A1 – Vol.2
Capítulo 30: Fugitivos
Do outro lado da ponte, Yohane seguia o grito desesperado, que ansiava por ajuda.
— Ah, merda! Socorro! Meu cinto emperrou, alguém me ajuda, pelo amor de Cristo!
— Achei! Estou indo!
Jô avistou o homem, na cabine tombada do caminhão. Ela subiu na lataria com facilidade e olhou para o motorista lá dentro, seu rosto expressava um terror profundo.
— Garota, por favor, me ajuda! Eu tenho filhos, não posso morrer aqui!
— Se acalma, senhor. Vou tirar você daí. — Ela olhou para a porta fechada e franziu a testa. — Eu só tenho que descobrir como...
Poderia derreter as dobradiças da porta, mas não queria arriscar, usar seus poderes perto de um caminhão de combustível que acabara de tombar era muito perigoso. Então, tentou simplesmente abrir a porta, porém, estava emperrada.
— Merda, o que eu faço?
“Primeira regra: Você é muito mais forte do que as pessoas comuns. Dependendo da situação, você pode até conseguir levantar um carro com apenas uma mão. Mas essa força é perigosa, então você tem que usar ela com extrema cautela.”
A voz de Maeve ecoou em sua mente outra vez, e ela teve uma ideia.
— Se ela estiver certa...
Cerrou o punho, respirou fundo e com apenas um soco, atravessou a porta, a arrancando e a lançando no rio.
— Puta merda, deu certo! Okay, vamos com calma, agora.
— C-como você fez isso, menina?
— Você não acreditaria se eu dissesse. Enfim, eu vou soltar o cinto agora, senhor. Se segura.
Ele assentiu e segurou o volante com as duas mãos. Jô apertou o cinto com a mão e o derreteu, liberando o motorista antes preso.
— Isso! Estamos quase lá, agora me dê sua mão.
O homem segurou o pulso da ruiva, que o puxou para cima com cuidado. Quando ele finalmente estava de pé na lataria, Yohane também o ajudou a chegar ao solo.
— Pronto, pronto. O senhor está bem?
— Estou, graças a você. Não sei como fez aquilo garota, mas obrigado.
— Você teve muita coragem!
Alguns curiosos que estavam ali começaram a aplaudir Yohane, agradecendo pelo ato heroico da garota. Pela primeira vez na vida, ela se sentiu grata e feliz, pois tinha salvo uma pessoa.
Mas algo estava estranho. Sentiu algo molhar a sola de sua bota. Olhou para o chão, um líquido preto se amontoava ao redor dela, vindo de um local muito específico. Vendo a origem daquele liquido, a jovem tremeu, e tentou pedir para que todos saíssem dali imediatamente.
Mas não foi rápida o suficiente, uma grande quantidade de combustível já havia vazado do caminhão, e antes que Jô pudesse sequer piscar, o tonel explodiu, a lançando para o rio com uma força colossal.
***
Adam levantou com dificuldade, seu corpo estava dolorido mas não tinha ferimentos muito graves.
— Ah, essa vai doer amanhã...
Uma explosão ocorreu metros à frente, e o alemão pôde ver várias pessoas sendo carbonizadas instantaneamente. Foi uma visão difícil de se encarar.
Ao mesmo tempo, também viu a silhueta de uma garota com cabelos da mesma cor das chamas voando para o rio. O caçador presumiu que aquela era Yohane, pulando no rio ao resgate. Submerso, logo viu a garota inconsciente, com suas vestes brancas intactas, e mergulhou para salvá-la.
Poucos minutos depois eles saíram da água, ficando na beira do rio, logo abaixo da ponte. O corpo carbonizado da garota deixou Adam em choque, mas sua pele rapidamente começou a se regenerar, deixando Jô da mesma forma que estava antes. Mais à frente era possível ver o estrago que a explosão fez no concreto.
— Argh, minha cabeça. — A jovem despertou cuspindo água e tossindo, como que engasgando.
— Ruiva, levanta. A gente tem que ir embora.
— Ah, Deus, o que houve? As pessoas na ponte, elas estão bem?
— Não temos tempo pra isso, vamos logo. — Ajudou a ruiva a se levantar enquanto seus dentes batiam um contra os outros por conta das temperaturas negativas. — Puta merda, que frio!
— Adam... O que você tá fazendo?
Yohane se viu sendo abraçada e, logo em seguida, levantada pelos braços de Adam, que esfregava sua bochecha no cabelo da garota.
— Eu não tenho culpa de você ser uma fonte de calor ambulante!
E ele saiu em passos apressados, com as bochechas coradas.
***
Após evitarem ruas movimentadas e fazerem paradas constantes para Adam poder se aquecer com o calor emitido pela garota que o acompanhava, a dupla alcançou o endereço enviado pelo Comissário quase três horas depois de saírem da Ponte.
A casa de Vernichter ficava em um prédio pequeno na Grove Lane, no bairro de Camberwell. Atravessando a rua, eles ficaram de frente a entrada e observaram os arredores. Não havia ninguém. Provavelmente pela época do ano todos estavam de férias ou apenas dentro do aconchego de seus lares.
Yohane segurou a maçaneta e rapidamente a derreteu, permitindo a entrada dos dois. O prédio era bonito por dentro, quase tudo era feito de madeira e os ornamentos, mesmo que parecessem antigos, estavam muito bem conservados.
— O quarto dela fica no segundo andar, vamos ver o que descobrimos — disse Adam, que subiu na frente de Jô.
Alcançando a porta do apartamento, Pride derreteu a maçaneta da mesma maneira que fizera anteriormente.
Adentraram o apartamento, era pequeno, talvez apenas a mulher Vernichter vivesse ali. Observando tudo com cuidado, nada parecia anormal. Na verdade, quem visse nem pensaria que ela era uma assassina.
— Bom, isso explica por que o Comissário não desconfiou dela. Mas eu não tô vendo nenhuma raposa — comentou Adam.
— Talvez não tenha mais, essa mulher foi interrogada quando a Violet ainda estava por aqui, não é?
No raque, próximo da televisão, havia algo que chamou a atenção do alemão. Um porta retrato, com uma foto de família. Quatro pessoas; dois adultos e duas crianças. Uma delas não parecia ter mais de oito anos.
A mulher e as crianças não eram familiares para ele, mas o homem sim. Ele reconheceria aqueles olhos e aquele sorriso em qualquer lugar. Mesmo que parecesse mais novo, não havia dúvida que se tratava de seu pai, Marko.
— Mas que merda? — Tirou uma foto do porta retrato com o celular.
— Maggie, é você? Espero que tenha comprado o salmão que eu pedi!
Uma voz feminina infantil gritou dos fundos do apartamento, fazendo a dupla ficar em guarda.
— Hein, me responde sua brutamontes. Ou você ainda tá brava pelos pratos que eu quebrei?
Os dois permaneceram em silêncio.
— Ah, qual é, Maggie! Foi um acidente, eu já pedi desculpas. Você não vai me fazer passar fome só por causa disso, né?
Silêncio.
— Maggie, é você que tá aí? — A voz infantil tomou um tom de seriedade, e quando não houve resposta, ela também aderiu ao silêncio.
Segundos depois, a dupla ouvi passos leves, seguidos por um som que lembrava as de garras tocando o chão. Na escuridão do corredor que levava ao quarto, duas gemas amareladas brilharam e os encaram. Um rosnado feroz foi ouvido.
Se aproximando da luz, uma fera pôde ser vista se aproximando lentamente. Um lobo branco com padrões espirais de cor vermelha espalhada nos pelos.
Ele rosnava e não tirava os olhos dos dois mas, por algum motivo, não atacava. E continuou dessa forma por cerca de dois minutos. Até que uma voz um pouco rouca foi ouvida abrindo a porta atrás da dupla.
— Então vocês já conheceram minha colega de quarto. Posso saber como descobriram onde eu moro? — Era Vernichter que chegara, segurando uma sacola de mercado.
Adam e Yohane se afastaram para o canto da sala, sendo encurralados pela mulher e seu lobo.
— Olha, eu sei que a gente começou com o pé esquerdo, mas pela milésima vez: eu não quero brigar! Até por que você já me venceu. Então, pode, por favor, escutar o que eu tenho a dizer? — Adam falou com as mãos levantadas, sem a mínima intenção de continuar a batalha de antes.
Vernichter assentiu e foi até o lobo, acariciando seu pelo. A fera perdeu total interesse na dupla e começou a encarar a sacola da dona.
— Você comprou o salmão! — O animal pulou sobre a mulher, mas de algum modo, ela nem se moveu. Na verdade, o lobo tinha desaparecido, e o que restara era uma pequena raposa feneco que lambia o rosto da “colega de quarto”.
— Mas o que? — Yohane ficou totalmente confusa.
— A ignorem e falem de uma vez. O que querem comigo? Vocês devem ter um bom motivo pra virem até minha casa após eu quase matar os dois.
— Certo, é o seguinte. Meu nome Adam Hoffman, essa é Yohane Pride. Somos caçadores da Academia de Nova York e, por um motivo bem pessoal, eu precisei vir até aqui conversar com você. — Adam abaixou as mãos, começando sua explicação. — Nos últimos meses eu enfrentei algumas criaturas, e mesmo não tendo nada em comum umas com as outras, elas insistiam em me por um nome muito específico. Um nome que não significa nada pra mim, mas por algum motivo, é o seu nome. Todos eles insistiam em me chamar de Vernichter. E como todos eles ou estão mortos ou são poderosos demais pra eu dar conta sozinho, tive que improvisar. Fiquei sabendo de uma mulher que era suspeita de ser um nefilim em Londres, então vim até aqui perguntar: Qual diabos é a nossa ligação... e por que caralhos você tem uma foto de família com o meu pai?! — Apontou para o porta retrato.
Vernichter arregalou os olhos e encarou o porta retrato. Ela apertou o pingente em seu colar e uma lágrima escorreu por sua cicatriz.
— Seu pai... se chama Marko Hoffman?
— Sim.
— E sua mãe? Qual o nome dela?
— Eu não conheci minha mãe. Meu pai disse que ela nos abandonou quando eu ainda era bebê.
Sua expressão mudou abruptamente, estava irritada.
— Então foi isso que ele falou?! Depois de tudo, ele sequer falou quem ela era... Quem eu era?
— Espera, o que? Do que você tá falando, você conheceu minha mãe?! Quem é você?
— Meu nome é Magda Vernichter, e se você for mesmo filho do Marko... Eu sou sua irmã, Adam.
Os olhos do caçador se arregalaram com a declaração sem sentido. Até onde sabia era filho único, seu pai nunca comentara sobre ter outros filhos. Mas isso explicaria o porta retrato. Mesmo assim, não queria acreditar naquilo, pois significaria que toda a sua história familiar que conhecia era uma mentira.
— O que? Não, não. Eu não tenho irmãos, sou filho único. Me fala a verdade, quem é você, e por que os meus inimigos estão me chamando pelo seu nome?!
Magda não conseguia responder. Ela estava com lágrimas nos olhos, olhando para o jovem à sua frente.
— Ah, gente. Eu detesto interromper a reunião, mas... Acho que vocês estão um pouco encrencados.
A pequena feneco agora estava no sofá, com o controle remoto da televisão entre as patas felpudas. Aumentando o volume, os três que discutiam voltaram a atenção para a reportagem.
— Estamos aqui na Ponte Westminster, onde um ataque terrorista ocorreu poucas horas atrás, matando sete pessoas e deixando mais três gravemente feridas. Três indivíduos altamente armados fizeram coisas inexplicáveis nesta manhã, destruindo não só essa ponte, mas muitas vidas. As imagens a seguir podem ser fortes para algumas pessoas, então assistam com cautela.
A reportagem mostrava a batalha de Magda e Adam, e logo cortava para a cena de Yohane no caminhão. A edição fazia parecer que ela tinha explodido o caminhão propositalmente, matando aquelas pessoas.
— Então... Elas morreram?! M-mas eu estava tentando salvá-las. Não, não, não. Eu não explodi aquele caminhão, eu tentei tirar as pessoas dali mas não deu tempo! — A ruiva exclamava com os olhos arregalados, encarando a tela.
— Ruiva, se acalma. Não foi sua culpa. A vadia da Rochelle adora fazer isso, tirar as coisas de contexto pra conseguir mais ibope. Não foi sua culpa! — Adam segurou os ombros dela.
— Você... Por que você não me falou?! — Ela se afastou, irritada.
— E o que adiantaria?! Seus surtos não iriam trazer aquelas pessoas de volta!
Adam gritou irritado, fazendo a garota recuar ainda mais. Lágrimas escorreram e ela foi até a janela, irritada.
— Após uma busca de nossa equipe, conseguimos identificar os três terroristas responsáveis por essa atrocidade. Na tela, mostramos o rosto e nome deles para vocês. E lembrem-se, se virem essas pessoas não as confrontem, pois são extremamente perigosos. Chamem as autoridades imediatamente e evitem contato direto.
Na tela, três rostos. Três nomes. Yohane Catherine Pride, Adam Hoffman e Magda Vernichter. Os três estavam na televisão, acusados de terrorismo, e a partir daquele momento eram procurados internacionais.
Naquele momento, o trio entrou em choque. Como resolver aquela situação? Eles não sabiam. Enquanto isso, no bolso do alemão, o celular vibrou. No identificador de chamadas, o Comissário. Ele atendeu imediatamente, gritando.
— Que porra é essa?! Você sabe que a gente não fez isso!
— Adam, se acalma. Eu sei que vocês não fizeram aquela bagunça de propósito, conheço caçadores há um bom tempo. Porém, eu não tive escolha, tudo aconteceu muito rápido e civis morreram em plena luz do dia. Até o prefeito me ligou pedindo soluções. Se eu não tomasse uma atitude o caos iria reinar. Precisávamos de vilões e infelizmente tiveram que ser vocês.
— Merda! Tá, e agora? Me diz que você não me ligou só pra dizer o quão fodido a gente tá!
— Eu imagino que vocês estejam com a Srta. Vernichter agora. Quem diria que ela não era só uma maluca que conversava com raposas. — O rosto de Magda se torceu ao ouvir aquilo. — É o seguinte, vocês têm que sair daí imediatamente. Estamos há poucos minutos da residência e iremos invadir, estou segurando o mandado de prisão no nome dos três. Deem algum jeito mágico e resolvam essa situação para limpar o nome de vocês. A partir de agora, estão por conta própria.
Taylor desligou. Adam e Magda se encararam, como iriam sair dali?
— Eles já estão aqui — disse Yohane, olhando pela janela. As viaturas da polícia estacionavam bruscamente, oficiais altamente armados desciam, indo em direção ao prédio.
— Se forem fazer algo, façam depressa. Se a Magda for presa, não vai ter ninguém para fazer meu salmão! – disse a feneco, que subiu no ombro da dona.
— Bom, já que você está aqui, a gente tem uma opção. — Magda olhou para a raposinha, que saltou para o colo de Yohane, com o pelo arrepiado.
— Não! Nem por todo o dango que puder comprar! Eu não vou queimar meu pelo outra vez!
— Tera, se você ajudar a gente, eu peço pra Hilda preparar aquele prato que você adora.
— Ah! Você não vai me comprar tão fácil assim!
— Lámen de baleia.
— Lámen de baleia... — Tera salivou ao pensar em seu banquete. — Argh! Maggie, eu te odeio! Tá bom! Mas é melhor você também me arranjar uma cerveja! E essa ruivinha aqui vai pentear meu pelo quando a gente chegar lá. — A feneco pediu para todos formaram um círculo.
— Tudo bem, eu vou fingir que toda essa conversa foi a coisa mais normal do mundo. — Yohane disse, se aproximando.
— Em um mundo com demônios e vampiros, uma raposa falante é a menor das nossas preocupações — falou Adam.
— Tudo bem, mortais. Observem com atenção, pois não é todo dia que vocês podem ver tão de perto o poder da Deusa do Sol!
Os olhos da feneco, junto de seus padrões avermelhados, começaram a brilharam com a cor branca, e uma globo de luz cobriu todos eles. A luz era forte, mas não incomodava os olhos. Alguns segundos depois, todos desapareceram na luz, deixando para trás apenas um círculo com marcas japonesas no chão, junto de um aroma de cerejeiras no ar.
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