O Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Henrique Ferreira


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 20: Alvorecer

— Eu quero que você me mate. Agora.

Aquelas palavras entraram pelos ouvidos de Violet e deram voltas em seu cérebro. O pedido não fazia sentido, mas pela expressão da garota a sua frente, não se tratava de uma brincadeira.

— Espera, o que? Eu não vou te matar, Carolyn! Por que diabos você me pediria isso?

— Não temos tempo para discutir! Eu preciso morrer, agora!

O desespero era claro na voz de Carol. Enquanto ela exclamava, os poucos fios castanhos de seu cabelo ficavam esbranquiçados. Algo estava acontecendo, deixando a jovem apavorada.

Violet deu um passo para trás, hesitante. Quando a estudante notou que talvez a detetive não poderia fazer isso, tentou pegar sua arma a força.

— Você não tá entendendo! Eu menti quando disse que não sabia o que meus pais faziam aqui, eu sei! Por que eles conseguiram! Trouxeram ela de volta, dentro de mim! Se você não me matar, só vai deixa-la escapar!

— Ela? De quem você tá falando?!

Antes de poder responder, um estrondo foi ouvido do alçapão. Uma grande silhueta pousou atrás de Carolyn e agarrou sua cabeça, a jogando contra uma árvore.

A loira ouviu o roncar de um moto ao fundo da floresta, mas aquilo era irrelevante no momento. O gigante enfurecido saiu da névoa e rugiu contra a policial nervosa, que andava para trás, cautelosa.

Sacou sua pistola, a única arma que restara. Poucas balas, sabia que estava em uma situação crítica, mas não fraquejou.

— Certo, agora chega!

Apontou a pistola para a testa do monstro, mas antes de poder puxar o gatilho, ouviu um grito alto em uma voz masculina confiante.

— Oh, Hulk Cinza! Pega alguém do seu tamanho!

Violet olhou para trás e viu um jovem saltando de uma motocicleta e lançando algo em direção ao gigante. Foi muito rápido, mas quando a detetive notou, uma longa adaga esverdeada estava enfiada no peito do gigante, que cambaleou.

— Eu sabia que tinha algo acontecendo nessa joça de cidade, mas o Julius: “não, fique fora disso, está tudo bem.” Uma ova que está!

Ele murmurava sarcasticamente em voz alta. Não cumprimentou Violet, nem perguntou se estava bem. Na verdade, ela se perguntava se o jovem havia a visto ali.

De repente, ele sacou outra adaga, idêntica a última, e saltou em direção ao monstro cinzento. Num corte rápido, decepou a cabeça do monstro, que caiu no chão, explodindo em algum tipo de areia azul brilhante.

Em questão de segundos, a criatura supostamente indestrutível, estava morta. Morta por um jovem tagarela de olhos verdes. Ele pegou a adaga no meio da areia reluzente e ajeitou o cabelo bagunçado.

— Nunca tinha matado um elfo, a Maeve vai ficar louca quando eu contar. — Olhou para a detetive e sorriu, guardando as lâminas. — Ah, oi! Você tá bem?

— Eu... Quem é você? — Estava confusa. Aquele jovem apareceu do nada, matou aquela criatura gigante e estava ali, agindo do modo mais descontraído possível.

— Adam. E você é a detetive...? — Encarou o distintivo, esperando uma apresentação da mulher.

— Parker. Violet Parker.

— Bom, detetive Parker, como você se meteu nessa?

— Eu estava... — Então se lembrou. — Carolyn!

A detetive correu na direção em que a garota tinha sido lançada. Após procurar por alguns segundos, pôde ver uma silhueta escorada numa árvore. Ao se aproximar, conseguiu ver o sangue manchando seu cabelo totalmente branco, espalhado também pelo tronco da árvore.

— Carol... — colocou a mão sobre a boca, desesperada.

A garota estava ali, imóvel e desacordada. Era óbvio que estava morta, e seu sangue estava nas mãos de Violet. A detetive caiu de joelhos e se recusou a aceitar a morte da jovem.

— Não... Não faz isso, vamos. Levanta, Carol. Você é forte, já te vi aguentar tantas coisas. Não vai ser isso que vai te matar.

Ela balançava os ombros da garota com cuidado, esperando alguma reação. Estava perdendo as esperanças, até que ouviu um grunhido bem baixo. As pálpebras da jovem, mesmo fechadas, se mexiam com o movimento das íris. O coração de Violet acelerou, esperando pelo melhor. Até que, então, os olhos de Carol se abriram de uma vez. Totalmente brancos e brilhantes. De repente, uma energia branca em forma de argola surgiu ao redor dos pulsos da loira, que foi suspensa no ar.

— Carolyn? O que tá acontecendo?!

Encarou a detetive com uma expressão fria, como se não a conhecesse. Encarou as próprias mãos e olhou todo o seu corpo, como se tivesse comprado uma roupa nova.

— Reiner e Grace conseguiram. Para meros humanos, eles eram competentes.

— Primeiro um elfo e agora uma bruxa? Essa noite não para de melhorar.

Adam veio correndo e se preparou para apunhalar a garota, mas as mesmas argolas de energia rodearam seus tornozelos, o fazendo cair na terra.

— Vernichter...

Um curto sorriso apareceu em seu rosto, então esticou os braços com as palmas de suas mãos abertas para o chão e elas brilharam com energia branca. No segundo seguinte, fagulhas apareceram na grama e nos galhos das árvores, fazendo chamas crescerem e iniciar um incêndio rapidamente.

As argolas desapareceram, fazendo Violet cair. Adam pôde se levantar e correu para ajudar a detetive, que olhava nervosamente para todas as direções, procurando por Carolyn. Mas ela havia desaparecido. Não havia nenhum rastro da garota.

Violet cerrou os dentes em culpa e foi até o corpo da filha, que estava encostado em uma árvore junto da trouxa que guardava a cabeça de Belzebu.

As chamas aumentavam, deixando a respiração cada vez mais difícil. Adam colocou a mão no ombro da mulher e disse suavemente.

— Temos que ir detetive, não acho que vá querer ficar aqui com esse fogo.

Ela assentiu, pegando o corpo nas mãos e correu da floresta junto do jovem de olhos verdes, que carregava a jaqueta. Após alguns minutos, conseguiram chegar à estrada, o sol estava aos poucos surgindo no horizonte.

— Merda! A moto!

Quando finalmente lembrou da motocicleta, já era tarde para Adam busca-la. Uma explosão aconteceu no fundo da floresta e o jovem colocou as mãos na cabeça.

— Ahh! A Maeve vai arrancar meu couro!

— Adam, não é?

O garoto olhou para trás e viu a detetive, com marcas de lágrimas nas bochechas e olhos vermelhos, segurando um corpo coberto por lençóis. Ele assentiu.

— Obrigada. Não sei de onde você veio, mas salvou minha vida.

— De nada. Mas o que aconteceu lá? E aquela garota?

— Ah... É uma longa história. — Lágrimas escorriam de seu rosto.

— Bom, você pode me contar no caminho. Vamos ter que voltar para Nova York a pé. — Ele encarou a estrada, aos poucos sendo iluminada pelo sol. — A não ser que consigamos uma carona.

— Acredite, não quero que vejam minha bagagem... — Violet estava casada, mal conseguia sorrir. Adam se ofereceu para pegar o corpo, mas sem fazer mais perguntas, e eles seguiram viagem. — Mas tudo começou quando...



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