O Anjo da Porta do Lado me Mima Demais Japonesa

Tradução: DelValle

Revisão: Yoru, Axel


Volume 5.5

Ansiedade Infantil e Atual Alívio

   Mahiru deu uma razão plausível para estar preocupada com a saúde de Amane, mas na realidade foi um ato de seus sentimentos egoístas. Era porque ela queria estar perto da pessoa que ela amava. Claro, ela entendia que o tempo sozinho também era importante para Amane e Mahiru, e não era para constranger ele. Ela tentou ficar perto de Amane secretamente e cuidadosamente observando-o para ver se ele não se importava ou se estava incomodado pela presença dela.

   Felizmente, Amane não se importava de Mahiru estar em sua casa e aceitou sua presença como uma coisa natural. Ele sorria tão felizmente que ela muitas vezes interpretava mal o seu sorriso. Ela zombou de si mesma, pensando em quão simples era sentir-se bem apenas por visitar outra pessoa. Seu rosto estava um pouco solto enquanto pensava isso. Ela não sabia se era uma coisa boa ou não, mas pensava que era boa.

   Ela tapeou levemente as bochechas para apertar o rosto e depois abriu a porta da frente de Amane com a chave reserva que ele deu a ela. Ela entrou pela porta da frente, mas não havia nenhum som. Ela pensou que ele poderia estar dormindo, mas tardiamente percebeu que ele estava fora quando ela não viu os tênis que ele geralmente usava.

   Ela estava meio surpresa e meio interessada, já que Amane era uma pessoa caseira e não costumava sair a essa hora do dia.

“Tudo bem relaxar aqui sem a permissão do proprietário quando ele não está aqui?”

[Axel: Não minto que hoje eu tava o mais puro sprito do baiano… e parece que a Mahiru foi possuída por ele kkk]

   Ela tinha uma chave reserva e permissão para entrar e sair quando quisesse, mas ela não achou certo ficar aqui quando Amane, dono deste lugar, não estava aqui.

 

{“Você pode entrar sem mim. Eu não acho que Mahiru faria algo de errado.”

“Eu não vou, mas você acha que está tudo bem entrar em um espaço privado sem permissão?”

“Você quer entrar no meu quarto?”

“Não, eu não vou… mas não é isso. Você não está preocupado comigo entrando e vendo alguma coisa.”

“Eu não me importo, pois não há nada para ver que eu me importe. E eu não vejo qualquer padrão onde você entraria no quarto, então você pode fazer o que você quiser na sala de estar.}

 

   Embora tivessem tido essa conversa antes, ela ainda estava um pouco hesitante — não, ela estava muito hesitante porque ainda era a casa de outra pessoa. Eles ainda tinham uma regra de que ligariam um para o outro se fossem se atrasar. Então ela não achava que ele iria se atrasar pelo fato de ela não ter ouvido nada dele.

     Está tudo bem se eu esperar um pouco?

   Ela se sentiu um pouco culpada e um pouco imoral, mas tirou os sapatos e entrou na sala para descobrir que ainda estava quieto e vazio. Apesar do cheiro da casa de Amane ainda ser reconfortante, de alguma forma parecia insatisfatória e fria porque a pessoa de quem ela gostava ainda não estava aqui.

   Como de costume, ela se sentou no sofá e encostou o corpo no encosto. Normalmente, quando ela se sentava no sofá, Amane estava ao lado dela. Quando eles estavam relaxando depois de cuidar de seus negócios, eles se sentavam no sofá assim e passavam um tempo tranquilo indo devagar.

   A temperatura corporal de Amane era um pouco mais alta que a de Mahiru*; ele tem um cheiro calmo e fresco; sua voz calma não era muito baixa e suave para se ouvir, seu corpo magro, mas firme, não vacilava quando ela se apoiava; ele não estava ao lado dela. Amane não estava ao lado dela. Quando ela percebeu isso, ela sentiu uma sensação irresistível de solidão.

*[Del: “… Estou quente?”; “… Sim, muito, muito quente.”; “Acho que você está com muito frio para começar, Mahiru.”. Capítulo 24.2 | Axel: Ia tirar fora de contexto mas deixa quieto kk]

“… Espero que você volte logo.”

   Ela derramou essas palavras sem querer, fazendo-a rir e se perguntar se ela realmente era tão solitária. Ela sentiu-se tola e envergonhada de si mesma por tentar tomar o tempo de Amane. Mesmo que ela estivesse acostumada a ficar sozinha, ela havia entrado na casa dele sem sua permissão e agora estava esperando por ele. Ela suspirou por seu egoísmo e aumentou seu peso no encosto.

[Del: Vocês se lembram do capítulo 64?]

   Ela estava acostumada a esperar. Ela esteve esperando por algo na maioria de sua curta vida de dezesseis anos. Ela estava esperando por anos e agora, ela havia desistido de algumas coisas. Não era tão doloroso esperar por algo que você sabia que eventualmente viria. Mesmo assim, uma parte dela sentia seu peito apertando enquanto ela relembrava algumas de suas velhas memórias.

     … Isso me lembra de como eu costumava esperar pelos meus pais o tempo todo.

   Lembranças das cenas dela esperando sozinha pelos pais, que ela não sabia se eles iriam voltar, vieram à sua mente, como se fosse impossível para ela segurá-las.

 

 

✧ ₊ ✦ ₊ ✧

 

 

   Desde que ela era uma garotinha, ninguém estava na casa de Mahiru. Ela morava em uma casa alugada em um andar de um prédio de apartamentos. A casa era grande o suficiente para uma família nuclear viver. Ela não deveria ter problemas para viver lá confortavelmente. Mas a casa não tinha decoração interior nem instalações.

   Mahiru morava sozinha em tal casa. Para ser precisa, sua família não estava em casa, mas havia uma empregada e tutora chamada Koyuki, mas até ela era passageira.

   E as pessoas que deveriam estar com ela, que eram relacionadas a ela pelo sangue, estavam longe de casa. Seus pais estavam tão ocupados com o trabalho que raramente vinham para casa e nunca apareciam, como se não se importassem com a existência de Mahiru.

   No entanto, não seria bom diante do público se eles não fizessem nada. Então eles deram a ela amplos fundos e uma governanta e tutora, Koyuki, para educá-la, e a deixaram sozinha enquanto cumpriam suas mínimas obrigações. Não foi até os sete anos, quando ela entrou no ensino fundamental, que ela percebeu que estava sendo negligenciada e começou a entender objetivamente que isso estava errado, e foi por volta do mesmo tempo que ela percebeu que estava sendo abandonada.

   Só mais tarde ela percebeu que sua mãe havia tido um arranjo. Ela era mais esperta do que as outras crianças e queria ser amada mais do que outras crianças. Se ela não tivesse notado, ela teria permanecido uma inocente criança.

 

 

✧ ₊ ✦ ₊ ✧

 

 

“Mãe.”

   Um dia, mais ou menos na metade do ensino fundamental, Mahiru ficou genuinamente satisfeita ao avistar a presença de sua mãe quando ela voltou para o lar.

   Ela ficou tão feliz em ver sua mãe, que nunca mostrava o rosto, que ela correu até ela e sorriu para ela, mas sua mãe não respondeu. Era como se ela não existisse. Ela estava segurando alguns materiais em suas mãos, mas ela nem estava se virando para olhar para ela.

   Ela se perguntou se sua mãe havia acabado de voltar do trabalho, e pensou que seria errado perturbá-la. Mas ela estava tão feliz em vê-la depois de tanto tempo que falou com ela sem dar uma olhada profunda na condição de sua mãe.

“Eu trabalhei muito mesmo quando minha mãe estava fora. Eu fiz o meu melhor em testes e esportes, e cheguei em primeiro lugar em muitas coisas.”

   Ela pretendia relatar que estava trabalhando muito e estudando muito enquanto ela estava fora. Ela sorriu e agarrou a bainha de sua saia para chamar sua atenção e... finalmente, o corpo de sua mãe voltou-se para ela.

   Era a primeira vez que sua mãe a encarava dessa forma. Mahiru só havia olhado para ela de longe ou só a tinha visto de volta antigamente, então esta foi a primeira vez que ela a viu tão perto e tão clara. O rosto de sua mãe, que olhou para ela, era um rosto forte que rejeitava todos ao seu redor.

   Embora seu rosto fosse bem definido, assim como Koyuki havia dito a ela, não era tão semelhante ao de Mahiru. Enquanto o rosto de Mahiru era calmo e gentil, semelhante ao de seu pai; o rosto de sua mãe era afiado e severo, o completo oposto de Mahiru. E não era apenas o rosto dela, mas também suas ações.

   Sua mãe, que tinha Mahiru em sua visão, olhou para sua filha com um olhar inorgânico e depois sacudiu-o. A ação foi realmente violenta; talvez ela estivesse lidando com uma criança. Mas sua clara recusa fez com que Mahiru cambaleasse e ela caísse de bunda. Ela olhou para Sayo com surpresa. Ali não havia calor no olhar que ela derramou sobre ela. Quando ela finalmente a reconheceu, ela olhou para ela como se estivesse olhando para uma pedra no acostamento.

   E foi aí que Mahiru entendeu. Ela entendeu que sua mãe não queria que ela existisse. A náusea e o som doentio de seu coração batendo impediram Mahiru de pensar mais. No entanto, uma vez que seus pensamentos giraram, todas as ações anteriores dela começaram a fazer sentido.

     —— Por que eu sou rejeitada assim?

     —— Por que eles não voltam para casa?

     —— Eles nem querem me tocar?

     Eu sou indesejada e não sou amada

   O olhar de sua mãe parecia responder às suas perguntas em voz alta.

     … Minha mãe não me quer.

   Antes que ela entendesse isso, ela frequentemente perguntava a Koyuki por que, mas agora ela rapidamente obteve para ela a resposta do porquê. Eles não cuidavam dela porque ela não era necessária. Deram à luz uma criança, desistiram de seus deveres como pais e a abandonaram. Portanto, sua mãe raramente aparecia, e mesmo quando Mahiru a encontrou, ela a ignorou e passou por ela. Enquanto Mahiru estava chocada ao perceber a cruel realidade de sua situação, sua mãe se virou e a deixou, e ela só podia observar suas costas. Ela tentou alcançá-la, mas sua mão cortou o ar e agarrou o nada. Não havia mais nada para Mahiru. Não, ela nada tinha desde o começo.

   Lágrimas escorriam de seus olhos e soluços saíam do seu coração delicado que foi cruelmente arrancado. A coisa que ela poderia dizer com certeza era que… ela não era amada. Não importava o quanto ela tentasse, se ela não era amada desde o início, então ela nunca seria vista. Então todos seus esforços foram inúteis.

“Por quê?”

   Ela chorou alto na casa vazia, tentando superar a raiva que estava transbordando por dentro e ameaçando quebrar seu coração assim que ela tirou suas dúvidas.

   Se ela não soubesse, ela poderia ter se agarrado a Koyuki e chorado. Ela era como sua meia-parente, mas ela estava com ela apenas porque era seu trabalho. Já que nem mesmo seus próprios pais a amavam, não havia como Koyuki também a amar. Se ela se agarrasse a Koyuki, talvez ela a ouvisse, mas ela a amaria?

   Mahiru ficou com medo quando soube que seus verdadeiros pais não a amavam. E Mahiru respeitava Koyuki.

     Mesmo que isso não possa ser verdade.

   Ela não queria fazer de Koyuki uma substituta para seus pais porque eles não a amavam, e ela tinha medo de ser negada. Ela certamente estava com medo, enquanto ela empurrava a preocupação de Koyuki por trás de um sorriso e escondia seu coração, que ainda estivesse doendo e chorando. Ela segurou seus sentimentos para encobri-los.

 

 

✧ ₊ ✦ ₊ ✧

 

 

   Mahiru ficou magoada com a rejeição de sua mãe, mas ela não podia desistir da ideia de amor. Ela imaginou que se ela se tornasse uma criança melhor, eles poderiam pelo menos dar a ela uma pequena chance de ser vista como uma criança melhor.

   Ela queria que eles olhassem para ela, e Mahiru fez tudo o que podia para fazê-los olhar para ela, mais do que ela já tinha feito antes. Teria sido mais do que suficiente se eles reconhecessem seus esforços com uma única palavra. Só isso já seria gratificante para ela.

   Afinal, eles nem olhavam para ela, mesmo que ela melhorasse nos estudos, atletismo ou aparência. Mesmo se ela se comportasse de uma maneira que a maioria das pessoas gostaria, mesmo que ela fosse uma estudante de honra, mesmo que ela falasse bem de seus pais, seus pais nunca olharam atrás para ela.

   A dada altura, quando eles se conheceram, seu pai desajeitadamente trocou algumas palavras, mas foi isso. Ele não olhou para a situação de Mahiru por fora ou por dentro e agiu como se ela fosse a culpada, afastando-a. Afinal, o casamento deles era político, e ela tinha a sensação de que ela foi um erro que nasceu do erro de uma noite.

     Se você não gostou do que viu, você não deveria ter escolhido dar à luz. Eu não pedi para nascer.

   Quão melhor teria sido se ela tivesse acabado de dizer isso. No entanto, a essa altura, Mahiru havia aprendido a ser sensata e a reprimir suas emoções. Ela não disse nada, em vez disso engoliu suas emoções e as empurrou profundamente dentro de seu coração.

   Seu coração agora ficou frio e vazio, embora devesse ter ficado cheio de sentimentos turvos, estagnados e sujos. Estava frio, triste e doloroso. Mahiru não sabia o que fazer com essa cavidade dentro de seu coração. Mesmo que ela soubesse o que encheria seu coração, ela sabia que não era algo que ela poderia conseguir. Se ela tivesse que dizer isso em uma palavra, então seria afeição.

   Não importa o quanto ela tentasse alcançar, era como se ela estivesse tentando chegar ao fim do céu. Ela nem parecia saber se isso existia.

   Mesmo sendo uma criança de bom caráter, ela não conseguiu um grama de amor de seus pais, que outras crianças tinham como garantido. Felizmente ou infelizmente, Mahiru também herdou os genes fortes de seus pais para ser excelente externamente.

   Graças aos seus esforços, ela cresceu lindamente e aumentou suas habilidades a ponto de poderem ser descritas como versáteis.

   Na época em que ela estava nas séries superiores do ensino fundamental, diferenças de gênero começaram a surgir, e ela se tornou extremamente popular entre o sexo oposto. Ela já havia entendido como ser recebida favoravelmente pelos outros e a como se comportar de uma maneira que ela não seria odiada por outros.

   Ela era humilde sem ser convencida, gentil e elegante para não ser percebida como mesquinha, e ela tratava a todos com gentileza e polidez, transformando-se na mulher ideal que a maioria das pessoas imaginaria. E assim, foi assim que a existência distorcida——

     O Anjo que todos conheciam, passou a existir.

   Como resultado de sua superfície ser perfeitamente endurecida, ela se tornou uma menina que todos invejavam, mas ninguém sabia que suas entranhas eram cheias de buracos.

[Del: “A Origem do Anjo”. É um bom título de capítulo… até aqui. | Axel: Sem piadas ou coisas do tipo… mas isso me deu uma sensação tão esquisita de solidão, como se tudo o que foi para você e ainda é, seria tratado como inútil ou então como: “Legal isso o que você fez, mas agora para de me perturbar e me deixa em paz, tá?”.]

 

 

✧ ₊ ✦ ₊ ✧

 

 

   Então, Mahiru sentiu calor ao seu lado e lentamente abriu os olhos. O cheiro calmante familiar estava por perto, e ela tentou olhar para onde o calor estava vindo. Enquanto seus olhos estavam vacilando em foco, ela viu uma figura humana que não estava lá momentos atrás. Ela esfregou as bochechas contra ele em alívio pelo calor reconfortante, e então ouviu uma pequena risada.

[Del: “Por favor, não me deixe, foi o que ela pareceu dizer enquanto esfregava as bochechas nele”. Capítulo 16.]

“Bom dia.”

   A voz que ela acabou de ouvir era o que Mahiru estava procurando [Del: Afeto, né? | Axel: Doente de amor… | Del: Procurei remédio no forever mapaaa… | Yoru: Tá carente? Compra um hamster…]. Ela virou a cabeça com movimentos lentos e viu Amane olhando para ela com uma expressão suave e gentil. Mahiru levantou-se, tardiamente percebendo que ela estava apoiada nele. Ela não tinha ideia de quando Amane retornou ou quando ela adormeceu.

“… Por acaso eu estava… dormindo?”

   Quando ela perguntou a Amane, apavorada, ele simplesmente acenou com a cabeça para ela.

“Isso mesmo, eu cheguei em casa cerca de uma hora atrás e vi Mahiru dormindo, então tentei não te acordar, mas quando me sentei ao seu lado, você se encostou em mim, então eu deixei você assim.”

“Me desculpa. Eu vim quando você não estava aqui, e até caí no sono…”

“Eu não me importo que você entre, e você já dormiu antes mesmo.”

“Ugh.”

   A casa de Amane era aconchegante e ela tendia a ficar sonolenta, então ela não podia argumentar mais e apenas soltou um pequeno resmungo. Depois que ele apontou isso, Amane não tinha mais nada a dizer. A primeira vez que ela adormeceu foi durante a visita de Shihoko. Foi uma soneca não intencional, mas ela só baixou a guarda depois porque ela confiava em Amane.

   Era impossível para Mahiru adormecer quando alguém estava ao lado dela, mas Amane era especial. Em parte porque ela gostava de estar perto dele, pois se sentia à vontade, e em parte porque ela confiava que Amane não iria fazer nada com ela.

   Quando ela estava perto de Amane, ela se sentia nervosa, porém calma. Provavelmente era devido à distância e atmosfera moderadas de Amane, e também porque ela tinha confiança de que ele a respeitava, se importava com ela e cuidava dela, isso a fez se sentir à vontade.

“Vou apenas dizer o seguinte: Fico feliz que pareça um espaço onde você pode se sentir à vontade, mas… não parece que você está tendo uma boa noite de sono.”

“Eh!?”

     Isso não é bom.

   Deve ter sido o efeito colateral de cochilar enquanto relembrava sobre o passado, mas ela parecia ter vazado suas expressões enquanto estava dormindo. Quando Amane deu a ela um olhar preocupado, Mahiru só podia sorrir vagamente enquanto se perguntava sobre como explicar.

“… Sim, eu só tive um pesadelo bem ruim.”

[Axel: Lembrei de “I got no time” de The Living Tombstone, um trecho da letra é esse aqui: “Estou ficando cansado dessas desculpas / De pessoas com prioridades / Como se sua vida importasse muito mais do que a minha”]

“Entendo… não devo perguntar?”

“Não é que eu me importe de ser questionada… é só que não é uma história interessante. No mínimo, isso deixaria Amane desconfortável.”

   Não havia indicação de que Amane tivesse bons sentimentos em relação aos pais de Mahiru quando ela explicou a ele sua criação. Ela contou sobre quaisquer episódios que possam ter lhe causado bons sentimentos, embora fosse mais correto dizer que não houveram tais episódios.

   Era inevitável que Amane tivesse sentimentos ruins em relação a eles, já que ele sabia sobre a situação, e mesmo agora, quando Mahiru pensou nisso, ela estava ciente de que seus pais seriam classificados como cretinos aos olhos de outras pessoas.

“… Ainda assim, eu também era uma criança, e também queria ser amada pelos meus pais.”

   Não havia amor gratuito para ela, pelo menos não entre ela e seus pais. Mahiru estava estendendo a mão e agarrando-se a eles ao extremo, mas ela ainda não conseguiria acenar se perguntada se ela tinha afeto puro por eles? Amane parecia ter adivinhado que tipo de sonho ela teve pela maneira de como ela estava se comportando e quando ela deu uma sutil sugestão de hesitação. Então ele sorriu de volta para Mahiru com um olhar carinhoso.

“Não é grande coisa, ok? Apenas tive um sonho ruim onde eu estava esperando sozinha por um longo tempo. Eles nunca voltaram e nunca olharam para mim. Isso é tudo.”

   Não importava quanto tempo ela esperasse, eles nunca voltaram para Mahiru e nem a viam como filha. Esse era o pesadelo de sua infância.

“… Eu tentei o meu melhor, mas no final, eu só poderia ser uma criança conveniente. Eu pensei que se eu fosse uma boa menina, eles iriam me ver mais, mas agora eu entendo que eles não precisam mais me ver porque eu não sou a filha que eles querem.”

   Depois de ser abalada, ela tentou ser cada vez mais legal, mas talvez tenha gerado o efeito oposto. Pode ser porque a pessoa que causou muitos problemas também era um monte de problemas como um parente, mas não havia nem mesmo o menor indício de amor. Ela não queria fazer mais nada sobre isso porque agora era tarde. Ela não queria buscar afeto dos pais na idade atual. Mas mesmo agora, ela pensava muito sobre ‘E se’ sem respostas. 'Se eu tivesse sido assim, então talvez…'

   Quando ela pensou em 'E se' sem sentido, ela sorriu silenciosamente e então uma grande e confiável palma pousou em sua cabeça. Ela olhou para Amane para ver o que estava errado, e seus olhos se encontraram. Ele abaixou as sobrancelhas e balançou a cabeça se desculpando, como se estivesse preocupado.

“… Desculpe, eu fiz você se sentir sozinha.”

“Por que você está se desculpando Amane? Eu vim aqui por conta própria, esperei aqui por minha própria vontade, e vi aquele sonho por minha conta.”

“Havia uma chance de você vir à minha casa, e eu não liguei para você para avisar que eu estaria fora. Você esperou tanto tempo que ficou cansada o suficiente para dormir assim.”

   Depois de dizer isso, Amane virou os olhos para baixo e olhou para Mahiru. “… Estarei cuidando de você e protegerei você, Mahiru.”

[Yoru: Boa, capa do Batman! kkkk]

   Sua voz não era alta, mas era poderosa e sincera. Seus claros e sinceros olhos fizeram Mahiru sentir suas glândulas lacrimais se soltarem, mas ela segurou as lágrimas e sorriu.

     Acho que foi por isso que me apaixonei por ele.

   Ele era um pouco menos que honesto, mas ele sempre era gentil e compassivo e olhava diretamente nos olhos dela. Ele a aceitou e valorizou tanto na superfície quanto em seu núcleo vulnerável. Como ela poderia não se apaixonar por tal pessoa?

     — Não, era impossível.

[Del: O cara é foda patrão! | Axel: Insira “Can you feel my heart” aqui.]

“… Isso soa como uma proposta.”

“P-Pro… eu não quis dizer isso!”

   Ele tentou evitar que ela chorasse e disse o que pensava, mas como ele percebeu que havia uma maneira de levar isso para ela. Ele acenou com as mãos no ar o mais rápido possível, e seu rosto ficou vermelho tão instantaneamente quanto a água aquecida por um aquecedor. Seu coração picou quando ele negou tão fortemente, mas até ela sabia que Amane não quis dizer isso dessa maneira.

“Eu sei, eu sei, só estou brincando. Eu vejo que a casa de Amane é um lugar para onde eu possa voltar.”

“… Mahiru está vindo para minha casa como se fosse a casa dela.”

   Ela estava rindo de sua voz, que soou um pouco hesitante, como se ele pensasse que estava sendo provocado, mas ela também estava envergonhada pelas palavras de Amane. De fato, a casa de Amane era quase como um lugar de ir para casa para Mahiru. Ela se sentia solitária e sozinha em casa. Ela pensou que estava acostumada a isso, mas se sentiu solitária de novo. Foi porque ela o conheceu ou por estar com ele? De qualquer forma, foi a última vez.

   Pela primeira vez em sua vida, ela se sentiu realizada depois de conhecer Amane. Ela aprendeu a alegria de conversar com alguém em pé de igualdade. Ela aprendeu o calor de ter alguém ao seu lado. Ela aprendeu o conforto de passar um tempo tranquilo juntos e aprendeu a amar alguém no verdadeiro sentido da palavra. O espaço vazio em seu coração estava de alguma forma cheio de muitas coisas após passar o tempo com Amane.

“Sim, eu conheço a casa de Amane tão bem quanto a minha.”

“De qualquer maneira, eu acho que você a conhece melhor do que eu.”

“Muitas vezes você esquece onde estão as coisas.”

“Cale-se.”

   Quando ela disse a ele provocativamente, ele virou a cabeça. Frequentemente ele se esquecia, mas ela sabia que ele sabia muito também devido ao que ele fazia por Mahiru. Isso porque ele mudou muitas coisas de seus lugares habituais para lugares onde Mahiru poderia alcançá-los facilmente.

   As necessidades diárias eram anteriormente armazenadas em lugares altos, mas ele trocou suas localizações para deixar mais fácil para Mahiru, que não é tão alta para alcançá-las.

   Ele também providenciou um lugar para os pertences pessoais de Mahiru. O número de itens pessoais crescia rapidamente: cobertores, escovas de dente, itens de higiene pessoal, pratos e outros conjuntos de utensílios.

   Desde que eles se conheceram, pouco a pouco a casa mudou para facilitar para Mahiru ficar. É como se ela pudesse ficar aqui, como se dissesse, que é aqui onde Mahiru pertence.

“… Vamos.”

“Vamos?”

“… Não é nada.”

   Se ela pudesse ficar ao seu lado, ela não diria mais uma palavra. Eles não precisavam desse tipo de relacionamento, ainda. E isso incomodaria Amane, já que ela era uma garota popular. Mas isso é o quanto ela o amava e confiava nele. Quão felizes eles seriam se pudessem viver esta vida pacífica e calorosa juntos?

[Del: E o coração queima mais uma vez. | Axel: Isso me lembrou o final de Violet Evergarden… e também Undertale, sem piadas ou algo do tipo, isso me arrancou uma lágrima, até pelo calor do momento eu coloquei Fallen Down (reprise) pra tocar… queria colocar para fora o que eu não consegui me expressar.]

“… Sou eu sendo gananciosa.”

“Eu não sei com que base você está dizendo isso, mas se Mahiru é gananciosa, então eu seria muito mais ganancioso.”

“Você deve estar brincando, certo? Amane raramente pergunta algo para alguém, então você tende a ser reservado e atencioso.”

“Não é esse o caso, é? Eu estou querendo saber se eu deveria fazer um pedido para Mahiru.”

“Fufu, o que é?”

   Ela se perguntou se poderia fazer o que Amane queria, mesmo que tivesse que forçar um pouco para fazer que isso aconteça, pensando que isso a faria se sentir calma. E se houvesse algo que Mahiru desejasse, ele conseguiria.

   Quando ela olhou para Amane, ele varreu os olhos sobre ela como se ele parecesse um pouco relutante em dizer qualquer coisa. Mas seus olhos estavam fixos nela como se ele estivesse decidido. Ele estava olhando para ela.

“Se você está passando por um momento difícil, você pode contar comigo.”

   Foi um pedido. Não, não era nada mais que um pedido e nada menos que uma sugestão. Mas ela entendeu o que Amane estava pensando e por que ele disse isso, e pensou consigo mesma,

     Que pessoa sortuda eu sou.

   Seu rosto se distorceu quando ele sorriu. Ele não parecia tão bonito, mas seu sorriso definitivamente parecia.

“… Então, você pode me mimar?”

“Hmmm, não tenho certeza se sou capaz de fazer isso, mas eu farei qualquer coisa que possa ajudar.”

   Ele parecia um pouco perturbado quando Mahiru pediu com uma cara séria, mas então ele disse:

“Não hesite.”

   Ela ficou tão emocionada que colocou a cabeça no colo dele para poder rolar. Se ela virasse para olhar para o teto, poderia ver o rosto dele endurecer. Isto pode ter sido inesperado, mas ela mesma estava se sentindo envergonhada.

[Yoru: Amen…]

“…Mahiru.”

“Eu estava pensando, desde que Amane pareceu ter sido curado quando eu dei um travesseiro de colo para você, eu também ficaria curada, então eu queria experimentar isso.”

“Você está sendo curada recebendo um travesseiro de colo de um homem?”

“Bem, não é um lugar confortável para dormir.”

“Desculpe por isso.”

“Mas é aconchegante.”

“… Bom ouvir.”

   Suas coxas eram musculosas, o que dificultava transformá-las em um travesseiro, mas ela podia sentir fortemente o calor e a presença de Amane, e a fragrância única se infiltrou dentro dela, liberando sua tensão subliminar. Amane era o único que ela queria que a tocasse e a mimasse dessa maneira.

“… Tudo bem só um pouquinho?”

“Sim senhora.”

   Ela olhou para ele, um pouco preocupada por estar sendo imprudente, e viu que Amane estava corando levemente, como se não quisesse fazer isso.

   Ele deu um cafuné na cabeça dela com uma mão desajeitada, mas cortês. Quando ela estava perturbada antes, ele a pegou e a puxou. Ele envolveu-a e a abraçou quando ela estava com dor e quis chorar. Ele estava lá para ela. As mãos que a acariciavam estavam a apaziguando e a mimando.

   Ela podia se sentir relaxada quando tocada por aquelas mãos. Quando as pontas dos dedos dele, que eram mais apertadas e duras que as dela, suavemente tocaram ela, ela pôde se sentir tão confortável que até sua boca estava se soltando.

“… Amane.”

“Hum?”

“… Obrigada.”

“Eu não sei do que você está falando.”

   Ele se virou como se não quisesse admitir que se importava com Mahiru, então Mahiru fingiu não ver seu constrangimento. Ela virou para que suas costas ficassem voltadas para Amane, para que ele não notasse que as bochechas dela também estavam vermelhas de vergonha.

 

Resenha dos Tradutores/Revisores:

-DelValle: Ok, caramboralhos! Apesar de finalmente termos o background do passado obscuro da Mahiru (que doí, francamente), foi como um vale, você desce só para pegar impulso e subir ainda mais depois. Isso aqui foi, mano, SENSACIONAL! A depressão ali foi incrível (isso é estranho de se dizer kkkk), já que pegou tudo e jogou pra aprofundar ainda mais a relação deles (ou mostrar mais isso kkkkk, já que já aconteceu supostamente sabe kkkkk). Toda a trama do passado, tanto do Amane quanto da Mahiru, leva a eles ‘hoje’. Eu já ouvi falarem que o Amane era dependente emocional da Mahiru e tals, porém tanta coisa que vale pro Amane também acaba valendo para ela também kk, e isso até me faz questionar quem realmente se apaixonou primeiro kkkkk.

Ahh~, eu me sinto acho que privilegiado sabe, como fã, poder expressar esses pensamentos aqui, tipo, antes eu podia naquela aba de comentários, mas expressar não é meu forte. Porém, agora, como tradutor, eu me sinto até na obrigação de fazer essas notas kkkk, virou um hábito, não sei se todos gostam, mas né, se não gostar, não leia. Enfim, é isso, meus pensamentos, até mais leitorada. (Nossa, essas notas ficaram maiores do que o meu costume, talvez eu esteja ficando realmente cada vez mais à vontade para fazer comentários.)

-Axel: Eu achando que ia meter o textão no cap, mas quem meteu foi o Del KKKKKKKKKK Cara, tu tá bem??? pra meter um textão desses tu realmente deve estar alterado, imagino que o Sprito Baiano saiu do seu corpo KKKKKKK Eu não sei se já repararam… mas a pele feminina é tão suave, quem dera se eu pudesse ter ao menos a bochecha ou a palma das mãos macia kkk

Agora, sim, eu li o cap, teve umas complicações aqui na revisão em questão dos horários, mas enfim, eu sinto uma sensação bastante tenebrosa vindo dele, mas, ao mesmo tempo, bem reconfortante, é como se algo ou a famosa “Voz da experiência” falassem quando se retrata sobre isso. Uma sensação de buscar afeto onde não se pode obter, ao mesmo tempo, se conformando com as “migalhas” que aparecem em seu caminho. Sei que estou colocando minha experiência pessoal aqui, mas sei lá… Às vezes eu apenas queria ter algo para chamar de meu e saber que tá ali quando eu mais precisar.

-Yoru: Os caras mandando textão aqui kkkkk. Agora eu me sinto na obrigação de mandar também. Sinceramente eu acho difícil empatizar essa sensação de solidão, já que felizmente isso não fez parte da minha vida, mas eu entendo como pode ser doloroso alguém viver toda a infância sem receber afeto dos familiares. É algo tão normal e comum, mas que algumas pessoas ficam desprovidas, e isso é algo realmente triste. Felizmente a Mahiru conheceu o Amane e desse ponto em diante eu acho que ela não vai mais se sentir tão solitária quanto antes.

Apesar de tudo eu ainda sinto falta desse afeto externo, mas aí é só questão de carência mesmo, inclusive é por isso que eu acompanho animes e afins de romance kkkkkkk, preciso comprar um hamster…

-Axel: Esqueceu que tu é probe mano? Kkkkkkkkk

-Yoru: Shiu, me deixa sonhar…

-Axel: Vou explanar tu que nem o Del lá no server Kkkkkk

-DelValle: Os papo...



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