Volume 2
Visita dos Pais e Primeira Visita ao Templo do Ano
"Podemos visitar seu apartamento amanhã, Amane?"
Seu pai, Shuuto, enviou essa mensagem às dez horas da noite, em 3 de janeiro, depois do jantar e depois que Mahiru já havia ido embora.
"Tudo bem que você não veio para casa no feriado, mas eu quero te ver. Além disso, ouvi falar sobre ela pela sua mãe, mas acho que é melhor dar um oi para sua vizinha por mim mesmo."
Seu pai provavelmente queria conhecer a pessoa que cuidava tão bem de seu filho. E como a mãe de Amane já havia descoberto seu relacionamento com Mahiru e estava realmente em contato regular com ela, Amane não via muito sentido em recusar.
Ele não tinha mais nada a esconder e não queria afastar seus pais depois de não visitá-los durante as festas. Além disso, Amane pensou que a presença de seu pai deveria ajudar a manter sua mãe sob controle e evitar que ela fizesse um grande escândalo. Dito isso, Amane contava com ele para ajudá-lo a evitar uma repetição da última visita exaustiva dela.
Além disso, Amane tinha a sensação de que mesmo se recusasse, sua mãe viria vê-lo de qualquer maneira, então, depois de acertar um horário com seu pai (que teve a cortesia de perguntar com antecedência), Amane enviou uma mensagem para Mahiru para avisá-la.
"Um, bem, está tudo bem para eu estar lá durante o tempo em família? Não estarei incomodando?"
No dia seguinte, Mahiru foi até o apartamento de Amane cedo. Ela parecia nervosa.
Isso era de se esperar, de certa forma. Mahiru estava cuidando dele... embora
falar assim parecesse um pouco... De qualquer forma, Mahiru tinha passado
muito tempo com ele, e agora seus pais queriam conhecê-la.
Ela já estava acostumada a falar com a mãe dele, ou pelo menos a ser falada pela mãe dele, mas o pai de Amane estaria presente desta vez. Não era surpresa que ela estivesse nervosa.
"Bem, agora que meu pai está vindo para dar um oi, e como a mãe gostou tanto de você, eu apreciaria se você estivesse aqui. Sério, preciso de você aqui."
"V-você diz isso, mas..."
"Tenho certeza de que você preferiria evitar isso, mas significaria muito para mim se você aguentasse isso apenas por um tempo."
Era um tanto surreal apresentá-la aos seus pais, mas eles haviam pedido, e agora não havia como evitar.
Ele se sentia mal por ocupar o tempo de Mahiru, mas sabia que seu pai era o tipo de pessoa que geralmente não descansaria até que a conhecesse, então esperava que ela não se importasse muito.
"...Eu me pergunto o que Shihoko disse a ele sobre mim."
"Relaxe. Certifiquei-me de dizer ao meu pai que você é alguém que me ajuda muito. Mesmo se ele tiver a ideia errada, já disse a ele que as ideias malucas da minha mãe sobre você não são verdadeiras."
Parecia que a mãe de Amane já havia decidido que Mahiru era sua futura nora. Amane se certificou de negar firmemente tudo o que ela dizia. Seu pai riu e disse: "Shihoko sempre teve o péssimo hábito de deixar a imaginação correr solta". Então, aparentemente, ele entendia a situação.
Mahiru pareceu aliviada ao ouvir isso, e Amane sorriu ironicamente enquanto esperavam. "Desculpe por isso."
Então, no momento perfeito, o interfone tocou.
Seus pais já tinham passado pela recepção com a chave duplicada, então ele esperava que tivessem ido direto para a porta dele.
Ao som do interfone, Mahiru se assustou, então Amane lhe lançou um pequeno sorriso para tranquilizá-la e dirigiu-se para a porta. Ele retirou a corrente e destrancou a fechadura.
Quando abriu a porta, estavam seus pais, exatamente como ele se lembrava.
"Faz meio ano, Amane."
"Muito tempo mesmo, pai."
Amane cumprimentou o sorriso amigável de Shuuto com um sorriso ligeiramente aliviado.
Com seu jeito gentil, Shuuto era o tipo de pessoa que de alguma forma acalmava as coisas apenas por estar por perto. Amane relaxou um pouco ao vê-lo ali.
"Você, antes, não pareceu nem um pouco feliz em ver sua mãe...", disse Shihoko.
"Isso porque minha mãe invadiu. Se ao menos me desse algum aviso, eu reagiria normalmente."
Da última vez que Shihoko apareceu, Mahiru estava presente, e ele tentou afastar o intruso. Se ele estivesse sozinho, provavelmente a teria tratado um pouco melhor.
"Enfim, entrem", acrescentou Amane. "O que é essa mala?"
"Oh, trouxemos todo tipo de coisas para você. Mas podemos olhar isso mais tarde. Onde está Mahiru?"
"Dentro", respondeu Amane sucintamente. Depois que seus pais tiraram os sapatos, ele os conduziu para a sala de estar.
Mahiru parecia ansiosa enquanto os observava e piscava, compreensivelmente surpresa.
O pai de Amane parecia notavelmente jovem. Ele não parecia ter mais de trinta anos, especialmente se você esquecesse que tinha um filho adolescente, e tinha um rosto jovem e bonito.
Mais de uma vez, Amane desejou que se parecesse mais com seu pai, cujas feições o faziam parecer um jovem bem-educado (embora fosse de meia-idade). Quando os dois andavam lado a lado, pareciam mais irmãos distantes do que pai e filho.
“Mahiru querida, faz muito tempo.” disse Shihoko.
“Muito tempo? Faz só um mês!” comentou Amane.
"Acho que isso conta." Shihoko se aproximou de Mahiru com um sorriso radiante.
Mahiru se colocou mais ereta e a cumprimentou formalmente com um "É um prazer revê-la", usando o leve sorriso que fazia parte de sua persona pública.
Mas seus olhos perplexos ainda se desviavam em direção ao pai de Amane, ao lado de Shihoko. Shuuto sorriu calorosamente quando percebeu Mahiru olhando.
"Prazer em conhecê-la. Sou Shuuto Fujimiya, o pai de Amane. Ouvi falar de você através da Shihoko, Senhorita Shiina. Obrigado por cuidar tão bem do nosso filho."
"Prazer em conhecê-lo. Sou Mahiru Shiina. E também aprecio tudo o que Amane faz por mim."
Shuuto se curvou educadamente, e Mahiru se apresentou cortesmente.
Mahiru provavelmente estava preocupada que o pai de Amane fosse muito parecido com sua mãe, mas Shuuto era um homem de modos suaves e sensato, e estava fazendo o possível para deixar Mahiru à vontade.
Shuuto era geralmente quem controlava as tendências mais selvagens de Shihoko. Na verdade, ele era a única pessoa que ela ouvia, o que demonstrava o quanto ela o amava.
"Minha nossa, você não precisa ser tão modesta!" interrompeu Shihoko. "Afinal, Amane é um bagunceiro."
"Poxa, desculpe por não estar à altura de seus padrões...", murmurou Amane.
"Vamos lá, Shihoko, não fale assim", disse seu pai. "... E, Amane, essa garota está cuidando de você o tempo todo, tenho certeza de que está mostrando a ela a gratidão e o apreço adequados, certo?"
"Da melhor maneira que posso."
"É isso que gosto de ouvir."
Shuuto, que havia criado Amane para valorizar as mulheres, aparentemente estava preocupado se seu filho estava sendo suficientemente cavalheiro. Claro que Amane teria achado insuportável ficar de pernas cruzadas enquanto Mahiru fazia tudo, então ele fazia tudo o que podia por ela.
Shuuto parecia tranquilizado pela resposta de Amane e voltou seu olhar para Mahiru novamente.
"...Realmente, devo lhe agradecer. Ouvi dizer que você tem feito as refeições do meu filho todos os dias, e você até teve a gentileza de fazer pratos de osechi para o feriado..."
"Sempre agradeço por isso. Tenho tentado mostrar minha gratidão toda vez que posso também."
"É verdade...", concordou Mahiru. "Amane é surpreendentemente atencioso."
"Surpreendentemente?", questionou Amane. "E o que há de surpreendente nisso?"
"A-ah, é que... q-quer dizer...", gaguejou Mahiru. "Você parecia... um pouco negligente à primeira vista, mas acaba sendo bastante atencioso, na verdade."
Amane se viu sem palavras, incapaz de refutar qualquer coisa que ela dizia.
"O mais importante é que vocês dois estão se dando bem", disse Shuuto com um sorriso gentil. "Amane, certifique-se de não estar sendo um incômodo para a Senhorita Shiina."
"...Eu sei disso."
"E, Senhorita Shiina, gostaria que você se manifestasse imediatamente se Amane lhe der algum problema. Meu filho pode não parecer, mas ele é realmente um jovem muito sincero, então acredito que ele fará o melhor para suavizar qualquer... atrito."
"Amane é uma boa pessoa. Não consigo pensar em nada de ruim sobre ele... bem, talvez apenas um pouquinho..."
"Ele não é exatamente o mais delicado, né?"
"Não... ele não é realmente desagradável... mais como, ele é apenas um pouco desajeitado."
Mahiru estava inquieta, como se estivesse tendo dificuldade para dizer o que estava pensando. Isso fez com que Amane quisesse interrogá-la.
O que exatamente é tão desajeitado que você teve que dizer assim?
Por alguma razão que Amane não entendia, Shihoko parecia captar o que Mahiru estava tentando dizer. Ela olhou para ele com um largo sorriso. "Ah-haah!"
Amane não pôde fazer muito mais do que olhar irritado para sua mãe.
"Aqui está."
Os pais de Amane eram convidados em seu apartamento, então era natural tratá-los como tal. No entanto, Mahiru insistiu em ser a responsável por servir o chá, então Amane deixou isso em suas mãos habilidosas.
Mahiru trouxe seu jogo de chá para o apartamento de Amane para usá-lo sempre que visitasse. Amane nunca imaginara que seria usado para isso, no entanto.
Ambos os pais de Amane estavam com sorrisos calorosos, sentados no sofá onde Amane e Mahiru costumavam se sentar juntos.
"Meu Deus, obrigada, Mahiru querida. Você é bastante habilidosa em receber visitas, não é?"
"S-sim."
"Embora, na verdade, deveria ser trabalho do Amane, sabe?"
Mahiru estava fazendo isso porque, quando Amane tentava fazer chá, geralmente acabava muito amargo.
Mesmo assim, Shihoko parecia um pouco chocada.
"Não, eu queria fazer, mas..."
"Bem, suponho que esteja tudo bem, já que Amane nunca acerta a temperatura da água."
Sua mãe estava absolutamente certa, mas isso o irritava um pouco que ela apontasse tão diretamente.
No entanto, ele não podia negar a verdade, então ficou calado enquanto Shihoko se virava para ele e sorria.
"A propósito, Amane, finalmente começou a chamar a querida Mahiru pelo primeiro nome, não é?"
Diante dessa observação súbita, tanto Amane quanto Mahiru congelaram.
Eles estavam tão à vontade um com o outro que não haviam percebido, mas na última vez que viram a mãe de Amane, os dois ainda se dirigiam de forma bastante formal.
"...E daí?"
"Acho ótimo!" Sua mãe radiante exclamou. "É bom ver vocês se tornando mais íntimos."
Sem pressionar mais o assunto, Shihoko apenas sentou e sorriu para eles.
Amane podia sentir sua bochecha começando a tremer. Ele quase desejava que ela apenas o provocasse. Seria mais fácil lidar com as selvagens suposições e narrativas inventadas de sua mãe.
"Shihoko querida, não provoque Amane tanto assim", interveio o pai de Amane. "É um hábito ruim seu", acrescentou.
"Está bem, querido. Você sabe que eu simplesmente não consigo me conter." A mãe de Amane cedeu ao pai sem muita resistência, um fato pelo qual seu filho, que tanto sofria com isso, era profundamente grato. "Mas é maravilhoso, não é? Ver nosso filho se dando tão bem com uma garota tão fofa?"
"Estou mais preocupado que você possa sse empolgar novamente, Shihoko querida."
"Quando isso acontecer, você vai intervir por mim, não é, Shuuto querido?"
"Em certo sentido, eu gostaria que você trabalhasse nisso se já está ciente de que é um problema... mas isso também faz parte do que a torna a mulher por quem me apaixonei, então suponho que não há nada a se fazer."
"Hi-hi... mas que raposa astuta você é.."
Embora estivesse aliviado por Shihoko ter aliviado a pressão sobre ele, Amane não pôde deixar de suspirar enquanto seus pais mergulhavam em seu próprio mundinho.
Seu pai era fundamentalmente um homem sensato, mas tinha o infeliz hábito de mimar sua amada esposa, o que às vezes tornava um pouco desconfortável para qualquer outra pessoa na mesma sala.
Felizmente, eles só agem assim na frente da família e não se comportam de maneira tão embaraçosa em público. Por outro lado, este deveria ser o apartamento de Amane, e ele desejava que eles mostrassem um pouco mais de restrição. Ele ficou feliz que seus pais ainda tinham um relacionamento forte após tantos anos juntos, mas poderiam ter sido mais considerados com suas demonstrações públicas de afeto.
Sempre que ficavam assim, Amane não gostava de se intrometer entre eles, então simplesmente se sentou na cadeira que havia trazido da sala de jantar e suspirou profundamente de resignação.
Mahiru também se sentou na cadeira que ele havia preparado ao lado da dele e perguntou baixinho a Amane: "...Seus pais se dão muito bem, não é?"
"Com certeza. Quero dizer, eles não são assim em público, mas definitivamente são assim em casa."
"Entendi", respondeu Mahiru com um sorriso peculiar, então olhou para Shihoko e Shuuto. Ela não parecia desconfortável, pelo contrário. Mahiru parecia estar olhando para algo deslumbrante e valioso. Amane achou que viu um toque de inveja em seu olhar enquanto sorria tão levemente que a palavra "fugaz" não fazia justiça.
Sem pensar, Amane estendeu a mão em direção à dela—
"Oh, Amane, o que foi isso?"
Ele imediatamente retirou a mão quando o som da voz de Shihoko o trouxe de volta à realidade.
"Não me pergunte. Você e papai foram para o próprio mundo de vocês. Nós mal conseguimos olhar para vocês."
"Ah, você está com ciúmes?"
"De jeito nenhum. Eu estava apenas pensando que vocês deveriam arranjar um quarto. Na privacidade do seu próprio lar, de preferência."
Sua mãe parecia não ter notado que ele estava prestes a segurar a mão de Mahiru. Mahiru também parecia não ter notado e forçou um sorriso diante das palavras de Amane.
Ele não entendia por que instintivamente estendeu a mão em direção a ela. Por alguma razão... ele sentiu como se não pudesse suportar a ideia de deixar Mahiru sozinha.
Ela já havia voltado ao normal, então Amane se sentiu ligeiramente aliviado e assumiu sua expressão habitual de mal-humorado para que ninguém percebesse.
"Então agora você está satisfeito, vendo o rosto de seu filho?" Amane exigiu.
"Estou mais satisfeita vendo a querida Mahiru do que você, Amane..." Sua mãe riu.
"Ei..."
"Estou apenas brincando. Ainda não realizamos nossa missão real, sabia?"
"Sua missão real...?"
Amane havia assumido que eles tinham vindo apenas para trocar saudações de Ano Novo e conhecer Mahiru, mas sua mãe parecia ter outro objetivo em mente.
"Você e Mahiru ainda não fizeram a primeira visita ao santuário do ano, certo?"
"Planejamos ir depois que as multidões diminuírem."
"Eu sabia! E você também não foi ainda, certo, Mahiru? Perguntei em minha mensagem."
"Certo." Mahiru assentiu.
"Eu pensei que seria o caso, então trouxemos quimonos!"
Aparentemente, sua mãe queria ir a um santuário com Mahiru.
Shihoko estava portando um largo sorriso enquanto Amane finalmente percebia a razão pela qual ela tinha trazido uma bolsa tão grande. Ele suspirou novamente. Perdendo a conta de quantas vezes fez isso hoje.
Shihoko adorava coisas fofas e amava brincar de se vestir, então provavelmente estava esperando por uma chance como essa.
Amane também se lembrou que sua mãe tinha uma grande quantidade de quimonos em casa. Aparentemente, ela havia trazido alguns.
"Sempre sonhei em colocar um quimono em uma filha e ir a uma visita ao santuário juntas... Ah, tenho certeza de que este ficará ótimo em você, Mahiru."
"Mãe, você só quer uma boneca para se vestir."
"Isso não é verdade! Mas eu realmente quero vestir a Mahiru. Olhe, este ficaria tão bem nela!" Shihoko estava cheia de confiança, e sua opinião estava correta, até agora existiam poucas roupas que não ficariam bem em Mahiru.
Amane a tinha visto em roupas que iam desde o estilo masculino até trajes sofisticados, além de seus trajes habituais bem femininos, com muitos babados e rendas. Pelo que conseguia lembrar, cada estilo parecia ficar bem em Mahiru. Aparentemente, pessoas bonitas não precisavam ser exigentes com o que vestiam. Não era difícil imaginar que roupas tradicionais japonesas também combinariam muito bem com ela.
Amane era filho único, então sua mãe, obviamente, não ia perder a chance de vestir a filha dos seus sonhos.
"Bem, se Mahiru concordar, que tal você vesti-la e ir?"
"Por que está falando como se não fosse vir, Amane?"
"Eu não posso; será um problema se eu sair com Mahiru e as pessoas da escola nos virem juntos."
Se fosse apenas seus pais e Mahiru, eles pareceriam apenas uma família comum indo a um santuário, então não despertaria suspeitas. Mas se Amane se juntasse a eles e alguém da sua turma o visse no santuário com Mahiru, bem, ele imaginava que o início do semestre de inverno se tornaria algo como um pesadelo.
Nenhuma visita ao santuário valia esse risco.
"Então, está tudo bem desde que ninguém descubra?"
"Suponho que sim, mas tenho certeza de que seria realmente... Uh, espere. Não gosto para onde isso está indo, mãe..."
"Heh-heh! Eu vim preparada para situações como essa!"
"Que situações?!"
Ele havia pensado que ela havia trazido muita bagagem para quimonos, roupas íntimas e acessórios. Aparentemente, ela trouxe ainda mais coisas para brincar com Amane também.
"Seu pai também está muito animado, você sabe."
"Pai..."
"Não saímos juntos com muita frequência," disse o pai de Amane, "e é uma tradição de nossa família, afinal, então gostaria que fôssemos todos juntos."
Quando ele colocou dessa forma, era difícil recusar.
O pai de Amane se importava muito com as tradições da família. Ele se sentiria mal por recusar depois que ambos os pais deixaram claro o quanto queriam isso.
"Mas olhe..."
"Está tudo bem, querido. Deixe sua mãe cuidar disso. Vou fazer você parecer um jovem elegante. Prometo que você nem se parecerá com o velho Amane!"
"Isso não é basicamente o mesmo que dizer que não sou estiloso agora?"
"Claro, você tem boas características porque puxou seu pai, mas seu corte de cabelo e roupas são tão antiquados. Eu diria que você parece sombrio."
"Eu não perguntei."
Amane tinha plena consciência de sua aparência monótona, mas ele se vestia assim porque gostava, então não apreciava a crítica.
"Você pensaria que alguém tão bonito teria facilidade para parecer legal, mas você é um caso problemático, Amane..."
"Isso não é da sua conta."
"É um desperdício... não é, Mahiru querida? Você gostaria de ver o Amane todo arrumado?"
"Hein?"
À medida que a conversa de repente se voltou para ela, Mahiru ficou visivelmente perturbada. Amane desejou que sua mãe não pressionasse Mahiru tão agressivamente, mas ela continuou a provocar a pobre garota.
"Uma vez que Amane estiver todo arrumado, acho que você o verá sob uma nova luz, Mahiru. Ele pode não parecer, mas Amane tem um rosto bastante bonito, sabe? No que diz respeito à personalidade, ele tem algum trabalho a fazer, mas ele se parece com Shuuto, e ele sabe como ser um cavalheiro, então se você o treinar bem, acho que ele pode se tornar bem agradável."
"Ah, e... eu... suponho que sim...?" Mahiru gaguejou.
"E você não quer ir na primeira visita ao santuário do ano juntos?"
"B-bem, eu... uhm... eu quero ir, mas..."
"Ei, como você pode me trair assim?" Amane lamentou. Ele estava contando com ela para considerar o que poderia acontecer no pior cenário e rejeitar a proposta de seus pais.
Mahiru olhou para o abatido Amane. "...Se Amane não quiser, está tudo bem", disse com uma voz tranquila e levemente desanimada, franzindo a testa. Amane se engasgou. Ela estava tentando esconder, mas ele podia dizer que Mahiru estava desapontada. Não era nada dramático; apenas uma sutil mudança em sua expressão. Olhando para seus cílios longos tremulando sobre seus olhos baixos, Amane sentiu um nó de culpa se apertar em seu peito. Sua mãe o olhou com condenação, como se dissesse "Você fez a doce Mahiru ficar triste!" e seu pai usava uma expressão que dizia "Seria mais fácil recuar aqui".
Amane gemeu baixinho e simplesmente disse: "...Tudo bem." Quando Mahiru fazia uma cara daquelas, não havia nada a se fazer a não ser ceder.
"Pronto, você está perfeito."
Shihoko tinha estado mexendo loucamente no cabelo e nas roupas de Amane, até que ele estava exausto quando finalmente estava livre. Foi uma agonia pura para ele, que não estava muito interessado em roupas, mas quando ele se olhou no espelho, pôde ver que seu sofrimento valeu a pena. Olhando para ele estava um jovem bonito, completamente diferente do habitual Amane.
A roupa que Shihoko escolheu para ele era um sobretudo cinza escuro sobre uma malha branca, combinado com calças pretas — limpo e casual. Como se supunha que este fosse um evento de Ano Novo que trazia boa sorte, ela aparentemente achou crítico que ele se vestisse um pouco. Amane geralmente não gostava de roupas especialmente coloridas, então esta disposição sóbria e monocromática o agradou. Ele também verificou seu penteado, e viu que a habilidade de sua mãe com uma chapinha e um pouco de cera de estilização realmente fez maravilhas com suas longas franjas. Seus olhos tinham emergido de seu local de costume atrás de seu cabelo, e a impressão que ele dava era muito mais brilhante agora que você podia ver todo o seu rosto. O volume extra em seu cabelo, juntamente com a excelente estilização, o fez parecer mais digno e refinado.
A pessoa no espelho não era o Amane que era zombado por sua mãe e Itsuki por ser sombrio, mas um jovem brilhante que Amane nunca tinha visto antes.
"Você pode se tornar um jovem bonito com apenas um pouco de esforço, então eu me pergunto por que você não faz isso?"
"Porque eu não quero."
"Você pode ser tão rabugento às vezes. Seu rosto geralmente está carrancudo, então, a menos que você sorria, você não ficará bem, sabe?" Ser chamado de carrancudo doeu, mas Amane não podia discutir com os fatos.
"Tudo bem, vou dar os retoques finais em Mahiru, então você vai esperar na sala de estar."
Amane ficou ocupado em seu quarto, então ele não tinha ideia de como Mahiru estava se saindo. Ela tinha voltado para seu apartamento para se vestir, presumivelmente para conseguir um padrão de alta qualidade.
Ele viu sua mãe sair do quarto, então se olhou no espelho novamente. Ele não se vestia assim há muito tempo, então não se parecia consigo mesmo.
"...Bem, acho que não está ruim."
Ele tinha certeza de que ainda pareceria desleixado ao lado de Mahiru, mas isso era uma grande melhoria. Brincando com suas franjas um pouco, agora que elas não estavam caindo na frente de seus olhos, Amane murmurou para si mesmo que se arrumar de vez em quando provavelmente não seria algo ruim.
Depois de esperar na sala de estar com seu pai por boa parte de uma hora, Amane ouviu a porta da frente se abrir. Ele ouvira dizer que as preparações das mulheres podiam levar bastante tempo e esforço, então ele não estava particularmente infeliz com a espera em si, mas ainda estava um pouco preocupado em deixar Mahiru sozinha e sua mãe passar dos limites.
“Finalmente" Pensou Amane enquanto se levantava do sofá e olhava na direção da entrada, assim como Mahiru chegava silenciosamente na sala.
No momento em que ele a viu, ficou chocado. Mahiru normalmente não usava roupas japonesas tradicionais, então ele nunca teve a chance de vê-la usando uma.
Ele tinha certeza de que um quimono ficaria bem nela, mas — ele não esperava isso.
De acordo com sua mãe, seria difícil se movimentar em meio a uma multidão em um quimono de mangas compridas, então ela escolheu algo mais curto. Com sua cor rosa clara e um pequeno padrão repetitivo de flores de ameixa, o quimono ficava tão bem em Mahiru que era difícil acreditar que ele não pertencia a ela.
Mahiru normalmente não usava muito rosa, mas isso lhe conferiu uma aura de refinamento e feminilidade. Seu cabelo claro foi deixado solto em longas franjas dos lados, e o restante foi reunido em um coque decorado com um grampo de cabelo kanzashi. Balançando sobre a nuca puramente branca, o acessório acentuou a jovialidade do conjunto e lhe deu um charme distintamente feminino.
O elegante traje, combinado com maquiagem aplicada com parcimônia para realçar sua beleza natural, elevou Mahiru ao auge da elegância e beleza.
“E então?” A mãe de Amane sorriu. “Acho que a deixamos muito fofa. A doce Mahiru já é adorável, e deixá-la mais bonita teve um grande efeito.”
“Sim, certamente caiu bem, querida,” concordou rapidamente o pai de Amane.
Mahiru tinha os olhos baixos, parecendo bastante envergonhada com todos os elogios. Até esse movimento tinha algo sedutor.
A beleza pode ser realmente assustadora.
“Vamos lá, Amane, diga algo.”
“Acho que ficou bom.”
Obviamente, não havia como ele dizer o que realmente pensava, especialmente na frente de seus pais, então Amane manteve seus elogios de forma contida.
Sua mãe parecia extremamente insatisfeita.
“...Isso não vai dar!” ela insistiu.
“Ah, não enche.” Amane se virou. Ele não ia continuar conversando com sua mãe.
Shihoko deu um suspiro exasperado com o comportamento de seu filho, mas talvez porque o conhecesse muito bem, ela pareceu concordar em deixar para lá.
“Meu Deus. De qualquer forma, Mahiru querida, o que acha? Amane parece uma pessoa completamente diferente, não é mesmo?”
“S-sim. Isso é completamente diferente...”
“E pensar que seria tão popular se ele se esforçasse para parecer assim o tempo todo, ele nem se incomoda. Realmente, ele está se prejudicando.”
Amane achou que isso não era da conta dela, mas sua mãe suspirou novamente, como se realmente lamentasse a perda de potencial.
“Estou tão desapontada com Amane — ele tem a sorte de puxar ao pai, e mesmo assim ele nunca tenta aproveitar isso. Que desperdício!”
“Vamos lá, Shihoko,” disse gentilmente o pai de Amane. “Amane está crescendo à sua maneira.”
“Se ele está crescendo, então não deveria querer ser popular?”
“Se eu tivesse que adivinhar, diria que Amane é do tipo que se sente perfeitamente bem passando tempo apenas com uma pessoa, em vez de se incomodar com um grupo.”
“Suponho que sim.”
O pai de Amane tentou conter Shihoko, mas isso apenas alimentou suas fantasias mais selvagens.
Era verdade que Amane preferia sair individualmente em vez de se juntar a um grupo grande... Aparentemente, isso era algo que ele herdara de seu pai, e ele realmente achava que era o melhor, mas se ele dissesse isso, especialmente agora, pareceria que ele estava dizendo que a pessoa que ele preferia era a Mahiru...
O sorriso radiante de sua mãe se transformou em uma careta, e ela se virou.
Amane se perguntou por que ele tinha que aguentar o cinismo injusto dela, mas, na prática, ele estava muito ciente de que as outras pessoas o viam da mesma forma.
Pelo menos, Amane podia dizer que Mahiru era um caso especial. Essa era a verdade, mas —
“Ele deu uma olhada furtiva em Mahiru, rapidamente, para que ela não percebesse, e suspirou suavemente.
Acho que gosto dela, de certa forma, ele pensou. Quero dizer, o que não gostar nela?
No entanto, isso era algo completamente diferente de declarar sentimentos de amor.
“Mãe, não está acontecendo absolutamente nada, estou te dizendo. Então que tal parar com
essas acusações malucas e ir preparar o carro.”
“Você é realmente uma criança ingrata... sério! Bem, tudo bem, eu suponho. Shuuto, vamos preparar o carro, certo?”
“Parece um plano.”
Aparentemente, Amane havia conseguido mudar de assunto, pois ambos os pais saíram para se preparar para a partida.
Ele estava deixando para pais decidirem qual santuário iriam, e observou suas costas enquanto deixavam seu apartamento em direção ao estacionamento.
“...Eu tenho o essencial na minha bolsa, então não preciso de muita preparação. E você, Mahiru?”
“Tenho tudo o que preciso nesta bolsa de mão, então estou pronta também.”
“Entendi.”
De repente, eles estavam sozinhos novamente, então com um sentimento levemente ansioso, Amane fechou as janelas e desligou os eletrodomésticos não essenciais.
Depois de apagar as luzes da sala, ele olhou novamente para Mahiru.
Como sempre, era imediatamente aparente que ela era bonita. Ele duvidava que houvesse outra garota no mundo que ficasse tão bem em um quimono.
Ele não tinha se sentido à vontade para elogiá-la na frente de seus pais, mas Amane tinha certeza de que qualquer um que a visse concordaria que Mahiru era particularmente bonita em trajes japoneses tradicionais.
“Tem algo errado, Amane?”
“Ah, não, eu estava apenas pensando que isso combina muito com você. Você parece uma beleza antiga de um quadro ou algo assim. A roupa é fofa, e acho que você está realmente adorável.”
Ele havia aprendido com seu pai que, quando uma garota estava bem vestida, elogios eram necessários, então ele sabia que deveria ter elogiado seu visual no momento em que a viu, mas ele tinha ficado muito envergonhado para fazer isso na frente de seus pais.
Assim que Amane expressou sua avaliação honesta, Mahiru piscou dramaticamente várias vezes, depois corou e apertou os lábios com força.
Recordando da última vez em que ela reagiu daquela forma, Amane sorriu amargamente.
"Ah, você não gosta de receber elogios, certo? Desculpe."
"N-não é isso, mas... Amane, você é bem..."
"Bem o quê?"
"...Não é nada."
Ela virou abruptamente.
Amane se perguntou o que estava acontecendo com ela, mas ela não parecia disposta a explicar, então Amane fechou calmamente o apartamento e acompanhou Mahiru até a porta.
Ela parecia ter pensado no fato de que sairiam para passear, pois estava usando botas em vez das sandálias tradicionais. A escolha de calçado dela mesclava elementos japoneses e ocidentais em seu traje, e ela parecia ainda mais adorável por isso.
De alguma forma, Mahiru se contorceu para calçar as botas, enquanto o acessório de seu cabelo balançava para frente e para trás com um som suave, e Amane, que tinha saído primeiro para segurar a porta, se viu de repente muito perto dela.
Mahiru o pegou de surpresa quando ficou na ponta dos pés e se inclinou delicadamente para mais perto dele.
Pensando que talvez ela quisesse lhe dizer algo, Amane fechou a porta e a trancou, depois se inclinou para lhe oferecer seu ouvido. Mahiru colocou as palmas das mãos ao redor da boca e sussurrou em seu ouvido.
"Amane—"
"Hmm?"
"Um... Você está bonito também, sabia?"
Foi tudo o que ela disse antes de passar por ele e ir rapidamente em direção ao elevador.
Amane imediatamente bateu a cabeça na sua porta da frente.
"...Isso não é justo."
O coração de Amane pulsava como um alarme em seu peito, seu rosto estava queimando e sua testa doía. Mahiru o incendiou com uma única frase. Essa era a vingança dela.
Seus pais o olharam desconfiados enquanto ele se apressava para alcançá-los no estacionamento.
Quando chegaram a um famoso santuário localizado a menos de uma hora de distância, não havia tantas pessoas como tinham visto na televisão, mas as multidões ainda pareciam praticamente intermináveis.
"Bem, diminuiu bastante, mas ainda há muitas pessoas aqui, não é mesmo?", comentou a mãe de Amane.
"Com certeza...", concordou Amane.
"Mahiru querida, cuidado para não se perder. Vamos ficar de olho em você também, e todos temos smartphones, então acho que encontrar um ao outro será fácil o suficiente. Mesmo assim, quero que todos visitem o santuário juntos, é claro."
"Certo."
Vestida com um quimono, Mahiru teve mais dificuldade para se mover do que todos eles. A peça de roupa restritiva a obrigava a dar passos pequenos e andar devagar. Pelo menos ela estava usando botas em vez de sandálias.
Eles não precisavam necessariamente abrir caminho pela multidão, mas estava apertado o suficiente para ser fácil esbarrar em pessoas, então tiveram que avançar com cuidado.
“Tudo bem, vamos continuar?”
Shihoko estava liderando o caminho através da multidão e se dirigiu primeiro ao pavilhão de purificação, onde purificariam suas mãos e bocas com água. Como era de se esperar, Mahiru já estava chamando a atenção de muitas pessoas.
Mais do que algumas pessoas estavam vestidas com quimonos, então Mahiru não se destacava muito por estar usando um... mas esse não era o problema.
Ela já atraía os olhares das pessoas mesmo com o uniforme da escola, quando não estava vestida de forma especial. Agora que parecia uma beleza aristocrática em trajes japoneses, obviamente atraía muita atenção. Até seus movimentos enquanto limpava a boca eram graciosos. Praticamente todos no santuário estavam olhando.
"...Há algo errado?"
"Não, nada."
Embora Amane achasse tudo muito interessante, não disse isso, e purificou suas mãos e boca como seus pais tinham feito, e os seguiu enquanto avançavam.
Ele estava fazendo o possível para acompanhar o ritmo de Mahiru, mas como era de se esperar de alguém que normalmente não usava roupas japonesas, a barra longa estava dificultando as coisas, e o santuário ainda estava bastante lotado, então ela estava progredindo muito mais lentamente do que o normal.
"Mahiru, você está bem?"
"Sim, é que... Ah!"
Ela estava sendo empurrada pelas outras pessoas que iam ao santuário, o que a desequilibrava e ameaçava derrubá-la, então Amane estendeu um braço para ajudar.
"Parece que você não está bem."
Claro que ela estava desconfortável andando por aí com uma roupa estranha e complicada.
"...Desculpe."
"Aqui, me dê sua mão."
Amane estendeu a mão para uma das pequenas mãos que estavam aparecendo pela manga do quimono. Mahiru o olhou e ele quase puxou a mão de volta, mas ela rapidamente pressionou sua palma contra a dele, mantendo os olhos nele o tempo todo. Ele olhou de volta para ela, embora não estivesse totalmente certo do motivo.
Mahiru apertou a mão de Amane com força e desviou o olhar.
Ele inclinou a cabeça, questionando, e seguiram o fluxo da multidão por um momento, até estarem prestes a chegar na frente da caixa de oferendas, então Amane guardou quaisquer pequenas dúvidas que tinha em seu coração e se concentrou na sensação da mão dela na sua.
“Você demorou bastante em suas preces; pelo que você pediu?”
Assim que terminaram a visita e se afastaram da fila de fieis, ele fez essa pergunta a Mahiru, que havia rezado por um longo tempo. Ela parecia uma modelo seguindo todos os rituais de uma visita ao santuário. Depois de tocar o sino, ela juntou as mãos por quase o dobro do tempo de Amane. Ele ficou fascinado com a elegância com que ela ofereceu suas preces, mas também se perguntou pelo que ela havia rezado.
“Boa saúde.”
“Uma escolha realmente segura.”
Era muito típico de Mahiru.
Ela não desejava muito, então Amane havia se perguntado o que ela poderia ter pedido, mas foi uma escolha tão previsível que a resposta dela foi um pouco anticlimática.
“Isso, e—”
“E?”
“...E continuar passando dias tranquilos juntos, como temos feito até agora.”
Outro pedido muito típico.
Era exatamente o tipo de coisa que Mahiru, que não gostava muito de emoções ou mudanças, rezaria. Era muito adequado, já que ela valorizava a paz e a tranquilidade.
“Não teremos muito disso enquanto minha mãe estiver por perto, no entanto.”
“É algo que podemos aproveitar como é.”
Será mesmo...?
Amane não tinha certeza, mas Mahiru parecia estar se divertindo, então ele não discutiu e apenas segurou a mão de Mahiru com um sorriso gentil.
Eles ainda não tinham se desvencilhado completamente da multidão, e Amane teria problemas se deixasse Mahiru tropeçar e cair agora. Ele podia ver seus pais esperando a uma curta distância, já tendo terminado sua própria visita ao santuário. Era por isso que Amane estava segurando a mão dela, ele disse a si mesmo. As pestanas de Mahiru tremulavam, ela manteve os olhos baixos, parecendo envergonhada, mas apertou a mão de Amane de volta.
“Vocês dois, venham aqui!”
A voz de sua mãe era clara e fácil de distinguir na multidão.
Seguindo suas palavras, os dois foram até os pais de Amane. Os olhos de Shihoko se arregalaram quando ela os viu, e então ela cobriu a boca sorridente com a mão.
“Ai meu Deus!”
“O que foi?”
“Vocês estão segurando as mãos tão naturalmente.”
Só depois que ela destacou isso que ele percebeu o quão grande era o erro de segurar a mão de Mahiru na frente de sua mãe. Isso era algo que casais faziam, não era? Ele não apreciava as suspeitas de Shihoko e odiava estar sempre na mira de seus sorrisos zombeteiros.
“...Obviamente é para que não percamos um ao outro de vista. Além disso, é fácil para ela tropeçar usando um quimono.”
“Ele está certo. É difícil andar de quimono, e ele está fazendo a coisa certa ao acompanhá-la. Eu faço a mesma coisa por você, Shihoko querida”, concordou o pai de Amane. Num movimento suave, ele segurou a mão de sua esposa.
A vida de Amane seria mais fácil se ele conseguisse segurar a mão de uma garota tão naturalmente quanto seu pai, mas ele sabia que era impossível dada sua personalidade, então ele estava secretamente grato por Mahiru ter sido direta ao segurar sua mão.
Sentindo-se aliviado por a atenção de sua mãe estar ocupada, Amane tentou gentilmente soltar a mão de Mahiru, mas ela não relaxou o aperto.
Ele podia perceber pela maneira como ela apertava que ela não tinha intenção de se separar, então perguntou silenciosamente o que estava errado, mas não houve resposta. Seus dedos delicados simplesmente seguravam firmemente os dele.
“Mahiru, querida Mahiru, estávamos pensando em comprar algumas bebidas quentes. Você gostaria de sopa de feijão doce… ou saquê doce?”
“Ah, eu vou querer a sopa de feijão doce, por favor.”
A interrupção de sua mãe estragou qualquer esperança de fazer mais perguntas a Mahiru ou de recuperar sua mão.
“E você, Amane querido?”
“...Tudo bem, vou querer o saquê doce.”
“Com certeza.”
Desde que Mahiru não se importe com isso, acho que está tudo bem, não é?
Amane tentou acalmar as palpitações em seu peito enquanto ajustava sua mão na dela.
Não demorou muito para que Shihoko retornasse do balcão de bebidas e entregasse a todos os seus drinques. Neste ponto, teria sido incrivelmente desconfortável para eles continuarem de mãos dadas, então Mahiru soltou, e Amane teve a chance de respirar aliviado.
Seus pais sorriam gentilmente um para o outro enquanto saboreavam o saquê doce.
Não estavam totalmente em seu próprio mundo, mas estavam ficando carinhosos, então Amane não tinha vontade de falar com eles no momento e, em vez disso, concentrou-se em beber seu próprio saquê.
Dizia-se que o saquê doce era tão nutritivo que era como ter um soro, e à medida que a doçura rica do arroz fermentado se espalhava por ele, ele soltou involuntariamente um suspiro de surpresa e alívio.
Normalmente, Amane não ligava muito para doces, embora gostasse bastante de pasta de feijão vermelho, então ele também tinha sido tentado a escolher a sopa de feijão vermelho. No entanto, ele tinha optado pelo saquê porque parecia mais apropriado para o Ano Novo, e estava confiante de que tinha feito a escolha certa.
Quando ele olhou para Mahiru, a viu saboreando sua sopa de feijão doce de um copo de papel com uma expressão calma. Ela a tornava absolutamente deliciosa, e de repente ele se arrependeu de sua escolha.
Será que consigo que ela me dê um gole?
Ele estava olhando para ela e pensando se conseguiria um pouco se pedisse, quando Mahiru o notou olhando e inclinou a cabeça, curiosa. Seu enfeite de cabelo balançava ritmicamente com seus movimentos graciosos.
“A sopa de feijão doce é boa?”, perguntou Amane.
“É deliciosa”, disse ela, assentindo.
“Posso experimentar um pouco?”
Mahiru pareceu surpresa com a pergunta dele. Era quase cômico o quão rapidamente ela se endireitou.
“Ah, s-sim, claro que pode, mas...”
Ela não conseguia esconder o quão atrapalhada estava, olhando timidamente para ele.
“Se você não quer, tudo bem...”
“Não é... não é que eu não queira, mas... bem—”
“Bem?”
“N-não, nada, está tudo bem. Aqui. Poderia me dar um pouco do seu saquê também?”
“C-claro.”
Mahiru rapidamente pegou seu copo. Ela parecia subitamente muito agitada por algum motivo.
Amane aceitou o copo de sopa de feijão vermelho.
Dentro dele havia um líquido espesso que era definitivamente da cor de feijões.
Quando ele levou o copo aos lábios, a fragrância única dos doces feijões vermelhos pairou suavemente sobre ele e encheu seu nariz à medida que um sabor rico se espalhava por sua língua. Amane não tinha muito apetite por doces, então até mesmo a leve doçura da sopa de feijão parecia forte para ele.
Estava delicioso e vividamente lhe trazia à mente pensamentos de como a pasta de feijão vermelho combinava bem com o amargo chá verde.
Como Mahiru parecia gostar de doces, ele achou que essa sopa provavelmente era perfeita para o gosto dela.
Quando ele olhou para Mahiru, talvez porque ela tinha dado um gole no saquê doce, suas bochechas estavam levemente coradas. Ela parecia quase ansiosa.
"Você não gosta?"
"Não é isso... Amane, você fez um grande caso ao compartilhar um pedaço de bolo. Por que isso não te incomoda?"
"...Ah."
Foi quando ele percebeu por que Mahiru tinha reagido daquela maneira. Amane congelou no lugar.
Não estamos nos alimentando um ao outro, mas eu acho que isso ainda é um beijo indireto, não é?
Sua atenção estava focada na sopa de feijão vermelho, e ele inadvertidamente sugeriu que compartilhassem um beijo indireto. Ele pode não ter percebido, mas não podia haver dúvida de que tinha colocado Mahiru em uma situação desconfortável. Isso devia ser o motivo de ela ter agido daquela maneira.
"D-desculpe. Fui realmente sem pensar. Tenho certeza de que você odiou..."
"P-por que você está sempre assim, Amane? Eu só... eu fiquei envergonhada, ok??"
"Eu— eu vou ser mais cuidadoso no futuro. Desculpe."
Independentemente do que ela pudesse estar sentindo, era um fato que ele a tinha colocado em uma situação desconfortável. Amane baixou um pouco a cabeça, e Mahiru agitou a mão freneticamente na frente do rosto.
"R-realmente, não me preocupo com isso!"
"Você tem certeza? Bem, sinto muito de qualquer forma. Não deveria tratá-la da mesma maneira que trato meus outros amigos."
Itsuki e Chitose eram do tipo que não se importava com essas coisas e davam goles nas bebidas de Amane e mordiam sua comida, insistindo que estava tudo bem porque eram amigos.
Itsuki era do mesmo sexo que Amane, e Chitose era do sexo oposto, mas ele nunca olhou para nenhum deles com o menor interesse romântico, então realmente não parecia um beijo indireto quando compartilhavam comida. Ele apenas ficava irritado quando roubavam seus lanches.
Mas com Mahiru, era obviamente diferente. Ele estava errado por não perceber isso antes.
"O Itsuki e a Chitose costumam fazer coisas assim?"
"S-sim, quero dizer, somos amigos, afinal..."
"É mesmo?"
Mahiru assentiu, usando uma expressão complexa que poderia ser tanto compreensão quanto consternação. Então ela baixou o olhar de volta para o saquê doce e levantou a xícara aos lábios novamente.
"...Suponho que, Amane, você e eu somos amigos também, então está tudo bem."
"S-sim... mas você bebeu tudo, não foi?"
As bochechas de Mahiru coraram mesmo sem álcool na bebida. "N-não sobrou muito!" Ela virou-se rapidamente.
Em retaliação, Amane engoliu o que restava da sopa de feijão vermelho de Mahiru.
Ele esperava que estivesse frio, mas de alguma forma ainda estava quente e parecia até mais doce do que antes.
"Mahiru querida, você cozinha muito bem!"
Quando voltaram da visita ao santuário, já era noite. Mahiru havia trocado de roupa e tinha começado seus preparativos de jantar habituais, mas... a mãe de Amane, Shihoko, também estava na cozinha, ostensivamente para observar as habilidades culinárias de Mahiru.
Seus pais decidiram passar a noite. A casa deles ficava a várias horas de distância de carro, e estavam cansados. Parecia que eles tinham a intenção de ficar desde o início. Amane gostaria que tivessem perguntado ao cara que morava lá primeiro, mas seu pai tecnicamente era o proprietário do apartamento, então ele sabia que não tinha direito de reclamar.
Felizmente, ele tinha um conjunto extra de futon, caso tivesse alguém, então ele pensou que poderiam compartilhar. Eles dormiam na mesma cama em casa, então não seria tão diferente.
"Muito obrigada", disse Mahiru com graça.
"Realmente, você é muito boa para uma garota do ensino médio. Na minha idade, de jeito nenhum eu poderia fazer tudo isso."
"Sua comida não é páreo para a da Mahiru agora, mãe."
"Você disse alguma coisa, querido?"
"De jeito nenhum."
Uma voz séria veio voando da cozinha em sua direção, então Amane fez de conta que estava inocente e encolheu-se no sofá. Seu pai estava relaxando no sofá ao lado dele e repreendeu: "Agora, Amane, não provoque sua mãe."
Mas ela sempre estava implicando com ele, então ele sentiu que era uma resposta justa.
Amane ouvia sua mãe conversando animadamente com Mahiru.
Mahiru calmamente acompanhava, sem se abalar com a energia e a atenção intensa dela. Parecia que ela estava se acostumando à mulher agitada.
Observando de longe, Amane olhou para as duas preparando o jantar e aparentemente se dando bem, soltando um suspiro silencioso de alívio.
"Sua mãe parece ter se apegado à Senhorita Shiina, não é?"
O pai de Amane estava olhando para as duas da mesma forma, e parecia satisfeito.
"Bem, ela é bonita, doce e tem uma boa personalidade, então não me surpreende que a mamãe goste dela."
"E você, Amane?"
"Oh, quero dizer, acho que ela é uma pessoa legal e acho que ela é fofa."
"Entendo."
Parecia uma pergunta casual, mas o pai de Amane não era o tipo de pessoa a pressionar demais, então ele provavelmente perguntou por genuíno interesse. Ele não pressionou Amane com sua resposta.
"Estou ansioso para experimentar essa comida que você gosta todos os dias, Amane."
"Posso garantir o sabor. Contanto que a mamãe não interfira muito, é claro."
"Você não precisa se preocupar. Shihoko foi quem quis experimentar a culinária da Senhorita Shiina, então tenho certeza de que a coisa mais séria que fará será ajudar um pouco."
"Isso é bom, se for verdade."
Sua mãe não era uma má cozinheira, mas a maioria de seus pratos tinham sabores intensos e ousados, em contraste com os temperos sutis de Mahiru. Sabores delicados eram a especialidade de seu pai, enquanto sua mãe preferia quantidade e facilidade de preparo.
Claro, isso era importante para uma dona de casa que tinha que satisfazer o apetite de um menino em crescimento, mas Amane na verdade preferia os sabores cuidadosamente calibrados dos pratos feitos por Mahiru. Ele tremia só de pensar que alguém mexeria nos temperos requintados de Mahiru.
Felizmente, sua mãe parecia estar se contendo para ser assistente de Mahiru, como seu pai havia dito, então ele suspirou aliviado e continuou observando as duas cozinhar.
“Oh, sim, isso está muito bom,” disse o pai de Amane.
Não havia maneira de que os quatro coubessem ao redor da mesa de jantar de duas pessoas de Amane, então ele havia puxado a grande escrivaninha dobrável que estava guardada na despensa para usar no jantar.
"Muito obrigada", disse Mahiru, visivelmente aliviada com a avaliação sincera de Shuuto, e relaxou um pouco.
Parecia que ela nunca tinha deixado ninguém, exceto Amane, comer sua comida caseira, fora da aula de culinária na escola, é claro, e estava um pouco nervosa com isso... mas finalmente essa rigidez desapareceu quando ela viu o sorriso gentil de Shuuto.
"É realmente delicioso", acrescentou a mãe de Amane. "Se ela pode cozinhar assim, não terá nenhum problema em morar sozinha — ou se casar."
Shihoko murmurou baixinho olhando para Amane. Ele sentiu sua bochecha prestes a tremer, mas manteve uma expressão neutra e tomou um gole de sua sopa de missô.
O sabor rico e infundido com dashi agora lhe era muito familiar. Ele realmente se acostumou com a forma como Mahiru preparava seus pratos e, depois de comer sua comida todos os dias, praticamente perdeu todo desejo de comer outra coisa.
"Amane, o que você acha?", perguntou sua mãe.
"É delicioso, é claro. Obrigado por sempre cozinhar, Mahiru."
Ele tinha planejado dizer isso de qualquer maneira. Mas agora que sua mãe o havia instigado, provavelmente soou como se ele não quisesse dizer isso de verdade. Amane nunca esqueceu de dizer a Mahiru que sua comida estava deliciosa todos os dias quando comiam juntos, mas como seus pais estavam ali, ele estava segurando um pouco. E isso obviamente foi a decisão errada.
Sua gratidão não era diferente agora, mas por algum motivo, Mahiru estava inquieta, se contorcendo desconfortavelmente. "...Claro", ela respondeu em voz baixa. Suas bochechas estavam ligeiramente coradas.
Provavelmente era porque seus pais estavam ali. Não havia dúvida de que Mahiru estava se sentindo envergonhada, mesmo que apenas um pouco. Ela estava acostumada a ouvir as avaliações de Amane sobre sua cozinha, mas agora três pessoas a tinham elogiado.
"Você é extremamente fofa, Mahiru."
"Shihoko, não provoque."
"Não era isso que eu queria dizer! Eu só estava pensando que ela é uma boa e íntegra garota, o que é tão difícil de encontrar nos dias de hoje."
"I-isso... Não é realmente..."
"Sim, eu posso concordar com isso. Mahiru é tipo, realmente pura, poderia se dizer."
"Amane?!"
Mahiru era definitivamente um pouco ingênua. Seu rosto tinha ficado vermelho brilhante uma vez só de ver um cara - que não era particularmente atraente - com a camisa aberta.
"Meu Deus, será que algo aconteceu entre vocês dois enquanto não estávamos olhando?"
"Não."
"Nada aconteceu."
A negação praticamente pulou da boca de Mahiru.
Ser inocente ou ingênuo não era a pior coisa do mundo, mas Mahiru parecia odiar ser chamada dessas coisas. Amane não tinha planos de dizer mais nada.
"Bem, acho que eles devem fazer o que quiserem, desde que Amane não esteja machucando Senhorita Shiina", disse o pai de Amane. "Apenas não a provoque muito, Amane."
"Eu sei disso."
"Bem, você não estava apenas a provocando?"
"Ei, era uma descrição precisa..."
Amane sentiu algo bater em sua coxa por baixo da mesa. O rosto de Mahiru estava vermelho brilhante, e ela estava olhando na direção dele.
"Desculpa, desculpa", ele disse.
Uma expressão aborrecida passou pelo rosto bonito dela. Mas isso a deixou ainda mais adorável, e Amane não pôde deixar de sorrir. Ele só esperava que Mahiru não ficasse brava com ele por muito tempo.
"Sabe, não posso deixar de sentir que estamos olhando no espelho. O que você acha, Shihoko querida?"
"Acho que está tudo bem, Shuuto querido. Por que, até mesmo o nosso Amane está com uma expressão gentil."
"O que vocês estão conversando aí?"
"Nada, querido!"
Amane poderia jurar que ouviu alguns sussurros baixos e conspiratórios da outra mesa, mas seus pais mantiveram expressões de total inocência.
"Desculpe por ter que preparar comida para os meus pais também."
Depois de terminarem o jantar e conversarem agradavelmente por mais algumas horas, finalmente era hora de encerrar a reunião.
É claro que, como os pais de Amane dormiriam na sala de estar, Mahiru era a única que estava indo para casa.
Amane os havia mandado tomar banho, então ele foi o único que saiu para se despedir de Mahiru.
Não era necessário que ele fizesse isso, mas ele queria ter a chance de se desculpar por sua mãe e seu pai, apenas no caso.
"Não, está tudo bem. Foi divertido."
"Foi?"
Ele ficou aliviado por ela não parecer chateada.
Na verdade, ela parecia ter se divertido.
"Além disso—"
"Sim?"
"...Eu tive um pequeno gostinho de felicidade, então—"
A voz fraca de Mahiru era quase como um suspiro. Ela sorriu, mas de repente pareceu muito solitária. Era um sorriso fugaz, que parecia que poderia ser levado pelo vento. Amane começava a juntar as peças sobre a situação dela em casa, então achava que reconhecia o olhar fraco de anseio em seus olhos.
De alguma forma, ele não conseguia deixar para lá, e Amane colocou a mão em sua cabeça e acariciou seu cabelo.
Mahiru olhou para cima, surpresa, mas não pareceu odiar.
"O-o que você está fazendo?"
"Nada."
"Isso não é nada... Meu cabelo ficou todo bagunçado."
"Você vai tomar banho de qualquer maneira, certo?"
"Vou, mas—"
"...Você odiou?"
"Eu—eu não odiei, mas... você poderia pelo menos dizer alguma coisa antes."
"...Lá vou eu."
"Isso é dizer alguma coisa depois."
Então, está tudo bem tocar em você desde que eu avise antes? Amane pensou, mas sabia que era melhor não dizer em voz alta.
"Desculpe."
Mahiru soltou um pequeno suspiro.
"Já que é assim... eu não me importo, mas não é realmente apropriado afagar a cabeça de uma garota tão casualmente."
"Mas eu não faço isso com mais ninguém..."
Amane entendeu que a única ocasião em que era aceitável tocar uma pessoa do sexo oposto era quando você tinha um relacionamento próximo. Ele não era o tipo de pessoa que sairia por aí tocando casualmente em garotas ou algo do tipo. A coisa mais próxima disso era dar um tapa em Chitose sempre que ela fazia uma piada terrível.
Amane pensou que talvez ele e Mahiru estivessem ficando próximos, então ele a tocou timidamente, esperando que ela não odiasse, mas essa ideia nem teria ocorrido a ele se fosse qualquer outra pessoa.
Mahiru havia ficado quieta, mas não afastou sua mão.
"...Tenho certeza de que você pode ver isso", ela disse, "você é a cara do seu pai, Amane. É óbvio para mim, mesmo que eu o tenha conhecido por pouco tempo."
"Em que sentido? Eu realmente não acho que me pareço tanto com ele, seja fisicamente ou em personalidade."
"...Você é exatamente como ele. Sério."
Mahiru suspirou mais pesadamente desta vez, e Amane acariciou sua cabeça novamente. Ela ainda não parecia contra isso.
...Será que eu realmente me pareço tanto com ele?
Claro, eles já foram confundidos como irmãos, apesar da grande diferença de idade, uma ou duas vezes, mas Amane sentia que tinha uma energia completamente diferente de seu pai. Suas personalidades, também, embora não exatamente opostas, eram bastante diferentes.
O que ela quis dizer ao dizer que ele era igualzinho ao pai, apesar de diferenças tão evidentes?
Inúmeras dúvidas inundaram a mente de Amane, mas Mahiru não deve ter tido a intenção de dizer mais nada. Seus olhos estreitaram um pouco, e ela deixou o assunto para lá.
Depois de acariciar o cabelo dela um pouco mais, Amane recuou, e Mahiru parecia subitamente voltar a si. Ela olhou para Amane, ligeiramente confusa.
"O que foi, queria que eu continuasse?" ele perguntou provocativamente.
Mahiru ficou vermelha novamente. "Por favor, não me provoque", disse baixinho, então ele decidiu encerrar por ali.
Parecia que ela estava de mau humor agora, pois não fez nenhum esforço para esconder o desagrado em seu rosto enquanto abria a porta de seu próprio apartamento e entrava.
Por um breve momento, Amane se arrependeu de suas ações, se perguntando se tinha exagerado um pouco, quando Mahiru abriu um pouco a porta e deu uma espiada nele.
"Amane."
Suas bochechas ainda estavam coradas, e sua voz parecia petulante, mas de alguma forma, com um leve tom carinhoso.
"O que?"
"...Você é bobo."
Assim como de repente, Mahiru fechou a porta.
...Bom, parece que somos dois, eu acho.
Não era culpa de Mahiru que seu coração estivesse subitamente disparado?
Amane suspirou baixinho e se encostou na parede do corredor não aquecido, tentando deixar o calor repentino em seu peito se acalmar um pouco. Foi nesse momento que ele percebeu que conseguia ver sua respiração no ar gelado.
Pouco depois de Amane ter se despedido de Mahiru e voltado para seu apartamento, seus pais terminaram o banho. Quando Amane olhou para cima da TV em direção ao som dos chinelos se aproximando, os viu lá, usando roupas de dormir e segurando as mãos casualmente.
Bem, eu acho que isso acontece naturalmente se você já tomou banho juntos.
"Tivemos nosso banho, Amane. Agora é sua vez."
"Claro... Espera, como vocês dois conseguiram caber na minha banheira? Só cabe uma pessoa."
Para alguém que morava sozinho, este era um apartamento bastante espaçoso e bem projetado, mas isso não significava que a banheira era especialmente grande. Certamente não era grande o suficiente para um homem e uma mulher adulta sentarem juntos confortavelmente.
"Oh, não, está tudo bem! Não há problema se ficarem bem juntos. Não é mesmo, querido Shuuto?"
Sua mãe sorriu e se aproximou do marido, e o pai dele concordou com um sorriso gentil. Eles já estavam casados há quase vinte anos, mas os dois ainda agiam como recém-casados. Amane não pôde fazer nada além de sorrir amargamente.
"Tão amorosos como sempre, vejo."
"Está com ciúmes?"
"Não exatamente. Eu consigo relaxar melhor no banho sozinho de qualquer maneira."
"E Mahiru...?"
"Está tudo bem, escutem. Não há nada acontecendo com ela."
Ele não entendia por que sua mãe queria tanto que ele ficasse com Mahiru. Bem, não era um total mistério, já que ela estava brincando sobre querer Mahiru como nora desde o dia em que se conheceram, mas Amane tinha certeza de que sua mãe tinha confundido a confiança que Mahiru tinha nele com afeto romântico.
"É mesmo?"
"Calma lá, Shihoko. Amane está em uma idade delicada, então vamos ser considerados."
"Mas eu estou falando sério..."
"Faça como quiser, mãe."
Amane não deu atenção às palavras de sua mãe enquanto se levantava para se preparar para o banho, mas parou quando seu pai o chamou.
"Amane." Ele usou um tom sério, não a voz que usava para repreender sua esposa ou a que tinha quando sorria. Quando Amane olhou para ele, se perguntando o que estava acontecendo, ele se deparou com um olhar suave, mas firme.
"Amane, você está feliz por ter se mudado para cá?"
Embora tenha sido pego de surpresa, depois de um momento, Amane encontrou rapidamente o olhar firme de seu pai com um sorriso tranquilo.
"...Sim, estou. A vida ficou mais fácil."
Certamente seus pais deveriam estar preocupados com ele. Preocupados o suficiente para verificar frequentemente como ele estava e preocupados o suficiente para tentar vê-lo em todas as oportunidades.
Tudo isso tinha sido para garantir que Amane estivesse vivendo confortavelmente.
"É mesmo? Fico feliz."
"Não precisa se preocupar; há alguém aqui em quem posso realmente confiar."
Diferente de antes…
Ele engoliu essas palavras e manteve sua resposta simples e direta.
Sua mãe sorriu radiante. "Ah, você deve estar falando do pequeno Itsuki! Nunca o conheci pessoalmente, então queria ir cumprimentá-lo, já que viemos até aqui."
"Pare com isso, por favor; você vai começar algo estranho."
"Não é estranho de jeito nenhum. Vou dizer a ele o quão fofo você era quando era pequeno, e..."
"Veja, é exatamente disso que estou falando. Sério, apenas pare..."
Se isso vazasse para Itsuki, certamente chegaria também a Chitose. Era a única coisa que Amane queria evitar a todo custo. Ele não queria lidar com as provocações intermináveis dela ou aguentar a sua insistência por fotos antigas do seu passado.
Amane se parecia muito com uma menina fofa quando era pequeno, e não ajudava que sua mãe às vezes até o vestia com roupas de menina. Se provas fotográficas disso viessem à tona, sua vida seria só sofrimento.
"Mas eu não consigo evitar querer cumprimentá-lo, não é? Ele é tão amigo seu, Amane."
"Isso é verdade, mas..."
"Aposto que ele é um rapaz muito bom, não é? Ele tem a aprovação do selo de Amane."
"...Ele é um bom rapaz. Tão bom que está desperdiçado comigo."
Não era algo que ele diria na cara de Itsuki, mas Amane sempre apreciava seu amigo que, uma vez, tomou a iniciativa de chamá-lo em um tom amigável quando era um garoto muito sombrio, que não interagia com ninguém e apenas ficava quieto no canto da sala ouvindo música.
"Vou tomar um banho."
Ele se sentiu envergonhado depois de elogiar abertamente Itsuki, mesmo que ele não estivesse lá, e para disfarçar seu desconforto, ele rapidamente foi para o quarto para pegar roupas limpas.
Ele pôde ouvir um pequeno riso às suas costas, fazendo com que Amane escapasse para o quarto, carrancudo e murmurando todo o caminho.
Na manhã seguinte, quando Amane saiu da sala após acordar e se vestir, encontrou seus pais já acordados e a comida na mesa.
"Bom dia. O café da manhã está pronto, então sente-se."
Amane se sentou à mesa, sorrindo levemente para seu pai, que o chamava da cozinha, usando o avental de Amane, que estava pendurado em uma cadeira.
Ele tinha acabado de se mudar para esse apartamento e já estava se sentindo confortável em uma cozinha desconhecida, provavelmente porque estava tão acostumado a cozinhar. Em casa, os pais de Amane se revezavam na preparação das refeições, então Amane também estava acostumado a ver seu pai usando um avental, e não havia nada de anormal nisso.
A mãe de Amane já estava esperando impacientemente à mesa. Provavelmente queria ajudar, mas seu pai provavelmente insistiu para que ela deixasse com ele.
Amane também pensou em ajudar e chegou a se levantar da cadeira, apenas para ver seu pai trazendo arroz vaporizado e sopa de missô em um tabuleiro, o que imediatamente tirou a vontade de Amane de ajudar.
"Obrigado, pai."
"Não precisa agradecer. De qualquer forma, a Senhorita Shiina foi gentil o suficiente para colocar as sobras de ontem em recipientes, então eu apenas aqueci isso, cozinhei arroz, fiz a sopa de missô e os rolinhos de omelete."
Tomar um café da manhã adequado era praticamente um lema na casa dos Fujimiya, então eles nunca deixavam de tomar a refeição da manhã.
O pai de Amane alegremente incorporou as sobras no cardápio, mas se não as tivessem, havia pouca dúvida de que ele teria preparado algo.
Com um sorriso, Shuuto colocou o arroz e a sopa de missô na frente de cada um deles.
A atenção de Amane foi atraída para os rolinhos de omelete de seu pai, que ele não provava há algum tempo, e antes que percebesse, a mesa estava posta, e seu pai já havia tomado seu lugar.
"Tudo bem, vamos começar, certo?"
"Claro. Obrigado, querido."
"Obrigado pela refeição."
Todos expressaram sua gratidão, e então Amane pegou com seus hashis os rolinhos de omelete à sua frente.
Esta era a primeira vez que Amane comia a comida feita por seu pai desde que voltou para casa nas férias de verão, então ele estava ansioso pela nostalgia enquanto dava a primeira mordida e mastigava lentamente.
O sabor do dashi, o toque de doçura, o ovo levemente cru – tinha o gosto de casa – mas, ao mesmo tempo, Amane sentiu que algo estava um pouco faltando.
"Tem algo errado?"
Seu pai pareceu ter notado Amane mastigando com uma expressão séria e soou preocupado.
"Mm... não, não é nada."
"Talvez eu tenha errado nos temperos?"
"N-não, não é isso; está bom, mas... eu estava pensando que o sabor é diferente do jeito que a Mahiru sempre faz os omeletes."
"Ah, entendi."
Ele não tinha comido a comida feita por seu pai por quase meio ano, então, embora devesse ser familiar, na verdade, ele estava mais acostumado com a culinária da Mahiru, depois de comê-la todos os dias. Até Amane ficou surpreso.
Claro, isso não queria dizer que a comida feita por seu pai era ruim ou algo assim, apenas que os temperos da Mahiru estavam mais de acordo com o gosto de Amane. Mesmo assim, ele se sentia um pouco consciente do fato de que seu paladar tinha se adaptado tão bem à culinária da Mahiru, quando a conheceu apenas alguns meses antes.
"Parece que você realmente se apaixonou pela Senhorita Shiina, não é?" perguntou seu pai.
"Pela sua culinária, sim."
"Ei, espera aí" exclamou sua mãe. "Você está dizendo que não tem interesse na Mahiru em si, então?"
"Ninguém está dizendo isso, e eu não pretendo cair nessa pergunta capciosa."
Amane não ia deixar sua mãe direcionar a conversa nessa direção novamente.
Shihoko franziu a testa - obviamente, seu objetivo era exatamente o que Amane esperava. Amane bufou pelo nariz e se recusou a cair na armadilha.
Seus pais partiram antes do almoço.
Ambos aparentemente tinham trabalho no dia seguinte, então Amane sugeriu que seria difícil para eles se não chegassem cedo em casa e descansassem. Eles tinham uma longa viagem pela frente, o que, é claro, seria exaustivo, então era melhor que se apressassem e fossem.
"Mas eu queria conversar mais com a minha querida Mahiru e conhecer o Itsuki...", murmurou sua mãe baixinho depois de sair pela porta para o corredor do prédio.
"Então faça isso na próxima vez... Além disso, você terá que marcar um encontro para ver o Itsuki. Ele não tem muito tempo livre."
"Tudo bem, então você marca para mim, Amane."
"Se eu estiver a fim."
Era óbvio para todos que Amane não tinha a intenção de fazer nada do tipo. Sua mãe ficou mal-humorada, mas o pai de Amane a acalmou e mais ou menos restaurou seu bom humor.
Enquanto Amane observava seus pais, a porta do apartamento ao lado se abriu silenciosamente. Pela fresta estreita, ele pôde ver um lampejo de cabelos dourados e o rosto de Mahiru.
Ela deve ter saído porque ouviu sua mãe falando. Para melhor ou pior, a voz de sua mãe se propagava bem.
"Ah, perfeito, eu estava pensando em me despedir!"
Ambos os pais de Amane notaram Mahiru e foram até a frente do apartamento dela enquanto ela calçava um par de sapatos e saía pelo corredor. A mãe de Amane estava usando um grande sorriso e parecia determinada a se aproximar o máximo possível de Mahiru. Mahiru recuou, mas não recuou completamente.
"Vocês já estão indo?"
"Eu queria que não estivéssemos. Na verdade, gostaríamos de ficar mais um ou dois dias, mas temos trabalho."
"As coisas seriam diferentes se tivéssemos vindo um pouco mais cedo, mas... é todo o tempo que temos."
Mahiru sorriu tranquilamente para os pais de Amane.
"Bem, sempre haverá uma próxima vez", disse sua mãe. "Embora, da próxima vez, seja a vez de Amane nos visitar."
"Claro, claro. Estarei em casa nas férias de verão."
Amane podia sentir o olhar de sua mãe sobre ele. Ele soube imediatamente que ela estava esperando que ele trouxesse Mahiru junto.
Mesmo assim, ele não pôde deixar de se perguntar se essa não seria uma boa ideia. Ela aparentemente passava suas férias escolares sozinha, afinal. Talvez ela não fosse tão contra a ideia, pensou ele desinteressadamente.
"Você realmente não tem charme nenhum, Amane", disse sua mãe. "Não é isso, Mahiru?"
"Uh, eu... Eu não tenho certeza como respon..."
"Vamos lá, Shihoko, não a coloque em uma situação difícil", repreendeu o pai de Amane. "Embora seja verdade que Amane tem se mostrado menos direto sobre várias coisas à medida que envelhece, não é?"
Amane não tinha aliados ali, então fingiu ignorar seus pais em silêncio. Shuuto se voltou para Mahiru com um sorriso gentil diferente do de Shihoko.
"Como você pode ver, nosso Amane tem dificuldades para expressar seus sentimentos, mas se olhar de perto, pode perceber que ele é um jovem de bom coração. Ficaria muito feliz se você continuasse sendo uma boa amiga para ele."
"Ah, estou bem aqui, sabia? Isso é tão constrangedor..."
Seu pai o tinha elogiado, mas Amane se sentia mais como se tivesse sido provocado por um inimigo do que apoiado por um aliado.
Certamente, não se via como uma pessoa especialmente bondosa. Ele simplesmente mostrava às pessoas próximas a ele o respeito e o afeto que achava que mereciam. Parecia errado que isso fosse confundido com bondade.
Tentando encontrar outro lugar para olhar, Amane olhou de relance para Mahiru e a viu piscar rapidamente e sorrir.
"...Eu sempre achei que o Amane é uma pessoa honesta e gentil. Tanto que sou eu quem deveria pedir pela sua amizade.."
"Bem, isso é maravilhoso. Isso me deixa mais tranquilo."
Amane queria fazer um comentário sobre a mente de seu pai estar mais tranquila, mas ficou tão abalado com o que Mahiru tinha dito que não conseguia pensar em nada. Era tão constrangedor ouvi-la descrevê-lo dessa maneira. Ele nem conseguia olhar para ela.
Sua mãe riu ao vê-lo se contorcer, mas Amane nem conseguia responder. Só podia morder o lábio em um silêncio torturador.
"Você realmente não precisa me bajular, sabia."
Depois que os pais de Amane finalmente partiram, ele falou com Mahiru em voz baixa enquanto estavam sozinhos no corredor.
Amane fez esse comentário para aliviar um pouco a atmosfera desconfortável, mas, por algum motivo, Mahiru ergueu as sobrancelhas e o encarou.
Sua expressão estava calma, mas havia uma sutil intensidade que ele achou intimidadora.
"Pareço do tipo que diz palavras vazias que não acredito?"
"Bem, você não mentiria para mim —mas talvez na frente dos meus pais?"
Ela parecia discordar de ele chamar isso de bajulação.
Mahiru bufou e depois soltou um suspiro de exasperação.
"...Veja bem, confio em você porque acredito que tem um bom coração, e gosto mesmo de passar tempo com você. Eu prometo: não estava tentando bajular você."
"Ah..."
Amane sentiu o calor subindo ao seu rosto. Ouvir ela falar tão sinceramente era terrivelmente embaraçoso. Felizmente, Mahiru não pareceu perceber seu desconforto, e ele assentiu humildemente.
Mahiru parecia satisfeita. "Contanto que você entenda. Bem, acho que vou começar o almoço."
Aparentemente, Mahiru iria preparar o almoço para ele hoje, como tinha feito todos os dias durante o feriado de Ano Novo. Sentindo uma mistura de gratidão e vergonha, Amane olhou para o cabelo dourado de Mahiru enquanto ela colocava a mão na porta do seu apartamento.
Alguém em quem ela pode confiar, huh...? Era o que eu ia dizer.
Mahiru ignorou o fato de que Amane achava que ela era um anjo. Para ela, ele era apenas um vizinho comum. Mas ela confiava nele. Era nisso que ele era mais grato.
"Estou tão feliz por ter me mudado para cá."
Mahiru deve ter ouvido seu murmúrio baixo, porque se virou e perguntou, "Você disse alguma coisa?"
"Não, nada", Amane respondeu rapidamente, seguindo-a para o apartamento.