Volume 1 – Arco 1
Capítulo 16: O Golias Prateado
Respirando fundo, as duas deitaram no chão, aproveitando o momento em que o perigo havia passado.
— Argh... merda!
Violet grunhia com a dor nas costas. Aquilo iria deixar uma cicatriz feia, mas algo ainda pior preocupava a detetive. Carol pediu para ela tirar a jaqueta e a blusa, para que pudesse ver o ferimento.
— Isso... — Parker continuou. — Isso não vai me transformar numa daquelas coisas, não é?
Sua preocupação tinha fundamento, levando em conta que, nas histórias, uma pessoa podia ser transformada em lobisomem através do menor dos arranhões.
Carol sorriu e rasgou parte de sua camisa branca, amarrando-a ao redor do torso da detetive após limpar o corte. Não era muito profundo.
— Pode relaxar, Violet. Os monstros de verdade não estão doentes pra poder transmitir alguma coisa. — Tranquilizou a detetive, que aquietou sua respiração.
— Então... Como eles fazem mais? Quer dizer... como eles se espalham.
— Eles se reproduzem, detetive. Da mesma forma que nós. Agora, se você não sabe de onde os bebês vêm...
— Cala a boca...
As duas riram enquanto a jovem terminava de enfaixar a loira. Com ajuda, a detetive se levantou, sentindo uma ardência tremenda nas costas, mas nada que não conseguisse suportar.
— Bom, isso deve dar pro gasto. Mas quando sairmos daqui, lembra de limpar isso, ou vai ficar feio — disse Carol.
— Obrigada... — Vestiu novamente sua roupa. — E agora, pra onde vamos?
— Continuamos descendo até encontrar as escadas para o último andar. Se bem me lembro, era área restrita. Então, vamos ter que voltar a procurar algum cartão de acesso. Sem ele estamos presas aqui.
— Que maravilha... E por onde podemos começar a procurar? Esse lugar é ridiculamente grande.
Finalmente puderam observar o local onde se encontravam. Era colossal e profundo, a distância entre o chão e o teto bateria 50 metros facilmente. E o espaço era bem aberto, também. Cheio de caminhões destruídos e containers, caixas de suprimentos e gaiolas tecnológicas.
— Como trouxeram tudo isso pra cá?
— Ali. — Carolyn apontou para um grande portão. — Aquela entrada leva direto pra estrada. Caminhões novos chegavam a cada dois meses.
— Nossa... A localização desse lugar é perfeita para o que estavam fazendo.
— Não só a localização, como a estrutura. Meu pai pensou em tudo... Pena que ele só usava aquela mente brilhante para torturar os outros. Vamos, temos que olhar de sala em sala.
Elas desceram as escadas e se encontraram no armazém. Era possível ver três portas, além da garagem e da entrada para o terceiro piso. Também havia uma cabine alongada, que não se podia ver a entrada daquele ponto de vista.
Não encontraram nada na primeira sala, além do habitual. Corpos, sangue e miolos. Violet já estava se acostumando com tudo aquilo. Havia uma máquina de escrever suja de sangue no canto da sala, o que fez a detetive supor que o local era usado como escritório.
Na segunda sala encontraram uma chave com uma marcação numérica. “5243”. A detetive não entendeu a utilidade daquilo, mas resolveu guardar por via das dúvidas.
Na terceira sala, as coisas pareciam diferentes. Lembrava muito os armários de armas da delegacia. Mas estava quase tudo vazio, com exceção de uma espingarda e uma pequena caixa com três cartuchos, além de um pente de balas para pistola.
— Por que tem armas aqui?
— São as salas de segurança, tem uma em cada andar. A do terceiro contém o armamento mais pesado. O problema é que, por causa dos problemas frequentes com as cobaias, a munição sempre foi escassa. E o carregamento só iria ocorrer na semana seguinte ao colapso.
— O que aconteceu aqui, exatamente?
— Uma cientista, Doutora Cho... Ela cansou de ver o que as crianças sofriam aqui dentro e sabotou todo o programa. O laboratório explodiu, matando muitos cientistas e, no meio de toda aquela comoção, ela também morreu.
Violet encarou o armamento ali.
— Bom, depois do que vi hoje, qualquer coisa é bem-vinda. — A loira comentou e pegou a arma, guardando a munição em sua bolsa. — Achou algo, Carolyn?
— Nada. A não ser que você tenha C4 nessa sua bolsa, estamos presas... Droga! — A jovem arrastou o braço sobre a mesa, jogando todos os objetos ali na parede. Estava angustiada.
— Você tem que se acalmar... está literalmente ficando com cabelos brancos por causa do estresse.
Carol arregalou os olhos e olhou para seu reflexo em um vidro que estava próximo. A raiz de seu cabelo começava a ficar branca. Isso poderia ser normal para alguém mais velho como Violet, mas a garota mal completara dezessete anos. Era preocupante, ainda mais por que White sabia o motivo daquilo.
— Temos que nos apressar.
— Mas o que vamos fazer agora? Olhamos todas as salas.
— Ainda não olhamos todas...
A jovem andou em direção a cabine de antes, torcendo, por alguma razão, que ela esteja selada. Se aproximou com cautela da borda da cela e cobriu a boca quando viu a entrada. Estava completamente destruída, como se tivessem explodido a porta de dentro para fora. Violet não entendia o motivo, mas aquilo fazia Carol suar frio.
— Ei, Carolyn. O que houve? Parece que viu um fantasma.
— Quem dera fosse... Temos que dar o fora daqui, agora.
— Mas e o terceiro andar, e a Emma?!
— Você não tá entendendo, Parker. Acabou o jogo, ele escapou da cela. Não temos com vencer aquilo.
— Do que você tá falando?! O que não podemos vencer?!
Naquele momento, Carolyn travou. Seus olhos arregalados soltaram lágrimas e ela caiu no chão. Violet nem teve tempo de questionar. Sentiu algo segurar sua cabeça com força e, quando se deu conta, tinha sido arremessada metros à frente.
Estava desnorteada, levantou com dificuldade do chão. Pegou a pistola por instinto e, quando olhou em direção àquilo que a atacou, não pôde acreditar.
— Mas que porra é essa?!
Um homem com mais de dois metros, muito musculoso e de pele cinza. Seu corpo estava cheio de cicatrizes e fios que mediam batimento e pressão cardíaca. Suas orelhas eram longas e pontudas e seu cabelo era dividido em três, formando um rabo de cavalo na nuca.
Ele não tinha nenhuma expressão, seus olhos eram vazios. Mas emanava uma aura perigosa e assassina. Caminhou em direção a Carolyn lentamente, e cada passo seu poderia ser ouvido a metros de distância. Causava arrepios, fazia o coração disparar. Mas Violet não poderia deixar a jovem que a acompanhava sofrer por seu medo.
— Ei, feioso! — Disparou na cabeça do monstro duas vezes, mas não o fez parar. — Olha pra mim, seu filho da puta! — Atirou mais duas vezes, e então ele virou para a policial, irritado. Ele agora andava em direção a ela, com punhos cerrados. Fazendo um estrondo em cada passo. — Por que ele não caiu? Eu acertei a cabeça dele, mais de uma vez.
— Detetive, foge! Você não pode deter ele! É o experimento mais forte do meu pai, a arma suprema dele!
— Puta merda...
O gigante avançou em direção à detetive com um salto, levantando seu punho com a intenção de esmagar a policial. Um som enorme foi ouvido, e destroços foram lançados para todos as direções.