Volume 7
Festival Cultural: O Ato de Abertura
No dia do festival cultural, o tempo estava bom e claro. Felizmente, o final do verão estava acalmando, então mesmo as roupas que ele vestia não pareciam lhe causar problemas para regular a temperatura corporal. Ele apreciava o fato de não começar a suar mesmo com a gravata apertada.
“Nós estamos no primeiro turno, então estou um pouco nervoso.”
“Estaremos terminados ao meio-dia, então teremos que fazer o nosso melhor até lá. Temos você e Mahiru aqui na frente, então tenho certeza que estará bem lotado.”
“Me desculpe por isso. Mas, como devo dizer? Eu sinto que não pode ser evitado, eu já me resignei ao meu destino.”
Amane terminou de ouvir a cerimônia de abertura dos alunos com antecedência no ginásio e se trocou enquanto conversava com Yuuta, que estava no mesmo turno que ele, na sala de espera que eles usavam para trocar de roupa, mas… Yuuta já estava sorrindo em resignação. Parecia que ser exposto era algo cotidiano para ele, e como só as roupas seriam diferentes, ele desistiria e aceitaria o inevitável.
Caras bonitos realmente passam por dificuldades, hein, Amane pensou e se virou para olhar para ele com pena, mas quando percebeu, Yuuta deu-lhe um sorriso modesto.
“É melhor você ter cuidado também, Fujimiya. Shiina-san vai ficar com ciúmes.”
“Não precisa se preocupar, serei como o ar quando você estiver por perto.”
“Você realmente foi… Bem, Fujimiya, você pode acabar com mais ciúmes do que ela."
“Em vez de ciúme, estou morrendo de preocupação.”
Mahiru era fofa e sua roupa de empregada combinava bem com ela. Na verdade, ficou tão bem nela que Amane ficou preocupado com a possibilidade de ser perseguida por indivíduos estranhos ou assediada sexualmente. Ele tinha certeza de que muitos alunos iriam visitá-los em busca de Mahiru e, como namorado dela, isso não era motivo de riso, então Amane estava preocupado de que eles pudessem enviar a ela alguns olhares rudes.
Yuuta, que parecia ter percebido o que se passava na mente de Amane, baixou as sobrancelhas e sorriu ironicamente enquanto dava tapinhas nas costas dele, dizendo: “Boa sorte”.
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
Depois de trocar de roupa e voltar para a sala de aula, ele encontrou todos os seus colegas que pareciam já ter terminado os preparativos. Ele presumiu que os alunos que ele não conseguia ver por perto provavelmente estavam arrumando a cozinha.
Como seu turno começava ao meio-dia, Itsuki, ainda vestindo seu uniforme, ficou na frente do pódio e sorriu tão brilhantemente como sempre depois de ver seus colegas se reunindo ao redor.
“Hoje é o primeiro dia do festival cultural. Honestamente, não tenho certeza de quantos clientes virão. Não é como se não houvesse precedentes para um café como o nosso, mas, afinal, temos muitas pessoas na nossa turma.”
Itsuki olhou para Yuuta e Mahiru. Os dois deram um sorriso estranho em resposta. Era melhor para eles estarem preparados.
“De qualquer forma, vamos fazer isso do nosso próprio jeito. É o nosso especial festival cultural, uma oportunidade de nos divertirmos. Não se preocupem se não conseguirmos muitos clientes ou não. Para ser sincero, não creio que teremos tanta margem de manobra no próximo ano. Alunos do segundo ano como estamos em melhor posição para aproveitar ao máximo o festival cultural, sem dúvida haverá exames para se preocupar nesta época no próximo ano.
“Ouvir você dizer isso me faz perder o ânimo.”
“De repente ficou tudo deprimente.”
“Desculpe, desculpe. Então não vamos ficar para baixo! Vamos nos divertir novamente no festival cultural este ano!”
Uma aura melancólica pairou sobre a turma por um momento, mas o sorriso de Itsuki iluminou o humor de todos de uma só vez. Foi a decisão certa Itsuki assumir o comando da turma.
“Ah, isso, tenho algo para compartilhar. Chame isso de prática comercial ou lembrete, mas tenho certeza de que todos vocês sabem disso. Certifiquem-se de que ninguém tire fotos na loja. Daremos um aviso verbal quando estiverem na recepção, mas fotos são proibidas, e mesmo que perguntem e deem algum tipo de motivo, não permitiremos esse tipo de serviço, então apenas recuse eles. Caso contrário, algo problemático pode acontecer.”
É claro que certas lojas no centro da cidade muitas vezes permitiam esse tipo de serviço. Mas este era apenas um festival escolar, e eles não pretendiam vender as aparências dos servidores. Por esse motivo, havia um aviso na loja que dizia claramente “não é permitido fotografar”, e havia uma mensagem semelhante exibida nos cardápios localizados nas laterais de cada mesa.
Da mesma forma, foi proibida a filmagem de vídeos nas dependências da escola durante a duração do festival cultural. Como resultado de estudantes transmitirem eventos em sites de streaming de vídeo e aplicativos em outras escolas, foram relatados incidentes de estudantes femininas sendo perseguidas, e foi recentemente decidida uma proibição em sua escola nos últimos anos devido a isso.
Refletindo sobre como o mundo mudou a ponto de tais restrições serem necessárias para a segurança dos alunos, Amane ficou impressionado, mas também intrigado só de pensar nisso. De qualquer forma, havia pessoas que não seguiam as regras, então ele se certificou de ficar atento.
“Bem, é isso. Já vai começar.”
Assim que Itsuki terminou de falar, um ruído sutil pôde ser ouvido nos alto-falantes da sala de aula. E no instante seguinte, o diretor declarou o início do festival cultural para todas as turmas.
“Okay, vamos fazer o nosso melhor hoje e amanhã! Mirem em ser a classe com mais vendas do ano!”
A turma inteira ficou animada com as palavras imprudentes de Itsuki enquanto ele levantava o punho no ar. Ele parecia estar mais do que apenas entusiasmado.
Amane endireitou as costas mais uma vez, e Mahiru, que estava ao seu lado ouvindo em silêncio, sorriu modestamente e sussurrou: “Vamos fazer o nosso melhor.”
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
Pode-se dizer que foi exatamente como esperado, mas desde que a loja abriu, muitos clientes… principalmente colegas estudantes, foram até a classe de Amane.
“O efeito do Anjo é tão assustador.”
Yamazaki, um colega de classe e responsável pelo atendimento ao cliente, murmurou isso. Provavelmente, ele ficou impressionado com a rara visão de ver um evento, organizado por estudantes, com uma área de estar tão lotada assim que começou. Ou talvez ele tenha ficado surpreso com o entusiasmo transbordante de todos os clientes. Não havia como acomodar todos os clientes no café ao mesmo tempo, por isso, mesmo que o número de clientes que entravam na loja fosse limitado, era inevitável que houvesse algumas coisas que eles não pudessem evitar.
A cada vez que Mahiru passava pelo café, todos os olhares dos meninos eram atraídos para a figura dela e, ao ver isso, Amane experimentava uma mistura de exasperação, admiração e descontentamento, mal conseguindo não deixar isso transparecer em seu rosto. Amane já previa este resultado e já havia desistido há muito tempo, mas não achava que fosse motivo de riso. Da perspectiva de Mahiru, porém, parecia que a mesma coisa poderia ser dita a Amane, então o sentimento era mútuo.
“Bem, isso era de se esperar. Mais importante ainda, temos clientes.”
Depois de repreender Yamazaki, Amane guiou os novos clientes até seus assentos. A rotina usual era ter qualquer equipe disponível para atender os clientes que chegavam, mas de vez em quando um cliente solicitava ser atendido por um determinado aluno, o que representava um certo problema. O café deles não oferecia serviços específicos, como solicitações de funcionários, e, se pudesse, Amane queria dizer-lhes que visitassem uma loja que oferecesse.
Amane se desculpou um pouco com as alunas que queriam ser atendidas por Yuuta, mas como ele estava ocupado atendendo outros clientes, elas teriam que se contentar com Amane.
“Prezada cliente, por favor, sente-se aqui.”
Amane puxou uma cadeira e virou-se para a garota, sorrindo como Ayaka o havia instruído, apenas para descobrir que a garota que estava desanimada por não ter sido atendida por Yuuta olhou para ele e ficou surpresa. Sentindo pena de não ser a pessoa que ela queria, Amane mostrou a cesta onde colocar seus pertences e entregou o cardápio à aluna.
“A recomendação de hoje é este A-set. Isso é do seu gosto?”
“E-Então eu vou pegar esse…”
Embora fossem recomendações, havia apenas três conjuntos de itens disponíveis no cardápio, A, B e C. Cada um continha uma combinação de doces assados e bebidas. Eles vendiam as refeições em conjunto para evitar que os alunos pedissem apenas uma bebida e ocupassem espaço para sentar. O recepcionista deveria informar os clientes para relatarem qualquer alergia com antecedência, para que não tivessem problemas.
Amane curvou-se educadamente para a garota que fez seu pedido hesitante e recitou: “Certamente, por favor, espere pacientemente até que seu pedido esteja pronto.”
“Um A. Estamos lotados de pedidos, então faça o seu melhor.”
Nos bastidores, havia colegas dele indo e voltando entre a cozinha alugada e a sala de aula para servir os doces aos clientes, e um colega que por acaso estava livre levantou lentamente a cabeça.
“Uou… olhei para a recepção, isso vai ser difícil.”
“Não diga isso.”
“Tentamos nos preparar o máximo que pudemos antes de abrirmos o café, para que possamos pensar em algo, mas…”
“Vou fazer o que puder, vai funcionar, certo?”
“…Estou observando há algum tempo e acho que as coisas vão ficar mais difíceis para vocês daqui em diante.”
“Sério? Bem, sem dúvida Kadowaki está em alta demanda, ele ficará mais ocupado à medida que mais clientes chegarem.”
“Não é disso que estou falando.”
Seu colega suspirou, mas não parecia ter intenção de prosseguir com nada, o que deixou Amane perplexo, mas ele não achava que seria tão difícil para ele.
Amane olhou para ele com uma expressão que insinuava que ele não entendia e, em vez disso, foi retribuído com pena.
“Além disso, toda vez que Shiina-san aparece, ela parece um pouco descontente com alguma coisa.”
“O que há com isso?”
“Acho que provavelmente é culpa sua.”
“Não há nada que eu possa fazer, atender os clientes é minha função.”
“Isso faz parte, mas não acho que seja o único motivo.”
“Eu não sei o que você quer dizer aqui.”
Amane sentiu que estava sendo culpado por isso, mas não percebeu e sua expressão ficou nublada. Amane presumiu que ele estava tentando insinuar que Mahiru estava com ciúmes, mas a julgar pela maneira como ele disse isso, ela pode estar de mau humor por causa de outra coisa.
Amane decidiu perguntar a Mahiru mais tarde, mas encerrou a conversa e transportou a refeição preparada para a mesa.
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
Passaram-se uma hora e meia desde a inauguração da loja, mas não havia sinais de que o fluxo de clientes iria se acalmar. Na verdade, estava aumentando. Embora o número de visitantes tenha aumentado ao longo do tempo, a fila de pessoas que esperava parecia despertar a curiosidade de quem simplesmente passava. No início, a maioria dos clientes eram colegas estudantes, mas aos poucos o número de convidados também começou a aumentar.
Como esperado, embora não parecessem tão entusiasmados quanto os alunos, Amane notou alguns clientes convidados admirando os belos servidores. Alguns deles eram clientes relativamente jovens que tentavam conhecê-los puxando conversa, mas as garçonetes os tratavam como se não fossem nada.
“Você é tão fofa, senhorita.”
Claro, o homem estava tentando chamar Mahiru, mas ela simplesmente agradeceu com um sorriso modesto e continuou a servir outros clientes. Não querendo deixar a conversa avançar, Mahiru continuou a interromper o homem que tentava atraí-la, perguntando repetidamente: “Você está pronto para fazer o pedido?”
Tal indiferença no tratamento dela parecia indicar ao cliente que ele era apenas isso: um cliente.
“Eu já decidi o que pedir, mas o mais importante, você é...”
“Se você decidiu, por favor me diga seu pedido.”
“Humm, se você não se importa, depois disso…”
“Peço desculpas, não oferecemos esse tipo de serviço em nosso café. Se você estiver pronto para fazer seu pedido, não se esqueça de me avisar.”
O cliente estava prestes a perguntar mais uma vez, mas Mahiru deu-lhe um sorriso profissional clássico. Evidentemente, o cliente do sexo masculino notou os funcionários ao redor olhando para ele com frieza e se acalmou obedientemente antes de finalmente fazer seu pedido, embora desanimado.
Vendo tal cena ocorrer várias vezes, até mesmo Amane não pôde deixar de formar um sorriso estranho.
… Parece que todos estão sendo superprotetores com ela, não apenas eu.
Ele podia sentir que ninguém em sua classe permitiria que qualquer dano acontecesse a Mahiru. Era um fato conhecido que seus colegas adoravam Mahiru, mas Amane não esperava que todos fossem tão considerosos com ela.
“Eu sei que você está preocupado, mas nós também estamos preocupados, então não se esforce demais.”
Yuuta exibiu um sorriso irônico enquanto caminhava até Amane, fazendo-lhe uma surpresa. Por assim dizer, Yuuta era frequentemente abordado por clientes do sexo feminino, mas muitas vezes era visto esquivando-se delas de maneira experiente.
“Eu sei que você não sente vontade quando tem uma namorada tão popular, mas Fujimiya, você não pode continuar se preocupando com Shiina-san. Ficaremos de olho quando pudermos.”
“Kadowaki...”
Apreendendo a gentileza e preocupação de seus colegas de classe, especialmente Kadowaki, o coração de Amane começou a se espalhar com calor.
“Bem, não queremos ver um amigo se machucar, ou melhor… não queremos que eles atrapalhem a nossa cura.”
“Cura?”
“'Não perturbe esta atmosfera agridoce, ou o relacionamento deles’, esse parece ser o consenso de nossa classe.”
“Desculpe, não entendi o que você quer dizer.”
Perplexo, Amane pensou: Do que diabos ele está falando? Yuuta, que havia falado uma frase que não fazia sentido para ele, perdeu temporariamente a compostura e pigarreou em diversão.
“De qualquer forma, acho que não há problema em apenas dizer que Shiina-san é muito amada. Considere isso uma prova de que a turma está vendo vocês dois com bons olhos, como um casal.”
“Você quer dizer que estamos sendo constantemente observados.”
[Del: Sim. | Jeff: Me senti um incômodo observando eles nesse exato momento -_-]
“Não, bem, na verdade, quando vocês dois flertam tão naturalmente assim o tempo todo, você não pode nos culpar.”
“Não estamos flertando.”
“Não não não não não.”
Por outro lado, Amane franziu os lábios como se perguntasse do que ele estava falando. Ele não conseguia se lembrar recentemente de uma época em que estivesse flertando ativamente. Ele não se lembrava disso, mas como muitas vezes tocava Mahiru inadvertidamente, ele poderia ter criado esse tipo de atmosfera sem perceber.
Eu tenho que ter cuidado…
Do contrário, Amane acabaria fazendo algo ruim inconscientemente. Percebendo seu silêncio, Yuuta riu alegremente e disse: “Bem, acho que está tudo bem desde que vocês estejam feliz”, o que deixou Amane envergonhado, então ele franziu os lábios com ainda mais força.
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
“Amane-kun.”
Quando Amane entrou na sala dos fundos, os olhos de Mahiru brilharam enquanto ela se aproximava dele. Diferente de seu sorriso profissional, ela agora sorria do fundo do coração, e o cumprimentou com uma expressão que ela só permitia que ele visse.
“Você não está cansada?”
“Eu estou bem. Todo mundo está preocupado comigo… Fiquei surpresa ao ver todos dando sorrisos intimidantes para o cliente que trouxe uma câmera.”
“Uh-huh. Bem, esclarecemos muitas vezes que fotos não eram permitidas e dissemos a eles verbalmente de antemão, mas se eles simplesmente ignorarem, não há como ajudar.”
“Todo mundo estava tão cheio de motivação…”
“Bem, isso é verdade.”
Mahiru não pareceu notar Amane, que não podia dizer que era porque todos estavam vigiando-a vigorosamente, e ela soltou uma leve risada semelhante a um sino.
Ele não tinha certeza se ela já havia notado ou se já estava acostumada com isso, mas por enquanto, Mahiru parecia estar focada no café e continuava olhando da sala dos fundos.
“Há muito mais clientes do que eu esperava.”
“Provavelmente é algum tipo de movimento. Sabe, o tipo de coisa que faz você querer entrar na fila.”
"Talvez. Claro, isso faz parte…”
Naquele exato momento, os olhos dela se voltaram para Amane.
(Mahiru) “…Acredito que muitos estão visitando na esperança de ver uma determinada pessoa. Quando ouvi as conversas lá fora, havia vozes que pareciam insinuar isso.”
“É verdade, parece que muitos estudantes vêm ver você…”
“…Amane-kun, depois que o festival cultural terminar, tenho muitas coisas para conversar com você.”
“Huh? Que coisas?”
“Muitas coisas.”
[Del: Vish... “Quando chegarmos em casa, vamos ter uma conversa” – assinado mãe.| Jeff: Medo maior impossível.]
Como se estivesse escondendo algo dele, Mahiru franziu as sobrancelhas como se estivesse insatisfeita, e Amane olhou nos olhos dela, perguntando-se impacientemente se ele havia feito algo acidentalmente que não deveria ter feito, mas Mahiru de repente desviou os olhos. No entanto, parecia resultar mais de constrangimento do que de um apelo de raiva. Suas bochechas ficaram ligeiramente vermelhas.
“… Sua roupa é tão injusta.”
“Sim, sim… Você vai se acostumar logo. Você viu o máximo que pôde durante nosso treino, não?”
“Não é possível. A maneira como você olha para as outras pessoas e a maneira como você olha para mim é tão diferente.”
“Seria um problema se fosse o mesmo…”
Deveria ser natural que seu olhar para as outras pessoas fosse diferente do olhar para sua amante. Não importa o quão fofas as clientes sejam, a maneira como Amane olharia para elas permaneceria a mesma. Para começar, Amane não achava que algum dia encontraria alguém mais fofa do que Mahiru. Ele considerava todas as suas expressões, sua timidez e seu mau humor, como parte de sua fofura, e ele acreditava que ela era a garota mais charmosa que ele já tinha visto.
“Você simplesmente não entende, Amane-kun… Eu não vou deixar você ser levado por mais ninguém, mesmo que entendam seus encantos agora.”
Amane de repente inclinou a cabeça em confusão com a mudança repentina de assunto de Mahiru, mas ela não disse nada mais e simplesmente bateu no peito dele, aparentemente se livrando de suas frustrações.
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
O que mais preocupou Amane no fato de Mahiru servir como garçonete não era sua tendência de atrair a atenção dos outros. Nem foi o aparecimento de pessoas que queriam interagir com ela devido à sua beleza incrível e cativante. O que mais preocupava Amane era a possibilidade de alguém impor a ela um dos três maiores desejos da humanidade.
Já passava do meio-dia quando isso aconteceu, apenas dez minutos antes do final do turno.
Havia um certo cliente masculino que acompanhava as funcionárias desde que entrou no café, no entanto, não era uma visão muito incomum, já que a loja deles tinha uma variedade de lindas garçonetes. Mesmo assim, Amane teve o palpite de que deveria manter a guarda alta, ao perceber que o cliente começava a olhar com os olhos para os outros membros da equipe.
Quando Amane terminou de trazer uma refeição encomendada e estava prestes a voltar com a bandeja vazia… ele viu o homem estender a mão para Mahiru. Como aquela que o servia, Mahiru havia trazido seu pedido e estava prestes a retornar. De costas para o cliente, aconteceu naquele momento e, naturalmente, Mahiru não conseguiu ver a situação que ocorria atrás dela.
O homem estendeu a mão para os quadris vestidos com a saia e estendeu a mão, antes de mudar de rumo em direção às nádegas dela. Amane deu um passo à frente. Como Amane estava por perto e os movimentos do homem eram bastante lentos, ele conseguiu intervir a tempo.
“Prezado cliente, evite tocar descuidadamente em nossa equipe.”
Amane, que colocou uma bandeja entre Mahiru e a palma da mão do homem antes que ele pudesse fazer contato, fingiu ser amigável e falou baixinho em palavras de advertência. Superficialmente, ele permaneceu calmo, mas por dentro, ele ficou tremendamente irritado com o fato de sua linda namorada ter sido agredida de maneira dramática, e como a mão estava no ar à beira do assédio sexual, a raiva de Amane aumentou ainda mais.
Mahiru, ouvindo o conteúdo e o tom de sua voz, pareceu ter percebido o que estava prestes a acontecer e deu um passo para longe, com as bochechas tremendo. Amane inclinou o corpo para o lado para protegê-la e esboçou um sorriso tão gentil quanto pôde. Antes que ele percebesse, o silêncio permaneceu dentro do café, ele podia sentir muitos olhares se reunindo sobre ele, mas sua irritação era tão forte que ele não se importou. No entanto, ao mesmo tempo, ele estava racional. O cliente falhou, foi apenas uma tentativa. Ele provavelmente tinha muitas desculpas à sua disposição que poderia usar para eliminar suspeitas.
As pessoas ao seu redor provavelmente notaram o que aconteceu enquanto olhavam para as palmas das mãos do homem, mas nenhum deles agiu de acordo com suas suspeitas ainda. Se o cliente chamasse isso de coincidência, Amane não seria capaz de insistir mais no assunto. No entanto, houve uma coisa que Amane percebeu. Algo do qual o homem não poderia escapar, mesmo que tentasse fingir inocência em sua tentativa de assédio.
“Uma coisa, caro cliente. Posso perguntar onde está sua autorização de entrada?”
A mudança repentina de assunto fez com que os olhos do homem se arregalassem.
“Deixe-me te perguntar. Como você entrou em nossa escola? Parece que você não está usando sua pulseira, prova de sua permissão de entrada.”
No interior do edifício escolar, pretendia-se que os visitantes usassem uma pulseira devidamente descartável, mas resistente, como prova do convite. Devido aos muitos incidentes perigosos e roubos relatados nos últimos anos durante a duração do festival cultural, onde os visitantes entravam e saíam frequentemente do campus, os visitantes do público em geral foram obrigados a usar a pulseira. Os alunos da escola não eram privados dessas mesmas regras, mas tinham uma placa colorida para usar, cujas cores serviam para diferenciar o ano do aluno.
A escola também preparou áreas para os alunos, restritas a visitantes externos, para evitar que o público entrasse onde não deveria. Assim que Amane apontou, o homem prontamente respondeu: “É-é porque molhou e rasgou…” e Amane deu uma risadinha.
“Que bizarro. Lembro que foi feito para ser à prova d'água. De acordo com o panfleto divulgado, você poderia reemiti-lo na recepção caso algo tivesse acontecido com a pulseira. Só para ter certeza, quem são os alunos que solicitaram sua autorização de entrada? Tenho certeza que você não terá problemas em responder isso, certo?”
“Is-isso é…”
“…Isso está fora de questão.”
Preparando o sorriso, Amane olhou para os outros membros da equipe que observavam a situação.
“Sinto muito, mas alguém poderia chamar um membro do conselho estudantil ou um professor? Seria ruim permitir que um estranho que não foi convidado continuasse vagando por aí.”
“Já entrei em contato com alguém. O professor da patrulha está se aproximando.”
“Bom trabalho.”
Ouvir a resposta rápida de Kadowaki fez Amane soltar um suspiro de alívio. Ele encolheu os ombros, endureceu a atitude e sorriu para o homem que tentara molestá-la.
Escusado será dizer que seus olhos não sorriam.
(Professor) “Com licença, caro cliente. Se me permitir explicar melhor, o problema não está nas suas ações, mas na entrada não autorizada no prédio da nossa escola. Minhas desculpas, mas você pode listar suas desculpas para aqueles que trabalham na recepção.”
Depois de informar indiferentemente ao homem sobre seu curso de ação, o professor chamado se aproximou do homem, então Amane pegou Mahiru pela mão e exalou silenciosamente.
O resultado provável é que ele seria forçado a abandonar as instalações, uma vez que a escola também seria notificada da sua tentativa falhada de abuso sexual. Amane não pôde deixar de ficar surpreso ao pensar em como o homem nem estava familiarizado com o sistema de inscrição de visitantes usado no festival. Era mantido registros de todos os visitantes convidados por cada aluno por meio dos formulários de inscrição que foram entregues previamente, e somente aqueles listados que tivessem identidade clara poderiam entrar. Se baixassem a guarda por um momento, seriam capazes de identificar o indivíduo suspeito, e o aluno que os convidou seria punido levemente. Quanto a isso, não havia muitos estudantes que pretendessem usar indevidamente seus convites. Mesmo assim, o flerte caiu em uma área cinzenta em termos de regras e, a menos que fosse excessivamente persistente ou dramático, era improvável que recebesse uma punição severa.
Amane permaneceu curioso para saber como o homem conseguiu entrar, mas confiou na capacidade da diretoria de extrair informações. No ano seguinte, no mínimo, Amane previu que seria obrigatório mostrar a pulseira como prova de convite antes de entrar nas salas.
O homem estava tentando dizer alguma coisa, mas Amane não queria nada com isso e prontamente o ignorou. Após confirmar que o cliente havia saído da sala de aula, escoltado pelo professor da turma, ele se virou para os demais convidados olhando em sua direção e sorriu como se nada tivesse acontecido.
“Minhas queridas desculpas pela perturbação. Por favor, continuem a desfrutar de seus chás.”
Amane curvou-se graciosamente e o resto da equipe fez o mesmo, estabelecendo uma atmosfera na sala que marcou o fim da comoção. Tendo confirmado que as conversas começaram a aumentar mais uma vez, Amane apertou silenciosamente a mão de Mahiru e a acompanhou para o lado.
“Huh? A-Amane-kun?”
“Mudaremos de turno em breve, então faça uma pausa primeiro. Se você esperar um pouco, eu vou ir me trocar com você em breve.”
Ele olhou para seus colegas, buscando confirmação, e decidiu que não seria um problema enquanto eles gesticulavam para que ele fosse com suas mãos. Ele abaixou a cabeça suavemente e levou Mahiru para o fundo, onde preparou uma cadeira para ela se sentar. Ele acariciou a cabeça de Mahiru, que parecia um pouco perturbada como se o choque ainda não tivesse passado, e Amane mais uma vez partiu para a frente, pensando que mesmo que estivessem prestes a trocar de turno, não seria bom para os dois faltarem ao trabalho.
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
Como era o fim do turno dele, Amane voltou para a sala dos fundos e encontrou Mahiru sentada em sua cadeira, esperando por ele. Ela também segurava um copo de papel cheio de café, provavelmente dado a ela por um(a) colega de classe como forma de ajudá-la a se acalmar.
Quando ela percebeu que Amane havia retornado, seu olhar se suavizou, evidentemente aliviado, e a expressão de Amane relaxou da mesma forma.
“Bem-vindo de volta, Amane-kun.”
“Voltei. Se acalmou?”
“…Não é realmente algo com que você precise se preocupar.”
“É natural que eu me preocupe com você.”
No momento, Amane sentiu que Mahiru estava um pouco tensa e a acompanhou até ali, e não achou que sua decisão estivesse errada. Ele deu um tapinha na cabeça de Mahiru mais uma vez e ela parecia um pouco insatisfeita. Ela baixou os olhos envergonhada enquanto tomava um gole de café. Depois de se certificar de que seu copo estava vazio, Amane colocou seu moletom no colo de Mahiru.
A escola deles sempre tinha ar condicionado a uma temperatura adequada, mas como era outono, ficava cada vez mais frio com o passar dos dias, e muitos alunos carregavam casacos. Amane era um desses alunos, mas este o trouxe para Mahiru usar.
“Aqui, coloque isso por cima da sua roupa. Você vai se destacar ainda mais se andar vestida assim.”
Se ela andasse por aí vestida de empregada, certamente atrairia atenção. E além disso, fora do café era permitido tirar fotos, então Amane preparou com antecedência para não causar alvoroço desnecessário. Graças à diferença de altura entre Amane e Mahiru, o moletom dele a cobriria até as coxas, para que ela não se destacasse tanto enquanto tirasse o avental. Mesmo assim, era natural que Mahiru se destacasse graças à sua aparência graciosa.
Mahiru obedientemente tirou o avental e vestiu o moletom de Amane, fechando o zíper. Ela parecia estar com um humor melhor do que momentos antes. Mahiru arregaçou as mangas extralongas e aproximou o nariz, respirou fundo e sorriu — Amane desejou que ela não fizesse tal coisa. O sorriso dela fez mal ao seu coração.
Itsuki, que estava por perto e prestes a assumir o turno da tarde, ajeitou a gravata e sorriu para ele, aparentemente percebendo o que aconteceu. Amane franziu a testa em resposta, o que o fez sorrir ainda mais. O rosto de Amane parecia ainda mais irritado quando ele sentiu que estava do lado perdedor, mas ele aceitou relutantemente o olhar deles depois de ver a vibração nos olhos de Mahiru. Não querendo aguentar por muito mais tempo, Amane tirou o uniforme da bolsa no armário e colocou a jaqueta e o colete dentro depois de tirá-lo. Com isso, ele tinha certeza de não se destacaria ao andar pelos corredores.
Mahiru percebeu suas intenções de se trocar e se levantou, guardando o avental em seu próprio armário antes de pegar o uniforme.
“Bem, estamos trocando. Vou deixar o resto para você.”
“Beleza, cara. Se solte e flerte o quanto quiser.”
“Cale-se. Não saia por aí flertando no café.”
Amane franziu a testa mais uma vez com sua resposta leve, mas sentindo o calor da mão de Mahiru, ele não conseguiu fazer uma careta por muito mais tempo e saiu da sala de aula para vestir seu uniforme com uma indescritível expressão no rosto.
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
Saindo para o corredor, notaram que a tensão estava maior do que o normal. A animação era palpável. Embora os visitantes tivessem que ser convidados através de inscrições, ainda havia um grande número de convidados perambulando, então era um resultado natural, mas ver o corredor, normalmente silencioso, tão movimentado era bastante perturbador para ele.
“Olhe para todas as pessoas.”
“Parece que há mais convidados do que o normal.”
“Bem, isso é tudo, então. Alguém suspeito poderia facilmente escapar do radar da recepção e entrar.”
O festival cultural da escola foi em uma escala muito maior do que o normal. Essa certamente seria a razão para o grande número de pessoas de fora que procuravam experimentar o que os estudantes tinham a oferecer.
Mahiru abaixou a cabeça em resposta a ‘alguém suspeito’ e Amane fortaleceu moderadamente o aperto de sua mão.
“…Você está bem, Mahiru?”
“Ah, s-sim. Fiquei surpresa, mas foi apenas uma tentativa.”
Mahiru balançou a cabeça em pânico depois de perceber as preocupações de Amane. No entanto, Amane sabia que se ela estivesse realmente bem, não teria essa expressão no rosto.
“Sinto muito, eu deveria ter ficado mais de olho.”
“Você também está ocupado, Amane-kun. É tudo porque baixei a guarda em primeiro lugar…”
“Quer você baixe a guarda ou não, sempre haverá caras assim. É por isso que deveríamos ter sido cuidadosos e impedido que isso acontecesse.”
Havia algumas coisas que não podiam ser evitadas, por mais cuidadoso que fosse. Molestação era algo difícil de detectar e difícil de provar; havia pouco que se pudesse fazer para evitá-lo totalmente. Mahiru parecia estar culpando seu próprio descuido como o principal motivo, mas não havia nada pelo que Mahiru pudesse se culpar. Era algo que poderia acontecer a qualquer um sem aviso prévio.
“Você não tem culpa, Mahiru. A culpa é deles, pensando que é aceitável imporem sua luxúria e desejos a uma garota simplesmente porque são atraentes. Todos merecem e devem ser tratados com respeito, independentemente do sexo ou da aparência física.”
“…Sim.”
“Então, por favor, não aja como se você fosse a culpada.”
Amane sussurrou suavemente para ela, e Mahiru baixou os olhos antes de apoiar o corpo em seus braços.
“…Você não me toca com frequência, Amane-kun, mas eu só desejo ser tocada por você. Só você.”
A voz de Mahiru tremeu enquanto ela sussurrava suavemente. Amane apertou sua mão com mais força para levantar seus lábios.
Os olhares ao redor o queimavam enquanto caminhavam, mas como todos na escola sabiam de seu relacionamento com o Anjo, já era tarde demais. Não era agradável para ele ser visto naquele estado, mas aos poucos ele estava se acostumando.
“Não com frequência? Não me lembro de ter tocado você de uma forma estranha.”
“Às vezes, quando venho te acordar, você se deita em cima de mim, meio adormecido.”
“Você poderia, por favor, me acordar ali mesmo? Você está me fazendo parecer um pervertido.”
A revelação repentina e chocante o fez olhar instintivamente para Mahiru, percebendo que ela estava começando a recuperar a vitalidade, seu rosto parecia cheio de vida. Mahiru exibiu um sorriso travesso depois dele se virar para ela.
“Eu sou sua namorada, não acho que tocar meu corpo faz de você um pervertido.”
“Mesmo assim…”
“Eu não me importo.”
“Não seja muito gentil comigo agora. Eu definitivamente vou acabar tocando você.”
“Você não quer me tocar?”
“Quer dizer, eu também sou um cara, então quero tocar você de várias maneiras, mas ainda é muito cedo.”
Claro, ele tinha o desejo de tocá-la, mas Amane sabia que a razão de um homem era frágil, então jurou não tocá-la mais do que o necessário. Ele estava bem ciente de que a própria Mahiru não se importava. Ela preferia ser tocada por Amane. Ela frequentemente mencionava como era confortável compartilhar o calor de seus corpos e como ficaria emocionada quando ele a tocasse. No entanto, como ele sabia o quão rapidamente a situação poderia piorar se ele fosse longe demais, Amane teve que se conter, especialmente se ele a tocasse tanto quanto quisesse.
Virando-se, entendendo ou afastando os pensamentos de Amane, ela riu e se aconchegou nele com força.
“Hehe. Por favor, entenda, Amane-kun. Não é que eu não goste disso.”
“…Eu sei disso muito bem”, ele respondeu.
Ele sabia que era permitido, já que Mahiru o amava, mas ouvi-la dizer isso tão claramente fazia mal ao seu coração. Eu vou tocá-la o quanto quiser quando puder assumir a responsabilidade, Amane pensou calmamente enquanto acariciava a palma da mão de Mahiru, enquanto ela sorria alegremente ao seu lado.
Resenha dos Tradutor/Revisores:
-DelValle: Contentação interior. Yei, que bom traduzir Otonari, obrigado pela oportunidade.
-Jeff: Como é bom revisar a tradução de Otonari feita pelo Del, mais uma vez a Mahiru de maid, muito fofinha por sinal.