Volume 4
Fingindo Não Ver, Fingindo Não Saber
O que havia tocado sua bochecha?
Depois que aconteceu, Mahiru não retornou ao apartamento de Amane. Ele não a viu pelo resto do dia. Exceto quando ele estava dormindo - para ser exato, ele estava muito angustiado para dormir, mas ele cochilou algumas vezes - sempre que não estava, ele estava virando sua cabeça sobre as ações de Mahiru.
Foi apenas por um momento, breve o suficiente para fazê-lo questionar se tinha sido sua imaginação - mas algo macio tinha definitivamente roçado sua bochecha. Sabendo o quão perto ela tinha estado dele naquele tempo, e relembrando-se da sensação, Amane podia adivinhar o que Mahiru tinha feito. Mas isso não significava que ele entendia.
Ninguém jamais teria imaginado, que a própria Mahiru beijaria ele, mesmo que fosse apenas sua bochecha.
…Por que?
Tipicamente, um beijo é algo compartilhado apenas com alguém próximo ou importante. Amane queria dizer a Mahiru o quão preciosa ele era para ele, mas sua última tentativa foi tão ruim que ele ficou envergonhado só de pensar nisso.
Realmente não havia desculpa - ele nem tentou fazer um movimento. No entanto, Mahiru era diferente. Mesmo que fosse apenas na bochecha, ela tinha realmente o beijado.
Ele entendeu que ela se preocupava com ele, até gostava dele, e tratava ele bem. Mas confrontar seus sentimentos na forma de um beijo, Amane ficou mais perplexo do que exultante.
Eu me pergunto se ela está realmente começando a gostar de mim?
Amane sentiu como se nunca tivesse tido a chance de realmente impressioná-la, como se ela só tivesse visto que pessoa inútil ele era. Ele não conseguia pensar em nenhuma razão para ela gostar dele.
A noção de que ninguém poderia se apaixonar por ele, e que ele era um tolo arrogante por ter esperança, girava e girava na cabeça de Amane, tornando difícil pensar em qualquer outra coisa.
Na escola, ele evitou que sua confusão de emoções aparecesse em seu rosto, mas por dentro, ele estava miseravelmente angustiado.
Sempre que Mahiru fazia contato visual com Amane durante a escola, ela desviava o olhar dela sutilmente, então ele também evitou olhar na sua direção.
No entanto, os olhos de Amane seguiam Mahiru sempre que possível, e o sempre perspicaz Itsuki deve ter notado a pequena distância que abriu entre Amane e Mahiru.
"Vocês dois brigaram?" Itsuki perguntou durante o almoço.
"Huh? Vocês brigaram, Fujimiya?” Yuuta perguntou.
Chitose e Mahiru não se juntaram a eles naquele dia, então os três meninos estavam almoçando juntos.
"Não, não estamos brigando, mas... bem, hum, alguma coisa, algumas coisas aconteceram…"
Ele murmurou essas palavras e evitou entrar em detalhes. Amane não poderia explicar que ele falhou completamente em beijar Mahiru, e que ela o beijou na bochecha em vez disso.
Itsuki não escondeu sua exasperação. Ele deu a Amane um olhar que disse: "É melhor você desistir e confessar tudo se você sabe o que é bom para você."
Amane não conseguia encontrar o olhar de seu amigo. "De qualquer forma...", ele murmurou, “algumas coisas aconteceram, e nós dois estamos conscientes sobre isso, ou como…”
"Inacreditável, o quão covarde você é?"
“Cale a boca, cara.”
“Camla, calma, Fujimiya me parece do tipo cauteloso,” Yuuta interveio. “Duvido que ele possa fazer uma abordagem sem um óbvio sinal doloroso dizendo a ele para ir em frente.”
"É o que eu quero dizer; ele sempre se acovarda!”
Não tinha como Itsuki e Yuuta entenderem o que havia acontecido. Mas os dois não se detiveram, e suas acusações por Amane “amarelar-se” doeram bastante.
“... É só que, a ideia de alguém gostar de mim - tipo, se eu fosse mais autoconfiante, isso não seria tão difícil, e... Se eu tivesse uma aparência melhor, eu me sentiria mais confiante, mas…”
“Fujimiya, no mínimo, você é um cara de alta qualidade que age como um perdedor, apesar de tudo que você tem a seu favor.”
“Eu não sei o que fazer com isso, vindo de você, Kadowaki, o crème de la crème.” (Ou “o melhor dos melhores”, por interpretação)
Se Amane fosse tão talentoso quanto Yuuta, e tivesse boa aparência, ele não teria lutado tanto. Ele talvez poderia ter sido capaz aceitar o afeto de Mahiru sem pensar duas vezes e confessar seus sentimentos por ela. Ele teria sido capaz de ficar orgulhosamente ao lado dela, sem ter que trabalhar para isso.
Ele entendeu que Mahiru tinha sido sincera quando ela disse que ele era atraente, mas opiniões objetivas e subjetivas eram duas coisas muito diferentes.
A opinião subjetiva de Mahiru era a mais importante, é claro, mas quando ele pensou em todos seus pontos sendo assistidos, assim como a sua própria autoestima, ele sentiu que ainda tinha muito o que melhorar.
“Não estou dizendo que estou com ciúmes da sua aparência, Kadowaki, mas se eu tivesse para mim, tenho certeza que ficaria mais confiante.”
A hesitação e ansiedade de Amane eram sua própria culpa. Foi o medo de pedir a mão dela que o manteve preso, preocupando-se com respostas que talvez ele nunca tenha, tudo porque lhe faltava qualquer tipo de fortaleza mental.
“É um pouco tarde, mas você precisa ter um pouco de fé em si mesmo e fazer um movimento!"
“Eu disse a você, estou trabalhando nisso agora. Eu vou fazer um movimento em breve, mas…"
Amane estava trabalhando para aumentar sua confiança. Ele estava trabalhando duro na escola por ser diligente com seus estudos para que ele pudesse manter sua posição entre os dez primeiros.
Amane tinha boa memória e aprendia coisas novas com facilidade, então ele considerou-se sortudo por poder manter suas notas sem trabalhar excessivamente. Depois disso, ele só tinha que continuar levantando a barra.
O problema seria o exercício físico.
Amane gostaria de ter algum tipo de proeza atlética, como Yuuta por exemplo. Mas ele era apenas mediano. Se havia alguma coisa, ele era um leitor ávido, então ele não esperava realizar nada incrível.
Ele estava se exercitando para parecer melhor, mesmo que só um pouco, e para melhorar sua saúde e autoconfiança. No entanto, ele estava focando no condicionamento físico e não fazendo o tipo de treinamento que se destacava em qualquer esporte específico.
Amane estava se sentindo mal consigo mesmo, pensando que se ao menos ele fosse um pouco mais atlético, ele poderia ser capaz de desempenhar um papel mais ativo nos eventos do Dia do Esporte do mês seguinte.
“Deixando de lado o que acabou de acontecer, vou fazer o meu melhor e prosseguir no meu próprio ritmo, então, por favor, não me apresse muito.”
“Ok, se é isso que você realmente quer,” Yuuta concordou. "Mas... estamos ficando impacientes olhando para você, você sabe.”
Itsuki sorriu. “Falando nisso, quando vamos convocar a próxima reunião do clube 'chute a bunda de Amane'?
A bochecha de Amane se contorceu com a ideia de que os dois estavam planejando algo. “Sério, o que vocês têm em suas mangas?"
Yuuta apenas deu de ombros e sorriu, disse inquieto: “Olha, nós apenas queremos dizer que estamos torcendo por você, então…”
Amane passou o dia inteiro na escola se preocupando com o verdadeiro significado por trás do beijo de Mahiru. Então, depois de ir para casa, ele esperou por ela em seu apartamento, ficando cada vez mais ansioso.
Mahiru respondeu assim que ele mandou uma mensagem perguntando se ela estava vindo, então ele sabia que ela estava a caminho, mas Amane se sentiu bastante nervoso com isso.
Seria a primeira vez que conversariam desde os acontecimentos do dia anterior, e a tensão estava fazendo o coração e o estômago de Amane doerem.
Ele estava praticamente se contorcendo de dor no sofá, muito concentrado no som do relógio enquanto esperava por ela, quando finalmente ouviu a fechadura da porta da frente virar.
Amane sentiu-se pulando com o barulho, mas sabia que se ele mostrasse qualquer agitação, Mahiru ficaria agitada também. Eles não seriam capazes de falar, então ele fez o que pôde para suprimir seu nervosismo. Dando respiradas profundas, Amane esperou que ela se aproximasse e, eventualmente, ela apareceu diante dele.
Embora ele se sentisse um pouco hesitante, ele olhou para cima e viu Mahiru, que havia mudado para suas roupas regulares, parada ali como sempre... não, parada ali com as bochechas levemente rosadas, enquanto seus olhos disparavam ao redor nervosamente.
"... Hum, desculpe por ontem", disse ela. “Sobre sair antes do jantar."
“Ah, não, não estou preocupado com isso, então…”, ele respondeu sem jeito.
Com movimentos rígidos, como uma máquina que precisa de óleo, Mahiru sentou ao lado dele no sofá.
Mesmo que ela se sentasse ao lado dele como de costume, ele notou que ela estava sentada na ponta do sofá, como se tentasse manter distância de Amane, e abraçando uma almofada.
Ela parecia estar tão desconfortável quanto ele se sentia.
Era um pouco solitário tê-la tão longe depois que ele se acostumou com ela sentada ao lado dele, mas por outro lado, ele se sentiu aliviado por alguma distância entre eles.
"Então, sobre aquela coisa... a coisa que aconteceu ontem..."
Depois de um breve silêncio, Mahiru abordou o assunto hesitantemente, tremendo tanto que seus longos cabelos louros formavam ondulantes ondas douradas.
"... Uhh, M-Mahiru... por que, por que você fez aquilo?"
Amane sabia que ele estava sendo vago, mas estava nervoso demais para perguntar a pergunta que ele realmente queria fazer, então ele tentou sondar indiretamente.
Em resposta à pergunta tímida de Amane, Mahiru franziu os lábios e olhou para ele. Seus olhos estavam nublados, e ela parecia insatisfeita, e então começou a falar devagar.
“E-eu apenas fui pega no momento. Ou talvez... foi vingança.”
"Vingança?"
"Quero dizer, foi você quem começou, não foi?"
“A-ah, bem, talvez seja verdade, mas…”
A grande diferença era que ele não tinha ido até o fim, enquanto Mahiru realmente o beijou. Mas Amane estava preocupado que ela pudesse recuar se ele apontasse isso, então ele engoliu suas palavras.
"Então bem, eu tinha o direito de fazer isso também, não tinha?"
“… Esse não é o problema. Um…”
Mesmo que tenha sido na bochecha, você está feliz por ter me beijado?
Se ele pudesse ter perguntado a ela diretamente, suas preocupações teriam terminado ali mesmo.
Ele sabia com certeza que Mahiru não havia evitado a... o que ele estava prestes a fazer. E que ela também não odiava a ideia de beijá-lo.
A única informação que faltava era como ela realmente se sentia sobre isto.
Não era impossível para Amane adivinhar qual poderia seria a resposta. Só que, ele estava com medo da rejeição total e não conseguia levar a si mesmo a perguntar.
Eu sou tão patético.
Enquanto Amane gemia para si mesmo sobre o quão triste e sem esperança ele se sentia, ele notou que Mahiru estava corando levemente. Ela o viu olhando e olhou de volta para ele.
"O que é?" ela perguntou.
“…Nada,” foi sua única resposta.
Então Amane se virou para que ele não pudesse mais vê-la.