Volume 1 – Arco 1
Capítulo 10.5: Planos a Longo Prazo
Entrando no laboratório, com seu pescoço sendo levemente apertado, Jason observou as câmaras de vidro. De fato, havia pessoas dentro delas, com cabos de transfusão por todo o corpo. Estavam extraindo sangue daquelas pessoas.
― O que você fazendo com essas pessoas?
― Ora, Jason. Lhe convido para meu lugar mais precioso e você já chega me questionando? Humanos não possuem nenhuma educação mesmo. Mas eu, um cavalheiro, gostaria de te perguntar uma coisa. Como você escapou de sua cela? Eu tenho certeza que esses seus músculos frágeis de humano não seriam capazes de quebrar aquelas grades ― disse o homem com um sotaque que parecia romeno, atrás de Jason. O som de uma colher mexendo em um copo também era ouvido ― A não ser que você tenha recebido ajuda de alguém de fora. Alguém que lhe entregaria uma poção para esconder o seu cheiro e ainda deixaria a cela destrancada. Não é mesmo, Christian?
Jason ouviu uma tossida brusca a esquerda da sala. Um homem ensanguentado, com o olho direito roxo e inchado, estava amarrado a uma cadeira.
― Me desculpe... Jason... ― Tossiu sangue. Pela voz, o raptado reconheceu como sendo o homem que lhe deu a bandeja de comida algumas horas atrás.
O homem com sotaque foi até Christian. Estava vestindo um colete branco com as mangas da camisa dobradas. Seu cabelo era desgrenhado e loiro, e estava segurando uma caneca com a estampa: “I hate Yankees”. Mas Jason reconheceu o rosto daquele homem, e o terror em seu corpo compartilhou espaço com a raiva.
― Você... Você que nos atacou no beco! Você é o desgraçado que matou a Stacy!
― Me chame de Constantim, por favor. Ah, e sinto muito por sua namorada, não foi nada pessoal. Apenas ocorreu de eu precisar apenas de um de vocês, e a Stacy tinha um cheiro agradável e um gosto delicioso. O sangue dela era tão saboroso que tive que guardar um pouco para mais tarde. ― Ele levantou a caneca enquanto derrama um pouco de palinca nela, misturando com uma colher. ― Mas, voltando a você, Christian. Sabe, eu sabia que usar você seria um risco muito grande. Quando tudo começou, se você tivesse tentado alertar Gabriela, tudo poderia ter sido um fiasco, e minha Senhorita ficaria muito enraivecida. O que não seria bom para ninguém. ― Bebeu um gole, e um liquido carmesim escorreu pela borda da boca, mas logo foi limpo. ― Eu tinha medo que, como sua honra e princípios são semelhantes aos de Gabriela, você se negasse a ajudar. Eu até já tinha preparado meios bem convincentes para você fazer o que eu mandava. Mas graças a Asmodeus, você não fez nada! Pelo contrário, me obedeceu sem reclamar por um momento. Se não te conhecesse, diria que você é adepto a nossa causa. Mas então, você finalmente reagiu. Tentou salvar ao menos um humano, afinal, “se você ajuda uma pessoa, você ajuda todo mundo.” É isso que meu pai costumava dizer. Mas você falhou miseravelmente e aqui estamos. Está quase morto, e a pessoa que você queria ajudar está mijando nas calças com medo de mim. Tudo porque você tentou fazer a coisa certa tarde demais.
Christian olhou para Constantim com desprezo e cuspiu sangue em seu rosto.
― É, como imaginei. Você é tão fraco quanto os humanos que se recusa a drenar. Sinto vergonha de ser da mesma espécie que você. Mas, para ser justo, você foi muito útil para mim, Christian. Porém, negócios são negócios. E nosso contrato acaba aqui.
As unhas de Constantim cresceram e ficaram afiadas, como garras. Em um piscar de olhos, o sangue jorrou da garganta de Chris, que se afogou lentamente como seu próprio fluido vermelho.
― Por que você está fazendo isso? O que vai ganhar sequestrando e matando essas pessoas? ― Jason questionou, em lágrimas.
― Eu só quero duas coisas, meu caro humano. Realizar minha ambição e agradar minha Senhorita... Bom, você não irá sair dessa sala com vida, então não vejo problema em lhe contar o motivo por trás de tudo.
Constantim acariciou uma das câmaras de vidro e começou a contar sua história para Jason com tranquilidade.
― Sabe, eu sou romeno, cresci em um castelo no interior e meu pai, conhecido no ocidente como uma lenda das histórias de terror humanas, era na verdade um frouxo. Conde Vlad Drácula ou, para nós, apenas Papa. Não era agressivo, assustador e nem de longe machucava seres humanos.
― Espera... Todo esse papo de sangue, seu pai se chamar Drácula... Você não tá querendo dizer que...
― Sim, jovem humano. Eu sou um vampiro. Deve ser difícil sua mente inferior processar essa informação, mas chegaremos lá. Como eu dizia, meu pai era fraco e sentia empatia pelos humanos. Ele dizia que o mundo não podia saber da nossa existência. Ridículo! ― Bateu a caneca na mesa. ― Esse mundo é tão nosso quando de vocês, mas nós somos superiores. Até o dia da morte dele, ano passado, eu nunca tinha provado sangue humano, me alimentava apenas de galinhas, porcos e todos os animais que criávamos na fazenda. Mas então, conheci minha Senhorita, e ela realizou meu sonho de provar sangue humano. Em troca, ela apenas pediu ajuda em um plano ambicioso e me trouxe para a América. Ela me contou a história de a Princesa de Fogo e o interesse que ela tinha nessa princesa. Eu a ajudei, sendo prometido todo o sangue humano que eu quisesse. A única coisa que ela queria era que eu chamasse a atenção de um certo caçador, que um dia conheceria a princesa de fogo. E juntando o útil ao agradável, resolvi sequestrar algumas pessoas para chamar a atenção dele e também realizar outro sonho.
― Mas que sonho é esse?! ― perguntou Jason.
― Sabe, eu passei séculos ansiando pelo dia em que meu pai sairia do poder e eu finalmente colocaria a sociedade dos vampiros de volta aos trilhos. Sendo filho do Alfa, eu já sou forte, mas para conseguir influenciar aqueles ao meu redor eu deveria ser imbatível. Com o sangue de cem pessoas, incluindo nefilins, eu seria capaz de ser ainda melhor que meu pai. O mundo saberia da nossa existência, e vocês finalmente voltariam a ser o que nasceram pra ser: gado, esperando apenas para se tornarem um apetitoso jantar.
Constantim se aproximou de Jason e o levantou pelo pescoço. O jovem começou a bater as pernas, mas a força no braço do romeno era descomunal. Ou, talvez, o jovem só era fraco demais para conseguir se defender.
― Bom, eu devo agradecer a você e todos nessas câmaras. Graças a vocês, meu sonho se tornará realidade e minha Senhorita terá sua princesa. Sintam-se orgulhosos, pois suas existências insignificantes serviram para um propósito maior.
― V-você não vai se safar dessa. ― Ele chorou enquanto o outro o levava para uma das câmaras ― As pessoas vão sentir nossa falta e você será preso!
― É, talvez eles sintam sua falta. Mas quando isso acontecer, já será tarde demais. Bons sonhos, Jason.
Constantim jogou o jovem na câmara e a fechou. Um vapor preencheu todo seu interior e, quando se dissipou, Jason estava paralisado, com a pele azulada.
― Você sabe que não precisa de mais ninguém para completar a dose, então por que trancá-lo na câmara? ― disse uma voz feminina, ao lado do corpo de Chris.
― Por que humanos guardam carne no congelador? ― respondeu, se virando para a mulher. Seu cabelo e sobrancelhas eram brancos e seus olhos, negros como obsidiana. Também vestia um recatado vestido preto.
― Tem certeza que Yohane Pride é a Princesa de Fogo que me contou? Conheço ela há algum tempo e não sinto nada de especial.
― O poder daquela garota está selado há muito tempo, nem eu consigo sentir todo seu potencial no momento. Mas tenha fé, meu filho, o poder dela será revelado e, quando esse dia chegar, você agradecerá ao nome de seu criador por testemunhar tamanha beleza.
― Certo, confio plenamente em suas palavras, Senhorita. Agora, se me der licença.
Constantim saiu do laboratório, deixando a mulher junto do cadáver de Christian. Ela tinha uma postura suave e bela, e sua face era amigável e serena. Enquanto encarava as câmaras de vidro, apenas disse ao vento:
― O dia do seu retorno está próximo, meu amor. Logo poderemos nos reencontrar.