O Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Henrique Ferreira


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 13: A Volta dos que não Foram

― Irmã Jô?!

A imagem da irmã mais velha caindo no chão foi vista em câmera lenta pela garotinha. Ela não sabia direito o que tinha acontecido, apenas que era algo ruim. Muito ruim. E por isso seu coração doía.

― Irmã Jô! Irmã Jô! ― Esperneava nos braços de Adam para se soltar e correr até sua irmã, mas o alemão, mesmo imóvel com aquela cena, não podia deixa-la ir, ou ela iria morrer também. ― Me solta, tio Adam. A irmã Jô tá machucada, eu tenho que ajudar ela! Me solta!

Enquanto se debatia, acabou batendo no olho do jovem por acidente, o que o fez soltá-la por um segundo. Isso foi o suficiente para a pequena se lançar no chão e correr o mais rápido que suas pernas curtas permitiam.

― Ora, se não é Adam Vernichter e a pequena Abigail. A que devo a honra da visita? ― Constantim olhou para os dois enquanto limpava a mão cheia de sangue.

― Abigail, volta pra cá!

― Que nervosismo é esse, Adam? E você, Abigail, por que está chorando?

― Fica longe da minha irmã! ― A criança gritou em meio as lágrimas. ― Irmã Jô, acorda. Vamos pra casa, a mamãe vai cuidar do machucado. O remédio dela não arde, lembra? ― Ela balançava o peito da irmã mais velha na esperança dos olhos se abrirem, mas nada acontecia. ― Vamos, irmã Jô. Acorda!

― Ah, essa choradeira me irrita.

Albescu revirou os olhos e mostrou suas garras novamente, estava pronto para atacar Abigail. Foi quando uma lâmina esverdeada quase penetrou seu crânio e ele teve que a segurar com a mão, a quebrando em seguida.

― Você não vai tocar um dedo nela! ― Irado, Adam avançou no vampiro com a outra adaga em mãos. Estava determinado a arrancar fora a cabeça do inimigo.

Mas estava em desvantagem, não era um vampiro comum. Pela primeira vez iria enfrentar um Branco, e apenas com uma de suas adagas.

― E quem vai me impedir? Você? ― O vampiro, antes que Adam pudesse atacar, o lançou para a parede com a força de um soco. O alemão pôde sentir o antebraço de Constantim fazer uma rachadura em seu maxilar. ― O mais fraco da Descendência Esmeralda, a vergonha da família Vernichter?!

Levantando do chão com sangue escorrendo pela testa e boca, se deu conta que Albescu o chamou daquele jeito antes. “Vernichter”.

― Por que você está me chamando por esse nome? O que isso deveria significar?!

Novamente, correu em direção ao inimigo, tentando apunhalá-lo. Vários golpes consecutivos foram desferidos rapidamente, mas o vilão esquivou de todos com maestria.

― O que deveria significar? ― Segurou o braço do alemão e o apertou com força o suficiente para fazê-lo gritar. ― Esse é o nome da sua família. Ou vai me dizer que você não conhece suas origens?!

― Eu... não sei do que você tá falando. Meu nome é Adam Hoffman! ― Numa tentativa de se soltar, chutou a cabeça do vampiro com força, mas ele segurou a canela do jovem e o jogou no chão, fazendo o solo rachar.

― Inacreditável. Você faz parte da linhagem nefilim mais poderosa da história e nem sabe disso. ― O vilão gargalhou, desdenhando do caçador caído. ― Uriel, Asmodeus. Dois milênios de história e você não conhece nada!

Uriel. Asmodeus. Esses nomes nunca deixaram a memória de Adam, pois foi por causa deles que a desgraça de dois anos atrás ocorreu.

― Então você tem ligação com o merda do Luxúria, não é? O que vocês querem com essa Uriel? E por que diabos vocês pensam que eu tenho algo a ver com ela?! ― Se levantou e deu um rápido golpe no queixo de Constantim com o calcanhar, voltando a guarda imediatamente.

― Você realmente não sabe nada... Uriel é...

No momento que iria terminar sua frase, um som de tiro foi ouvido. Um pequeno jato de sangue saiu da lateral de sua cabeça. A bala passou de raspão. Olhando para trás, Adam pôde ver Violet e Gabriela chegando. A detetive, com a arma apontada para o vampiro e Gabi, com garras e presas a postos.

― Que demora foi essa?! Passaram na manicure antes de vir pra cá?! Tirem a Abigail e a Yohane daqui, agora!

Quando a detetive viu a ruiva caída no chão sobre uma poça de sangue, já pôde imaginar o que tinha acontecido. Chegaram tarde demais, e uma pessoa próxima tinha se tornado vítima.

― Vai ajudar o Adam, eu cuido das meninas.

Gabi olhou preocupara para Violet, mas logo assentiu e foi dar apoio ao caçador ferido.

― Seja bem-vinda, Gabriela. Como está a família? ― disse Constantim, ironicamente.

― Se você tiver tocado em apenas um deles, eu vou te garantir uma passagem só de ida pra conhecer o Inferno!

― Mas que tal você visitar o seu próprio inferno pessoal?

A líder dos vampiros não pôde prever o ataque vindo da retaguarda. Apenas um jato de sangue jorrou de suas cortas, a dor foi como várias lâminas rasgando suas costas.

― Não...

Quando viu a pessoa que a atacou, entrou em choque. Aqueles cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo. Os olhos azuis e a pele rosada. Conhecia bem aquele rosto, mesmo após uma década sem vê-lo.

― Gabriela, acho que se lembra de Claire Parker, não é? ― disse Albescu, sorrindo enquanto apertava o rosto de Adam contra o concreto do chão.

― Mas... não é possível, eu a matei.

― Quando matar um monstro, deveria conferir duas vezes se ele virou cinzas. Eu acolhi a pequena há alguns anos, perdida. Imagine minha surpresa quando ela me contou sua história.

― Claire?! ― Violet viu a prima e gritou, não acreditava no que seus olhos a mostravam.

― Vá se divertir, minha amada. ― Constantim disse para a aliada e lançou Adam contra a parede. Claire apenas rosnou e avançou sobre Gabi.

― Claire, se acalma. Se concentra na minha voz! ― Gabriela não queria atacar a amiga, não queria repetir aquela noite de dez anos atrás, então estava apenas esquivando de todos os golpes.

Mas a jovem continuava a rosnar para a antiga amiga latina. Suas garras eram maiores que da morena, e seus movimentos, mais rápidos, também. A líder vampira não aguentou desviar tanto tempo e teve sua camisa rasgada, sendo lançada em direção à Violet.

— Gabriela... — murmurou.

— S-Sou eu, Claire... a Gabi. — Disse com dificuldade, se levantando após o golpe.

— E-Eu vou... te matar!

Avançou novamente com a intenção assassina. Ela era forte, rápida e violenta, mas algo estava errado. Seu modo de falar não parecia coerente, era muito robótico.

— Claire, para! — Violet largou a pequena Abigail com o corpo da irmã e se levantou, gritando aos prantos para prima.

A vampira descontrolada parou e olhou para trás, por cima do ombro. Vendo a policial assustada, seus olhos vermelhos mostrando um mínimo brilho de humanidade, se arregalando.

— Por favor, para! Sei que faz muito tempo, talvez você nem deva lembrar de mim, mas sou eu, a Vi. Sua prima, sua melhor amiga...

Antes que a policial pudesse terminar sua frase, algo pesado atingiu o rosto de Claire, a fazendo rolar pelo chão, sangrando.

Gabriela tinha arremessado um pedaço de concreto na cabeça da antiga amiga, não se deixando perder a chance que ganhou.

— Mas que merda, Gabriela?! Qual o teu problema? Claire!

— Violeta, não! — gritou Gabi.

Claire levantou irada, com garras amostra. Sua raiva era tanta que, sem nem perceber, arrancou a mão direita da detetive, que saltou para trás com a dor.

— Merda, merda! — A líder do ninho avançou na amiga fora de controle. Não tinha escolha, teria que matá-la uma segunda vez. Com muito pesar no peito, liberou as garras, mas algo a fez hesitar.

— Gabi, não! Por tudo que há de mais sagrado, não mata ela! Eu faço qualquer coisa, por favor! — Violet berrava em meio as lágrimas e o sangue que escorria do pulso cortado.

Ela olhou para a loira que um dia fora sua melhor amiga. Não podia fazer aquilo novamente. Recuou as garras, iria resolver aquilo de uma vez por todas, sem mortes.

— Beleza, gatona. Vamos nessa! — Os cabelos de Gabi se arrepiaram como quem levou um choque elétrico. Sua feição se torceu e se tornou animalesca, lembrando a de um morcego. Seus membros se alongaram, fazendo as roupas parecerem curtas. Ela finalmente se transformou, mostrou sua forma natural de vampiro.

Sua velocidade aumentou, corria de quatro. Claire mal conseguia acompanhar. Seu rosto se virou e um enorme dor atingiu seu maxilar em seguida. Claire estava sendo atacada e nem podia dizer de qual direção vinham os golpes.

Ela rosnava de frustração por não poder se defender. A dor se repetiu uma, duas, três... Dezenas de vezes. Não conseguia contra-atacar. Por algum motivo, não podia se transformar como Gabi, estava em desvantagem.

— Eu vou te salvar dessa vez, Claire. Só espera mais um pouco...

Murmurou Gabriela, antes de dar um último golpe no queixo da adversária, que a nocauteou imediatamente e a lançou no ar. A líder vampira parou de correr, encarando o corpo da amiga no chão, na mesma posição que uma década atrás.

— Violeta! — Correu para a amiga no chão, que gritava de dor. — Merda, Merda! Você tá perdendo muito sangue, deixa eu enfaixar isso.

Díaz rasgou sua camisa branca e a transformou em um torniquete, enfaixando o toco do braço de Violet.

— Vai ajudar o Adam, eu me viro aqui... Mas que merda é aquela?

As duas olharam em direção a Yohane e Abigail, vendo algo difícil de acreditar.

 



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