O Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Henrique Ferreira


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 9: Reencontro

― Adam, isso aqui tá bom demais. Quem fez? ― Yohane disse, alguns minutos após a chegada.

― Eu, obviamente.

― Não tem nenhum rato aqui, né?

― Eu achei isso ofensivo. Mas recapitulando. Isso é o que temos até agora.

Adam apontou para o mapa de Manhattan aberto sobre duas mesas, onde várias fotos se interligavam por fios vermelhos e, no centro de tudo, um grande ponto de interrogação.

― Os desaparecimentos começaram há três meses, no dia cinco de abril. De acordo com as informações que consegui, a primeira vítima sumiu após visitar a namorada no Hospital Mount Sinai, ao lado do Central Park.

― Sim... O segundo parece que foi na noite do dia sete, no Mount Sinai Morningside. Era um médico que tinha saído mais tarde. ― Gabi completou.

― Ok... deve ser coincidência. ― O alemão coçou a nuca.

― Ou não, olha isso. A terceira desaparecida, assim como o décimo primeiro, o trigésimo e o trigésimo quarto sumiram no Mount Sinai da Lexington.

― Certo, todos os desaparecidos que consegui informações sobre, desapareceram próximos destes três hospitais? Não tem mesmo com isso ser coincidência.

― Gabi... ― Yohane finalmente se pronunciou. ― Ontem você falou que seu amigo Chris trabalhava em um hospital, não é?

― Sim.

― Em qual?

― No... Mount Sinai do Central Park.

― Tá, tem algo fedendo aqui. ― Adam comentou. ― O seu amigo trabalhava e roubava sangue do Mount Sinai, mas nunca foi pego?

― É... Ele dizia que pegava apenas uma quantia suficiente para reproduzir no laboratório da casa dele.

― Seu amigo clonava sangue? Puta merda.

― Bom, Adam, vocês não nos deram muitas opções. Se fossemos roubar todo o sangue necessário para sobrevivermos, os hospitais de toda a cidade ficariam sem estoque.

― Realmente. Tá certo, já sabemos que o Mount Sinai tem algo a ver com isso. Mas ainda estamos deixando algo escapar. O que pode ser...?

Adam roía a unha do polegar enquanto encarava o mapa fixamente. Ele estava pensando a fundo no que poderia ser a resposta, até que um som de buzina foi ouvido na frente do restaurante.

― Ah, finalmente!

― Não me diga que você pediu comida numa hora como essa. ― comentou a ruiva.

― Não, mas é uma ótima ideia.

― Então quem é? ― A vampira estava curiosa.

― Nosso reforço intelectual. ― Adam sorriu e foi receber a visita.

Gabi encarou Yohane na esperança de ela saber quem tinha chegado, mas a ruiva deu de ombros, também curiosa para saber quem era.

Mas assim que viu quem havia descido do SUV preto, Gabriela tremeu. Seu coração acelerou e ela quis fugir.

Os cabelos dourados presos em um rabo de cavalo brilharam com o sol da manhã, e os óculos escuros não impediram a vampira de reconhecer a pessoa. Era a detetive Violet Parker.

Ela entrou no restaurante olhando para Adam, enquanto os dois conversavam.

― Eu espero mesmo que você tenha deixado um pedaço dessa torta pra mim, seu pilantra.

O sorriso no rosto da mulher se desfez quando viu Gabriela. Tirando seus óculos, os olhos azuis claríssimos se arregalaram e antes que qualquer pessoa naquele local pudesse dizer uma palavra, Violet avançou sobre Gabi, deitou seu rosto na mesa e torceu seu braço para trás.

― Mas que merda ela tá fazendo aqui?! ― A loira gritou para Adam.

― Ah meu Deus! Eu que pergunto que merda foi essa! Você derrubou o resto da torta!

― Adam, sem piadinhas! O que a Gabriela tá fazendo aqui?!

― Ué, ela é a líder do ninho. Então vocês se conhecem? ― Adam disse naturalmente, focado apenas em tentar salvar algo da torta caída.

― Oi... Violeta...

― Você não vai escapar dessa vez. Cadê a Claire?!

― Epa, epa, epa! ― Adam colocou a torta novamente sobre a mesa e exclamou. ― Dá pra você se acalmar, detetive? Claramente vocês duas tem algumas tretas, mas eu não tô nem aí pra isso. Te chamei aqui por que preciso de ajuda. E agora temos que reorganizar o mapa!

Violet, após um momento de hesitação, soltou o braço de Gabi brutamente e foi para o canto da sala. Gabriela também se afastou, enquanto segurava seu antebraço dolorido.

Yohane observou aquela situação com olhos arregalados enquanto ajudava Adam a reorganizar o mapa. Após cerca de dois minutos, eles podiam voltar a discutir.

Adam contou tudo que havia descoberto até então para detetive.

― Tudo que você acabou de dizer não é segredo nenhum para mim, Adam. Era óbvio que os hospitais tinham algo a ver com os desaparecimentos, tínhamos até alguns suspeitos em potencial..., mas o assassinato recente me deixou perdida. Há três meses, todas as pessoas desapareceram dentro da área entre esses três hospitais, então por que o incidente com aqueles dois jovens ocorreu em Hell’s Kitchen?

― É uma boa pergunta. ―  Adam encarou o mapa. ―  E por que agora? Não existe nada de especial aqui além do...

― Além do meu ninho. ―  Gabi completou. ―  Se for assim, então já é quase certo que o Branco está por trás disso. Não haveria motivos para envolver meu ninho nesta história se não fosse um vampiro que estivesse no comando.

―  Talvez ele quisesse colocar a culpa na Gabi e distrair as investigações por mais algum tempo. ―  Yohane comentou, querendo fazer parte do time. ―  Quer dizer, o primeiro lugar que o Adam visitou, após descobrir o que houve com aquela garota, foi o seu restaurante.

―  Yohane pode estar certa. O tratado de paz sempre foi motivo de tensão entre nós e os caçadores, qualquer coisa poderia se transformar num gatilho para uma guerra.

― É uma teoria válida. Mas afinal de contas, quem é esse Branco? Esse cara com certeza deve ser alguém importante e que está na cidade tempo o suficiente para saber sobre o tratado e tudo mais ― disse Adam.

― Ah, essa é fácil. Ele entrou na lista de suspeitos há uns dois meses, mas eu só tinha uma teoria vaga, nada suficiente para uma investigação completa ― respondeu Violet, procurando algo em sua jaqueta.

Ela então tirou um amontoado de papéis do bolso e jogou um em especifico sobre o mapa. Uma foto.

― O atual cabeça das Empresas White, que é dona da rede Mount Sinai. Constantim Albescu.

Uma foto de paparazzi, tirada enquanto Albescu saía do prédio da empresa. Um homem alto de cabelos loiros e barba por fazer, usando um belo terno branco.

― Empresas White, hein ― comentou, Adam. ― Eles produzem os computadores que eu costumo usar, mas esse Constantim tem a maior cara de vilão, mesmo. Tinha que ser russo. E nem vou falar de toda a treta em White Valley, ano passado.

― Não, calma lá. ― Yohane levantou a voz. ― Eu conhecia a família White, a herdeira deles era minha melhor amiga. Eu não posso acreditar que eles poderiam estar por trás disso. E ele é romeno, Adam.

― Não subestime a família White, Yohane. Mas você está certa, não estão. Os desaparecimentos começaram há apenas três meses, enquanto a última herdeira da família White, Carolyn, morreu no ano passado.

― Morte essa que ainda não temos uma única informação por causa de uma certa detetive. ― Yohane alfinetou, irritada.

Violet sentiu aquilo, mas mesmo assim, não podia divulgar os detalhes da morte de Carolyn, mesmo que fosse para a melhor amiga dela.

― De todo modo, não existe mais nenhum membro legítimo da família White vivo, mas isso não significa que eles fechariam as portas de uma empresa multimilionária.

A detetive entregou um pedaço de jornal para Adam, que leu em voz alta.

― “Após a morte da última herdeira da família White, Carolyn, Constantim Albescu assume definitivamente o comando das Empresas White, depois de mais de um ano no cargo temporário.” É, e pelo jeito essa matéria é do ano passado. Ele teve pelo menos nove meses para planejar isso, caso esteja envolvido.

― Sim, mas de qualquer modo, não temos provas suficientes nem para um mandado. Precisamos descobrir mais pistas.

― Adam, você não consegue hackear a empresa?

Todos encararam Gabi após seu comentário. Yohane, particularmente, sentiu uma enorme vontade de rir, mas ficou em choque ao ouvir a resposta de Adam.

― Conseguir até consigo, mas não seria nada fácil.

― Espera, o que? Você tá dizendo que conseguiria hackear os servidores das White? ― A ruiva não acreditava na possibilidade.

― Aprendi muitas coisas no MIT, mas...

― Você esteve no MIT?!

― Ruiva, o que diabos você pensa de mim?

― Bonitão sem cérebro?

A sobrancelha de Adam tremeu e, por um segundo, considerou a possibilidade de jogar Yohane em um caminhão de lixo, mas optou por ignorá-la.

― Seria bem difícil. Eu conseguiria fazer isso com um modem, mas precisaria que alguém ativasse lá dentro. De preferência, na própria sala do chefão. Aposto que só o computador pessoal dele tem mais informações do que todo o servidor da empresa.

― E por que você não poderia ir? ― perguntou, a detetive.

― Todos os vampiros da cidade me conhecem. Se eles realmente estiverem envolvidos nisso, não conseguiria passar da entrada. A Gabi, pelo mesmo motivo.

― Eu também não poderia, já visitei as empresas White algumas vezes como detetive, ficaria muito óbvio.

Eles ficaram em silêncio por alguns segundos até que todos olharam diretamente para Yohane, como se uma lâmpada tivesse acabado de se acender sobre suas cabeças.

 

***

 

Saindo da cela, Jason olhou os arredores cuidadosamente. Tinha bebido o líquido do frasco momentos antes. Possuía um gosto doce, mas não era parecido com nada que já experimentara antes.

Em silêncio, seguiu em frente à direita e, como especificado na carta, um guarda estava ali. Um homem alto e forte, vestindo roupas casuais. Espreitou pelo armário e esperou pacientemente o vigia virar as costas. Assim que teve a chance, passou agachado o mais rápido que pode e se escondeu atrás de uma estante que estava ali. Seu coração estava acelerado. O medo consumia seu corpo e gotas de suor frio escorriam por seu rosto.

“Quando passar pelo guarda, você seguirá em frente até o segundo corredor e, então, vai virar à esquerda. A partir daí todo cuidado é pouco, por que para chegar na saída, você terá que passar em frente ao laboratório dele. Se estiver vazio, ótimo, passe direto, a saída será à esquerda. Agora, caso alguém estiver lá dentro, principalmente se uma mulher de cabelos brancos estiver lá dentro, não se mova. Se puder, prenda a respiração. Eu irei te ajudar assim que possível.”

“Sério? Puta merda...” Jason estava a ponto de ter um surto. O que diabos havia naquele laboratório? Quem seria essa mulher de cabelos brancos? Quem é “ele”? A mente do jovem já estava sobrecarregada de emoções e questionamentos, e nem estava naquele lugar há muito tempo.

Seguiu conforme a carta, metros à frente, viu uma luz azulada que era emitida por baixo de uma porta. “Aquele deve ser o laboratório” Pensou. Se aproximando, checou cuidadosamente o vidro da porta, mas aquele lugar parecia totalmente vazio. Só que algo parecia errado, havia muitas coisas fora do normal ali dentro. Câmaras feitas de vidro com algo que possuía uma silhueta parecida com a de um ser humano em estado fetal dentro delas.

― Está curioso para ver o que há dentro delas mais de perto?

Naquele momento, sentiu uma mão áspera e gelada segurar seu pescoço. Seu corpo inteiro ficou paralisado. Mal era capaz de respirar. “Eu vou morrer, eu vou morrer” Essa era a única coisa que sua mente em colapso conseguia pensar. E talvez estivesse certa.



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