O Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Henrique Ferreira


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 19: O Rei das Moscas

Belzebu pousou no chão e começou a perseguir a detetive. Por causa de seu tamanho, sua movimentação era limitada, mas isso não era motivo para correr riscos. A loira atirava de uma distância segura, almejando sempre acertar a cabeça, mas isso nem sempre acontecia.

— Esse seu brinquedinho não vai me machucar! Você morre hoje, detetive!

Parker recarregou sua arma, já estava começando a ficar irritada.

— Eu pago pra ver.

Voltou a atirar, sua precisão melhorou. Ela corria ao redor da sala com aquele enorme monstro lhe perseguindo, até que viu uma sala com a porta entreaberta, com uma estrela estampada. Olhou rapidamente, tomando cuidado para que não se aproximasse demais, e se surpreendeu com o que viu lá. Armamento militar de alto calibre. Granadas de fragmentação e de luz. Tudo intocado.

— Ninguém deve ter conseguido entrar aqui por causa do Belzebu...

— O que você está olhando aí dentro, verme?!

Violet se descuidou, teve que pular para dentro da sala para evitar um golpe violento das garras do demônio.

— Acabou o jogo, fêmea! Está encurralada, e agora você será meu jantar!

O coração da loira disparou, ela pegou a primeira arma que sentiu em suas mãos quando tateou o chão e disparou sem pensar duas vezes. Uma explosão jogou Belzebu para trás, liberando a saída. Olhando o equipamento que segurava, Parker viu um lança granadas.

— Uau! Eu nunca pude usar uma merda dessas! — A mulher se empolgou. Olhou em volta, mas não achou mais munição. Conferiu quantos projeteis restavam, estava cheia antes do último disparo. — Cinco granadas... Isso não vai acabar com ele.

Rapidamente, ela se equipou enquanto a criatura se levantava. Pegou seis granadas de fragmentação e as dispôs em seu cinto; guardou a pistola no coldre, pegando um revólver carregado e colocando em suas costas uma espingarda. Por algum motivo, mesmo com o bom armamento ali, não havia muita munição.

— Acho que Carol falou sobre isso mais cedo. Enfim, agora eu ponho um fim nisso, de uma vez por todas.

Sem hesitar, Violet saiu da sala e disparou quatro projeteis do lança granadas no inimigo de uma vez. As explosões seguidas faziam o monstro gritar irado.

— Sua puta desgraçada! Como você ousa fazer isso comigo?! Eu sou um Rei! O Pecado da Gula não pode ser derrotado por coisas tão simplórias como...

Disparou o último projetil na cabeça do monstro, o impedindo de continuar sua frase. Jogou a arma no chão em seguida.

— Ah, cala a boca, bicho feio!

Pegou uma granada de fragmentação e arrancou o pino com os dentes, a jogando nos pés da criatura. A criatura rolou para trás e parou de se mover.

— Eu já vi esse filme, bundão. Sei que você ainda tá vivo, não me engana. — Tirou a espingarda das costas e disparou sem misericórdia, puxando a telha em seguida. — Levanta logo para gente poder terminar isso.

O grunhido que foi ouvido em seguida fez a confiança de Violet diminuir um pouco. Ela tinha mais cinco disparos da espingarda e seis do revólver, além das outras quatro granadas. Se tudo aquilo não desse conta do monstro, não sabia o que mais poderia fazer.

Nervosa, jogou mais duas granadas nos pés do demônio, que gritava enquanto se levantava. Sua boca se abriu, dividindo seu queixo em dois, era algo inacreditável e horrendo.

— Violet Parker, eu sinto o cheiro da sua esperança. Me dá fome! Se você realmente tem expectativas em me derrotar com esses seus brinquedinhos, é melhor desistir de uma vez. Tenha um pouco de dignidade e morra fazendo algo de útil com seu corpo. Você será meu alimento esta noite, e nada poderá impedir isso! 

Ele avançou sobre a mulher, com uma velocidade maior do que a demonstrada antes. A detetive esvaziou o cano da espingarda, em desespero, mas nenhum dos disparos fez o monstro parar.

— Fodeu.

Violet jogou a espingarda no chão e sacou o revólver, mas não teve tempo de atirar. Naquele momento, Belzebu a alcançou e com um único golpe a lançou contra a parede, derrubando o armário que ali estava.

Uma dor ardia em seu quadril, estava sangrando. Belzebu conseguiu atingi-la em cheio. O corte em suas cortas também voltou a doer. Ela tinha que finalizá-lo rápido, ou perderia sangue demais e acabaria morrendo de qualquer forma. O revólver tinha voado longe, nem conseguia acha-lo em toda aquela bagunça. Estava limitada as suas granadas e a uma lâmina que encontrou no chão.

— Uma espada? Puta merda, eu vou morrer... Não, eu preciso... continuar! — Com dificuldade, se levantou, usando toda a força que ainda possuía em seu corpo e tentando sufocar a dor que sentia. — Eu vou sair desse buraco... e dar um enterro digno à minha filha!

Ela rapidamente jogou duas granadas na direção do monstro. Ambas as explosões fizeram o monstro tombar, o deixando no chão, tentando se recuperar.

— Desgraçada, você... não vai... vencer...

A loira então pegou a espada. Na lâmina, estava escrita uma frase em hebreu e, estranhamente, Parker conseguiu entender o que dizia.

Aquele que possuir uma ira altruísta em seu coração, poderá manejar todo o poder da Lâmina de Gabriel, então”

Seus olhos brilharam com uma cor branca e a lâmina foi consumida por chamas azuis. Quando suas pupilas voltaram a tonalidade safira, sua confiança aumentou, e a mulher correu em direção ao monstro. Belzebu levantou o pescoço e apenas viu a luz azulada vindo para si. O medo consumiu seu corpo e sentiu que a morte estava próxima.

— Não. Isso não é possível. Você não deveria ser capaz de despertar a espada! Não! Não! Não! — Belzebu gritou em desespero e começou a se arrastar para trás.

— Isso é por todas as crianças que você devorou! Isso... é pela Emma!

Ela saltou e, em um movimento rápido, a lâmina atravessou o pescoço do Rei Demônio com um corte limpo. Um mar de chamas azuis explodiu em sua nuca e sua cabeça voou. Todo o corpo do monstro se desmanchou em cinzas, mas a cabeça se mantinha intacta.

Violet largou a espada, sentindo todo o seu corpo pesar. A lâmina se dissipou em pó ao tocar o chão.

Logo em seguida a porta se abriu com um som alto, e Carolyn entrou correndo no Salão. Seu olhar verde era preenchido por preocupação.

— Meu Deus, Violet! Você está bem?! — A ajudou a levantar.

— Eu tô viva... Acho. Nossa, eu não acredito que isso realmente aconteceu...

— Nem eu... — Elas encararam a cabeça de Belzebu, caída no chão metros à frente. — Você matou um Rei Infernal... sozinha.

— O que é um Rei Infernal?

Violet parecia exausta, como quem acabara de correr uma maratona. Sua respiração era pesada e ela transpirava muito.

O lugar começou a tremer. As luzes soltaram faíscas e tudo parecia que estava prestes a desmoronar. Mas a loira não entendia o porquê daquilo, afinal a batalha com o demônio não causou danos a nenhuma estrutura fundamental das instalações.

— Não temos tempo pra isso, vamos sair logo daqui.

— Certo, mas... A cabeça. Eu tenho que levá-la.

— O que?! Por que?!

— É evidência.

— Puta que pariu!

Carolyn, nervosa, tirou sua jaqueta e a usou de trouxa para carregar a cabeça decapitada da criatura. Em seguida elas saíram daquela sala e, depois que a detetive pegou o corpo de sua filha, elas se dirigiram as escadas de emergência.

— Temos que correr. A Energia Infernal de Belzebu era o que mantinha esse lugar de pé. Sem ele, tudo vai entrar em colapso. Não temos muito tempo — comentou a jovem de olhos verdes.

— Espera, o quê? Energia Infernal? Então aquele desgraçado era tipo um gerador?

— Por que acha que ele nunca saiu daquele lugar? Eu não sei como funcionava, mas agora nada disso importa. Quanto dermos o fora, finalmente tudo vai ter acabado... — A expressão da estudante era apreensiva, como se soubesse de algo que não falara ainda.

Após subirem várias escadas, se depararam com um túnel. Os tremores se tornaram maiores, e mais perigosos. Destroços começaram a cair das paredes e do teto.

O túnel tinha cerca de 50 metros e, após correrem muito e quase serem esmagadas diversas vezes, encontraram uma única escada vertical. Aquilo seria problemático para Violet, já que ela carregava o corpo de Emma nos braços, mas não tinha outro jeito, era a única saída.

— Certo, sobe primeiro e me ajuda quando estiver na superfície — disse para Carolyn, que segurou a trouxa nos dentes e começou a escalar.

Foi difícil, e ela murmurou de forma inaudível por cerca de 10 metros, quando finalmente um som de tranca foi ouvido e um leve luz azulada foi vista.

— Sobe logo, o tempo tá acabando!

Gritou Carol.

Violet olhou para trás e viu uma enorme silhueta correndo pelo túnel escuro, sendo atingida por vários destroços. A loira reconheceria aquele urro em qualquer lugar.

— Merda, merda, merda!

Subiu o mais rápido que pode, com o corpo da criança apoiado em seus bíceps. Fazia seu máximo para manter o equilíbrio e não deixar Emma cair. Após ter subido o suficiente, Carol pegou o corpo da criança e ajudou a detetive a vir para superfície definitivamente. A loira não hesitou em trancar o alçapão de metal.

As duas gritaram de alívio, pois mesmo com os tremores no chão, parecia que finalmente aquele filme de terror tinha acabado.

— Acabou... Finalmente, acabou... — Violet disse, ofegante.

— Sim... Acho que os tremores não podem ser sentidos na cidade, vai ficar tudo bem... — Ela olhou para o corpo infantil coberto por um lençol. — Sinto muito pela Emma, Violet.

— Tudo... bem... Não foi sua culpa. Pelo menos eu finalmente posso encerrar essa questão... e seguir em frente... Carol?

Violet notou algo estranho. Algo que a incomodava desde que entrou naquelas instalações horas atrás. Primeiro, a raiz do cabelo de Carolyn começava a tomar um tom claro, alvo. Mas com o tempo aquilo foi aumentando e, naquele momento, mais da metade de seu corte chanel possuía uma tonalidade branca como a neve. Mesma coisa acontecia com seus cílios. Os olhos também estavam mais escuros, perdendo a tonalidade verde e se tornando pretos como obsidiana. E a pele estava ficando mais pálida a cada segundo que passava.

— O que está acontecendo? — continuou.

— Como assim?

Violet pegou a câmera frontal de seu celular — totalmente rachado pela batalha — e entregou para Carolyn. A expressão que a garota fez foi de extremo terror.

— Puta que pariu... Certo, acabou meu tempo. — Pegou a trouxa com a cabeça e a entregou bruscamente para a detetive.

— Espera, o que você quer dizer com isso? Por que ficou tão assustada de repente?

— Não dá tempo de explicar. Violet, lembra que eu disse que iria fazer um pedido após sairmos dos laboratórios?

— Sim, é verdade.

— É hora de cumprir sua parte no acordo... — A garota respirou fundo. Seus olhos estavam marejados e claramente se segurava para não chorar. Sua expressão de medo causava arrepios na detetive.

— Tudo bem, trato é trato. O que eu posso fazer?

— Eu quero que você me mate. Agora.



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