O Anjo da Porta ao Lado Me Mima Demais Japonesa

Tradução: Mie

Revisão: Saki


Volume 1

Uma Recompensa para o Anjo

“Bom, acho que é assim as coisas são,” Amane resmungou enquanto olhava a lista de nomes de cima a baixo. As classificações das provas da semana anterior haviam sido divulgadas, então o Amane apareceu para verificá-las como o resto de sua turma.

Chegando no vigésimo primeiro lugar, o Amane estava em torno de sua pontuação habitual. Foi uma pontuação bastante boa, mas dificilmente um resultado que se destacasse. Ele não achou este exame mais desafiador do que os anteriores, embora ainda fosse um alívio ver que ele tinha se saído tão bem quanto esperava.

Sem surpreender ninguém,  a Mahiru reinou sobre todos os outros em sua posição típica de primeiro lugar. Ela era realmente um gênio, mas o Amane sabia muito bem que ela não havia alcançado essa posição sem se esforçar. Amane frequentemente a via estudando depois do jantar. Ele não estava disposto a argumentar que a Mahiru não era inteligente, mas ele tinha certeza de que foi o trabalho duro que a colocou no topo mais do que qualquer outra coisa.

“Shiina em primeiro lugar de novo, não é?”

“É claro que ela está. O anjo está em um nível totalmente diferente.”

Essas declarações fizeram o Amane fazer uma cara feia.

“...O que há com esse olhar? Sua classificação foi tão ruim assim?” Itsuki se aproximou, intrigado com a expressão estranha de seu amigo.

Somente as cinquenta melhores notas das provas foram publicadas. Assim, o Itsuki não veio para ver seu próprio resultado, mas sim para acompanhar o Amane.

“Não é nada. Eu estou em vigésimo primeiro lugar.”

“Oh? Não está melhor do que a última vez?”

“Só um pouco. É preciso considerar a margem de erro.”

“Uau, vocês, pessoas inteligentes, até falam de forma diferente de nós, pessoas comuns.”Itsuki sorriu.

“Sim, sim.” Amane ignorou o sarcasmo de seu amigo e voltou para as classificações das turmas. Ele sabia que a Mahiru dava tudo de si quando se tratava de estudar. No entanto, ela não gostava de mostrar todo esse esforço, por isso trabalhou incansavelmente em segredo para fazer com que seu sucesso parecesse natural. Os outros poderiam elogiá-la ou chamá-la de gênio, mas como não sabiam de toda a luta nos bastidores, eles não conseguiam reconhecer as verdadeiras realizações dela.

Essa deve ter sido uma forma opressiva de viver para a Mahiru.

“...Eu deveria pelo menos fazer alguma coisa,” Amane sussurrou.

“Hmm? O que você disse?”

“Nada. Venha, vamos para a aula.”

“Beleza.”



“Hã? O que é isso, Amane?”

Mahiru tinha ido ao supermercado e voltou com os ingredientes para o jantar. Quando ela começou a colocá-los na geladeira, uma caixa branca, visualmente desconhecida, chamou a sua atenção.

“Hmm? Ah, é um bolo.”

Era provável que a Mahiru já tivesse uma ideia do conteúdo da caixa com base em seu formato, mas ela foi em frente e perguntou mesmo assim. Amane tinha ido a uma confeitaria da qual a Chitose falava muito nas redes sociais para comprar o bolo.

“...Você gosta de bolo?” Mahiru perguntou.

“Na verdade, não. Eu comprei ele para você.”

“O que? Por quê?”

“Eu achei que seria legal como uma pequena comemoração, porque você foi a melhor da nossa série na prova. É para parabenizá-la.”

Mahiru piscou rapidamente algumas vezes, incapaz de processar o fato de que o bolo era para ela. Ela parecia bastante surpresa.

“M-mas eu sempre fico em primeiro lugar, então não é algo para se comemorar,” ela protestou.

“Bom, você está sempre trabalhando duro, então pensei que seria bom receber uma recompensa desta vez. É um bolinho. Espero que você goste dele.”

“Hã? Eu quero dizer… Eu não odeio isso nem nada…”

“Ótimo. Coma depois do jantar.”

Enquanto a Mahiru ainda parecia um pouco preocupada, o Amane interrompeu a conversa ali mesmo. Ele decidiu que seria melhor agir como se isso não fosse nada demais, já que a Mahiru sempre parecia incomodada quando as pessoas a tratavam como se ela fosse especial.

Mahiru era o tipo de pessoa que se esgotava cuidando dos outros, mas acaba se negligenciando. Amane nunca tinha visto a garota fazer agradável para seu próprio bem, e sempre que alguém a elogiava ou demonstrava apreço, ela simplesmente redobrava seus esforços e se rebaixava.

Resumindo, a Mahiru não era boa em aceitar a bondade dos outros. Amane não a conhecia há muito tempo, mas tinha certeza de que isso era verdade. É por isso que ele queria retribuir um pouco da gentileza que ela sempre mostrava a ele.

Amane sorriu novamente enquanto a Mahiru preparava tudo na cozinha e começava a cozinhar para aquela noite.

Depois do jantar, a Mahiru colocou o bolo em um prato e o levou até a mesa de café com uma expressão nervosa. Amane não pôde deixar de rir ao ver isso. 

“P-por que você está rindo?”

“Nada. Não se preocupe com isso.”

“Não parece ser nada.”

“Está tudo bem— pare de se preocupar.”

Amane achou engraçado o fato da Mahiru estar agindo de forma tão rígida, mas a risada dele claramente a incomodou. Ele deveria estar lhe demonstrando apreço, não tirando sarro dela, então o Amane rapidamente calou a boca.

Mahiru colocou o bolo e o café que trouxe sobre a mesinha e se sentou no sofá.

Os movimentos dela ainda estavam um pouco desajeitados, e o Amane sentiu outra vontade de rir chegando, mas a Mahiru estava sentada ao seu lado agora, então ele fez o possível para reprimir a tentação.

Com um olhar tímido, a Mahiru olhou para o Amane.

“Certo, então parabéns,” ele disse.

“...Muito obrigada. Mas…”

“Está tudo bem; apenas aproveite. Você se esforçou muito.”

“Isso é verdade, mas…”

“Vamos, coma. Até você deveria se presentear com algo agradável de vez em quando.”

O ato foi concluído, e o bolo já estava aqui. Mahiru não podia se opor a isso. Ela fez um pequeno aceno com a cabeça antes de pegar o prato de bolo e um garfo.

“Muito bem, então aceitarei com gratidão,” ela disse.

“Por favor, vá em frente.”

Com um movimento ágil, a Mahiru cortou o bolo em pedaços pequenos com o garfo e experimentou cautelosamente. Amane imaginou que as garotas eram naturalmente muito exigentes com seus doces, mas como ele comprou o bolo em uma das lojas favoritas da Chitose, ele estava bastante confiante de que era uma boa escolha.

Ele sabia que seu palpite estava correto quando viu os olhos da Mahiru se arregalaram um pouco quando ela colocou o bolo na boca e, em seguida, os cantos da boca dela relaxaram um pouco. Normalmente, as expressões da Mahiru não mudavam muito, mas, recentemente, ela se tornou um pouco mais animada, ou talvez o Amane tenha se tornado melhor na leitura das emoções dela.

A expressão suave e despreocupada que a Mahiru deixou transparecer enquanto saboreava lentamente seu bolo era uma que ela fazia apenas enquanto comia.

“...Hmm? Tem alguma coisa errada?” Ela deve ter notado o Amane encarando ela, e ele rapidamente desviou o olhar.

“Não, nada,” ele respondeu apressadamente.

Agora era a vez da Mahiru encarar o Amane. De repente, ela pegou o garfo novamente, como se tivesse acabado de ter uma ideia. Ela espetou uma garfada de bolo e o ofereceu ao Amane de maneira sugestiva. Em outras palavras, ela estava se oferecendo para alimentá-lo.

“Ah, hum… não, obrigado, Eu realmente não quero nada,” Amane protestou.

“Mesmo?” Mahiru perguntou.

“...Não, bom, hum… se estiver tudo bem, acho que vou comer um pouco, mas, uh…” Amane certamente não esperava esse desenvolvimento. Sem saber o que fazer, ele concordou reflexivamente.

Uma linda garota, alimentando-o com bolo. Para muitos garotos adolescentes, seria a realização de um sonho. Infelizmente, a timidez do Amane o impediu de aproveitar a situação tanto quanto ele gostaria.

“Foi você quem comprou, Amane, então você também tem que ter um pouco.”

Mahiru parecia totalmente inconsciente de qualquer uma das implicações por trás de sua ação. Ela manteve uma expressão comum e sem noção enquanto segurava o bolo em direção à boca dele.

Não havia como ele rejeitá-la, então o Amane se preparou e mordeu.

Um sabor incrivelmente açucarado o atingiu instantemente. 

“...Isso é absurdamente doce,” ele disse.

“Bom, é um bolo.”

Isso não era o que o Amane realmente queria dizer, mas a Mahiru permaneceu sem perceber.

A doçura se espalhou pela boca do Amane enquanto ele mastigava, mas ele estava muito preocupado com outra coisa para apreciar o sabor.

“...Isso não parece estranho para você, parece?” Amane questionou em voz baixa. Ele estava praticamente engasgando com a doçura e a vergonha, e a Mahiru estava agindo como se tudo isso fosse normal. Amane pegou o garfo da mão da Mahiru e estendeu um pedaço de bolo para ela, da mesma forma que ela havia feito com ele.

A reviravolta é um jogo justo, certo?

“...Hum.” Mahiru hesitou.

“Coma,” Amane insistiu, com um tom surpreendentemente forte. Mahiru parecia ainda mais confusa. Talvez sabendo que foi ela que havia começado com isso, ela decidiu entrar no jogo e, timidamente, deu uma mordida rápida. A ação lembrou o Amane de um pequeno pássaro mordendo algo.

Amane olhou para a Mahiru enquanto ela mastigava e, aos poucos, sentiu uma mudança. No início, ela parecia completamente confusa, mas quando sua boca se moveu, uma leve vermelhidão se espalhou pelo rosto da Mahiru. No momento em que ela engoliu o bolo, não havia como esconder seu óbvio constrangimento. As bochechas normalmente alvas da Mahiru agora se assemelhavam a maçãs, e seus olhos estavam brilhando, levemente embaçados de lágrimas.

“Então, o que você acha?” Amane perguntou.

“É-é d-delicioso…”

“Não o bolo. O que você acha de ser alimentada?”

Com certeza, a Mahiru entendia agora como o Amane havia se sentido antes, e seus olhos se desviaram para o chão enquanto tremia levemente.

“...Eu estou com muita vontade de fugir.”

“Eu aposto que está. Esse é exatamente o tipo de coisa que pode dar às pessoas uma ideia errada, sabe. Guarde isso para as suas amigas, certo?” Amane se virou bruscamente para enfatizar seu ponto.

“Tá bom,” Mahiru respondeu com uma voz que mal passava de um sussurro.

 Ela provavelmente só alimentou o Amane tão facilmente porque ela confiava nele. A Mahiru não tinha intenção de causar nenhum mal com isso, é claro, mas ainda assim era problemático.

Um doce persistente ainda se mantinha no interior da boca do Amane.

Suponho que alguém se sentir muito seguro ao seu redor possa ser um problema por si só.

No final, a Mahiru se enrolou em uma bola ao lado do Amane, parecendo um pouco envergonhada enquanto deixava escapar um pequeno suspiro.



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