O Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Henrique Ferreira


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 6: Visita

 

 

De volta a ilha de Manhattan, os dois pegaram um táxi para Hell’s Kitchen. O bairro era conhecido por seus bares e restaurantes, e por ser um local onde gangsters geralmente se encontravam para comer.

Mas pessoas que sabiam da existência do sobrenatural chamam o bairro de “Cozinha do Inferno” por outra razão. Hell’s Kitchen era um dos maiores ninhos de vampiros dos Estados Unidos e o segundo maior do mundo, perdendo apenas para a Transilvânia.

Porém, mesmo com esse título, os vampiros da área não causavam problemas há anos devido ao Tratado de Paz. Eles só se alimentavam de sangue de animais ou conseguido por transfusões. Assim, os caçadores os deixavam em livres e vivos.

Isso, pelo menos, até os desaparecimentos começarem dois meses atrás. Quase cem pessoas foram sequestradas nos últimos três meses, mas não havia provas de que isso era trabalho dos vampiros. E, mesmo que os assassinatos da noite passada possam não ter nada a ver com os desaparecidos, Adam gostaria de confirmar com a líder deles.

— É bom que a Gabi tenha uma boa explicação pra isso tudo — murmurou o jovem de olhos verdes.

Após parar em frente a um restaurante chamado Bloody Night, desceram do veículo e entraram no estabelecimento. O local tinha uma decoração gótica, que misturava bar com casa noturna. O restaurante só estaria aberto para clientes a partir das sete da noite, então Adam não teria problemas em fazer um interrogatório agora.

— Desculpe, estamos fechados...

— Oi, Gabi.

Uma mulher latina de cabelos castanhos e olhos cor-de-âmbar estava no balcão limpando os copos quando eles chegaram. O jovem alemão, sem nenhum aviso prévio, pegou uma latinha de energético do freezer e se sentou em uma mesa vaga, colocando os pés sobre ela.

— Adam! Ao menos finja que você tem modos.

— Não vem agir como se fosse a minha mãe, ruiva. É nojento.

Yohane apertou os lábios e se acalmou. Gabi deu uma risada.

— Ok, quem é essa garotinha?

— É a rui...

— Yohane!

— Certo, Yohane... Aposto que o Adam não te falou nada sobre esse lugar.

— Pois é...

— Eu posso te mostrar pessoalmente, se quiser.

Gabi sorriu para a garota, mas não de um modo gentil. Duas fileiras de presas saíram de suas gengivas e formaram um sorriso horripilante. A jovem caiu para trás com o susto. A vampira riu novamente e se sentou junto a Adam, ignorando-a.

— Você sabe por que eu tô aqui? — perguntou o alemão.

— Duvido que seja pra me ver.

— Sua galera voltou a brincar, Gabi. Um corpo foi encontrado perto daqui com marcas de presas no pescoço. Sem contar que outra pessoa foi sequestrada.

— É, eu sei...

Gabi se levantou nervosa, mordendo o lábio.

— Mas não fomos nós. — Pegando uma garrafa cheia de um líquido carmesim de dentro do freezer e escorando no balcão.

— Por que não acredito em você?

— Talvez porque você parou de acreditar nas pessoas depois do que houve. — Bebeu um gole da garrafa e limpou o canto da boca. — Olha, eu prezo muito pelo trato que temos com vocês, caçadores. Então pode acreditar quando eu digo que, se algum dos meus quebrasse o acordo, eu mandaria direto para a Forca. Assim como já fiz mais vezes do que posso contar.

— Mas?

— Mas foi um vampiro, sim.

O jovem se levantou lentamente e pegou uma de suas adagas.

— Você é a responsável por deixar eles sob controle. Eu tava pegando leve por que ainda não tinha nenhum cadáver, mas agora... me dê um motivo pra eu não entrar nesse porão que você chama de dispensa e matar todos que estão ali embaixo.

Yohane apenas observava assustada como o clima do ambiente mudara rapidamente.

— É que... — Ela se aproximou com um olhar agressivo até ficar à apenas alguns centímetros dele. — Eu odiaria ter que fazer você de janta para os meus meninos.

Gabi passou os dedos delicadamente pela bochecha de Adam. Pôde sentir as garras da mulher. O espírito assassino que emanava dela era enorme, o suficiente para intimidá-lo.

— O vampiro que você está procurando estava em Hell’s Kitchen, mas ele não é meu. — Se afastou e sentou-se à mesa. — É alguém novo na cidade. Pelo menos é o que imagino, já que nem eu o conheço.

— Sabe de algo? — perguntou, guardando sua adaga.

— Estou o rastreando desde o primeiro desaparecimento, mas... — Balançou a cabeça em negação.

— Nada?!

— Nada muito conclusivo. Mas pelo pouco que encontrei, arriscaria dizer que se trata de um Branco.

Adam ficou surpreso com a declaração de Gabriela. Ele não esperava que lidaria com um Branco tão cedo em sua carreira.

— Mas o que diabos um vampiro Branco estaria fazendo em Manhattan? Achei que eles só existissem na Romênia.

— Eu também, considerando que o Pai vivia lá. Mas depois da morte misteriosa dele há alguns meses, nada impede que Brancos tenham vindo pra cá.

— Senhorita?

Uma quarta voz surgiu. Rouca e séria, chamando exclusivamente por Gabi. Todos olharam para trás e viram um homem alto, vestido com roupas pretas e um olhar avermelhado. Ele observava Yohane e Adam com nojo em seu rosto.

— Daniel! Me diga que tem alguma notícia do Chris. — A líder vampira parecia preocupada.

— Me perdoe, ele desapareceu sem deixar um rastro. Perdi o cheiro próximo de sua casa e preferi vir avisá-la antes de invadir.

— Você fez certo. Está dispensado.

— Como queira.

Ele então entrou em uma porta, que dizia a placa pendurada ser a dispensa.

— Quem é Chris?

— Meu tesoureiro. Ele trabalha no hospital e é quem contabiliza o sangue que a gente rouba, não deixando a gente pegar mais que o necessário para que não falte para as pessoas. Mas ele sumiu há uma semana e não me dá noticia desde então. Comecei a ficar preocupada e mandei Daniel investigar, agora tenho medo que ele tenha se encontrado com nosso Branco... — Gabi acabou quebrando a unha de tanto a morder. — Certo, ficar aqui não vai ajudar, eu vou até a casa dele.

— Vou junto então.

Gabi se virou enquanto colocava uma jaqueta.

— Olha, não me incomodo de você estar lá pra me dar uma força, mas o que fazer com a garota?

— Ela é minha responsabilidade, não se importe com ela.

— Me sinto como se tivesse voltado a ter cinco anos — disse a ruiva emburrada.

— Pelo seu tamanho nem dá pra saber que é mais velha. Vamos logo — Adam deu um pequeno empurrão no ombro da garota.

Gabi, Adam e a frustrada Yohane saíram do restaurante e seguiram a pé até a dita casa de Chris.



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