O Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Henrique Ferreira


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 2: Nefilim?

 

 

Assim que chegou ao destino desconhecido, Yohane percebeu que aquele era o mesmo prédio para onde havia se mudado. O problema é que ela não estava em seu apartamento, mas no de Adam.

Antes de qualquer coisa, foi pedido para a garota tomar uma ducha rápida para tirar o sangue de seu corpo, e assim o fez. Recebendo uma toalha e uma muda de roupas femininas — que claramente ficariam grandes em si —, a jovem foi ao banheiro e passou alguns minutos em baixo da água fria, encarando o azulejo com olhos arregalados. Depois, quando foi enfaixar sua mão ferida, notou que não havia nada ali além de uma cicatriz quase invisível.

Observou o interior enquanto voltava para o sofá da sala. O local era idêntico ao de seu apartamento, mas a decoração era totalmente diferente, ou melhor, quase inexistente.

— Como tá a mão? — Entregou uma caneca com café fresco e disse.

— Ainda arde, mas está melhor.

Após a resposta, o jovem encostou na parede enquanto tomava seu café e o silêncio tomou conta do cômodo por cerca de um minuto. Apenas o som do café sendo bebido e do trânsito do lado externo do prédio eram ouvidos.

— Você pode me explicar o que foi aquilo? Eu ainda quero acreditar que você não é um assassino em série.

— Se desconsiderar alguns pontos muito importantes, talvez eu seja. Mas enfim, vamos do começo. Você já sabe meu nome, onde moro e com o que trabalho. E eu não sei absolutamente nada sobre você. Qual seu nome?

— Yohane. Yohane Pride.

— Por que isso é tão familiar?

— Por favor, que eu não seja a próxima da sua lista de vítimas.

Adam sorriu torto e começou a roer a unha com um semblante pensativo. Até que arregalou os olhos e seu rosto tomou uma expressão debochada.

— Não me diga que você é a famosa Yohane de quem meu pai vive falando. A que espancava valentões atrás da escola.

— Mas que merda...

Então caiu a ficha.

— Você é filho do Marko? — perguntou, chocada.

— Bingo! Então é você mesmo. Sou seu maior fã, sério. Eu morria de rir sempre que meu pai falava de você.

— Eu vou acabar com o Marko quando ver ele de novo. Mas e aí, ele sabe da vida de assassino que o filho dele leva?

— Vou fazer uma pergunta melhor, ruiva. Por que você se meteu naquilo? Uma nefilim despreparada como você é um banquete para os vampiros.

— Vampiros? Nefilim?

Aquela palavra fez o cérebro da garota rodopiar.

— Você não sabe...?

O jovem se levantou e mordeu o lábio, claramente fazendo uma escolha interna.

— Bom, acho que depois do que ela viu, não explicar só iria piorar tudo. Então, nesse caso... — murmurou para si mesmo. — Ruiva! — Adam apontou o dedo para a garota confusa no sofá. — Você quer saber o que aconteceu naquele beco? E a verdade por trás do mundo que você conhece?

— Err... quero?

— Ótimo! Vem comigo.

A garota, sem entender nada, apenas o seguiu até um quarto.

Assim que a luz foi acessa, um cenário de seriados investigativos apareceu. Havia muitos papéis e jornais sobre a mesa, com fotos e palavras faltando, além de um notebook aberto em uma notícia sobre as Empresas White. Na janela, um tripé com um binóculo que servia para observar os telhados de vários prédios e casas.

Mas o que mais chamava a atenção ali era o quadro negro cheio de fotos conectadas com um barbante vermelho. Algumas fotos estavam riscadas com um grande xis vermelho, e no centro de tudo havia um belo homem moreno que aparentava estar na faixa dos quarenta anos.

— O que é tudo isso...?

— Ah, ignora esse quadro. Ele não é relevante agora.

A ruiva observava cada objeto no cômodo, tentando entender qual a relação entre aquelas coisas e o assassinato. Porém estava nervosa demais para conseguir raciocinar sobre tudo aquilo.

Se virou para Adam, mas antes que pudesse perguntar algo, caiu no chão com o susto que o objeto que o jovem segurava causou.

— Mas que porra é essa?!

— Uma cabeça, o que mais poderia ser?

Sim, uma cabeça vermelha e com dois longos chifres retorcidos, que parecia ter pertencido a alguém obeso. Seus olhos eram pretos, sem sinal de íris. Sua pele era oleosa e parecia um pouco gosmenta. A base de seu pescoço cortado dava sinais de que havia sido queimada.

— Eu... eu sei! O que quero dizer é que diabo é isso? Por que humano não é!

— Ah, é um demônio. Tá vendo? Os chifres, os dentes afiados, a pele vermelha. Um legítimo Rei do Inferno.

Yohane encarou Adam, incrédula, se sentindo a maior idiota do mundo. Aquele jovem tinha assassinado alguém a sangue frio pouco tempo atrás e até chegou a ameaçar a vida da garota. Mas ali, parecia um charlatão de rua que tentava enganar as pessoas para conseguir alguns trocados.

Se levantou e foi até a porta, irritada.

— Tá, já chega. Vou chamar a polícia.

Um segundo após dizer isso, sentiu algo cortar o vento ao lado de sua orelha. Uma longa adaga de esmeralda ficou presa na porta, fazendo o sentimento de terror retornar ao corpo da ruiva. Olhou para o jovem sobre o ombro e o sorriso sombrio dele fez toda sua coluna se arrepiar.

— Ruiva... acho que você não entendeu sua posição aqui.

Sem muita escolha, ela se virou e se dispôs a ouvir.

— Boa menina. Isso aqui é a cabeça de um demônio poderoso que uma amiga minha matou. E sabe aquele cara que quase te transformou em suco de tomate? Ele era um vampiro.

— Demônio, vampiro. Isso aqui é uma pegadinha, né? Essa coisa aí deve ser apenas um boneco. Onde estão as câmeras?

Adam sorriu em desistência e foi até a janela do quarto, tirando o tripé dali.

— Você é bem difícil. Mesmo depois de ver duas cabeças decapitadas, ainda não foi convencida. Acho que vou ir pro plano B.

— Plano B? O que você... Ei! Que porra você tá fazendo?!

Ele segurou as pernas da ruiva e a jogou sobre o ombro como se fosse um saco de batatas, levando-a até a janela.

Desesperada com a ideia de ser jogada do prédio, começou a socar as costas do jovem, mas ele não parecia sentir dificuldades para segurá-la. Antes de sair do apartamento com a garota nos ombros, pegou uma garrafa com água e, então, pulou.



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