Volume 2 – Arco 2
Capítulo 28: Escondida em plena luz do dia
Chegando na delegacia, foram abordados por um homem alto, loiro, com bigode e barba por fazer logo que entraram. Sua farda era diferente dos outros oficiais, e sua voz grossa combinava bastante com seu sotaque.
— Vocês são as pessoas que estavam me procurando? As que conhecem a Maeve?
— Sim. — O alemão respondeu. — Me chamo Adam Hoffman, essa é Yohane Pride.
— Ótimo. Sou o Comissário Taylor, e imagino que nada de bom deve estar acontecendo se conhecidos de Maeve Watson estão aqui. Me acompanhem.
Seguiram o oficial até uma sala muito bonita, com algumas estantes de livros e uma escrivaninha com vários frascos de bebidas caras. Na parede, um quadro cheio de medalhas e conquistas com o nome de Taylor, ao lado alguns recordes e jornal com as conquistas dele como Comissário.
— Fiquem à vontade.
Gesticulou para que eles sentassem e assim fizeram.
— Então, Maeve Watson Lima — continuou. — Não ouço esse nome há algum tempo, como ela está?
— Está bem. — Adam respondeu. — Ainda é osso duro de roer.
O Comissário riu e serviu um pouco de uísque em um copo quadrado.
— Essa é a Maeve. Ela salvou minha vida, sabe? Estava em patrulha em um caso antigo quando um lobisomem me atacou. Aquela mulher apareceu do nada e esmagou a cabeça do bicho com um mangual. Foi uma cena nojenta, mas sou grato até hoje por ela ter me permitido voltar pra casa e abraçar minhas filhas. — Bebeu um gole e voltou a se sentar.
— Então o senhor sabe? — Yohane perguntou, surpresa pelo relato.
— Ah, minha jovem, não dá pra conhecer aquela garota e não saber. Mas, se ela mandou colegas de trabalho até aqui, significa que minha cidade está com problemas. Qual a criatura da vez? Lobisomem? Elfo? A Annis Negra, talvez?
— Na verdade, Comissário, viemos aqui para falar sobre Azazel.
O policial olhou de canto para Adam e bebeu o resto do uísque em apenas um gole.
— É claro que querem. Aquela mulher tá na minha cidade há mais de seis anos e não sei nada sobre ela.
— Ouvi dizer que ela matou quase quarenta pessoas? — disse a ruiva.
— Sim, mas apenas homens acusados de crimes contra mulheres, mas que não foram presos por falta de provas. Então, um ou dois dias após a decisão do juiz eles apareciam mortos de maneiras horríveis. Mas eu tenho que confessar que arrastei esse caso por muito tempo, afinal ela, de certo modo, estava ajudando a fazer meu trabalho.
— Espera, o quê?! — Yohane levantou e bateu as mãos na mesa, indignada. — Você concorda com ela? Como pode dizer isso sendo um policial? Você devia ajudar as pessoas, não apoiar o assassinato delas.
— Garota, abaixa o tom de voz comigo. — Ele falou calmamente, mas com sua voz grave, parecia que estava brigando feio com a jovem. — Eu nunca disse que concordo com os métodos dela, mas é inegável que é eficaz. Os crimes contra mulheres diminuíram absurdamente desde que Azazel chegou na cidade. Por isso, e apenas por isso, eu fiz corpo mole. Porém, acho que não será mais uma alternativa. Não depois do homicídio de hoje.
Adam puxou levemente o braço de Jô, para que ela se sentasse.
— Ele não tinha ficha criminal?
— Não pelo que pesquisei. Aaron Smith. Tudo indica que era um garoto exemplar, do bem. Mesmo se ele fosse um merdinha em segredo, se eu não fizer nada dessa vez vai haver questionamento. A população iria cair em cima da polícia.
— Entendo, mas mesmo assim, não viemos aqui falar sobre o caso de Azazel, em si. — Adam recuperou as rédeas da conversa. — Veja bem, Maeve e Violet me disseram que...
— Espera, Violet? Parker? A detetive de Nova York?
— Sim.
— Espera, então... ela sabe disso tudo?
— Pois é. Não tem como entrar nesse trabalho sem forçar um ou dois policiais a saberem da verdade. Mas, de todo modo, as duas me disseram que na lista de suspeitas existia uma mulher chamada “Vernichter”, e eu tenho razões pessoais para querer falar com ela.
— Vernichter... — Anthony abriu seu laptop e começou a digitar, como se procurasse por algo, até que levantou as sobrancelhas. — Ah, a esquisita.
Virou a tela para os convidados, mostrando a foto de uma mulher emburrada, de cabelos curtos, olhos verdes e uma cicatriz que atravessava seu rosto.
— Então — continuou. —, eu posso passar o endereço dela pra você, mas garanto que não encontrará nada. Fomos à residência de todas as suspeitas, e quando chegamos na da senhorita Vernichter, a única coisa que encontramos foi uma raposa branca com quem ela conversava. Ela é apenas uma esquisitona reclusa, mas não é perigosa.
— Mesmo assim, eu quero conferir pessoalmente.
— Bom, se insiste. Me dê seu contato, vou te enviar o endereço por mensagem. — Ele se levantou e colocou seu sobretudo, que estava pendurado em uma arara no canto da sala. — Agora, se me dão licença, tenho uma assassina em série para perseguir.
— Obrigado, Comissário. — Adam agradeceu, escrevendo seu contato em uma folha e entregando ao policial.
— Mande lembranças para Maeve e Violet por mim.
Os dois trocaram um aperto de mãos e saíram da sala. Anthony foi em direção a alguns colegas, enquanto Adam e Yohane saíram do prédio da polícia.
— E aí, como foi levar esporro de um policial estrangeiro?
— Cala a boca. Ele errou feio em deixar Azazel solta por aí. Não ligo se as pessoas mortas eram criminosos, ninguém merece morrer...
Vendo a mesma multidão de antes, Jô notou uma pessoa suspeita, de capuz, observando o tumulto. Quando se virou, sua expressão era triste, porém, não foi isso que chamou a atenção da ruiva. Aquele rosto era familiar; aquele cicatriz, inesquecível. Aquela era a mesma mulher da foto mostrada pelo comissário.
— É ela...
Quando notou que tinha sido reconhecida, a mulher não hesitou e saiu correndo. Yohane gritou para Adam sem tirar os olhos do alvo.
— É ela, Adam! Vou atrás dela, segue a gente de carro!
E a perseguição começou. De imediato, Jô percebeu que aquela pessoa não era uma mulher comum. As duas corriam a velocidades olímpicas e saltavam sobre os carros como uma criança que salta sobre pedras em um lago.
— Uma nefilim? Sabia!
À medida que o corpo da ruiva aquecia, sua roupa civil entrava em combustão, revelando aos poucos seu traje à prova de fogo. O uniforme, diferente do que aparentava, era leve e não atrapalhava em nada o movimento. A sensação lembrava a de usar uma roupa de academia.
Elas saíram do estacionamento e viraram a esquina, seguindo pela Rua Parliament. Na calçada, Vernichter derrubava todo e qualquer civil em seu caminho, enquanto Pride se desculpava, mesmo que não pudesse parar para ajudar. Se aproximando do cruzamento, Yohane parecia finalmente estar alcançando seu alvo, mas quando pensou poder finalmente agarra-la pelo capuz da blusa, uma SUV quase a atropelou, fazendo-a se afastar ainda mais.
— Ruiva! — Um jovem gritou de um Martin DB5 parado no meio do cruzamento, parando totalmente o trânsito. — Sobe!
A garota pulou no teto do carro e Adam acelerou. Tendo dificuldades para se equilibrar por causa da velocidade, derreteu um buraco no teto com sua mão, o usando de suporte. E, vendo que o alvo adentrava o Jardim New Palace, teve uma ideia muito ruim.
— Adam! No meu sinal, você vira pra esquerda e puxa o freio de mão!
— O quê?! Você quer morrer?!
— Você quer pegar essa mulher ou não?! No meu sinal!
Jô aguardou e, quando a viu pulando à cerca do jardim e indo em direção aos andaimes do relógio, gritou:
— Agora!
E o alemão fez como foi instruído. Deu uma guinada violenta ao volante e puxou o freio de mão, fazendo a ruiva ser arremessada em direção à Vernichter.
— Te peguei.
Sua velocidade era muito alta, mas quando a inimiga viu o que a ruiva estava próxima, deu uma cambalhota e finalizou Yohane com um chute na cabeça, lançando-a contra o chão.
— Qual é, Pride. Você ao menos tá tentando? — a voz de Maeve começou a apitar em sua cabeça. — Seis meses de treinamento e você ainda tentar perseguir ela a pé? Você tem superpoderes, garota! Acorda!
***
A voz da treinadora em sua mente a fez relembrar de um treinamento utilitário, não de combate. Watson comentou que, às vezes, os inimigos mais perigosos são os que fogem antes de lutar, pois sabem evitar uma batalha inútil. Porém, também ensinou que Yohane nunca deveria deixar um indivíduo hostil escapar.
— Pride, eu tô curiosa. Como você usa seu poder?
— Err... ainda não sei como funciona. Mas, pelo jeito, ele se ativa quando eu fico irritada, e aí eu consigo lançar chamas pelas mãos.
— Hm... E se não forem apenas chamas de ataque?
— Como assim?
— E se você puder usar esse poder de outras maneiras, como para afastar um inimigo ou se lançar no ar com uma explosão?
— Isso parece loucura.
— Uma pirralha do ensino médio gostando de pegar fogo, também, mas olha onde estamos. — Abriu os braços, mostrando o grande campo de terra, dentro de uma fazenda no interior de White Valley. — Vamos tentar o seguinte: libera as chamas, mas não lança elas. As concentra na suas mãos o máximo que der e aí tenta soltar.
Yohane franziu a testa, não muito confiante naquilo, mas acatou a ideia da treinadora e tentou fazer como dito. Sentiu o calor percorrer suas veias e aquecer seu sangue, indo direto do coração para os braços. Quando sentiu o calor chegar as mãos, as conteve. A ardência consumia cada artéria daquele membro, como se alimentando. Quando não pôde mais aguentar aquele poder, simplesmente o liberou.
***
“Eu treinei muito pra isso.” Pensou, abrindo as pupilas lentamente.
— E não vou parar agora! — murmurou para si mesma e se levantou, curvando seu tronco e apontando as mãos para trás.
E duas explosões ocorreram a partir de suas palmas, impulsionando a garota para frente a uma velocidade incrível.
Dessa vez, Vernichter não pôde impedir, e parecia um tanto assustada com aquele poder. A ruiva agarrou a mulher, que revidou, dobrando seus joelhos e empurrando Yohane para cima com uma força impressionante, lançando-a no ar.
A mulher ergueu a mão, fazendo uma corrente surgir magicamente. A lançou para cima, em direção ao topo do edifício. A corrente parecia se esticar de acordo com o desejo do usuário, e o gancho na forma de uma mandíbula de lobo parecia funcionar como um arpéu, pois Vernichter se puxou para cima e foi parar no topo mais rápido que Jô.
A ruiva, usando suas explosões controladas, começou a escalar ao topo do prédio, mas antes que pudesse alcança-lo, o gancho da inimiga “mordeu” seu ombro. A inimiga tinha lançado seu arpéu mágico contra a jovem e, desse modo, a puxou em sua direção e lhe acertou com um poderoso golpe no estômago, a lançando direto para a ponte.
O corpo da jovem atingiu em cheio um caminhão de combustível que, por algum milagre não explodiu, mas acabou tombando. Quando ela se levantou, estava pronta para voltar à luta, mas então ouviu vozes implorando por socorro.
Olhou em volta e viu toda a área em chamas, alguns carros bateram por causa do impacto com o caminhão e muitas pessoas estavam presas e feridas na ponte. Toda aquela cena, as vozes desesperadas... Tudo aquilo a lembrou de seu pesadelo, e ela ignorou toda a sua batalha para poder ajudar aqueles que precisava.