Volume 2
O Novo Semestre
Um novo semestre escolar havia começado, mas não muita coisa tinha mudado.
Parecia que todos tinham passado as férias de inverno relaxando, então não havia grandes novidades como às vezes acontecia nas férias de verão. O elenco habitual estava de volta, e ninguém tinha passado por uma mudança drástica de imagem ou algo do tipo.
Amane estava sentado em sua carteira, observando silenciosamente uma sala de aula um pouco mais animada que o habitual, quando uma sombra se projetou sobre ele.
"Valeu Amane, qual a boa?."
"Valeu, não posso reclamar."
Era Itsuki, que havia entrado na sala por de trás do assento de Amane. Itsuki não era exceção e também continuava o mesmo.
Amane não o via desde o Natal, mas ele estava com o mesmo sorriso despreocupado de sempre.
"E aí, você teve um bom feriado?"
"...M-mais ou menos, sim."
"Vamos lá, você está escondendo alguma coisa. Houve algum tipo de…progresso?"
"O quê? Olha, não é nada disso. E só para constar, nada aconteceu."
Isso não era realmente verdade, é claro. Mas Amane não sonharia em dizer a Itsuki que Mahiru tinha passado a noite na casa dele, mesmo que tenha sido um acidente.
Ele sabia que no momento em que contasse a Itsuki, ele com certeza contaria para a Chitose, e não era difícil imaginar que os dois começariam a zombar dele na primeira chance que tivessem.
Além desse incidente, tudo o que havia acontecido durante o intervalo foi a visita de seus pais e a visita em grupo ao santuário, o que certamente se encaixava na categoria de nada.
"...Hmm?"
"Eu realmente não fiz nada."
"Bem, acho que não deveria me surpreender, mas..."
Amane achou o sorriso um tanto triunfante de Itsuki bastante irritante, mas decidiu que responder só o encorajaria, então deixou pra lá.
Ele olhou ao redor da sala de aula, procurando algum tópico que permitisse mudar de assunto... mas nada estava particularmente novo ou notável.
Como sempre, as garotas estavam ao redor de Yuuta Kadowaki, o autoproclamado príncipe de sua série. Como sempre, os meninos da sala estavam abertamente com inveja, embora o Yuuta mesmo tivesse uma expressão ligeiramente preocupada.
"Essa dinâmica não mudou nem um pouco", comentou Amane.
"É, bom e velho Yuuta. O mesmo espetáculo de sempre, né?"
No final, Amane, que considerava que não era de sua conta, e Itsuki, que tinha uma namorada e não estava interessado em outras garotas, sorriram ironicamente para a popularidade de Yuuta e continuaram observando o ambiente familiar ao seu redor.
"Pensando bem, ouvi dizer que a Shiina pode ter um namorado, sabia?"
Um grupo de várias garotas estava próximo, e Amane podia ouvir sobre o que estavam falando. De repente, ele ficou tenso.
"Oh, a Risa me contou, sim. Ela foi visitar um santuário e viu Shiina de mãos dadas com um garoto."
"É, ouvi falar! A Shiina nunca foi influenciada por ninguém antes, mas talvez seja porque ela tinha um namorado?"
"Parece que ele era um cara bem legal, mas a Risa disse que nunca o viu antes. Ele deve ser de outra escola."
De alguma forma, pareceu que a atenção de toda a sala de aula se voltou para a conversa das garotas. Até mesmo o Yuuta parecia estar olhando e prestando atenção.
Só o Itsuki estava olhando para Amane.
"Ei, Amane."
"Não sei de nada."
"Eu nem te perguntei nada ainda."
"Não estou envolvido."
"Claro."
Itsuki sorriu sabiamente para Amane, que o havia interrompido em voz baixa, e então afastou as franjas de Amane.
"Sabe, você sempre esconde o rosto, mas não é tão ruim assim."
"Não posso levar isso além de uma zombaria quando você diz."
Itsuki podia ser um verdadeiro brincalhão, nunca parecia levar muita coisa a sério, e ele era definitivamente um cara bonito, então quando ele dizia a Amane que ele tinha um rosto atraente, parecia decididamente sarcástico.
Amane sabia que era um cara com aparência comum no máximo, e o deixava desconfortável ouvir outras pessoas falando sobre sua aparência.
Ele afastou a mão de Itsuki de sua franja e fez uma careta, mas seu amigo só sorriu.
"É o tipo de cara que você é."
"Cala a boca."
"Bom, não posso dizer que está fora do personagem."
Amane ainda estava agindo de forma fria, e Itsuki sorriu para ele sem um traço de raiva.
"Há um boato rolando na escola."
Ainda estavam sentados um em frente ao outro à mesa após o jantar quando ele compartilhou a notícia, e o rosto de Mahiru ficou rígido, como se ela já soubesse exatamente do que ele estava falando.
Mahiru era quem certamente teria mais problemas com a situação.
Até onde Amane pôde perceber pelo que ouvira, ele ainda não tinha sido identificado como o homem misterioso, mas mesmo assim, deve ter sido exaustivo, todo mundo de repente perguntando a ela sobre ter um namorado.
Deve ter sido por isso que Mahiru estava se movendo rigidamente e parecia um pouco cansada quando veio ao apartamento de Amane naquele dia.
"... Está tudo bem, porque ninguém sabe que era você, Amane, mas todos entenderam errado. Vai ser difícil esclarecer esse mal-entendido."
"Segurar a sua mão já é o suficiente para alguém se tornar seu namorado?"
"Eu não sei. Por enquanto, tenho negado veementemente tudo, dizendo às pessoas que o garoto era apenas um conhecido. Agora, temos que esperar o boato se dissipar."
"Hum, bem, acho que não há nada mais que possamos fazer, né?"
Obviamente, as pessoas pensariam menos de Mahiru se achassem que ela estava namorando um cara como Amane, então ele esperava que os rumores se dissipassem rapidamente. Ela estava claramente estressada, tendo pessoa após pessoa questionando-a sobre um possível namorado.
Ao mesmo tempo, Amane sentia um toque de arrependimento e constrangimento sempre que ouvia os rumores circulando, então ele também queria deixar toda essa situação para trás.
Amane suspirou profundamente, enquanto Mahiru apenas baixou os olhos silenciosamente.
"... Será que realmente parecíamos tanto um casal?", Mahiru perguntou de repente.
"Não sei. Sinceramente, não consigo imaginar você saindo com um cara como eu. Você definitivamente escolheria um cara mais inteligente e atraente, então acho que mesmo se eu nos visse lado a lado, presumiria que éramos apenas conhecidos em vez de namorado e namorada."
"Isso não é verdade."
"Hã?"
Mahiru respondeu com uma voz mais forte do que o esperado. Quando ele se voltou para olhar em sua direção novamente, ela não estava usando a expressão preocupada que tinha feito antes. Em vez disso, por algum motivo, Mahiru parecia um pouco... irritada. Ela tinha um olhar determinado.
"Amane, sua avaliação de si mesmo é muito baixa, mas não é precisa. Eu acho que você é uma pessoa muito equilibrada. Você é gentil, atencioso e cavalheiro, então acho que tem uma personalidade muito boa. E quando você se arrumou, achei que ficou muito bonito também."
As palavras dela eram muito gentis. Amane mal podia acreditar que ela estava falando sobre ele. Seu rosto começou a ficar vermelho. Ele jamais teria imaginado que Mahiru pensava tão bem dele, e ela estava dizendo essas coisas tão sinceramente que o fazia se sentir desconfortável em receber elogios dela.
Parece que ele não era o único a se sentir um pouco desconfortável. No meio da conversa, a voz de Mahiru começou a tremer, mas ela ainda olhava Amane diretamente nos olhos, certificando-se de que ele entendesse que essa era a opinião dela. Claro, isso não tornava a situação menos embaraçosa.
"Ah, é mesmo...? Hum, C-certo, obrigado."
"E-então, bom... não se menospreze tanto, por favor."
"S-sim..."
Amane não sentia vontade de discutir com ela. Era óbvio que ela não daria ouvidos.
As bochechas de Mahiru estavam tingidas de vermelho enquanto ela se contorcia, olhando para o chão.
Amane suspirou. Ele também não sabia o que fazer. Qualquer coisa era melhor do que ficar parado enquanto a frustração e a humilhação continuavam a aflorar dentro dele.
"...E-então, eu vou lavar a louça."
"C-certo."
No momento, uma retirada tática parecia a melhor opção. Evitar e escapar. Ficar aqui assistindo Mahiru tremer de vergonha não era bom para o seu coração.
Enquanto tomava duas respirações profundas e se levantava da mesa para pegar a louça e levá-la para a pia, Mahiru afundou no sofá da sala e enterrou o rosto em uma almofada. Ela agia como se fosse a angustiada por receber elogios inesperados.
"Se você está tão envergonhada", resmungou Amane para si mesmo, "talvez não devesse ter dito nada". Mas ele sentiu como se um leve peso tivesse sido tirado de seu peito pelas palavras de Mahiru. A situação toda tinha sido angustiante, com certeza, mas também um pouco aliviadora.
Mesmo sendo inverno, Amane decidiu lavar a louça com água fria. Esperava que o choque gélido ajudasse a clarear sua mente.
“Ei, ei, Amane? Posso pegar emprestada o anjo?”
A ligação de Chitose veio à noite, três dias após o início do novo semestre.
Normalmente, eles conversavam por meio de um aplicativo de mensagens, mas, por algum motivo desconhecido, ela realmente o ligou. E estava perguntando sobre Mahiru. Amane estava realmente confuso.
Chitose pediu para ‘pegar emprestada’ Mahiru, mas Mahiru não é minha para emprestar, então se Chitose quer um pouco do tempo dela, ela que pergunte diretamente.
“Não me pergunte. Pergunte a ela.”
“Ela está aí com você?”
“...Está, mas—”
“Tudo bem, pergunte se ela quer sair juntas amanhã após a escola.”
“Pergunte você mesma!”
Ele pensou brevemente se ela não tinha o contato de Mahiru, mas então se lembrou do Natal, quando Chitose estava tão ocupada implicando com Mahiru que tinha se esquecido completamente de trocar números com a garota.
Então ela deve ter decidido que a melhor maneira de chegar até Mahiru era através de Amane, que definitivamente tinha o contato de Mahiru e muitas vezes estava ao lado dela também. Ele podia entender o raciocínio, mas queria dizer a ela que não era um pombo-correio, transmitindo mensagens de um lado para o outro como se fosse seu trabalho.
Por ora, decidiu que era melhor ela falar diretamente com Mahiru, então passou o telefone para Mahiru, que estava sentada ao lado dele parecendo confusa, e disse a ela:
“Chitose quer falar com você.”
Mahiru parecia perplexa, mas pegou o smartphone obedientemente e o segurou junto ao ouvido, enquanto Amane se recostava na cadeira.
“Aqui é a Mahiru... Huh, amanhã? C-claro, eu não tenho planos específicos, mas...”
Amane sorriu maliciosamente enquanto observava a expressão confusa de Mahiru.
Aposto que Chitose está pressionando ela falando sem parar como sempre.
Mahiru não parecia chateada ou algo do tipo. Ela apenas parecia sinceramente surpresa com a proposta repentina e não sabia muito bem como lidar com isso.
Ela lançava olhares para Amane, então ele disse: “Vou deixar a decisão com você. Ela quer sair com você, não comigo.”
Mesmo Mahiru saía com os amigos às vezes, mas ela preferia voltar para casa após algumas horas e passar seu tempo na cozinha.
Amane achou que ela poderia aproveitar uma desculpa para relaxar um pouco, embora não estivesse completamente certo de que sair com Chitose realmente contribuísse para o relaxamento.
“C-claro... Um, nesse caso, acho que aceitarei seu convite, mas...”
Provavelmente, a assertividade de Amane foi o fator decisivo. Quando ela disse isso a Chitose, o animado "Eba!!" do outro lado da linha era claramente audível, e Mahiru puxou reflexivamente o telefone para longe do ouvido.
Amane captou o olhar de Mahiru e lhe deu um sorriso significativo. Chitose podia ser... demais para lidar. Mahiru também sorriu, parecendo um pouco nervosa, mas também aliviada e até feliz.
Quando Chitose finalmente se acalmou, Mahiru devolveu o telefone ao ouvido. Amane as assistiu conversar por mais um ou dois momentos antes que Mahiru desligasse o telefone.
“Muito obrigada”, ela disse educadamente. “Aqui está o seu telefone de volta.”
Sua conversa aparentemente chegara a uma resolução, e amanhã ela se juntaria a Chitose em algum passeio.
“Bem, foi repentino. Mas, pensando bem, é assim que a Chitose sempre age.”
“B-bem, eu certamente fiquei surpresa.”
“Ela não é má pessoa. Ela pode ser um pouco insistente.”
Amane sabia que isso era um eufemismo. Chitose geralmente tinha boas intenções, mas ela definitivamente podia ser insistente.
Mahiru estava com um sorriso preocupado, como se já soubesse disso, mas não parecia chateada, então Amane achou que estava tudo bem. Sempre achou um pouco triste como poucas pessoas se davam bem com as namoradas de seus amigos.
“Vá se divertir amanhã; não se preocupe comigo.”
“Tudo bem.”
“...Ah, é mesmo—”
“O que?”
Havia uma coisa que Amane precisava avisá-la.
“Se ela começar a te incomodar ou te deixar desconfortável, sinta-se à vontade para dar um tapa nela. Não precisa se conter. Essa garota é exatamente como minha mãe - ela adora coisas fofas, então quase certamente vai ficar manhosa com uma beleza como você.”
Amane conseguiu manter Chitose sob controle antes, mas agora estava um pouco preocupado em deixar Mahiru sozinha com ela. Mahiru era inegavelmente bonita - ela chamava a atenção onde quer que fosse. Ele sabia que ela tinha que ter cuidado com investidas de estranhos, mas Chitose era outra coisa. Sim, ele tinha contado com a perspicácia de Chitose na ocasião do aniversário de Mahiru, mas ele também sabia que quando se tratava de coisas fofas, a garota não conseguia se conter. Amane achou necessário pelo menos alertar Mahiru sobre as mãos inquietas de Chitose.
“Bom, eu não acho que ela vá te incomodar muito, mas se você der a ela uma rejeição morna, ela certamente vai ficar animada e pular em cima de você, então tenha cuidado.” Amane percebeu que os lábios de Mahiru estavam firmemente presos, então ele inclinou a cabeça curioso e perguntou, “Ei, o que foi?”
“...Nada mesmo.”
Mahiru silenciosamente desviou o olhar.
No dia em que Mahiru ia sair com Chitose, Amane voltou para casa apressado e passou algum tempo tranquilo sozinho, algo que não fazia há um tempo.
Recentemente, ele e Mahiru passavam praticamente todos os dias juntos, especialmente com ela fazendo seu almoço às vezes, então isso era quase como um feriado para Amane.
Claro, ele estava feliz por estarem juntos com tanta frequência... mas às vezes era bom ter um tempo para si mesmo como agora.
No entanto, o assento ao seu lado parecia um pouco frio.
Poxa, eu realmente me acostumei a ter Mahiru por perto, né?
Apenas alguns meses haviam se passado desde que se conheceram, e ele já estava começando a considerar a presença dela como certeza. Amane sentia que haviam se aproximado muito, mais como duas pessoas que se conheciam há anos, em vez de meses. Ele achava que deviam ser muito compatíveis.
Pessoalmente, Amane realmente gostava de onde estavam em seu relacionamento - estavam próximos o suficiente para aproveitar o tempo que passavam juntos sem se incomodarem um com o outro.
O único problema era que ele gostava tanto disso que não queria deixar escapar.
Poxa, eu sou tão simples.
Amane não era o tipo de cara que sairia e declararia seu amor apaixonadamente, mas não podia negar que seus sentimentos por Mahiru iam muito além da amizade de vizinhos. Ao mesmo tempo, ele se recusava a permitir que seus sentimentos românticos se tornassem sérios. Se deixasse a balança pender ainda mais, não achava que conseguiria ver Mahiru apenas como amiga. Amane tinha consciência da tensão em seu coração, o que o deixava profundamente inquieto.
Por isso, pegou seus sentimentos românticos e os escondeu profundamente onde ninguém poderia vê-los.
Ele sabia que Mahiru seria apenas incomodada por seu afeto. Ela se importava com ele à sua maneira, mas era óbvio que ela não estava apaixonada por ele ou algo do tipo. Não havia chance de que ela se apaixonasse por um perdedor como ele.
Claro, ela às vezes dizia coisas gentis sobre ele, mas isso não significava que ela pensava nele dessa maneira, e se ele tentasse complicar o relacionamento levando-o para uma direção que ela não gostava, apenas tornaria as coisas desconfortáveis.
Amane virou-se para olhar pela janela, na esperança de se afastar da inquietação em seu peito.
Era inverno, então os dias terminavam cedo, e uma cortina de escuridão total caíra sobre o céu. Havia acabado de passar das seis, mas já parecia tarde da noite.
Mahiru estava com Chitose, então ela não ficaria até muito tarde, mas mesmo assim, ele se sentia um pouco ansioso com a ideia de duas garotas bonitas do ensino médio andando sozinhas por essa escuridão.
Quando vocês duas estarão de volta?
Quando ele enviou essa mensagem para Chitose, que sempre mantinha seu smartphone por perto, ele recebeu uma resposta imediatamente.
Estamos nos despedindo em breve.
Sentindo-se aliviado por Chitose não mantê-las fora a noite toda, Amane enviou outra mensagem perguntando quando elas esperavam chegar à estação. Então ele se levantou do sofá e foi para o banheiro.
Acho que ainda tenho um pouco de cera para o cabelo do outro dia.
Ele não tinha tanto interesse em arrumar o cabelo, mas se estava planejando encontrar Mahiru em público, era o mínimo que podia fazer.
Se fosse para ele ser honesto, se arrumar era uma grande chatice, mas os pais de Amane o haviam ensinado a se apresentar adequadamente. Certamente ele poderia reproduzir o penteado de memória.
Quando olhou no espelho, Amane viu seu eu habitual e sombrio encarando-o. Ele abriu a cera para o cabelo, confiante de que poderia transformar o jovem desajeitado e fora de moda diante dele.
Era o meio do inverno e, além disso, o sol já havia se posto, então a temperatura tinha baixado bastante.
Após considerar tanto o calor quanto a moda, Amane decidiu por uma blusa cinza claro e um sobretudo azul marinho, combinados com uma calça jeans preta, forrada de lã, mas mesmo assim, ele estava inegavelmente com frio. Ele podia imaginar o quanto Mahiru devia estar sentindo frio com apenas o uniforme escolar e a jaqueta.
Mesmo que Mahiru usasse meias grossas durante o inverno, a saia do uniforme, cujo comprimento era determinado pelas regulamentações da escola, ainda parecia muito gelada para ele. Ele queria dizer a ela que seria melhor usar uma calça de moletom por baixo.
Algumas das meninas que ele passava estavam usando saias ainda mais curtas. Amane estava bem ciente dos comprimentos tremendos a que algumas pessoas iam em busca da moda.
Enquanto esses pensamentos giravam em sua mente, ele aninhou a metade inferior de seu rosto no cachecol que tinha recebido de Mahiru e foi apressado até a estação mais próxima.
Aparentemente, as garotas tinham pegado o trem para um grande complexo de compras. A estação estava a uma curta distância a pé do apartamento de Amane, e de acordo com Chitose, o trem deveria estar chegando a qualquer momento, então ele provavelmente apareceu na hora certa.
Enquanto Amane caminhava, seu cabelo recém-estilizado era balançado um pouco pelo vento, mas não o suficiente para bagunçá-lo muito.
Se estivesse muito desarrumado, é claro que ele teria que parar para arrumá-lo, por mais relutante que fosse. Amane estava rapidamente ganhando um novo respeito por quem se esforçava para ser elegante todos os dias.
Ele caminhava em silêncio, perdido em seus próprios pensamentos, quando a estação surgiu à vista.
Considerando a direção do conjunto habitacional, Mahiru deveria sair desta saída, então se eu esperar por perto, com certeza vou vê-la.
Ele se encostou na parede perto da saída e esperou, verificando o horário. Não demorou muito e uma garota de cabelos loiros familiares saiu das catracas.
"Mahiru!" ele a chamou.
Reconhecendo sua voz, Mahiru se virou para olhar - e no momento em que colocou os olhos em Amane, ela praticamente congelou.
"Ah... o quê? P-por quê?"
Ela estava claramente surpresa com sua aparência. Chitose deve tê-la avisado que ele iria encontrá-la, mas ela claramente não esperava que ele aparecesse parecendo como estava no dia da visita ao santuário de Ano Novo.
Mas Amane nem sequer tinha considerado a ideia de sair com sua aparência habitual e cabelo normal. Ele estaria em apuros se alguém o identificasse como o "homem misterioso", então, se fosse acompanhar Mahiru em público, ele precisava se vestir um pouco melhor. Ele precisava se disfarçar, é claro, mas também sentia que deveria parecer decente se fosse ser visto com ela em público.
"O que? Você achou que eu não sabia me vestir? Não posso exatamente te encontrar na estação com minhas roupas normais, não é mesmo?"
"...Eu suponho que não, mas..."
"Parece ruim? Eu me olhei no espelho, mas talvez esteja estranho..."
Ele tinha escolhido um conjunto comum e seguro e tentado estilizar seu cabelo como estava no dia da visita ao santuário. Amane esperava que não parecesse muito estranho. Mas agora ele percebia que provavelmente parecia completamente errado para quem tinha um verdadeiro senso de moda.
Ele conseguia sentir os olhares das pessoas o observando de vez em quando, então havia uma boa chance de que ele realmente parecesse estranho. Foi um pouco chocante perceber que ele parecia desajeitado apesar de estar se esforçando ao máximo.
Mas Mahiru balançou a cabeça, parecendo atrapalhada. "Está ótimo", ela o tranquilizou, e Amane sentiu escapar um suspiro de alívio.
"Fico feliz que ache isso. Olha, já está escuro, certo? Seria perigoso você ir para casa sozinha."
"...Eu-eu sei, mas—"
"Acho que você provavelmente não queria que eu viesse te encontrar afinal. Bem, se não quiser andar juntos, posso andar um pouco à frente, e você pode me seguir, eu acho..."
"Eu—eu nunca disse isso. Eu, hm... realmente apreciaria."
"Claro."
Amane ficou feliz ao ouvir que ela não se opunha à sua presença. Ele tirou uma mão do bolso e a ofereceu a ela. Timidamente, ela apertou sua palma na dele. Talvez fosse por causa do clima frio, mas a mão dela estava muito mais gelada do que ele esperava.
"Tão frio. O que aconteceu com suas luvas?"
"Eu as lavei, então ainda estão secando. E de qualquer forma, onde estão as suas?"
"Eu só coloquei as mãos nos bolsos."
Ele não podia repreendê-la muito, já que também havia esquecido de usar luvas, uma lição que deveria ter aprendido quando criança.
Amane não disse mais nada e apenas manteve a delicada mão dela aconchegada em sua palma. Parecia incrivelmente delicada comparada à dele.
"...Tão quente...", murmurou Mahiru baixinho, e seus olhos brilhavam de felicidade enquanto sorria.
Amane sentiu seu coração se apertar ao ver sua expressão inocente, mas se recusou a deixar isso transparecer e manteve toda a sua atenção focada apenas na pequena mão dela na sua enquanto casualmente colocava a mochila de Mahiru, bem como várias sacolas de compras que ela havia adquirido durante a saída, sobre seu ombro.
Mahiru olhou para ele, mas não disse nada.
"O que foi?" ele perguntou.
De repente, Mahiru virou-se. Suas orelhas e bochechas estavam levemente vermelhas, provavelmente do frio, ele pensou.
"Vamos logo para casa. Quer parar na loja de conveniência no caminho? Os pãezinhos de carne de porco são bons nesta época do ano."
"...Fico feliz com um pãozinho doce de feijão."
"Você realmente gosta de doces... E quanto ao jantar?"
"Marinei alguns ovos e preparei carne de porco char siu e broto de bambu, então vamos ter ramen."
"Ramen é perfeito num dia frio, não é?"
"Sim, é."
Amane não tinha olhado na geladeira, então ficou agradavelmente surpreso ao ouvir o menu da noite. Claro, o caldo e os noodles seriam pré-prontos, mas Mahiru tinha feito os acompanhamentos à mão. A boca de Amane começou a salivar enquanto imaginava as fatias grossas de carne de porco e ovos cozidos perfeitamente temperados.
Eles certamente seriam perfeitos numa noite de inverno fria.
"...Será que vou conseguir comer uma tigela inteira de ramen depois de um pãozinho?"
"Bem, que tal me dar metade? Assim, você provavelmente consegue terminar ambos."
"...Tudo bem."
Por alguma razão, Mahiru parecia um pouco envergonhada, então Amane sorriu levemente e apertou sua mão um pouco.
"A Shiina foi vista com outro homem misterioso!"
No dia seguinte, Itsuki o olhou com firmeza. "Além dos rumores ainda se espalhando, alguém jogou lenha na fogueira. O que você vai fazer, Amane?"
Amane virou-se bruscamente. "Droga, se eu soubesse..."