O Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Henrique Ferreira


A1 – Vol.2

Capítulo 31: Um missão não requisitada

A sensação era estranha, era como se voassem sem sair do lugar. Sentiam algo como o vento em seus cabelos, uma brisa calorosa, de fim de tarde. Todas as direções eram iluminadas pelo globo de energia branca e, mesmo sendo muito forte, não incomodava as pupilas.

Quando sentiu seus pés tocarem um solo desconhecido, Yohane se perguntou onde poderia estar. Até que a luz chegou aos seus olhos e viu algo difícil de acreditar. O céu era estrelado e escuro, mas ao mesmo tempo, colorido e iluminado. Como uma grande nebulosa no espaço, dançando em tons de violeta, azul e verde.

Eles estavam em um caminho íngreme de madeira, e as rachaduras do chão eram iluminadas com cores arco-íris. Não havia nada no horizonte além das estrelas, mas Magda e Tera não pareciam nem um pouco assustadas.

— Onde estamos? — perguntou Jô.

— Nas raízes de Yggdrasil... — Magda respondeu como se fosse uma terça-feira à tarde. — Tera, lidere o caminho. Eu me perco facilmente nesse lugar.

Tera assentiu e pulou do colo da dona, indo na frente.

— Pera, Yggdrasil?  — Adam chamou a atenção da mulher. — Então quando sua raposinha disse que era a deusa do sol, ela tava falando que é a deusa nórdica do sol, Sigel?

A pequena feneco riu.

— Não, Sigel morreu séculos atrás, durante o Ragnarök. — Pulou novamente no ombro de Magda e se apresentou. — Meu nome é Amaterasu, deusa do sol do panteão nipônico. Espero que estejam ao meu dispor, mortais.

O sorrisinho debochado na face peluda da raposa divina deixava os nervos do alemão à flor da pele. Ela desceu e eles continuaram andando.

— Tudo bem, eu tenho que começar a aceitar as bizarrices que existem nesse mundo. — Pride bateu as mãos nas bochechas e se acalmou. Estava na presença de uma deusa e, mesmo que Tera não tivesse dado nenhuma prova da veracidade daquela declaração, Jô sentia que não era mentira. — Mas se você é japonesa, como pôde acessar esse lugar? Yggdrasil não é parte da mitologia... Viking? — encarou Adam com olhar de dúvida, e ele a corrigiu: “nórdica”.

— Vocês mortais são engraçados quando pensam que suas “mitologias” são dimensões que existem separadas umas das outras. A verdade é que na Era de Ouro dos deuses, todos nós vivíamos no mesmo mundo, apenas em reinos diferentes. Alguns de nós até faziam amizade com os de outros reinos, principalmente se representássemos a mesma coisa.

— Então você era amiga da Sigel? — perguntou o alemão.

— De Sigel, de Hélio e de Guaraci. Eu também me dou bem com a Chang’e, mas só por que ela é amiga do meu irmão. A amizade entre deuses era comum, mas ela era tão frágil quanto um galho seco de cerejeira. Quando o Ragnarök teve início e os portões de Asgard foram destruídos, Odin implorou para os outros deuses lhe ajudarem. Não houve resposta, mas sei que todos ouviram..., pois, eu também escutei e decidi não ajudar. A escala do Ragnarök não podia alcançar outros reinos, mas se intervíssemos, os Jotun poderiam retalhar e atacar os deuses que apoiaram Odin. E, se isso acontecesse, eu não seria capaz de defender minhas terras sozinha. Principalmente por que já tinha os problemas com Susanoo para lidar.

— Então, ninguém ajudou ele? — Yohane perguntou, melancólica.

— Não. Zeus até chegou a respondê-lo. Mas ele disse a mesma coisa, que não poderia arriscar seu reino. E assim, a guerra consumiu Asgard em chamas, aniquilando oito dos nove reinos e matando todos que estavam no caminho. Porém, em um último ato altruísta, Thor salvou sua segunda amada, Hilda, e todo o povo dela, enviando-os através de Yggdrasil à uma ilha remota. Todo o povo de Alfheim foi salvo, sendo a última lembrança daquele mundo que se foi.

— E é para Alfheim que estamos indo. — Magda concluiu e eles viram um barreia arco-íris no formato de uma porta. Todos a atravessaram; a dupla novata estava meio relutante, mas o fizeram, e um forte clarão deixou tudo branco. Novamente, sem machucar os olhos.

Até que foi ficando mais fraco, desaparecendo gradativamente e, quando se dissipou por completo, o quarteto já se encontrava em outro local. Era um saguão aberto, feito de tijolos e com uma aparência clássica. Atrás deles, uma grande estátua com cerca de seis metros de um homem segurando uma espécie de martelo. Os olhos da pequena canina voltaram ao normal, com a coloração dourada de antes. Adam e Yohane estavam totalmente confusos, sabiam o que tinha acontecido, mas não entendiam como. Eles conversaram no caminho mas, ao mesmo tempo, pareceu apenas como um piscar de olhos. Foram teletransportados pelo espaço e foram parar sabe se lá onde. Na verdade, sabiam onde estavam, Magda acabara de lhes dizer.

Antes de poderem questionar, ouviram passos pesados e, em poucos segundos, foram cercados por guardas vestidos por armaduras e portando espadas e lanças de energia luminosa. A ruiva e o alemão ficaram em guarda, prontos para a luta, mas Magda parecia procurar por alguém em meio aos soldados. Até que uma voz feminina madura chamou por seu nome.

— Magda? É você, querida?

Uma mulher morena de longos cabelos azuis caminhou dentre os guardas que abriam espaço. Suas vestes eram brancas e decoradas por pétalas de lavanda, mostrando muito de sua pele lisa. Em sua cabeça, uma tiara prateada ornada com safiras e ametistas. Suas orelhas eram pontudas e apontavam para cima como antenas, tendo cerca de quinze centímetros de comprimento.

— Hilda, por que toda essa comoção? Achei que já tinha se acostumado com o modo que faço minhas viagens até aqui.

— Não, claro. Perdoe a segurança extra, sua visita apenas foi inesperada. — Ela pediu para os guardas se retirarem, e assim fizeram. — Mas então, ao que devo sua visita com seus... amigos?

— Santo Cristo, um elfo! É um elfo de verdade, Adam! — Yohane cochichava para seu companheiro, admirando as longas orelhas de Hilda.

— Ahem! — O alemão beliscou a lombar da ruiva, que deu um pulo e se recompôs. — Peço perdão pela aparição repentina, Majestade. Meu nome é Adam Hoffman, essa ao meu lado é Yohane Pride. Estávamos em apuros e Magda nos trouxe até aqui.

O modo culto e formal que Adam falou com a mulher elfo foi tamanho que fez o rosto da jovem sardenta se torcer em estranheza.

— Como você sabe que ela é alguém da Realeza? — perguntou Jô, apenas para que Hoffman ouvisse.

— Se você tivesse lido os arquivos que a Maeve te entregou na sua primeira semana de treinamento, saberia muito bem o quão importante ela é. Agora fica quieta!

Hilda sorriu.

— Guarde as formalidades, Sr. Hoffman. Todos os amigos de Magda são bem-vindos em Nova Alfheim. Mas então, querida, — Voltou sua atenção para Vernichter. — Que confusão se meteu dessa vez?

— Longa história... Cadê a Astrid? Ela não atende minhas ligações há alguns dias.

Hilda virou o rosto, entristecida. Por algum motivo, sentiu-se constrangida.

— Vamos para o Salão do Conselho, eu explico tudo lá.

Eles seguiram em silêncio. Ou quase, já que Tera, que estava nos braços de Yohane, respondia aos questionamentos da sardenta impressionada. Nunca tinha visto algo que a deixasse tão extasiada. Mesmo que tivesse acabado de fazer uma viajem através das raízes de uma árvore mágica, as orelhas da Rainha eram ainda mais impressionantes para ela.

Observava as costas de Hilda, seu caminhar delicado, quase divino.

— Limpa a baba, ruiva.

— Me deixa em paz! Olha essa mulher, meu Deus.

— Curte as mais velhas então, né? — Adam sorriu sarcasticamente e deu um tapinha nas costas de Yohane

Com um sorriso desconfortável, Hilda chegou às portas duplas do Salão com seus convidados, onde dois guardas as abriram.

— E então, o que houve? — Magda estava tensa. Não ver Astrid ali deixava seu coração angustiado.

Hilda respirou fundo e respondeu.

— Três dias atrás o castelo foi invadido por seres mágicos... E Astrid foi sequestrada.

— Espera, o quê?! Três dias?! Quando pretendia me contar?! — A mulher socou a mesa circular no centro do salão.

— Eu não pretendia, mas como disse, sua visita foi... inesperada.

— Merda, Hilda! Você ao menos sabe quem fez isso?

— O rastro mágico deixado é élfico. E, considerando a rixa que temos, não duvido que tenham sido...

— Os elfos negros. Merda...

— Sim. Provavelmente, sequestraram Astrid para conseguirem mais espaço de terra.

— Se você não os tivesse banidos, isso não teria acontecido.

— Eu fui misericordiosa em apenas os banir para os limites da ilha. Elfos negros são a escória que sobrou de nosso antigo mundo, e eu não deixaria meu povo viver com eles, mas Astrid me convenceu de não os executar. E olha onde isso a levou.

Magda passou a mão no rosto e se acalmou.

— Tá, e então, o que está esperando? Por que não foram atrás dela?

— Estava me preparando. Eles podem ser asquerosos, mas não podem ser subestimados. Não posso fazer uma investida com todo o exército, afinal, Astrid poderia se ferir e, pior, o castelo ficaria desprotegido. Logo irei pessoalmente junto com meus melhores homens. E, já que está aqui...

— Não precisa nem pedir. Eu queimaria toda a América pela Astrid.

Hilda sorriu e colocou a mão no ombro da mulher.

— Existem poucas coisas das quais me arrependo, Magda. Quase ter te matado quando pisou em minhas terras pela primeira vez, é uma delas.

— Também vou ajudar. Se acontecer algo com a Astrid, a Magda vai ficar insuportável — disse Tera.

— Seus dois amigos podem ajudar, também? — Hilda olhou para Adam e Jô. — Sinto que eles são fortes.

— Claro, mas não de graça. — O alemão respondeu rapidamente.

— Adam!

— Perdoe minha grosseria, majestade. Mas não nos conhecemos, e não posso arriscar minha vida e a da minha parceira pela princesa de um reino que não é meu. Não de graça.

— Qual o teu problema? — Yohane se indignou. — Você tá querendo cobrar pra salvar uma vida?

— Diferente de você, eu não tenho fetiche em orelhas grandes. E, também, não tenho interesse em entrar numa guerra sem receber nem um biscoito em troca.

— Não, ele está certo. Diferente de Magda e Amaterasu, vocês não têm motivos pessoais para ajudarem, logo, é uma condição justa. O que deseja, sr. Hoffman?

— Armamento e alojamento temporário. Estamos sem equipamento desde nossa última batalha e agora somos procurados internacionais. Até resolvermos isso, gostaria de poder ter um lugar seguro para dormir.

— Nem uma pepita de ouro? — Hilda se surpreendeu.

— Ouro é difícil de trocar, principalmente quando seu rosto está estampado nos jornais com a palavra ‘terrorista’ ao lado.

— Acho curioso o modo como você esconde sua honra, sr. Hoffman. — A Rainha sorriu. — Aceito o pedido. A sala de armas do castelo está aberta para você e à srta. Pride. Também serão bem-vindos em minhas terras até resolverem suas pendências no continente.

— Obrigado, majestade.

— Me chame de Hilda, por favor.

Adam assentiu e um guarda acompanhou os dois até a sala de armas.

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora