O Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Henrique Ferreira


A1 – Vol.2

Capítulo 33: Uma armadilha mal planejada

Nas ferragens, uma mulher despertava furiosa. Suas pálpebras se abriam com o ranger dos destroços do veículo, enquanto tentava situar seu cérebro estando de ponta cabeça. Logo conferiu as pessoas que estavam consigo no carro. Adam, Hilda e Yohane estavam vivos, mas desacordados por causa do acidente. Em seus braços, uma pequena feneco branca descansava com uma expressão aflita. Tera tinha sido arremessada com o impacto mas, graças a seus reflexos, Magda conseguiu segurá-la e garantir sua segurança.

Ela pegou seus companheiros e os arrastou para fora do veículo virado, os deitando na neve. Estavam bem, e isso a deixava aliviada, não queria ter que carregar mais mortes nas costas.

Após isso, observou seus inimigos de longe, através da fumaça que saía dos destroços, caminhando lentamente até eles.

— Quem são vocês? — sua voz era firme e ameaçadora.

— Não temos assuntos com você, Magda Vernichter. Nos entregue a rainha e vocês poderão seguir viagem sem mais complicações. — A encapuzada com voz feminina falou, com um tom calmo.

— Não testem ainda mais minha paciência e respondam à pergunta. Quem são vocês?

— Quem você pensa que é, mulher? Não fique arrogante por ser filha de anjo. Nos entregue logo a rainha, você não sabe com quem está lidando. — Um dos encapuzados, mais irritado, exclamou, segurando sua varinha e apontando o dedo para Magda.

— Gente… a Madame nos disse para não subestimarmos ela — disse o terceiro encapuzado, um pouco nervoso.

— Sua Madame tinha razão… — A mulher estendeu a mão, fazendo surgir uma corrente reluzente com uma aura esverdeada. — Pois são vocês que não sabem com quem estão lidando.

Os olhos de Vernichter brilharam ao mesmo tempo que suas correntes, ambos em uma cor viva de verde. Ela avançou com toda velocidade no terceiro encapuzado e lhe acertou um soco no maxilar, seguido de uma cotovelada no nariz e um chute no peito, o lançando para trás.

— Desgraçada! — O encapuzado enfurecido fez menção de mover sua varinha para lançar uma magia. Mas não conseguiu.

A nefilim lançou suas correntes em sua direção um segundo antes, as enrolando no braço do fantasma e a puxando. Por um momento ele não entendeu o que tinha acontecido, mas tudo fez sentido quando viu o jato de sangue saindo do local onde antes ficava seu antebraço.

Ele berrou com a dor de perder seu membro dominante e Magda novamente avançou para finalizá-lo com a espada, mas um escudo magico de cor alaranjada a impediu, protegendo o fantasma no último segundo. Um projétil luminoso de mesma cor a atingiu no peito, seguida de um chute da encapuzada de voz feminina.

Magda conseguiu se defender, formando um xis com os braços.

— Não queríamos lutar com você, Vernichter. Mas nossa Madame nos avisou que seria inevitável — falou a fantasma, que atacava Magda rapidamente com chutes e pontapés, variando seus ataques com a magia de sua varinha.

— Vocês por acaso têm vontade própria, ou são apenas as cadelinhas dessa Madame?

— Suas provocações não irão funcionar comigo, filha de anjo. Nos entregue Hilda de uma vez, ou nossa Madame terá que intervir pessoalmente. E creio que você se lembre do que houve da última vez que se enfrentaram.

Memórias amargas vieram à mente de Magda. Quando a mulher de capuz disse aquelas palavras, como se sua Madame conhecesse Vernichter, a nefilim só pôde pensar em uma pessoa. Ela atacou velozmente com sua corrente, mas a adversária desviou com maestria de todos os golpes.

— Você está falando daquela bruxa desgraçada?! Então foi ela que mandou vocês?! O que aquela vadia quer comigo afinal de contas?!

— Tudo que minha Madame quer é o seu sofrimento, antes de poder te matar pessoalmente.

A inimiga lançou uma bola de energia magica no peito de Magda, a arremessando no chão. A dor nas costelas a fazia pensar que tinha sido atingida por um carro. A encapuzada ficou de pé, encarando Vernichter de cima com olhos que não podiam ser vistos.

— Eu te mataria aqui mesmo, mas minhas ordens são claras. Saia do nosso caminho enquanto pode, e se prepare para a morte inevitável que virá.

Magda estava desnorteada. Sua visão tremia como se tivesse sido atingida no raio de impacto de uma granada de atordoamento. Só conseguia ver a silhueta de sua inimiga caminhando em direção a Hilda e companhia.

— Não…

Até que, de repente, uma segunda silhueta surgiu e avançou no pescoço da mulher, a derrubando no chão. A imagem era borrada, mas Magda via algo como um cachorro mordendo um travesseiro enquanto o balançava ferozmente. Não havia gritos, apenas duas silhuetas tremendo e vários pontos avermelhados voando para cima.

Quando a tontura passou, Magda se levantou e limpou bruscamente o sangue de seu beiço. Olhou para a mulher no chão, estava totalmente ensanguentada. Seu pescoço estava rasgado em pedaços, era possível ver as artérias rompidas e a jugular exposta.

— Magda, pela milésima vez: Vença suas batalhas sozinha para eu não ser obrigada a sujar meu pelo com sangue!

Ao lado do cadáver, uma pequena raposa branca com o focinho cheio de sangue lambia suas patas.

— Obrigado, Tera.

Magda se virou e caminhou até o primeiro encapuzado que derrubara. Ele foi o que menos se machucou, apenas gemia na neve com a dor do nariz quebrado. Enquanto ela caminhava, o encapuzado sem braço urrou de raiva. Correu em direção à inimiga com a varinha na mão, pronto para atacar. Ele estava furioso com a derrota e cego com a vingança.

— Eu vou te matar sua desgraçada! Vocês, nefilim, nos subestimam, nos olham com desdém, se achando superiores. Pois fique sabendo que–

Não pôde continuar. O próximo som que saiu de sua boca foi um grito de dor ao sentir seu outro braço ser cortado pelas correntes rápidas e fatais da mulher. Ele caiu no chão, encarando o local do corte enquanto sangue jorrava e pintava a neve de vermelho.

— Nós somos superiores a vocês, bruxos. Vocês são a escória desse mundo, tirando seu poder de demônios e se achando especiais por conseguirem usar a energia das Pedras. Faça um favor para si mesmo e morra em silêncio, seu verme.

Ela continuou seu caminho, deixando o inimigo morrer lentamente em sua dor. Aproximando-se do último fantasma que restara, se agachou e o puxou pelo colarinho, olhando fundo em seus olhos e retirando seu capuz. Era apenas um garoto, não muito mais velho que Yohane. Seu nariz sangrava e sua pele pálida estava completamente vermelha e trêmula por causa do frio. Mas aquilo não fez Magda fraquejar. Na verdade, ela não esboçou reação alguma ao ver o jovem.

— Olha, garoto, hoje foi um dia bem cansativo, então eu vou perguntar uma última vez. E, se você não quiser terminar como seus amigos, é melhor tomar cuidado com o que vai falar. Quem são vocês?

— Não importa o quão assustadora e brutal você possa ser, Magda Vernichter, nada será pior do que minha Madame pensar que sou um traidor. Me torture, me humilhe, me mate. Mas eu não irei contar os planos dela, afinal, você sabe que tudo que ela almeja é o seu sofrimento. Fique sabendo que o que houve com Sheila foi apenas o começo.

Magda estava com a respiração pesada. Ela encarava o garoto com olhos arregalados de raiva, enquanto suor frio escorria de sua testa. Pensar na mulher que lhe causou tanto sofrimento a tirava do sério, não a permitia ser racional. Um soco. Foi isso que atingiu o rosto do garoto antes da mulher gritar irada. Um segundo depois ela continuou gritando, enquanto seguia a socar o rosto com toda a força que sua linhagem permitia. Seu berro aumentava a cada golpe, enquanto sangue jorrava do rosto do jovem, que se deformava cada vez que se encontrava com o punho da assassina. Magda estava descontrolada e precisava descontar sua raiva em algo.

Foram onze socos que fizeram seu crânio afundar, mas, para a sorte do garoto, ele já estava morto antes dela chegar no terceiro. Ela se levantou. O punho direito estava totalmente vermelho, gotejando sangue do inimigo. A neve ao redor da cabeça do garoto estava completamente carmesim, e o seu rosto… não parecia ter pertencido a alguém.

— Pronto, agora a Madame não pode fazer nada com você.

— Magda… — uma voz masculina se aproximou, chocado com o que acabara de ver. Era Adam, que despertara há alguns momentos e acompanhou o surto da mulher.

— Não enche. — A mulher se virou e ascendeu um maço de cigarro da jaqueta, tragando-o com um forte suspiro.

— Acredite, ela já fez coisa pior — disse Tera, pulando no ombro de Hoffman. — Mas parece que esse caso acabou de se tornar duplamente pessoal pra Maggie.

— Aquela bruxa maldita! — Jogou o cigarro na neve. — Vamos embora. — Caminhou até os destroços do carro, onde Yohane e Hilda despertavam.

— Ah, minha cabeça… Hilda! Você ta bem? — Assim que viu a Rainha ao seu lado, Yohane se apressou para ajudá-la.

— Estou bem, obrigada…, mas o que houve?

— Fomos atacados, pra variar. E não por elfos negros, Hilda, mas por bruxos. O sequestro da Astrid foi obra de bruxos! Provavelmente usaram magia élfica para encobrir seus rastros e nos pegarem de surpresa.

— Isso não faz sentido. Por que os bruxos fariam isso? Sem nós eles não teriam nem metade de sua magia!

— Provavelmente o Coven não tem relação com isso, é uma bruxa rebelde que está por trás dessa história.

— Mas como você sabe disso?

— Por que ela está atrás de mim. Já tive alguns encontros com ela, e ela sabe que não pode me derrotar sozinha, então está tentando machucar aqueles que são próximos a mim... outra vez... Vamos, não podemos ficar muito tempo parados.

— Mas como vamos chegar até a cidade sem o carro? — perguntou Adam.

— Caminharemos e passaremos a noite lá. Tenho um amigo que mora em Hvalvík e ele pode nos ajudar. Então, partiremos pela manhã.

— Adam, por que eles não viraram cinzas? — Yohane perguntou, encarando os corpos na neve com olhos chocados e trêmulos.

— Ah, isso. Bruxos não são monstros, então eles morrem igual nós. — respondeu o alemão.

— Isso quer dizer que eles são humanos?!

— Não é a palavra que eu usaria pra descrever eles, mas…

— Magda! Qual o seu problema?! — Yohane foi até Vernichter, irritada. — Será que existe alguma situação na sua vida que você consiga resolver sem matar ou torturar os outros?

A mulher não respondeu, apenas ficou parada de costas, com punhos cerrados.

— Eu falei com você, assassina de… — A ruiva colocou a mão no ombro da mulher, que não hesitou em atacar.

Acertou o nariz da garota com o cotovelo e lhe deu uma rasteira, a jogando no chão. Em seguida, dobrou os joelhos sobre a jovem e colocou a lâmina de sua espada em seu pescoço.

— Você está certa, se for necessário, eu não penso duas vezes em matar homem, mulher ou criança. Não tenho vergonha de admitir o que sou. Se merecer morrer, eu vou estar lá para servir de carrasco. Mas e você, Yohane? Quando vai admitir que é uma pessoa tão ruim quanto eu? Você fica com esse conversa moralista, apenas para esconder o seu preconceito contra tudo que não é humano. Eu mato, mas pelo que fizeram e não por quem são. E você? Quantas pessoas você matou apenas por considerá-los monstros? — O olhar da jovem de arregalou, ao encarar o rosto de Magda, que estava a poucos centímetros do seu. — Vou te dar um último aviso. Da próxima vez que eu fizer algo que não te agrade, fica calada. Guarde o seu discurso hipócrita pra si mesma. Caso contrário, eu não vou hesitar em te matar também.

— Chega! — gritou Adam, cansado daquela discussão. — Essa briguinha de vocês já passou do limite. Sai de cima dela, Magda. E Yohane, aquieta o facho. Todos nós somos parceiros nessa missão e, até resgatarmos a Princesa, vocês vão ter que se aturar.

Magda estalou a língua e se levantou seguindo seu caminho enquanto Hilda a seguia. Yohane também se levantou, olhando feio para Adam. Ela também seguiu Vernichter, mas a uma distância considerável.

— Meu Deus, por que as mulheres são tão difíceis.

Tera soltou um pigarro, encarando o jovem com uma sobrancelha levantada, desaprovando seu comentário.

— Aquelas duas não podem se tornar inimigas… Elas são totalmente opostas, e estão dispostas a morrer pelo que acreditam. Mas elas têm algo em comum, ambas escutam você.

— E cabe a mim ficar de babá? Pelo amor de Deus… — reclamou. — Bom, não é como se eu tivesse escolha. Vamos, raposinha, ou vão deixar a gente pra trás.

Tera pulou nos braços de Adam e ele correu para alcançar seus companheiros.

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