O Anjo da Porta do Lado me Mima Demais Japonesa

Tradução: Jklipoo

Revisão: Jklipoo


Volume 3

Ninguém Além de Você

"...Estava pensando, Amane, você está fazendo alguma coisa para o Dia das Mães?" Mahiru perguntou em voz baixa, como se tivesse acabado de lembrar do feriado. Eles estavam assistindo televisão juntos, e ela havia notado uma programação rotulada como um especial do Dia das Mães. Amane tentou mudar de canal casualmente, imaginando que Mahiru não gostaria de ser lembrada de seus pais, mas ela não parecia particularmente incomodada.

Ele assentiu, sentindo-se um pouco aliviado por ela não estar chateada. "Bem, acho que vou enviar um pequeno presente e um buquê para a casa."

Era um pouco incômodo, mas ela era sua única e verdadeira mãe, afinal, e ele achava que como filho, deveria mostrar sua apreciação por tudo o que ela fazia por ele. Mas agora que estava fora de casa, não era como se ele pudesse ir pessoalmente dizer isso.

"Bem, já que estou longe, isso é tudo o que posso fazer. Se ainda morássemos juntos ou perto, eu tentaria fazer um pouco mais, mas..."

"Tipo ajudar nas tarefas domésticas?

"Sinceramente, se eu tento ajudar, só acabo criando mais trabalho para ela." Graças a Mahiru, Amane havia aprendido o básico das tarefas domésticas, pelo menos o suficiente para se virar sozinho. Mas ele não achava que seria capaz de fazer tudo conforme os padrões de seus pais, então acabariam refazendo tudo no final.

"Acho que sim."

"Não sei como me sinto sobre você concordar com isso..."

"...Mas você aprendeu o suficiente para lidar com as tarefas cotidianas. Quer dizer, está longe de ser perfeito, mas você consegue se virar agora."

"Isso é uma avaliação rigorosa. Dito isso, você não está errada."

"Heh-heh. Você ainda tem um longo caminho a percorrer, Amane."

"Sim, sim, não chego aos pés da maravilhosa Miss Mahiru."

"Isso mesmo."

Amane tinha a sensação de que, mesmo que passasse a vida inteira trabalhando nisso, nunca ficaria tão bom em tarefas domésticas quanto Mahiru era agora.

Mahiru riu, um pouco surpresa pelas palavras de Amane, e deu um tapinha em seu braço, mas não havia malícia nisso, então ele não reclamou.

"Não sei como seus pais puderam te fazer morar sozinho quando você nem mesmo conseguia cuidar de si mesmo, Amane."

Ela provavelmente não pretendia dizer isso em voz alta, mas obviamente estava pensando nisso.

Quando se conheceram pela primeira vez, Amane estava tão desarrumado que até Itsuki estava preocupado com ele. Então não era surpresa que Mahiru duvidasse dele agora. Ela sabia exatamente o quão ruim as coisas poderiam ficar.

Amane fingiu não perceber a dor que percorreu seu peito e deu de ombros. "Na verdade, acho que eles nunca quiseram me deixar fora de vista? Eu era um perdedor total sem habilidades de vida, afinal."

"Foi sua decisão morar sozinho?"

"Aham. Aconteceram algumas coisas, e eu não queria mais ficar na minha cidade natal."

Se ele fizesse parecer muito sério, Mahiru provavelmente se preocuparia, então ele tentou passar por cima disso, tentando manter a calma enquanto o fazia.

Mahiru congelou. Imediatamente, tons de remorso começaram a piscar em seus olhos cor de caramelo. Amane não queria tê-la incomodado, mas Mahiru, que era especialmente sensível à dor dos outros, teve um vislumbre do fardo que ele carregava. Às vezes, sua perspicácia podia ser perturbadora.

Amane lamentou ter mencionado isso em primeiro lugar. Ele estendeu a mão e afagou a cabeça de Mahiru enquanto ela fazia careta para ele.

"Ah, você realmente não precisa se preocupar com isso", ele disse. "Na verdade, me coloca em uma situação difícil se você estiver muito preocupada comigo. Realmente, não é tão grande coisa. Havia apenas alguns caras na minha cidade natal que eu preferia não ver de novo, então eu saí."

Na realidade, não tinha sido tão sério. Apenas algo em que ele acreditava sinceramente havia desmoronado desde sua base. Ele não havia sido fisicamente ferido ou algo assim, e agora que havia cortado todo contato com esses caras, estava vivendo uma vida normal, e a dor surda de antigas feridas havia desaparecido para o fundo.

Apesar do que ele disse, a expressão melancólica de Mahiru não desapareceu. Amane estava perplexo. "Eu realmente estou bem, sabe?" ele insistiu. "Se ainda doesse, eu não estaria falando sobre ir para casa visitar. Na minha opinião, isso faz parte do passado."

"...Mentiroso."

"Mentiroso? Escute aqui—"

"Se você realmente tivesse superado, não estaria fazendo essa cara."

Mahiru tremeu ligeiramente enquanto estendia a mão em direção à bochecha de Amane. Seus olhos estavam baixos, então ele nem podia ver um reflexo de sua expressão, mas pelo que ela disse, provavelmente não era algo bom.

"Se você não quiser dizer, tudo bem. Mas é doloroso para mim ver você parecendo tão machucado."

"Não diga isso. Não é tão grande coisa; nem mesmo é uma história interessante, certo?" Amane insistiu. "Você ainda está preocupada com isso, mesmo assim?" ele perguntou silenciosamente, e Mahiru assentiu levemente.

Amane coçou a bochecha e se perguntou o que fazer. Ele soltou um suspiro suave.

"Hmm... Eu me pergunto por onde devo começar. Bem, acho que faz sentido começar com o motivo pelo qual eu queria sair da minha cidade natal, né?"

"Sim."

"É porque eu queria me afastar dos meus amigos... ou eu acho que deveria dizer das pessoas que eu achava que eram meus amigos."

Não parecia uma razão muito boa para se mudar. Qualquer outra pessoa provavelmente pensaria que ele estava se preocupando demais com algo pequeno. E, no entanto, aquele período de sua vida estava indelevelmente gravado na memória de Amane.

"Como devo colocar isso...?" ele começou. "Bem, eu fui abençoado com um bom ambiente doméstico."

Mahiru parecia um pouco curiosa com essa mudança abrupta de tópico, mas ela deve ter entendido que era necessário para entender a história completa, porque ela ouviu em silêncio.

"Eu tinha parentes—meus pais e avós—que me amavam, e éramos bem de vida. Financeiramente, quero dizer. Eles me deixaram estudar e fazer o que eu quisesse. Eu era muito sortudo, e eu sei disso."

Seus pais haviam sido especialmente carinhosos com ele, já que era o único filho deles, e o tinham criado de uma maneira que respeitava a individualidade de Amane.

"Mas naquela época, eu realmente não estava ciente de como eu era incrivelmente abençoado, e nunca aprendi a desconfiar das pessoas. Eu estava cercado por pessoas boas e fui criado com amor, então, para ser honesto, eu era uma criança realmente ingênua."

Agora Amane estava emburrado, mas antes do incidente acontecer, ele era tão honesto e alegre que era impossível imaginar, olhando para ele agora. Ele tinha sido uma criança realmente infantil.

"...Acho que minha ingenuidade me tornou especialmente fácil de enganar e usar."

E assim houve muitas oportunidades para tirar vantagem dele.

"Os novos amigos que fiz na primeira metade do ensino médio... Na verdade, não sei se posso honestamente chamá-los de amigos, mas os caras com quem comecei a sair... Bem, para ser honesto, eles me viam como uma presa fácil, uma boa fonte de dinheiro. Quando você vem de uma família rica, é humano querer conseguir algo de você."

Soava patético dizer isso, mas naquela época, Amane era honesto até demais e incrivelmente ingênuo. Em outras palavras, era fácil enganá-lo. Ele havia crescido acreditando na bondade inata dos outros, e nada nunca desafiou essa redundante ingenuidade. Ninguém que ele conhecia jamais teria tentado tirar vantagem dele.

A expressão de Mahiru tinha ficado rígida, então, para tentar relaxá-la, Amane sorriu e disse: "Claro, eu não era um completo idiota, então nunca dei dinheiro diretamente a eles ou algo assim." Mas a expressão de Mahiru ficou ainda mais severa.

"E então, bom, descobri que eles estavam dizendo todo tipo de coisas pelas minhas costas. Eles insultavam minha aparência. Eu ouvi dizerem que eu era nojento e que me odiavam e que só tinham a intenção de me tirar tudo desde o início. Fiquei chocado e meio deprimido por um tempo."

As pessoas têm preferências diferentes quando se trata de se dar bem com os outros, e Amane não se importaria se eles apenas dissessem que não gostavam dele. Mas, como achavam que podiam tirar vantagem dele, todos sorriam na sua frente e o insultavam em particular, e isso era algo que ele não conseguia suportar.

Ele havia contado a Mahiru a versão suave da história, mas também havia insultos que seriam difíceis de repetir, então ele realmente tinha suportado muito. Agora, ele seria capaz de ignorar insultos como esse, mas na época, ele tinha sido um menino sincero e sensível, e era simplesmente demais para ele suportar.

"Claro, eu sabia que nem todo mundo no mundo era como esses caras. Eu tinha alguns amigos que eu acreditava realmente gostarem de mim. Mesmo assim, uma vez que comecei a duvidar das pessoas, o medo tomou conta. Eu não podia confiar em ninguém."

Ele se trancou em seu quarto por um tempo e chorou. 

Eventualmente, se recuperou, graças ao apoio de seus pais, mas, como se poderia esperar, ele tinha medo de entrar em contato com aqueles garotos novamente, então fez de tudo para evitá-los por tanto tempo quanto pudesse —

"...E assim, deixei minha cidade natal. Saí para recomeçar em um lugar onde ninguém me conhecia. Saí para não ser mais incomodado por aqueles caras."

Ele não sabia se poderia se virar sozinho, mas decidiu que sua paz de espírito valia o risco. 

Graças a tudo que aconteceu, ele não conseguia mais confiar facilmente nas pessoas como antes e se tornou um jovem introvertido e cético que finalmente conseguiu fazer dois amigos depois de levar séculos para se abrir. Amane teve que rir de si mesmo. Para o bem ou para o mal, ele se tornou bastante conservador, mas, nesse ponto, essa atitude estava profundamente enraizada, e não havia como mudar agora.

Amane terminou de falar, e Mahiru estava tremendo. Suas mãos estavam cerradas em punhos, e a emoção cintilando em seus olhos era inconfundivelmente raiva. Amane ficou surpreso ao ver a Mahiru de maneira tão enraivecida, e depois ficou ainda mais confuso quando percebeu que ela estava zangada em seu nome, e isso lhe trouxe um pouco de alegria.

"...Se eu estivesse lá, teria socado aqueles caras terríveis bem na cara."

"Por favor, não; você só machucaria sua própria mão... E você não precisa sujar suas mãos por minha causa, nem mesmo em sua imaginação."

Aqueles idiotas não valiam a pena Mahiru sujar suas mãos — nem de perto. E de qualquer forma, Amane já os havia cortado de sua vida. Seria apenas um desperdício para Mahiru se incomodar com eles.

Mahiru relaxou um pouco. Ela estava apertando as mãos com tanta força que começaram a ficar brancas. Um pouco da raiva desapareceu de seu rosto, substituída por uma expressão ainda mais profunda de tristeza.

Quando se tratava de Amane, Mahiru podia ser tão compassiva que quase doía. Mas esse incidente estava no passado, e Amane estava constrangido por tê-la perturbado com isso.

"Na verdade, não foi tão agonizante quanto sua situação, então você não precisa ficar tão triste."

"Amane, não é algo que possa ser comparado. Eu nem quero tentar."

Ela o cortou abruptamente, e Amane franziu a testa quando percebeu que havia sido rude, mas ela olhou para ele e colocou uma expressão calma.

"Deixe-me dizer isso - não é que não haja valor em compartilhar nossas experiências, mas sua tristeza é sua, e é algo que apenas você pode carregar, e não pode ser comparada à minha tristeza. Nada é melhor ou pior. No sentido mais verdadeiro, eu não posso entender sua dor, Amane, nem você pode entender a minha."

"Ah..."

"O que eu posso fazer é aceitar sua tristeza e apoiá-lo... assim como você fez por mim. Quero estar lá por você, e quero que você confie em mim."

Mahiru sussurrou isso enquanto colocava as palmas das mãos nas bochechas de Amane.

Ele gradualmente sentiu um calor subindo das profundezas de seu peito e por trás de seus olhos. "...Mas eu já confio em você o tempo todo", ele disse.

"Emocionalmente, quero dizer."

"Sempre confio em você."

"...Bem, faça isso mais."

"Não me mime, por favor."

"Eu vou. Muito, muito mesmo."

"Eu realmente não valho isso tudo."

"Por que você está preocupado com isso agora? Eu sempre soube que você era um caso perdido, Amane."

Ele se viu fazendo uma careta quando ela entregou casualmente essa verdade dura e, ainda assim, inegável. Mas mesmo que ela soasse exasperada, Mahiru olhava para ele com olhos gentis e amorosos que comunicavam o oposto.

"...Mas também sei que você é uma pessoa muito boa e pode suportar muito. Até demais," ela continuou. "Você pode pelo menos me deixar mimar você um pouco."

Sua voz sussurrante e doce, genuína e gentil, ameaçava aniquilar o pouco de resistência que Amane ainda tinha. Ele podia se imaginar deixando ela o mimar para sempre, e o pensamento despertou um profundo medo dentro dele, porque sabia que se permitisse depender demais da garota que amava profundamente, nada mais pareceria tão doce.

Pelo bem de preservar o pouco de dignidade que lhe restava, Amane sacudiu lentamente a cabeça. "Realmente, estou bem", insistiu.

Mahiru piscou os olhos e suspirou dramaticamente. "...Você está tentando agir legal de novo", disse ela cansadamente. "Seu bobão."

Mahiru o zombou docemente, depois deslizou as mãos das bochechas de Amane para a parte de trás da cabeça dele. E então ela o puxou com toda a sua força.

Antes que pudesse reagir, o rosto de Amane foi pressionado contra o peito de Mahiru. Ele congelou. Podia sentir a maciez de sua pele e ouvir o batimento de seu coração, e quando ele respirou, seus pulmões foram preenchidos com seu doce perfume — uma mistura de leite e algum tipo de flor, com uma nota de algo brilhante, como maçã verde — e sua mente era um caos absoluto.

"Por favor, apenas me deixe mimar você", ela disse.

"...Você é realmente direta" foi a melhor resposta que seu cérebro atordoado pôde formular.

Mas os ombros de Mahiru tremeram de riso. "Você acabou de perceber isso? Às vezes, as meninas podem ser muito insistentes, sabia?" ela sussurrou travessa. 

Totalmente ciente da perplexidade de Amane, Mahiru envolveu gentilmente os braços ao redor de suas costas para que ele não pudesse escapar. Claro, ela ainda era uma jovem mulher esguia, então se Amane quisesse se libertar, provavelmente poderia. No entanto, o doce perfume e o calor de Mahiru, além de sua agradável suavidade e o ritmo calmante de seu coração, sugaram toda a força de vontade de Amane para desafiá-la.

"...Além disso, eu sou o tipo de pessoa que sempre retribui uma dívida", ela sussurrou. Amane teve que lutar para não se perder em seu calor. "Eu confiei em você antes, Amane. Você também me mimou, lembra? E agora é minha vez, tudo bem? Deixe-me mimar você de volta. É o mínimo que posso fazer."

"...É mais do que o suficiente."

"Bem então... Um dia, quando eu estiver me sentindo para baixo novamente, você pode estar lá por mim, e assim ficaremos quites." Seu tom de voz era brincalhão, e estava claro que ela não tinha intenção de desistir.

Amane finalmente se rendeu e se inclinou para Mahiru. Mas desta vez, ele colocou o braço ao redor de suas costas e certificou-se de se apoiar em seu ombro, em vez de seu peito. Era o melhor que ele poderia fazer.

Mahiru sorriu para a escolha de Amane, depois o abraçou firmemente e aceitou todo o seu peso.

 

"Isso não está certo..."

Vários minutos se passaram, embora parecesse muito mais tempo para Amane. Quando ele ergueu a cabeça e se afastou dela, sua voz estava fria e tinha uma borda. Ele não estava zangado com Mahiru, no entanto. Estava envergonhado consigo mesmo, por se aproveitar de sua bondade.

Mas Mahiru apenas sorriu e não mostrou sinal de preocupação. "Bem, eu odeio te ver triste, então... na próxima vez, tentarei mimar você ainda mais cedo."

"...Não é exatamente isso que eu quis dizer..."

Amane se pegou olhando para baixo novamente, para o peito dela. Rapidamente desviou os olhos. Ela estava sendo tão gentil com ele, e ele não queria ser vulgar. Ele havia conseguido se controlar desta vez, mas pensou que, na próxima vez, talvez não pudesse se salvar tão facilmente.

Mahiru confiava em Amane. Ela não o teria abraçado se não estivesse confortável com ele. Mas ele ainda estava um pouco surpreso que ela estivesse sendo tão insistente.

E embora a ternura dela tivesse aliviado a dor de suas antigas feridas, isso só o deixava livre para focar na nova dor em seu coração.

"Por que você sempre se afasta de mim?" Mahiru perguntou.

"Eu não sei o que fazer quando você me mima assim. Quero dizer, eu sou um cara, afinal."

"Eu sei disso..."

"Não está claro que você saiba. Sério."

Ela deveria ter mais cuidado, pensou. E se ele tivesse se aproveitado dela e esfregado o rosto onde quisesse? O que ela teria feito então? Ele queria que ela entendesse que havia algumas fronteiras que ela não deveria deixar nem mesmo ele ultrapassar.

Ele não tinha confiança de que seria capaz de se controlar da próxima vez que enfrentasse a tentação de receber a autorização para enterrar o rosto no peito da garota que amava. Amane suspirou. Mahiru era muito confiante e provavelmente o perdoaria por quase qualquer coisa.

Os olhos de Mahiru se estreitaram. Ela parecia absolutamente magoada.

"...Amane, eu não entendo você de jeito nenhum."

"O que exatamente?"

"Tudo, tudo isso. Seu bobo."

Mahiru se levantou do sofá em um bufar zangado. Até mesmo seus insultos pareciam adoráveis. Deixando Amane ponderar sobre sua raiva, ela se virou e se dirigiu para a cozinha.

Ele a viu sair atordoado. Ela parecia tão pequena e instável, mas, há apenas um momento, ela o estava apoiando.

"Amane, você é tão cabeça oca às vezes." Ela continuou repreendendo-o em uma voz quieta e zangada que aparentemente ela não achava que ele pudesse ouvir, então Amane apenas a observou ir embora com um encolher de ombros e um sorriso —

 

"Mesmo que eu não faria isso por ninguém além de você."

 

E então seus ouvidos captaram outro murmúrio silencioso.

Sua respiração ficou presa na garganta.

Por um segundo, seu cérebro se recusou a processar suas palavras. Foi tão chocante para ele.

Ele se forçou a respirar superficialmente.

E então a intensa onda de emoção que girava em seu peito praticamente forçou Amane a se levantar. Ele se viu estendendo a mão em direção a ela.

"...Ei, Mahiru?"

"O que é... isso?"

Antes que ela pudesse se virar, Amane envolveu Mahiru em seus braços, abraçando-a fortemente como se estivesse protegendo-a do mundo.

O corpo esguio de Mahiru começou a tremer, e sua voz vacilou, mas ela não o afastou nem pareceu chateada. Ele podia dizer que ela estava tremendo de surpresa.

Amane envolveu os braços ao redor de seu corpo delicado. Há apenas um momento, ela o estava apoiando. Agora ele colocou o queixo em cima de sua cabeça para que ela não pudesse se virar.

"...Você não se importou com o abraço pela frente, mas agora que é por trás, você está assustada", Amane provocou.

"Qualquer um ficaria surpreso ao ser abraçado tão de repente!"

"Você foi quem disse que eu poderia contar com você. Embora eu tenha me segurado porque sabia que isso aconteceria... Isso é ruim para o meu coração."

Amane não tinha a intenção de que isso acontecesse. Ele ia deixar Mahiru ir embora e fazer birra, mas quando ouviu o que ela disse, sentiu uma súbita onda de emoção, constrangimento e alegria ao mesmo tempo, e a razão o deixou — e seu corpo procurou por Mahiru por conta própria.

Suavemente, mas firmemente, como se não quisesse deixá-la escapar, ele segurou Mahiru, que parecia que poderia se desfazer se ele a apertasse demais.

Mahiru tentou se contorcer para enfrentá-lo, mas Amane sussurrou em seu ouvido, "Não vire."

Ela baixou a cabeça. Seu rosto estava vermelho brilhante, e ele ouviu-a murmurar, "... Seu bobo."

... Eu sou um bobo; você está absolutamente certa.

Ele não podia negar. Aqui estava ele, se aproveitando da bondade dela em um momento vulnerável... Ele certamente era uma pessoa ruim.

Mas Mahiru não se afastou de seu toque, e ele estava grato por isso, pelo menos. Ele desfrutou de seu calor enquanto pressionava o rosto em seu cabelo, assim como ela tinha feito com ele antes, quando estava tentando fazer com que aceitasse sua generosidade. A diferença entre então e agora, Amane pensou, era que ele sabia como ela responderia.

"Agora você entende como eu estava me sentindo antes?" ele perguntou.

"Eu—eu entendo, mas—"

A agudeza em sua voz lhe disse que ela estava chateada. Suas orelhas estavam vermelhas, e embora ele não pudesse realmente dizer dessa posição, Amane não duvidava que seu rosto também tinha adquirido a mesma cor intensa.

Mesmo Amane entendia que tinha feito algo ruim. Ele só fez isso porque estava certo de que ela não o rejeitaria.

"... Bem, olhe. Você realmente não precisa se preocupar tanto comigo", ele disse. "Não é como se eu estivesse morrendo de alguma condição terrível ou algo assim. E além disso, eu posso ser bastante sem vergonha, então se você me mimar demais, vou acabar aproveitando da sua bondade."

Mahiru ouviu silenciosamente as palavras de Amane, então soltou um suspiro. "... Se isso for satisfatório, se isso ajudar a curar você, então eu não vou recusar um abraço."

Ela levantou uma mão e tocou gentilmente o braço dele. Ela não o afastou ou bateu nele; ela simplesmente colocou a mão suavemente em seu braço, como se o estivesse puxando para mais perto. Amane se alertou para não se deixar levar, mas ainda pressionou o rosto no cabelo de Mahiru novamente.

"Eu sou um cara astuto, sabia. Eu sabia que você aceitaria o fardo, então comecei a depender de você."

"O que você está falando? Eu sempre soube que você é problema."

Amane sabia que suas ações recentes tinham surgido de sua própria covardia, mas não estava totalmente certo do que ela queria dizer com problema.

"... Sinto que há algo que você quer me dizer..."

"Sim, se você tem algum senso de autoconsciência, é hora de se endireitar. Meu coração realmente não aguenta mais isso."

"Eu realmente não faço ideia do que você está falando", Amane protestou.

"Mm-hmm", Mahiru murmurou, então deu um tapa no braço de Amane. Não doeu, e ele riu baixinho do ataque brincalhão dela.

"Sinto muito por causar tantos problemas."

"...Bem, se você vai causar problemas de qualquer maneira, você pode muito bem ir até o fim."

"Mas... O que você estava dizendo antes..."

"Aquilo era aquilo, e isto é isto."

"Oh...?"

Ele não tinha certeza do que Mahiru queria dizer, mas ela certamente parecia ter algo em mente, então quem era Amane para discutir.

Se Mahiru achava que ele parecia problemático, então provavelmente era verdade. Mas ele não sabia como responder quando ela disse para aumentar a aposta.

"Eu também posso ser astuta, sabia", disse Mahiru. "Então acho que realmente não tenho muito espaço para reclamações."

"De que jeito, Mahiru?"

"Hmm, eu me pergunto?"

Ele sentiu seu corpo tremer levemente com risadas.

"Se você ainda não percebeu que eu também tenho alguns truques na manga, você ainda tem um longo caminho a percorrer, Amane."

Mesmo que Amane não pudesse ver seu rosto, ficava claro que ela ria alegremente. Graciosamente, ela escapou de seus braços e girou para encará-lo.

Sua expressão quando o fez era vibrante, travessa, terna e doce — um sorriso adorável e bonito que encantaria qualquer pessoa que o visse. Amane ficou sem palavras.

Quando ela viu Amane daquele jeito, Mahiru pareceu satisfeita, virou-se e se dirigiu para a cozinha em seus ânimos usuais.

Amane a viu sair da sala e então desabou no sofá.

...Você também é uma grande boba, sabe.

O que ela estava tentando fazer, surpreendendo ele com uma visão daquelas? Ele não achava que conseguia reunir as palavras para perguntar a ela. Tudo o que podia fazer era ficar lá, resmungando baixinho.

Mas a dor no fundo de seu peito havia desaparecido.

 



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