovous mandou que eu lhe entregasse os uniformes, assim você poderia usá-los até comprar algo mais... apropriado.

― Então, resumindo, é pra eu não ficar andando com esse “pano de chão” por aí, né? ― concluiu Tércio, bastante sagaz. E Henry forçou um sorriso desajeitado em resposta. Mas o garoto não ficou zangado nem nada do tipo. ― Uniforme, hm... ― murmurou antes de começar a desdobrar as roupas e separá-las.

No total havia dois conjuntos e eles eram assim:

Uma das coleções era formada por uma calça e uma camisa branca de manga longa. E apesar da simplicidade aparente, a vestimenta superior possuía alguns detalhes que a distinguia.

Cinco botões de prata que a atravessavam de cima a baixo e duas linhas prateadas, bordadas em cada um dos braços, próximas ao pulso, destacavam-se na parte da frente. Mas o bordado que mais chamou a atenção, foi o desenho de uma ave que estava do lado esquerdo, na altura do peito. A ave estampada na camisa abria suas asas majestosamente feito um animal real acariciado por sopros divinos. Seu pescoço longo fazia uma leve curva com a cabeça voltada para baixo, como se estivesse olhando os insetos que se arrastavam pelo chão. E para completar, a cauda era formada por três penas que em algum momento esqueceram de parar de crescer.

Tércio não teve nenhuma dificuldade para reconhecer o desenho, afinal aquele era o brasão da família real de Aurora.

O outro conjunto era em essência idêntico ao primeiro, exceto as cores que os diferenciavam e um brasão distinto. Esse, ao contrário do anterior, era formado por uma calça e uma camisa de manga longa preta.

A calça não trazia nenhum detalhe, quase como se tivesse sido criada para camuflar em meio a mais profunda escuridão. Por outro lado, a camisa dispunha de botões e linhas douradas que reluziam repleta de pompa e ostentação. E no peito, no lugar do brasão da família real, havia outro desenho. Bordado com fios de ouro, um ser alado estufava seu peito orgulhosamente enquanto mantinha suas asas entreabertas. Seu bico pontiagudo mirava o céu, visando um futuro distante. E sua longa cauda caída próxima das patas dianteiras, que possuíam garras afiadas e intimidadoras, exibia uma graciosidade invejável.

O desenho estampado no conjunto de roupas pretas era a imagem de um majestoso Grifo.

O mesmo Grifo estava desenhado na carruagem de Eliza e em uma presilha que ela sempre mantinha na cabeça. Assim como, nas armaduras de alguns soldados que ele vira quando chegou na academia.

Junto ao conjunto de roupas, também havia um único par de sapatos pretos. O calçado era longo o suficiente para cobrir metade da canela de Tércio e fixado ao canudo dele existiam dezenas de pequenos ganchos, que era por onde a fina corda, usada para prendê-lo, passava.

O garoto ficou encarando as roupas por um momento. Não acreditava que elas de fato pertenciam a ele. Parecia mais uma armadilha para atraí-lo. Jamais em sua vida, nem em seus devaneios mais delirantes, imaginou que um dia usaria tecidos de tão alta qualidade. Mesmo que fossem meros uniformes de trabalho, ainda assim, eram encantadores.

Mas havia algo que o estava incomodando.

― Qual é a dos brasão diferentes? ― questionou com uma voz desconfiada enquanto olhava de lado para o sujeito lhe fazendo companhia.

― O branco, é o uniforme da academia Elefthería, que é patrocinada pelo reino. Por isso tem o brasão da família real. E o preto, é o uniforme da equipe de subjugação, que é patrocinada pelo Duque Griffon, dos Griffon. – Esclareceu Henry mantendo um tom ponderado.

― Se é assim, por que tá me dando o branco?

Hm? Bem... todos os alunos devem usar. ― informou Valérios com as sobrancelhas arqueadas.

― Então deve ter havido algum erro, porque eu não sou aluno. Eu só estou aqui para trabalhar. ― Tércio se virou para a cama em que as roupas estavam, e começou a embolar o uniforme da academia de qualquer maneira...

Percebendo que o menino pretendia lhe devolver as roupas, Henry logo se manifestou:

― Espere. Por enquanto, fique com eles. Primeiro eu vou confirmar isso com a Dir.ª Eliza e depois eu volto para vê-lo. ― O atencioso “assistente” da conselheira parecia um tanto confuso. Mas no fim, decidiu preservar os próprios pensamentos por enquanto. ― Irei me retirar agora.

Após dizer isso, Henry saiu do quarto em busca de Eliza para que ela pudesse esclarecer suas dúvidas.

 


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