Volume 3
Um Interrogatório
"Agora, gostaria de perguntar um pouco sobre o que aconteceu anteontem."
Era dois dias após o passeio de Amane com Mahiru. O dia em que ele tinha planos de ir no karaokê com Itsuki e Yuuta.
Assim que se reuniram e entraram na sala reservada, Yuuta imediatamente se virou para ele com um sorriso.
Amane estava preparado para um interrogatório, mas mesmo assim, ele se sentiu realmente desconfortável sendo questionado sobre isso novamente.
Itsuki parecia ter ouvido sobre o incidente de Yuuta e estava com uma expressão que dizia Ei, você foi pego! Ele nem estava tentando esconder seu divertimento.
Depois de levar o copo de refrigerante de melão que pegou no bar de bebidas self-service aos lábios e molhar a garganta, Amane começou a explicar relutantemente.
"...Não é nada tão sério. Itsuki e Chitose já sabiam disso. Mahiru e eu moramos um ao lado do outro. Isso foi, honestamente, uma coincidência total. E bem, um monte de coisas aconteceram e ficamos mais próximos, eu acho."
Graças a Chitose, não havia sentido em tentar esconder o fato de que eles já se tratam pelo primeiro nome, então ao explicar a situação, ele usou o nome de Mahiru como sempre fazia em casa.
"Vocês se conheceram e depois saíram juntos?"
"Sim."
Eles eram obviamente mais do que simples conhecidos. No melhor cenário pareciam amigos, no pior, amantes. Mas, pelo que Amane estava preocupado, em nome da honra de Mahiru, ele tinha que negar categoricamente tudo.
"Definitivamente não é o tipo de relacionamento que você está imaginando, Kadowaki," ele reafirmou.
"E tenho a sensação de que não é bem o que você está descrevendo, Fujimiya."
"Vamos lá—"
"A situação deles vai muito além de amigos," interveio Itsuki.
"Considerando que a Shiina vai fazer o jantar para ele todos os dias."
A bochecha de Amane tremeu enquanto ele olhava para o amigo. "Itsuki!"
"A verdade ia sair mais cedo ou mais tarde, então é melhor contar tudo agora."
Quando ele colocou dessa forma, Itsuki provavelmente estava certo, mas ao fornecer de repente o detalhe de que Amane estava comendo a comida caseira de Mahiru todos os dias, ele praticamente garantiu um mal-entendido.
"...Então ela é sua namorada?"
"Nem um pouco," insistiu Amane. "Nós dois moramos sozinhos, então é mais conveniente dividir os custos da comida e fazer o suficiente para dois; é só isso."
"Sim, definitivamente é só isso..." Itsuki disse sem nenhuma sinceridade.
Yuuta não parecia impressionado. "Isso não é muito convincente, Fujimiya..."
"Você também não, Kadowaki..."
Ele e Mahiru definitivamente não estavam apaixonados um pelo outro, mas ele estava tendo dificuldade para explicar isso, e a maneira como Yuuta estava olhando para ele estava o deixando nervoso. Não que ele estivesse tão calmo para começar.
"Normalmente, uma garota não fica por perto de um cara que ela não aprova, e definitivamente não entraria no apartamento dele. A menos que ela seja aquela que está correndo atrás dele, de qualquer maneira."
O complemento de Yuuta no final parecia vir de uma experiência pessoal, o que lembrou a Amane o quão cauteloso Yuuta era em relação às garotas e suas intenções. Mas ele estava certo, mais ou menos, Amane percebeu.
Garotas, e Mahiru em particular, geralmente eram muito cuidadosas e normalmente não se aproximavam dos caras sem motivo. Amane reconhecia que o fato de Mahiru se associar a ele era quase miraculoso. Mas ele sabia que este era um caso especial.
Amane simplesmente não conseguia imaginar que ela gostaria dele como um cara, ou algo assim. Às vezes, ele até pensava que a razão pela qual Mahiru se sentia tão à vontade ao redor dele era porque ela nem sequer o considerava um homem.
"...Fujimiya, você é tão duro consigo mesmo," disse Yuuta. "E pode ser realmente teimoso."
"É o que ele disse" concordou Itsuki.
Itsuki e Yuuta estavam olhando para Amane com olhares irritados, então estava realmente desconfortável.
"Então, no final das contas, você gosta da Shiina?"
Yuuta escolheu lançar esta pergunta ultrajante no exato momento em que Amane deu um gole no seu refrigerante de melão para disfarçar o seu desconforto, e ele quase cuspiu. "...Por que você está perguntando isso assim de repente?" ele gaguejou.
"Bem, você está sendo bem reservado, mas eu vi como você agiu quando estava com Mahiru, então tenho certeza de que você se importa com ela, mesmo que seja só um pouco. Além disso, pude perceber pela maneira como você a olhou - e por todo o seu comportamento na verdade - que você gosta dela."
Amane assentiu humildemente. "...Tem algo de errado nisso?"
Caramba, o Yuuta presta muita atenção...
Por algum motivo, Yuuta sorriu ironicamente para ele. "Não, não é ruim nem nada, mas... hmm, provavelmente não será fácil, imagino."
"Não tenho ilusões sobre namorar a Mahiru."
"Sim, sim, vejo que ainda há algumas coisas que você não entende. Itsuki está aqui para lhe dar um pouco de incentivo também."
"Você poderia dizer isso" murmurou Itsuki. "O que eu realmente quero é dar a ele um chute bem forte no traseiro."
Yuuta assentiu. "Eu sei exatamente como você se sente."
"Não me diga que nisso vocês dois concordam..." Amane gemeu.
Então agora o Yuuta também está pronto para me dar um chutão?
"Olha cara, essa é a questão: É realmente frustrante de assistir," disse Itsuki. "Queremos que você pressione um pouco mais."
"Já deu, né!"
"Espere um pouco; apenas ouça por um segundo, tudo bem?" Itsuki continuou. "A Shiina abaixa a guarda perto de você. Se você pressionar um pouco, ela vai ceder com certeza."
"Ok, ouça, eu admito, a Mahiru provavelmente gosta de mim, mas... ela não gosta de mim desse jeito; você entende o que quero dizer?"
Itsuki fez parecer tudo tão fácil, mas Amane sabia melhor.
Para começar, ele estava incrivelmente consciente do fato de sua profunda afeição por Mahiru.
Ele tinha que admitir que ela parecia se importar com ele mais do que com qualquer outro cara, mas ele não achava que seus sentimentos fossem românticos.
Em vez disso, ele imaginava que era algo semelhante à maneira como você se sente em relação a um confidente próximo e de confiança.
"Como você pode dizer isso, quando você viu a maneira como ela olha para você?"
"O que ela acharia atraente em mim?"
Quando Amane ofereceu essa refutação, Itsuki o bateu nas costas o mais forte que pôde.
"...Ai!"
"Sinto muito por te bater, mas sério, você tem muito pouca confiança! Você perde a coragem ou foge no momento mais crucial."
"...Sim, bem, e daí? É assim que eu sou. Não posso evitar."
"Temos que quebrar esse hábito, então. Você é muito duro consigo mesmo."
"A Mahiru me diz isso com frequência."
"...Então isso está incomodando a Shiina também?" Yuuta perguntou.
"Isso está incomodando todos nós que temos que assistir a isso!" Itsuki exclamou. "Esse cara é tão teimoso em relação a coisas assim."
"Você, cale a boca!"
Amane realmente odiava quando as pessoas se uniam contra ele.
Isso era apenas o jeito que ele era, e mesmo que tentasse mudar, certamente não seria fácil. Memórias traumáticas não desaparecem apenas porque ele deseja. Não havia passado tempo suficiente para que ele tentasse esquecer e seguir em frente.
Amane tinha plena consciência de quão patético e inútil ele era, mas não havia nada que ele pudesse fazer.
"Quer dizer, eu não posso te obrigar se você me disser que já teve o suficiente," disse Itsuki. "Mas se você gosta da Shiina e quer namorar com ela, precisa se esforçar mais."
"...E você acha que consigo fazer isso?"
"Se você não fosse tão covarde..."
"Oh, cale a boca."
"Vamos lá, chega" repreendeu Yuuta. "Mas eu tenho que concordar com o Itsuki. Você deveria ter um pouco mais de fé em si mesmo, Fujimiya. Sério, você atrairia muita atenção na escola se se vestisse como fez outro dia. Talvez você devesse praticar."
"Praticar?"
"Bem, você não teve nenhum problema em se vestir para a Shiina, e não surtou quando eu te vi assim, também. Então, talvez pratique o seu novo visual com pessoas que você conhece, para se acostumar. Uma boa maneira de aproveitar essa pausa preciosa, você não acha?"
"...O que você quer dizer com isso?"
"Vamos ver; tenho algum creme para cabelo aqui em algum lugar..."
Rapidamente, Yuuta tirou um creme de cabelo masculino de sua bolsa. Quando seus olhos se encontraram, Yuuta estava sorrindo audaciosamente. Típico do príncipe da classe, era um sorriso adorável, mas deu um arrepio na espinha de Amane. "E aí, que tal?" ele perguntou.
"...Vou passar."
"Vamos lá agora, não seja tímido."
"Hey, uh, não estamos em uma sala de karaokê? Não deveríamos estar cantando karaokê ou algo assim?"
"Oh, você está certo!" Yuuta respondeu. "Ok, eu vou cantar, então vou confiar o Amane aos seus cuidados competentes, meu amigo Itsuki."
"Apenas deixe comigo."
"Você está brincando, né...," Amane murmurou. Tudo o que ele conseguiu em troca foi um sorriso entusiasmado.
"Quero dizer, geralmente essa não é a coisa que eu faria à força, mas... no seu caso, Amane, está na hora de você se acostumar a ser o centro de um pouco de atenção, então tenho que tomar medidas drásticas!"
"Ei, você não pode... Aah!"
Itsuki sorriu e brandiu o pente e o creme de cabelo, e, embora Amane tentasse recuar, não havia espaço suficiente para uma retirada adequada na pequena sala de karaokê.
Amane foi forçado a suportar a alegre cantoria de Yuuta enquanto Itsuki mexia em seu cabelo.
"...Bem-vindo…de volta...?"
Quando Amane voltou para seu apartamento, Mahiru saiu para recebê-lo com uma pergunta em sua voz.
Ela estava fazendo almôndegas cozidas para o jantar e tinha entrado no apartamento de Amane cedo para fazer o molho.
Ela havia enviado uma mensagem dizendo que o jantar estava quase pronto, então ele sabia que ela estaria em seu lugar, mas quando viu o rosto de Mahiru novamente, sentiu um alívio.
"Estou de volta..."
"Por que você parece tão cansado...?"
"...Itsuki fez o que quis comigo."
Itsuki nunca tinha visto o "homem misterioso" de Amane, então ele havia estilizado o cabelo de Amane de uma maneira que achava legal, o que é claro, não se encaixava muito bem no que Amane estava acostumado.
Para piorar, depois que terminaram o karaokê, os outros garotos o arrastaram para uma loja que vendia o tipo de roupas que Amane não era acostumado a ter e depois embarcaram em uma caçada para encontrar algo que lhe servisse.
Ele não tinha particularmente odiado a experiência ou algo assim, mas estava completamente exausto, sendo tratado como um boneco de vestir por seus dois amigos.
"É, você teve um tempo difícil, não é?"
"...Eles brincaram comigo como um brinquedo..."
"Você deve estar cansado."
Talvez porque ela pudesse dizer que ele não estava realmente chateado, Mahiru deixou escapar uma risada silenciosa enquanto o elogiava por sua paciência.
Sentindo-se ligeiramente envergonhado por ser tão transparente, Amane jogou o saco com as novas roupas que ele comprou em seu quarto e foi para a pia para lavar as mãos.
Mahiru voltou para a cozinha para servir o jantar, então quando Amane entrou na sala após lavar as mãos e enxaguar a boca, ela já havia colocado os pratos de almôndegas cozidas na mesa de jantar.
Amane se sentiu mal por não ajudar, então como sempre fazia, foi para a cozinha para servir o arroz cozido.
Amane sempre achou que o arroz combinava bem com almôndegas cozidas, e o aroma doce indescritível do arroz acabado de cozinhar o fez sorrir.
"Eu estou realmente cansado... Mas na verdade, isso me fez apreciar Itsuki e Yuuta de novo. Eles são incríveis."
"O que você quer dizer?"
Depois de colocarem a salada e a sopa potage na mesa e tomarem seus lugares, Mahiru inclinou a cabeça para as murmurações curiosas de Amane.
"Bem, fomos incomodados constantemente enquanto estávamos andando por aí. Isso me fez perceber que caras que sempre foram populares são de uma raça diferente de humanos. Eles estão acostumados a esse tratamento, e a maneira como passam pela vida é apenas diferente."
Quando os garotos saíram para sua excursão de compras após o karaokê, por alguma razão, várias garotas que pareciam ter idade universitária se aproximaram para conversar com eles várias vezes.
Bem, Itsuki e Yuuta eram caras bonitos, embora de maneiras diferentes, então parecia natural que chamassem a atenção das garotas. Eles tinham experimentado a chamada abordagem reversa.
No entanto, eles recusaram todas as propostas. Itsuki tinha seu verdadeiro amor, Chitose, e o príncipe da classe aparentemente odiava garotas insistentes. Ele usava um sorriso doce, mas sempre estava de guarda, e em pouco tempo, suas possíveis acompanhantes entenderam que ele as estava rejeitando. Mesmo quando as estava rejeitando, Yuuta era afável e atencioso, então não magoava os sentimentos delas. E parecia funcionar bem para ele. Amane tinha lutado para lidar com uma situação semelhante antes, e estava impressionado com a tática bem praticada de seu amigo.
"...As garotas também falaram com você, Amane?"
"Elas falaram, mas só porque aconteceu de eu estar com os caras."
Se ele tivesse que adivinhar, as garotas estavam realmente interessadas em seus dois amigos e viam Amane apenas como um bônus agradável. Afinal, como ele sabia muito bem, ele era muito ruim em falar com estranhos. De vez em quando, alguém falava com ele quando saía para algum lugar, mas desta vez havia dois caras excepcionalmente bonitos ao lado dele, então ninguém iria olhar para ele pela segunda vez.
Amane deu de ombros e sorriu ironicamente, mas por alguma razão, Mahiru estava fazendo um biquinho.
"O que é isso?" ele perguntou. "Você está querendo me dizer que estou sendo muito duro comigo mesmo?"
"Bem, também tem isso... Mas não é só isso."
"O que é então?"
"...Se você não sabe, então não se preocupe com isso" Mahiru disse de forma pouco prestativa, antes de pressionar as mãos juntas em agradecimento. "Vamos comer."
Amane ficou perplexo, mas a imitou e juntou as mãos, agradecendo pela comida e por Mahiru.
Era o dia seguinte após os três meninos terem ido ao karaokê.
Como de costume, Mahiru foi até o apartamento de Amane.
Recentemente, ela estava passando muito tempo lá quando não estava na escola. Na verdade, desde o início da Golden Week, ela estava no apartamento de Amane quase todos os dias. Mesmo que ela não estivesse lá durante o dia, ela sempre aparecia para fazer o jantar à noite. Amane, é claro, estava muito feliz em ter o objeto de seu afeto por perto, então ele deixava Mahiru fazer o que quisesse.
Hoje, ela estava ao lado dele, mexendo no celular. Mexer no celular era algo completamente normal, é claro, mas ela estava olhando para a tela com um pouco mais de entusiasmo do que o normal.
E embora fosse uma invasão de privacidade espiar a tela, e Amane não tinha intenção de fazer isso, ele não pôde deixar de dizer algo, já que era tão incomum ver Mahiru absorta em seu celular desse jeito, quando normalmente ela só o usava para se comunicar com alguém ou procurar algo.
"O que você tem olhado o tempo todo?", Amane arriscou, achando que apenas perguntar não seria rude.
Por alguma razão, Mahiru se assustou com a pergunta. Em seguida, ela se virou para olhar na direção de Amane com uma testa nervosa. Amane estava perplexo. Ele não tinha certeza do que poderia estar fazendo ela agir assim.
Então Mahiru se afastou dele. Ela só fazia isso quando se sentia culpada por algo.
"...Você está escondendo alguma coisa", Amane insistiu.
"E-escondendo...? Bem, prometa que você não vai ficar bravo?"
"Você está fazendo algo que me deixaria bravo?"
Disseram a Amane que sua expressão facial tranquila parecia um pouco carrancuda, mas ele raramente ficava bravo, e nunca tinha ficado realmente chateado com Mahiru. Ele não achava que ela lhe daria motivo para perder a paciência - na pior das hipóteses, ele poderia imaginar ficar um pouco aborrecido.
"...Dependendo de como você estiver se sentindo, você pode ficar chateado."
"Hmm. Bem, por que você não me conta e veremos?"
"...Bem, sua mãe tem...me enviando fotos antigas suas."
"Oh, tenho certeza de que ela tinha muitas para compartilhar..."
Ele tinha muitas perguntas para sua mãe sobre por que ela achou que era bom enviar fotos antigas de Amane para Mahiru assim, do nada.
"B-bem, tem uma razão, sabe. Sua mãe e eu estávamos conversando e, por acaso, começamos a falar sobre o Dia das Crianças, e... e eu disse 'Aposto que o Amane era muito fofo quando era pequeno...', então você vê..."
"Espere, deixe-me dar uma olhada nelas. Ela não te enviou nada realmente ultrajante, certo?"
Quando se tratava de fotos antigas, com certeza haveria algumas que Amane tinha esquecido. Mas ele definitivamente conseguia se lembrar de algumas que capturavam momentos embaraçosos que ele preferiria que ninguém visse. Sua mãe realmente deveria tê-lo deixado inspecionar as fotos antes de enviá-las para Mahiru.
Mahiru se recusou a responder à pergunta. Ela nem mesmo queria olhar nos olhos de Amane. Pela reação dela, Amane pôde adivinhar que as fotos eram algo que ele não gostaria. Ele a encarou, mas não tinha intenção de tentar arrancar o celular de suas mãos, então decidiu pressioná-la até que ela confessasse.
"Mahiru... você prefere cooperar e mostrar as fotos, ou eu vou ter que te incomodar até que você o faça?"
Com um olhar sério no rosto, Amane se levantou com um joelho e colocou uma mão no encosto do sofá atrás da cabeça de Mahiru. Ele se aproximou dela, deixando-a com pouco espaço para escapar.
O rosto de Mahiru ficou pálido quando ela viu que ele a havia encurralado...ou pelo menos ele achou, mas em vez disso ela ficou vermelha e apertou a almofada favorita no peito. Ela estava ainda mais nervosa do que antes, mas ainda não estava falando.
Será que é tão ruim assim...?
Amane teve um pressentimento. Ele continuou olhando intensamente nos olhos de Mahiru, mas não obteve a reação que estava esperando. Muito pelo contrário, ela tentou empurrar a almofada em seu rosto.
Amane pegou a almofada e a jogou de lado. Ele não entendia por que ela estava fazendo tanto alarde. Mahiru não devia estar segurando a almofada muito forte, porque ele conseguiu facilmente tirá-la de sua mão e fazê-la rolar pelo chão.
Mahiru ainda não tinha se movido de seu lugar no sofá.
"Vamos lá; é hora de confessar", sussurrou Amane enquanto se aproximava para beliscar sua bochecha.
Sem aviso prévio, Mahiru se jogou no sofá. Aconteceu tão rapidamente que Amane não conseguiu reagir, e no caminho para baixo, Mahiru colidiu com o braço que ele estava usando para se apoiar, então ele também perdeu o equilíbrio e caiu no sofá. Felizmente, ele conseguiu se segurar antes de esmagar Mahiru, mas acabou muito mais perto dela do que esperava.
Ambos congelaram com essa proximidade repentina. Seus corpos não estavam muito próximos, mas seus rostos estavam tão próximos que suas respirações se entrelaçavam, e se ele se inclinasse um pouco, seus narizes se tocariam. Amane estava perto o suficiente para ver que os longos cílios que contornavam os olhos de cor caramelo de Mahiru estavam tremendo ligeiramente. A essa distância, o aroma doce característico de Mahiru enchia suas narinas, e ele não sabia o que fazer.
Ambos estavam congelados, mas Mahiru foi a primeira a se mover. Seus lábios rosa-claro tremiam, e ela apertou os olhos com força. Seu rosto estava corado, e ela estava respirando de maneira superficial e tímida. Ela parecia nervosa, como se estivesse se preparando para algum tipo de impacto, mas seus lábios pareciam macios e doces. Ela parecia simultaneamente inocente e sedutora. Mahiru praticamente personificava essas contradições. Amane não conseguia desviar o olhar.
A visão dela despertou tanto o desejo de protegê-la quanto o impulso de torná-la sua, e, apesar de seu melhor julgamento, Amane estendeu a sua mão —
—e beliscou a bochecha de Mahiru.
"O quê...?"
"...Essa é uma cara engraçada", ele murmurou com um riso irônico.
Os olhos de Mahiru se arregalaram, e sua expressão mudou instantaneamente. Em vez da timidez anterior, agora era uma mistura de vergonha e raiva. Ela o encarou com olhos cheios de lágrimas. "É isso que você vai dizer depois de derrubar uma garota e tocar em seu rosto?"
Amane sorriu novamente. "Ok, ok, foi minha culpa. Eu não estava esperando uma luta."
"Ah, me desculpe por oferecer resistência!" ela respondeu. "Só aconteceu porque você me empurrou!"
"Isso foi porque você estava escondendo as fotos que minha mãe enviou para você pelas minhas costas."
"Argh! ...Ughhh."
Quando ficou claro que Mahiru não diria mais nada, Amane se afastou dela, ainda sorrindo. Ele deslizou a mão entre o sofá e as costas de Mahiru e a ajudou a se sentar. Mahiru mexeu os lábios como se estivesse murmurando algo para si mesma e fez uma expressão estranha.
"Então..." Amane disse. "Você vai me deixar examinar minhas próprias fotografias?"
"...sinta-se livre" ela disse com resignação. Ainda parecia irritada, e seu rosto continuava vermelho, mas ela mostrou a Amane a lista de imagens da conversa entre sua mãe e ela.
Se ele apontasse o quanto ela estava corada, provavelmente ela sairia correndo do apartamento, então Amane resistiu ao desejo de dizer mais alguma coisa enquanto desviava o olhar para que Mahiru não visse seu rosto.
...Aquilo foi uma surpresa.
Amane estava tentando ficar calmo, mas mesmo agora seu coração estava batendo com força explosiva. Ele não tinha certeza do que poderia ter feito a Mahiru se não tivesse se segurado e a beliscado em vez disso. Ela certamente não deu sinais de que pararia.
Caramba, eu quase fiz uma grande besteira agora...
A vergonha pesava em seu estômago. Sim, havia sido um acidente, e talvez ambos fossem pelo menos um pouco culpados. Mas isso certamente não o absolveu de tocar Mahiru de forma tão íntima, de uma maneira geralmente reservada a amantes. Aquilo não seria aceitável.
Se ele a tivesse beijado, tinha certeza de que Mahiru teria desabado em lágrimas ou algo do tipo. Não teria sido certo fazer algo assim. Ele não era o namorado dela nem nada. E se ele tivesse feito isso mesmo assim, ela definitivamente o teria cortado de sua vida para sempre.
Amane não queria ser o tipo de pessoa egoísta que só pensava no que queria.
"...Amane, você disse que queria verificar as fotos, mas vai mesmo olhá-las?" Mahiru perguntou. Ela soou ainda mais mal-humorada do que antes, e quando Amane olhou na direção dela, viu que o vermelho em seu rosto finalmente estava começando a diminuir um pouco, e ela estava com as bochechas um pouco infladas.
"Desculpe, eu estava ocupado pensando."
"Bobo."
Mahiru não costumava insultá-lo, e ela usou uma palavra que era meio fofa, mas Amane pôde perceber pelo tom dela que ela estava perdendo a paciência, então rapidamente olhou para o smartphone.
Na sequência de fotos, havia imagens de Amane da pré-escola e da escola primária. À primeira vista, ele não viu nada especialmente doloroso, o que foi um alívio, mas havia imagens dele sorrindo com um sorriso inocente que ele mal conseguia imaginar imitar agora, então ele ainda se sentia muito envergonhado.
O rosto de Amane estava corando por um motivo diferente naquele momento, e para distrair-se da vergonha que surgia em seu interior, ele olhou de relance para Mahiru. Ela não usava mais uma expressão carrancuda - em vez disso, estava olhando sonhadoramente para o espaço com a mão sobre a boca, parecendo atordoada.
Sentindo que não deveria vê-la assim, Amane rapidamente abaixou os olhos de volta para o celular.
Seu coração estava batendo novamente, e ele tentou focar seus olhos e sua mente em qualquer outra coisa.