Volume 11

Extra: O Que Significa Ser uma Família

[Del: Aviso importante! Este capítulo extra incluído no final do volume não continua o último capítulo, mas sim conta um evento relevante ocorrido em algum antes. | Kura: Segurando a tropa ansiosa né? Até eu vim nesse sentido.]

   Se perguntassem de quais garotas Mahiru era mais próxima na sala de aula, Chitose e Ayaka seriam as respostas óbvias. Mas isso não significava que ela só passava tempo com elas.

   Mahiru era o tipo de pessoa que se dava bem com praticamente qualquer pessoa e frequentemente conversava animadamente com as outras garotas da turma.

   Um dia, quando Amane não tinha trabalho, ele passou na sala dos professores depois da aula para resolver algumas coisas. Ele pediu a Mahiru que esperasse na sala.

   Quando voltou e chegou ao corredor do lado de fora da porta, parou.

   Ele a ouviu conversando alegremente com os colegas e, por um momento, Amane hesitou, não querendo interromper a conversa agradável. Então, uma delas a fez uma pergunta.

“Shiina-san, você tem irmãos?”

[Kura: Uhum….]

   Eles provavelmente estavam no meio de uma conversa animada sobre família ou algo parecido. Amane se lembrou de que a garota que tocou no assunto tinha uma irmã mais nova.

   Pela janela do corredor, Amane podia ver o rosto de Mahiru. Ela não demonstrava nenhum sinal de desconforto, apenas exibia seu sorriso reservado de sempre.

“Eu não. Acontece que sou filha única.”

“Sério? Que surpresa! Você é tão boa em cuidar das pessoas que eu pensei que tivesse um irmão ou uma irmã mais nova. Acho que eu estava errada.”

“Se tivesse, eles, ou elas, seriam uma dupla de irmãos deslumbrante, com certeza! Seria um deleite para os olhos!”

[Moon: Nem te conto kkk]

   Suas palavras eram inocentes e genuínas. Elas não tinham intenção de machucar e apenas diziam o que pensavam.

   Afinal, as únicas pessoas na turma que realmente sabiam sobre a situação parental de Mahiru eram Amane e, no máximo, talvez Chitose. Nem mesmo Itsuki estava totalmente a par. Não que não confiassem nele. Era simplesmente um assunto delicado demais para Amane compartilhar no nome dela.

   Ele sabia que os comentários das meninas não passavam de uma conversa casual. Mas, da perspectiva dele, ainda parecia que eles estavam, sem saber, adicionando sal a feridas que não haviam cicatrizado completamente.

“Com quem você puxou mais, Shiina-san? Com ​​sua mãe ou seu pai?”

“Se eu tivesse que dizer, acho que puxei mais o meu pai.”

   Seu sorriso gentil não vacilou em nenhum momento. E ela também não estava mentindo. Tendo conhecido Asahi pessoalmente, Amane podia dizer com certeza que Mahiru realmente puxou ele.

“Nossa. Então seu pai também deve ser bonito, né?” disse uma garota.

“Ah, agora eu quero muito vê-lo! Ele deve ser uma raposa prateada,” comentou a outra.

“Ei, não chame o pai de outra pessoa de ‘raposa’ do nada. Isso é meio rude.”

“Ah — desculpa!”

“Ah, está tudo bem. Meu pai está mesmo ficando idoso aos poucos, afinal,” respondeu Mahiru.

   Nesse momento, enquanto cobria a boca para rir, seus olhos encontraram os de Amane pela janela. Ele se encolheu de surpresa, mas o sorriso de Mahiru apenas se alargou. Era sua maneira de sinalizar que ele não precisava se preocupar em interromper.

“Então você puxou ao seu pai, hein? Dizem que as filhas geralmente se parecem com os pais, não é? Eu sou igual... infelizmente.”

“É, você é a cara dele. Quando o vi outro dia, pensei: ‘Ah, sem dúvida...’”

“Oh não... Isso significa que estou fadada a herdar uma linha capilar rala?”

“Todo mundo tem que se despedir do próprio cabelo eventualmente, então não reclame muito.”

“Meu pai choraria se ouvisse isso.”

“Porque é tocante?”

“Não, porque uma colegial tem pena do couro cabeludo dele.”

“Certo... Eu só joguei sal na ferida.”

“Na ferida ou nos não cabelos dele?”

“Para garota.”

   Amane não pôde deixar de pensar que a conversa havia desviado completamente do curso. Nesse momento, Mahiru olhou em sua direção, lançando-lhe um olhar sutil que indicava que era seguro vir.

   Amane sentiu sentimentos mistos em relação à consideração dela e ao quão sintonizada ela estava. Ao se aproximar, fez um pequeno barulho de propósito, esbarrando em uma mesa para tornar sua entrada óbvia.

   Mahiru se virou para ele. No momento em que o viu, seu rosto se iluminou, seja pelo alívio de escapar do assunto ou simplesmente porque ele finalmente havia aparecido.

“Amane-kun.”

“Desculpe por fazê-la esperar. E obrigado por fazerem companhia a ela,” acrescentou, cumprimentando educadamente as três garotas que conversavam com Mahiru.

   Ele se sentiu um pouco culpado por deixá-la sozinha, mas uma das garotas rapidamente acenou com as mãos, afobada.

“Oh! Desculpa, Fujimiya-kun. Nós meio que pegamos sua namorada emprestada por um tempo.”

“Não, não, ela não é minha nem nada.”

“Espera, o quê...?”

“Ah, eu só quis dizer que ela não é minha para emprestar ou algo assim. Ela é minha namorada, sim, mas eu nunca tentaria controlar o que ela faz. Não me entenda mal.”

   Mahiru era sua namorada e estava perfeitamente feliz em ser chamada assim. Mas dizer “ela é minha” não caia bem para Amane. A frase soava possessiva, e não era assim que ele a via. Ela era alguém por quem ele se importava profundamente, alguém preciosa para ele. Ele queria que eles fossem parceiros em pé de igualdade.

   Se a palavra também não carregasse essa conotação, talvez ele não se importasse.

   Ainda assim, sempre que ele a chamava de “minha”, era sempre no sentido de “minha namorada”.

   Mahiru sorriu e disse: “Eu não me importo de ser sua, Amane-kun,” uma frase que causou comoção na pequena plateia. Embora Amane tivesse a sensação de que ela dissera aquilo de propósito para desviar a conversa.

“Não me provoque, Mahiru.”

Fufu, prometo que não. Mas me desculpe por te fazer esperar. Você deve ter ficado aí fora por um tempo.”

“Eu só não queria interromper a sua diversão. Bem, vamos para casa.”

“Certo. E obrigada a todas.”

“Nossa, está ficando quente aqui dentro! Fiu~ Fiu~!” uma das garotas comemorou.

“Não é à toa que te chamam de palhaça quando você faz coisas assim...” disse outra.

“Nossa, grossa!”

[Kura: kkkkk.]

   A energia dela tinha uma vibração diferente da de Chitose ou Ayaka. Ela inflou as bochechas, mas abriu um sorriso radiante quando seus olhos encontraram os de Mahiru.

“Tchau~ até amanhã!” ela acenou.

“Vejo vocês amanhã!” respondeu Mahiru.

“É, até mais.”

   Como todos estariam de volta à escola no dia seguinte, não havia necessidade de despedidas prolongadas. Com alguns acenos leves, Amane e Mahiru se despediram, e as meninas acenaram alegremente de volta enquanto os dois saíam juntos.



✧ ₊ ✦ ₊ ✧



   Amane tinha suas preocupações, mas a caminhada para casa não era o momento nem o lugar para mencioná-las. Não havia como saber quem poderia ouvir. Então, ele esperou até que estivessem em segurança de volta ao apartamento antes de lançar um olhar sutil para a garota ao seu lado.

   Mahiru, que acabara de se levantar depois de tirar os sapatos com cuidado, parecia tão calma e serena como sempre — ou pelo menos era o que lhe parecia.

“Mahiru—”

“Não se preocupe, estou bem. Viu?”

   Ela o interrompeu antes mesmo que ele pudesse dizer as palavras. De alguma forma, apenas ouvir o nome dela foi o suficiente para ela saber exatamente o que ele queria dizer. Ou ele era um livro aberto, ou os instintos dela eram aguçados. Provavelmente era um pouco dos dois.

   Amane hesitou, sem saber como responder, Mahiru apenas sorriu e deu de ombros despreocupadamente, sem se importar com suas preocupações.

“Você se preocupa demais, Amane-kun... Quando você é excessivamente atencioso, na verdade, as coisas ficam mais difíceis para mim. Eu começo a me preocupar com você.”

“Ah... sinto muito. Isso meio que anula todo o propósito.”

“Meu Deus. Você é um atencioso bem trabalhoso,” bufou Mahiru. “Mas é parte do motivo pelo qual eu te amo,” acrescentou, provocante, enquanto calçava os chinelos e se dirigia ao banheiro.

   Amane a observou partir com um sorriso fraco, o olhar demorando-se no balanço suave de seus cabelos loiros.

“Eu realmente pareço tão chorona assim para você?” perguntou Mahiru mais tarde.

   Ela havia terminado de lavar as mãos e gargarejar como sempre fazia, e agora estava encolhida no sofá, tomando uma xícara de chá que havia preparado.

   Amane não teve coragem de responder. Simplesmente desviou o olhar.

“Por que desviar o olhar?”

“Bem... você pode não estar chorando, mas eu sei como você sempre guarda as coisas para si — e como isso te desgasta. É claro que vou me preocupar.” Na maioria das vezes, Mahiru nunca chorava na frente de ninguém.

   Talvez parte fosse constrangimento, mas, mais do que isso, ela tinha uma força de vontade de ferro quando se tratava de esconder fraquezas. Não queria incomodar ninguém e se recusava a demonstrar vulnerabilidade. Quase nunca chorava, mesmo na frente de Amane.

   Nada havia acontecido para fazê-la chorar ultimamente, mas isso não significava que ela nunca se machucasse.

   Se Amane tivesse que citar um defeito nela, era a teimosia com que ela reprimia suas emoções negativas. Para Mahiru, esconder qualquer traço de angústia parecia uma questão de princípios.

   Ele poderia aceitar se ela não tivesse vontade de falar. Mas se ela estivesse realmente sofrendo, deixar que isso se alastrasse em seu coração era a última coisa que ele queria para ela. E se fosse egoísmo querer que ela compartilhasse essa dor com ele... bem, ele viveria com isso.

“Não vou deixar algo tão trivial me afetar. Essas garotas não sabem da minha vida, e eu não tinha motivo para contar a elas mais do que já contei. Não tem problema.”

“É mesmo?”

“Recusar-se a responder só tornaria as coisas mais suspeitas. É mais seguro contar a elas apenas uma pequena parte da verdade e depois esconder o resto.”

“...Se é assim que você se sente, então não direi mais nada. Vou ficar de fora e cuidar de você.”

“Por favor, faça isso.”

   Se Mahiru estivesse com dor ou angústia genuína, Amane não teria sido capaz de aceitar suas palavras tão facilmente. Mas, naquele momento, ela parecia apenas um pouco estranha, como se tivesse um pequeno nó apertando seu coração.

   Amane assentiu, optando por confiar nela e respeitar seus limites.

“Francamente, você não precisa se preocupar tanto...” disse ela. “Você sabe que eu puxei meu pai, certo? Só reconhecer isso não é o suficiente para me chatear — ou me fazer chorar.”

“Bem, é... Se eu tivesse que chutar, diria que você se parece mais com seu pai. Só vi sua mãe por um momento, então não posso dizer com certeza, mas ainda assim.”

   Amane pelo menos conheceu Asahi, o pai de Mahiru, e falou com ele uma vez. Não foi o suficiente para conhecê-lo por completo, mas mesmo por aquela breve interação, ficou claro que Mahiru puxou a ele. Por suas feições gentis e seu comportamento calmo e sereno, não havia como negar a ligação sanguínea.

   Por outro lado, Amane só teve um breve vislumbre da mãe dela. Eles não trocaram uma única palavra. Ainda assim, não era apenas uma questão de aparência. A atmosfera ao redor dela parecia completamente diferente, quase como se ela pertencesse a outro mundo.

“Ainda bem que puxei ao meu pai. Os traços da minha mãe são muito mais marcantes. Se eu tivesse herdado a aparência dela, provavelmente teria feito inimigos a torto e a direito sem nem tentar.”

“Ela tinha sua beleza, sem dúvida, mas... sim, ela definitivamente exalava uma aura mandona. Parecia que ela poderia fazer um contato visual direto como um desafio.”

“É mais fácil se virar quando você parece gentil. Nesse sentido, sou grata ao meu pai. Herdei o melhor dos dois.”

“...Entendo.”

“Acho que já disse isso antes, mas não odeio tudo neles. Sou grata por aquela mulher ter me dado à luz. Sou grata por nunca ter tido dificuldades financeiras. E conheci a Koyuki-san por causa dela. Eles ainda me negligenciavam, mas nunca recorreram à violência ou ataque verbal. Por outro lado... mal nos víamos o suficiente para que eles tivessem a chance.”

   A garota que antes sorria apesar da dor, quebrando-se silenciosamente por dentro enquanto sussurrava: “Se eu fosse causar tanto problema, ela poderia simplesmente não ter me dado à luz,” agora se fora.

[Del: Então, é nisso que eu penso. A Mahiru conseguiu superar boa parte daquilo. Isso me traz um suave sorriso ao rosto. | Moon: “Apesar de tudo, ainda é você…” - Undertale. Por algum motivo sempre me lembro dessa frase em momentos assim! Ela me acalma também… | Del: Bateu forte nessa referência hein Mon.]

   Amane sentiu uma profunda sensação de alívio, até mesmo de alegria, ao ver o quão longe ela havia chegado.

   Mas seu murmúrio autodepreciativo sobre a ausência de seus pais o deixou com uma emoção dolorosa que ele não conseguia expressar em palavras.

“Minha mãe me odeia mais porque puxei ao meu pai?”

   A pergunta suave escapou de seus lábios, e Amane se calou.

     Ah... No fim, eu só a deixei triste.

   Amane deixou de lado tanto sua tolice quanto seu ressentimento, até certo ponto, infundado, em relação aos pais de Mahiru. Pelo que ele percebeu ao vê-la, a mãe de Mahiru, Sayo, não queria machucá-la diretamente.

“...Não vou fingir que sei o que seus pais pensam,” disse ele lentamente. “Mas, na época, não tive a impressão de que sua mãe te odiava. Parecia mais que ela não queria nada com você.”

“Aquela mulher não se importa nem um pouco com meu pai, muito menos comigo. Ela me disse diretamente para não incomodá-la com bobagens sem sentido.”

“Então, basicamente... ela não se importa nem um pouco com você?”

“...Sim. Era assim que parecia. Ela nunca quis ser mãe, mas também não gostava de ser cruel. Talvez ser ignorada fosse melhor do que ser odiada, abusada ou impedida por pais helicópteros autoritários.”

[Del: Eu não tanquei a primeira vista, mas este é um termo correto. Um pai helicóptero seria aquele que “paira” sobre a vida dos filhos, monitorando e controlando todos os aspectos, desde estudos até interações sociais, supervisionando constantemente e tomando decisões por eles. | Moon: Então um pai coruja, só que mais autoritário né… General Coruja?]

   Ela se lembrou de suas memórias de infância com um pequeno sorriso resignado.

   O coração de Amane doeu só de observá-la.

   Ela era quem tinha sido magoada. Não ele. Ele não tinha o direito de reclamar, e nenhuma desculpa que tornasse seus sentimentos mais válidos que os dela.

“Bem, seja lá qual for o tipo de pessoa que eles sejam... a verdade é que eu sou quem sou agora por causa do meu passado. Não vou negar.”

“Sim...”

“E estou feliz agora. Acho que não teria chegado tão longe e experimentado essa felicidade sem tudo o que passei. Toda a dor e sofrimento me moldaram, e por causa disso, eu conheci você... e você passou a me amar.”

“Certo... Se ao menos uma coisa tivesse sido diferente, não estaríamos aqui.”

   Conhecer Mahiru, se aproximar dela, se apaixonar — tudo isso tinha sido possível por causa dos caminhos que eles trilharam.

   A estrada dela tinha sido íngreme, áspera e cheia de sombras e pedras. Mas desejar que tivesse sido diferente seria desejar que a pessoa em que ela se tornara desaparecesse.

[Del: No meio deste caminho tinha uma pedra, não tem mais. | Moon: Falando em pedra… E a Pedra de Amolar?]

   Amane podia se ressentir do sofrimento que ela suportara. Ele se ressentia. Mas não conseguia dizer que era sem sentido — não quando aquela jornada a levara até ele e trouxera felicidade a ambos.

   Se Mahiru podia olhar para trás e dizer que estava feliz agora, então, em vez de amaldiçoar o passado ou culpar aqueles que a machucaram, Amane sabia que o melhor caminho era proteger a felicidade que tinham agora.

   O passado não podia ser mudado.

   Mas o futuro?

   Ainda era deles para construir.

“Certo?” disse Mahiru com um leve aceno de cabeça. “É por isso que posso aceitar ter pais sem amor. Nada vai mudar agora, não importa o que eu faça. O passado não pode ser reescrito.”

“Sim.”

“Mas, ainda assim, eles nunca agiram como pais de verdade. Não posso reconhecê-los como tal. E, objetivamente falando, o comportamento deles não merece ser reconhecido dessa forma. Para mim, eles nem sequer são registrados como pais.”

“Você tem todo o direito de se sentir assim. Seus sentimentos são só seus, e você não precisa se sentir culpada por isso.”

“... Obrigada. Isso significa muito.”

   Amane entendia. Ele entendia por que ela não conseguia pensar neles como pais e acreditava que ela tinha todo o direito de se sentir assim.

   Aos seus olhos, as ações deles eram imperdoáveis. Um pai não tinha o direito de atropelar a felicidade de seu filho.

   Mas não era da sua conta se intrometer nos assuntos familiares dela — ainda não. Então, ele conteve essas palavras e as guardou para si.

“...Irmãos, hein?” murmurou Mahiru. “Provavelmente foi melhor que eles nunca tivessem outro filho. Não consigo imaginar alguém nascido entre esses dois tendo algo próximo de uma família feliz.”

   Após uma longa pausa, seus pensamentos voltaram à conversa que tivera com seus colegas de classe mais cedo.

“...Famílias são realmente complicadas. O que significa ser uma família? Acho que não sei a resposta certa.”

   Não havia dor em sua voz. Na verdade, parecia que as palavras haviam saído sozinhas, trazendo consigo uma estranha espécie de alívio.

   Foi por isso que Amane não adoçou a pílula. Ele apenas disse o que estava pensando.

“Acho que não existe uma.”

“Huh?”

   Mahiru olhou para ele, piscando. Quer ela não esperasse uma resposta ou simplesmente tivesse sido pega de surpresa pela forma como ele respondeu, ela o encarou com uma confusão inexpressiva, quase infantil, no rosto.

“Quer dizer, talvez não exista apenas uma resposta certa.”

   Amane sabia que tinha sorte. Crescera em um lar amoroso, sabendo que era amado e que recebia amor em troca. Mas, mesmo assim, nunca acreditou que o jeito de sua família fazer as coisas fosse o único.

   Para ele, não havia uma definição única e universal do que tornava uma família “correta”.

“Acho que é possível olhar para trás e perceber que algo estava certo, em retrospectiva — e não o contrário. Dizer a si mesmo que um certo jeito é o melhor e se comprometer com ele não o torna certo. Cada pessoa em uma família é uma variável, e cada família tem sua própria equação. Não existe uma solução única para todos que nos diga como uma família deve ser. Cada lar tem seus próprios valores, seus próprios desafios... e sua própria resposta que é certa para eles.”

   Amane era verdadeiramente grato pela família que tinha. Mas também jamais chamaria sua experiência de padrão-ouro. Não suportava a mentalidade de que apenas uma versão de família era válida e todo o resto estava errado. Esses eram seus verdadeiros sentimentos.

“Acho que é algo que você descobre com o tempo,” disse Amane. “Você comete erros, tenta caminhos diferentes... e busca o que parece certo. Se você puder olhar para trás um dia e dizer: ‘Estou feliz que esta tenha sido a minha família,’ então saberá que teve sucesso. Então, não — não acho que exista apenas uma resposta certa para o que uma família deveria ser. Mas acho que definitivamente existem respostas erradas.”

   Abusar de uma criança. Maltratar um dos pais. Abandonar um membro da família. Se algumas famílias consideravam esses os valores certos a se ter, para Amane, tais famílias já eram erradas. Ele não conseguia aceitar isso — e não aceitaria. Nunca tentou impor seus valores aos outros, mas quando considerou o tipo de família que queria construir um dia, percebeu que não havia espaço para esse tipo de pensamento.

“Mahiru, você quer encontrar uma solução que pareça perfeita para todos os outros?” perguntou ele gentilmente.

“...Eu não quero. Mesmo que não seja perfeita, eu só quero algo que pareça certo para nós. Ninguém mais pode nos dizer que está errado.”

“Viu? Você entende.”

   Quando Amane assentiu com um aceno baixo e orgulhoso, percebeu que a tensão na expressão de Mahiru diminuiu um pouco.

“Se você estiver tão preocupada, é só falar comigo. Eu não pareço o tipo de cara que dispensaria uma conversa séria, pareço?”

“...Não, você não parece. Você sempre me escuta e sempre fica ao meu lado.”

“Exatamente. Então eu vou escutar e vamos resolver as coisas juntos. Vamos pensar bem, analisar todas as opções e escolher o que parecer certo. E se errarmos... então encontraremos a próxima solução juntos.”

   Haveria momentos em que eles tomariam a decisão errada. Momentos em que tropeçavam, enfrentavam arrependimentos ou cometiam erros que não conseguiam desfazer. A vida não vinha com um botão de rebobinar. Você só podia vivê-la uma vez.

   Mas ter alguém ao seu lado que te escolheu, que se preocupava junto com você, muda tudo. Mesmo nos piores momentos, as coisas não pareciam desesperadoras. E enquanto continuassem se comunicando, continuassem tentando, ainda poderiam buscar o melhor resultado juntos.

“…Isso me faz sentir melhor.”

“Deixa comigo; vou colocar meu cérebro não tão brilhante para funcionar.”

“Nossa, você não precisa ficar se menosprezando.”

   Desta vez, Mahiru finalmente deu a Amane uma risada genuína e divertida.

   Ao ver isso, Amane sorriu aliviado.

   Então, como se todo o peso em seu coração finalmente tivesse se dissipado, Mahiru se inclinou gentilmente contra ele. Ele acolheu sua presença sem pensar duas vezes.

   Amane apertou delicadamente a mão de Mahiru, apreciando seu calor e maciez quando, de repente, ela emitiu um pequeno som curioso.

…Hmm? Isso foi…

“O que houve?” perguntou ele, inclinando-se ligeiramente para ver melhor o rosto dela.

   Mas ela não respondeu. Em vez disso, encarou-o em silêncio por um momento e, em seguida, rapidamente virou a cabeça.

   Um leve rubor surgiu em suas bochechas. Seria porque ainda estavam de mãos dadas? Ou... seria outra coisa?

“…Na verdade, deixa pra lá. Finja que eu não disse nada.”

“O quê? Fingir?”

“E, por favor, não pergunte por quê.”

“Okay, okay. Eu não vou perguntar se você não quiser.”

“Isso também não adianta, sabe. Você deveria pelo menos perguntar direito.”

“O quêêê…?”

"Hehe, estou brincando... Você não precisa perguntar, e eu não vou contar. Por enquanto."

"Por enquanto, é?"

"Quando eu vou, depende tudo de você, Amane-kun."

   Os olhos de Mahiru brilharam maliciosamente enquanto ela levava um dedo aos lábios para gesticular um ‘shh’ brincalhão. Seu doce e provocador sorriso parou Amane no meio do caminho. 

   Completamente desconcertado, ele passou a mão pelos cabelos, como se tentasse tirar os pensamentos confusos da cabeça.

"Meu eu do futuro carrega o peso do mundo nas costas..."

"Ele carrega mesmo.”

   Mahiru se iluminou com seu sorriso mais radiante do dia e, por um momento, Amane ficou atordoado demais para falar.

   Então, lentamente, um sorriso suave se formou em seus lábios.

     Contanto que ela esteja feliz, pensou ele, é isso que importa.

 

-DelValle: Foi uma intenção silenciosa de morarem juntos em comunhão conjugal como uma família? Posso apostar que sim! Que capítulo bom minha gente, um extra que caiu como algodão nesse dia chuvoso. E também, ou seja, a bucha do pedido está nas mãos dele mesmo. Top!

-MoonlakGil: Eu pensei a mesma coisa kakakaakak Eles praticamente afirmaram que vão ficar juntos para sempre, construir uma família e estarem sempre unidos independente da situação, e eu sei que isso é meio óbvio, pelo andar da carruagem, mas os ouvir afirmando isso me deixa quentinha por dentro… Ai ai meu santo açúcar, é muito amor para uma amante de romances hehe

 

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora