Volume 1
A Invasão da Mãe
Ter pedido para a Mahiru pegar sua porção de fruta assim que o pacote chegasse acabou sendo um grande erro. Quando o Amane ouviu o som do interfone e a voz aguda e maliciosa que gritava “Aa-maaa-neee!” através dele, ele entendeu que estava com problemas.
Amane ficou muito grato com a proposta da Mahiru de fazer o almoço para ele no sábado. No momento, isso parecia uma verdadeira benção dos céus. De fato, a carbonara que ela preparou estava deliciosa. O molho encorpado e o toque de pimenta-do-reino eram uma combinação perfeita, e estava tremendamente saboroso.
Mahiru não tinha feito nada errado. A culpa era do próprio Amane por não ter percebido de antemão o que a sua mãe quis insinuar ao pedir para ele estar em casa no sábado para receber a entrega, e a própria mulher irritante que adorava surpresas.
“...Hm, Fujimiya? Aquela é a entrega…?” Mahiru perguntou.
“Nope. Aquela seria a minha mãe. Ela provavelmente está usando a sua chave duplicada para passar pela porta da frente e está subindo agora mesmo,” Amane explicou. Pensando melhor, foi o próprio erro dele ter levado a sério o que a sua mãe havia dito. De uma forma ou outra, ela sempre criava situações que permitiam que ela viesse verificá-lo.
“...Uh, sua mãe?”
“Ela provavelmente veio ver se eu estou me dando bem… e não me disse que estava vindo. Provavelmente porque sabia que eu faria uma limpeza com antecedência.”
“Uh-huh…”
“Eu sei que tudo isso é um pouco difícil de engolir, mas isso não importa agora.”
No momento, o problema era o que fazer com a Mahiru. Se a mãe do Amane ainda estivesse no saguão do andar de baixo, ele poderia ter mandado a Mahiru para o seu apartamento, mas isso estava fora de questão agora que ela estava se aproximando da sua porta. Ao mesmo tempo, a mãe dele certamente teria uma ideia errada se ele a convidasse para entrar em seu apartamento e ela encontrasse a Mahiru. Não havia dúvida de que a Mahiru odiaria isso tanto quanto o Amane.
Quanto mais o Amane pensava no que fazer, mais perto sua mãe chegava de simplesmente invadir.
Eu não posso acreditar que isto está acontecendo… o Amane teve uma ideia, mas ele não gostou disto.
“...Me desculpe, Shiina, mas, por favor, você poderia se esconder no meu quarto?”
“Huh, O-o quê?
“Leve as suas coisas com você e, assim que eu encontrar uma maneira de levar a minha mãe para fora, você pode voltar para o seu apartamento. Eu realmente sinto muito, mas, por favor?”
Sem outra opção viável, o Amane assumiu o controle e orientou a Mahiru a se esconder. Felizmente, eles já tinham terminado a limpeza após o almoço, então isso não seria um problema. Se ele escondesse os sapatos dela no armário de sapatos, eles não seriam descobertos, e a Mahiru poderia simplesmente levar seus pertences pessoais para o quarto do Amane.
O plano era deixar que a mãe do Amane fizesse uma rápida inspeção no apartamento enquanto a Mahiru estava escondida. Amane mencionaria à sua mãe que ele queria muito comer a comida caseira dela, algo que provavelmente a manteria ocupada demais para entrar no quarto dele.
Custe o que custar, o Amane tinha que impedir que a sua mãe entrasse no quarto.
Ele iria pedir propositalmente que a sua mãe cozinhasse algo que usasse um ingrediente que ele não tinha na geladeira. Se os dois saíssem juntos para fazer compras, isso daria a Mahiru uma oportunidade de escapar.
Amane explicou apressadamente a Mahiru que esse plano era a única opção, enquanto entregava a ela sua chave reserva e pedia que ela cooperasse com a maior sinceridade que ele conseguia reunir.
“C-certo,” ela disse, balançando a cabeça em sinal de perplexidade.
Na verdade, o depósito também era uma opção, mas o Amane não queria que uma garota esperasse lá. Não tinha calefação, o que significava que fazia bastante frio nesta época do ano. O quarto do Amane tinha um aquecedor adequado, além de almofadas macias. Não seria bom ter a Mahiru sentada em um piso descoberto enquanto ela tremia de frio.
“...Certo, estou contando com você. Eu tenho que lidar com a minha mãe, então…”
Mesmo antes de ver a sua mãe, o Amane parecia abatido. Ele se dirigiu para a entrada, enquanto Mahiru entrava silenciosamente no quarto. Depois de se certificar de que o anjo estava escondido, o Amane, relutante, abriu a porta da frente.
“Meu deus, Amane, você demorou muito. Fico feliz em ver que você está bem. Eu estava começando a me perguntar se você estava dormindo.”
Lá estava a mãe do Amane, parada na porta de seu apartamento. Ele não a tinha visto desde as férias de verão.
Embora ela fosse uma mãe, seria difícil dizer isto apenas por sua aparência. Não era apenas o fato de seu rosto parecer jovem, ela também não aparentava a idade que tinha. Ela tinha a mesma expressão de felicidade que tinha quando o Amane ainda morava em casa.
“Sim, sim, eu estou perfeitamente bem, então, que tal ir para casa?”
“Como você pode dizer isto para a sua própria mãe? Levei várias horas para chegar aqui, sabe? Eu nem recebo um obrigado?”
“Muito obrigado por viajar uma longa distância, agora, por favor, vá para casa.”
“Vamos lá, não diga estas coisas. Não é muito cativante. Você deveria agir mais como o Shuuto, seu pai!”
“Os homens não precisam ser cativantes, não é mesmo?” Enquanto o Amane cuspiu suas palavras com acidez, sua mãe, Shihoko, não parecia nem um pouco incomodada, em vez disso, mas sim com um ataque de riso.
“Você realmente chegou à sua fase rebelde!” ela disse. “Espero que você não esteja planejando que eu fique do lado de fora o dia todo. Eu estou entrando, tá bom?”
“Espera, ninguém disse que você poderia—”
“Você se esqueceu de que seu pai e eu pagamos o aluguel deste lugar?”
Não havia nada que o Amane pudesse fazer para argumentar ou recusar sua mãe depois que ela tinha jogado essa carta. Com relutância, ele permitiu que ela entrasse.
Para evitar que ela fosse para o quarto, o Amane orientou casualmente sua mãe a passar pela porta do quarto e entrar na sala de estar.
“A propósito, você realmente deveria me dizer com antecedência quando planeja visitar,” Amane disse.
“Agora, eu não conseguiria ter uma imagem adequada da situação de vida do meu filho se eu não aparecesse sem avisar, não é mesmo?” Shihoko respondeu.
“Ugh… Não há problema algum, certo? Eu estou mantendo o lugar limpo.”
“Você certamente está; Eu estou surpresa. Você nunca manteve seu quarto limpo em casa, mas, você está se saindo melhor do que eu esperava. Eu estou surpresa.” Shihoko acenou seriamente com a cabeça, parecendo genuinamente perplexa enquanto examinava a sala de estar.
A verdade não dita era que o seu apartamento estava limpo apenas porque a Mahiru tinha ajudado o Amane a limpar. Os conselhos e as constantes repreensões dela também foram uma grande parte de como o apartamento conseguiu se manter limpo. Realmente, a Mahiru merecia a maior parte do crédito, mas não tinha como o Amane dizer isto a sua mãe agora.
“Sua pele também parece boa; você deve estar se alimentando bem,” Shihoko observou.
“...Sim,” Amane admitiu, incapaz de encarar os olhos da sua mãe. Até mesmo a melhora na sua saúde era algo que ele devia ao anjo.
“Você está até cozinhando direito, hein. Oh, mas parece que você está cozinhando para dois?”
O dedo bem cuidado da Shihoko estava apontando para a prateleira de pratos dele. Duas pessoas haviam almoçado, então, obviamente, havia dois conjuntos de pratos. Descuidadamente, o Amane se esqueceu de guardá-los. Ele deveria ter se lembrado de como a sua mãe era perspicaz.
“Sim, recebi um amigo em meu apartamento.” A resposta do Amane não foi bem uma mentira. Ele falou com a maior indiferença que conseguiu, fazendo o possível para não tremer. Era justo dizer que ele e a Mahiru construíram algo parecido com uma amizade, então não era exatamente falso. Apenas havia um pequeno problema de esconder que o amigo em questão era uma garota.
“Hmm,” Shihoko respondeu com um tom que sugeria que ela realmente não aceitava essa explicação como verdadeira. Ela examinou novamente a sala de estar.
“Eu suponho que você tenha conseguido uma nota de aprovação. Você está se saindo tão bem que mal posso acreditar que é um garoto morando sozinho,” a mãe do Amane finalmente admitiu.
De alguma forma, o Amane conseguiu enganá-la, mas, por pouco. Estranhamente, ele sentiu um calafrio percorrer sua espinha e estava suando muito. Por outro lado, talvez ele não devesse ter ficado tão surpreso por ter passado na inspeção da sua mãe. Mahiru realmente tinha mudado algumas coisas para ele, afinal de contas.
“Veja, não tem nada com que se preocupar, mãe.”
“Eu suponho que não; embora eu mal possa acreditar. Você mal podia fazer algo por si mesmo em casa. Você cresceu muito.”
“...Eu sou basicamente um adulto. Amane respondeu, embora, internamente, tenha zombado de si mesmo por ter a audácia de dizer tal coisa.
“Bom trabalho,” Shihoko elogiou, sorrindo.
Amane ficou um pouco desconfortável ao ouvir isso, já que ele não tinha feito nada disso sozinho. No entanto, não havia como arriscar contar a verdade à sua mãe, então ele teria que deixar as coisas como estavam e tentar tirá-la dali.
Ela praticamente terminou sua avaliação, certo? Será que eu consigo fazer com que ela vá embora sem dizer nada sobre querer comer a comida dela ou algo do tipo? Amane pensou.
“Isso apenas deixa a verificação do quarto, eu suponho,” Shihoko pensou com despreocupação.
Os olhos do Amane se arregalaram ao ouvir essa bomba. A Mahiru ainda estava lá dentro. Se a sua mãe encontrasse uma garota escondida no quarto, o desastre seria muito maior do que se o Amane tivesse revelado a Mahiru desde o início.
“Ei, não brinque com isso. Mesmo que você seja minha mãe, não quero que fique vasculhando o meu quarto.”
“Oh? Tem alguma coisa aí que o envergonha?” Shihoko pressionou.
“Provavelmente, há uma ou duas coisas constrangedoras no quarto de qualquer aluno do ensino médio, se você pensar bem.”
“Então, você admite?”
“Sim, eu admito. Por favor, não entre aí.”
Embora isso fosse vergonhoso, não havia outra opção. Amane foi obrigado a concordar com a suposição da sua mãe para impedi-la que entrasse no quarto. Se ela descobrisse a Mahiru no quarto do Amane, ela certamente teria a ideia errada. Tanto para o seu próprio bem quanto o da Mahiru, o Amane precisava evitar isso a todo custo.
Quando a mãe do Amane o viu bloqueando a porta do quarto, tentando desesperadamente impedir que ela passasse, ela percebeu imediatamente que ele estava escondendo algo. Aproximando-se de seu filho, Shihoko disse, “Suponho que você já seja adulto, se está escondendo esse tipo de coisa de seus pais.”
Se fosse preciso, o Amane estava preparado para manter sua mãe fora de casa à força, se necessário, embora admitisse não gostar dessa ideia. Ele estava pronto para impedi-la, mas então…
Bum. Houve um barulho vindo de dentro do quarto.
“Amane…”
“Sim?”
“O que você está escondendo?”
“...Não tem nada a ver com você, mãe.”
“É o que você diz.” Um sorriso largo se espalhou pelo rosto da Shihoko.
Era o tipo de sorriso coercitivo que não podia ser negado. Amane ficava extremamente desconfortável toda vez que olhava para ela dessa forma. Era uma forma de enfraquecer sua força de vontade para se opor a ela.
Amane gemeu, e a Shihoko viu uma abertura. Ela colocou a mão na maçaneta do quarto dele e, quando o Amane percebeu, já era tarde demais. Shihoko passou pelo o Amane, com a intenção de descobrir a origem do barulho do outro lado da porta.
O que os olhos dela encontraram além da barreira que o Amane falhou em proteger foi a figura de uma linda garota. Ela estava encostando as costas na lateral da cama e abraçando uma almofada no peito. Os olhos da garota estavam fechados e sua respiração era um ritmo suave. Mahiru já havia cochilado quando a Shihoko a descobriu.
Uma sala quente com um aquecedor e um estômago cheio depois do almoço eram as condições perfeitas para um cochilo à tarde. Amane não pôde deixar de se perguntar se a Mahiru costumava dormir em quartos de garotos, mas tudo o que isso realmente confirmava era que ela achava o Amane inofensivo o suficiente para cochilar em seu quarto.
Ele não poderia culpá-la por isso. Ficar sentada imóvel para não fazer barulho provavelmente tinha se tornado uma chatice muito rápido.
O principal problema era, obviamente, a Shihoko, que havia chegado no momento errado para testemunhar uma situação que ela com certeza não entenderia. Se o Amane estivesse observando de fora, ele também teria tido uma ideia errada. Ele teria presumido que eles eram tão íntimos que a Mahiru não tinha nenhum problema em tirar uma soneca em seu quarto.
Fazendo careta o tempo todo, o Amane olhou para a sua mãe e viu que os olhos dela estavam brilhando. Ele só podia imaginar a comoção que ela estava prestes a causar.
“Nossa, Amane, você tem uma namorada tão adorável!” Shihoko gritou com sua voz jovem. “Ela não é o tipo de garota que você pode simplesmente esconder em um canto, você sabe!”
Amane sentiu uma dor de cabeça chegando.
Ela chegou imediatamente à pior conclusão possível e, para piorar as coisas, ela estava claramente muito animada com a ideia de que o seu filho estava namorando uma garota tão adorável. Não havia dúvida de que até a mãe do Amane estava encantada com a beleza da Mahiru.
A Mahiru parecia tão vulnerável quando estava dormindo. A postura experiente de refinamento elegante que ela sempre usava como máscara havia se dissipado, revelando toda a natureza cativante de sua aparência. Seu rosto bonito nunca tinha parecido tão tranquilo— ou mais bonito.
Amane já estava acostumado com a aparência da Mahiru, mas, ao vê-la assim, ficou mais uma vez impressionado com seu incrível charme. Seu rosto angelical exibia uma serenidade inocente. Mais uma vez, ele sentiu o desejo de estender a mão e tocá-la. A figura dela dormindo, abraçando com força a almofada do Amane, despertou nele muitos desejos que deveriam ser mantidos em segredo.
Esta garota realmente cativante era a namorada do Amane, ou assim pensava a mãe dele. Não era de se admirar que ela estivesse animada.
“Eu suponho que o motivo que você não queria que sua mãe olhasse este quarto era porque sua namorada está aqui? Olhe para você, crescendo bem diante dos meus olhos.”
“Não é isso! Você entendeu tudo errado! Ela não é a minha namorada ou algo do tipo!”
“Vamos, você não precisa inventar desculpas! Sua mãe não tem intenção de se opor ao seu relacionamento, Amane.”
“Não, eu estou te dizendo, esse não é o problema aqui! Não estamos em um relacionamento romântico! Você entendeu totalmente errado!”
“Bom, eu estando errada ou não, ela está em seu quarto agora, não está?”
“Isso é porque você apareceu de repente! Estávamos apenas passando um tempo na sala de estar, mas eu sabia que você não entenderia!”
“Entenda, o problema com essa desculpa é que você nunca deixaria uma garota de quem não gosta entrar em seu apartamento. E eu realmente não acho que uma garota entraria no apartamento de alguém que ela não gostasse, não é mesmo?”
Amane se esforçou para encontrar uma maneira de argumentar sobre o assunto. Sua mãe tinha razão; o Amane era muito territorialista em relação a seus esforços e não estava predisposto a deixar qualquer um entrar em seu domínio.
A primeira vez que a Mahiru entrou no apartamento, ela praticamente forçou a entrada, mas, desde então, ele a recebeu de braços abertos, mesmo quando ela não estava indo cozinhar para ele.
Acho que isso significa que eu realmente gosto dela.
No que dizia respeito ao Amane, ele tinha certeza de que gostava da Mahiru por sua personalidade, e não pela aparência. Havia um lado sincero e honesto dela que ela não mostrava na escola, mas ela achava difícil ser aberta sobre seus sentimentos. Ele gostava da atitude rude e irritantemente prestativa dela, e também da maneira reservada com que se comportava. Quando ela era pega de surpresa, ficava confusa e a máscara caía momentaneamente, o que era outra coisa que ele gostava. Acima de tudo, o Amane gostava especialmente daquele raro sorriso angelical que ele só tinha visto cruzar o rosto dela algumas vezes. Ele supôs que cada um desses atributos eram partes preciosas do encanto da Mahiru.
Se ele tivesse que dizer se aquele era um sentimento de amor romântico, o Amane teria insistido que era outra coisa, mas ele não podia negar que a Mahiru era uma garota maravilhosa por muitos motivos.
“Eu me preocupo com ela como amiga. Nem todo relacionamento entre pessoas do sexo oposto precisa ser romântico, você sabe. E eu tenho certeza de que ela também não se sente assim.” Amane não era o tipo de filhinho da mamãe que obedientemente concordava com tudo o que a Shihoko dizia. Além disso, a Mahiru com certeza se oporia à sugestão de que ela tinha sentimentos por ele.
“Agora, você não sabe disso, Amane! Você não está sendo um tanto presunçoso, achando que sabe exatamente o que o coração dela quer?”
“O que eu posso dizer para que entenda que o nosso relacionamento não é assim, mãe…? Shiina, por favor, me ajude aqui…”
Não importava o quanto ele tentasse explicar, a mãe do Amane já havia se decidido. Amane pressionou o dedo na testa, sem saber o que fazer. Com toda a urgência possível, ele desejou que a Mahiru simplesmente acordasse.
“Nn…”
Ou a oração silenciosa do Amane foi ouvida ou todo o tumulto foi, porque as pálpebras da Mahiru se abriram e ela fez um barulho doce ao levantar o rosto. Seus cabelos cor de linho caíram sobre os ombros. Os olhos brilhantes da garota, cor de caramelo, estavam embaçados de sono, e ela parecia tão vulnerável que, de alguma forma, parecia errado olhar diretamente para ela.
Talvez ela ainda não estivesse totalmente acordada, pois olhava para o Amane de forma vaga, com os olhos ainda relaxados e sonolentos. Amane explicitamente olhou para outra direção.
“Shiina, não me importo que você tenha adormecido, mas houve um mal-entendido, então, por favor, me ajude a esclarecer as coisas.”
“Mal-entendido…?”
“Ei, ei, senhorita namorada, qual é o seu nome?”
A Mahiru ainda estava claramente confusa com o que havia acontecido, mas a Shihoko não hesitou em se aproximar dela, com um sorriso amável e despreocupado e um comportamento excessivamente familiar.
Mahiru estava visualmente confusa, ainda tentando se orientar.
“Hã, uh, um…”
“É importante dizermos nossos nomes uns aos outros quando nos encontramos pela primeira vez, sabe!”
“Ah, E-eu me chamo Mahiru Shiina…”
“Oh, Mahiru, que nome mais fofo! Eu sou a Shihoko; por favor, não seja tímida e me chame pelo meu primeiro nome, certo?”
A Mahiru havia dado seu nome por reflexo quando foi pressionada. Ela olhou para o Amane, seus olhos imploravam por socorro. Infelizmente, o Amane estava desamparado. Ele esperava que a Mahiru o salvasse de alguma forma. Lamentavelmente, ele balançou a cabeça. Ele sabia que, quando sua mãe começava, não havia como pará-la. Ela estava decidida a conhecer mais a Mahiru, e nada iria dissuadi-la agora. Era improvável que ela percebesse o quanto estava deixando a pobre garota desconfortável.
“T-tudo bem, hum… Senhorita, quer dizer, uh, Shihoko…”
“Viu? Isso soa mais como minha nora.”
“Fujimiya!”
“Assim poderia estar se referindo a qualquer um de nós, sabe? Certo, Amane?”
“Mãe, você está incomodando a Shiina.”
“Amane, você não deve ser tão formal com sua doce nova namorada; chame-a pelo primeiro nome!”
Shihoko não parecia predisposta a ouvir qualquer coisa que alguém dissesse. Amane fez uma careta para ela, mas ela não dava sinais de que iria desistir. Seu sorriso era largo e totalmente sem vergonha.
“Ah, um, Shihoko?”
“Sim, querida?”
“Ele e eu…”
“Ora, eu não sei de quem você está falando. Ele quem?”
“...A-amane e eu; nós não estamos namorando.”
Embora ela estivesse obviamente confusa com a pressão verbal da mãe dele, a Mahiru fez o possível para esclarecer as coisas. Infelizmente, ela olhou diretamente para o Amane e até foi forçada a chamá-lo pelo seu primeiro nome, o que aparentemente era exatamente o que a Shihoko queria. O sorriso da mulher mais velha tornou-se ainda mais largo.
“Bom, eu acho que leva tempo para coisas como essa florescerem. Algo para se esperar.” Shiho disse, de forma bastante presunçosa.
“Eh, ah, um, não é isso…,” Mahiru disse, tentando se opor.
“Ah não, eu devo ter me intrometido justamente quando as coisas estavam ficando boas!”
“U-um, eu quero que você me deixe explicar direito! Eu não tenho esse tipo de relacionamento com o… Amane. Estávamos apenas almoçando juntos porque o Amane não sabe cozinhar!”
“Que noiva maravilhosa você será, querida. O meu Amane decidiu viver por conta própria, mesmo sendo incapaz de fazer qualquer tipo de trabalho doméstico. Então, eu realmente aprecio você apoiá-lo.”
“Não, uh—”
Mahiru fez um esforço heróico, mas, a essa altura, ela poderia muito bem estar batendo a cabeça contra a parede. No momento em que ela mencionou visitar o apartamento do Amane, cozinhar lá e sentar na mesma mesa que ele, o brilho nos olhos da Shihoko mudou. A mãe insistente, de alguma forma, parecia ainda mais descontrolada do que o normal para o Amane.
Quando a Shihoko ficou assim, ele sabia que não havia nada que pudesse fazer para impedi-la. A única pessoa que já teve alguma chance foi o seu pai, Shuuto.
“Shiina, desista. Minha mãe não dá ouvidos a ninguém quando fica assim.”
“Você não pode estar falando sério…”Mahiru parecia extremamente abatida.
Amane percebeu que eles não estavam chegando a lugar nenhum. Tentar explicar a situação não estava funcionando, e ele claramente não conseguia parar as especulações selvagens de sua mãe.
“De qualquer forma, o meu Amane fez muito bem em conquistar essa beleza. Eu estou surpresa.”
Com o Amane exausto de tanto discutir e a Mahiru sem saber o que fazer, os dois simplesmente ficaram em silêncio.
É possível que a mãe do Amane tenha interpretado o silêncio repentino deles como um sinal de concordância, embora a Shihoko, sem dúvida, já tivesse presumido que o constrangimento deles era prova suficiente de suas suspeitas. Ela estava olhando para a Mahiru sem tentar esconder a curiosidade selvagem em seus olhos.
“O que você acha, Mahiru? Será que o meu Amane realmente vai conseguir viver por conta própria?”
“Uh… Isso é… Bom…,” Mahiru gaguejou. “...O bastante para permanecer vivo…”
“Você deveria ter dito que eu ficaria bem!” Amane interveio.
“Eu me lembro do apartamento estar bem ruim,” Mahiru o lembrou.
“Não traga isso à tona. Eu estou o mantendo limpo agora, não estou?”
“E eu tenho ajudado você com a limpeza esse tempo todo, não é?”
“Isso é verdade, e eu sou grato por isso,” Amane admitiu. “Tudo, de fato— a comida, a limpeza e tudo mais.” Mahiru foi indiscutivelmente a razão pela qual ele foi capaz de viver tão confortavelmente, e ele se curvaria em agradecimento a ela sem qualquer hesitação. Ele sabia que ela não teria feito tanto se odiasse isso, mas ele sempre se esforçou para mostrar seu apreço.
Como já era de se esperar, a mãe do Amane interpretou a conversa de uma forma diferente.
“Bom, Amane, então não foi só o almoço de hoje! A Mahiru tem feito tudo por você esse tempo todo, sua criança incompetente. A maneira como vocês se falam— é como se já estivessem morando juntos!”
“Não! Como você chegou a essa conclusão?! Apenas moramos um ao lado do outro!” Amane rebateu de volta.
“Aha, então foi o destino! Isso não é maravilhoso, Amane? Você me deu uma nora tão linda.”
“Eu não nego que ela seja linda e talentosa, mas sou totalmente contra chamar isso de destino, sorte ou o que quer que seja!”
“Não soa mais romântico assim?”
“Não é isso que eu estou incomodado! Estou lhe dizendo que não temos um relacionamento romântico de forma alguma!”
“Quão persistente você é.” Claramente, a Shihoko estava escolhendo acreditar que o Amane ainda estava muito envergonhado de admitir a verdade.
O rosto do Amane se contorceu em uma careta cada vez mais intensa, e ele soltou o seu suspiro mais pesado dos últimos meses. Ele não conseguia se lembrar de quantas vezes havia sofrido nas mãos da imaginação selvagem de sua mãe. A Shihoko era o tipo de mulher que fazia tudo o que queria.
Quanto a Mahiru, que havia sido pega de surpresa pelo entusiasmo avassalador da Shihoko, ela não podia fazer outra coisa senão olhar para trás e para frente, impotente, entre o Amane e sua mãe, completamente perplexa.
“Mahiru, isso provavelmente é o amor de uma mãe falando, mas o meu Amane não é muito bom com palavras e não é muito franco sobre seus sentimentos, mas ele é fiel e cavalheiro. Eu diria que ele é bom partido. Além disso, ele não tem nenhuma experiência com garotas, então você será capaz de fazer com que ele faça o que você quiser.”
“O que diabos você está dizendo, mãe? Sério, pare com isso.”
Essa última parte, em especial, não é da conta dela, pensou o Amane com raiva.
“Eu quero dizer, é verdade, não é? Se não, por que você não teve outras namoradas? Você se parece com o seu pai, então não acho que seja por causa da sua aparência. Talvez seja porque você é um pouco imaturo?”
“Isso n-não é da sua conta.”
“Você realmente deveria se esforçar mais para agir com calma na frente da Mahiru, sabe.”
“Eu não vou, e ela também não está interessada,” Amane protestou.
“Ah, vamos! Querida, você pode treiná-lo para atender às suas preferências, sabe. O Amane fica bem arrumado se você o vestir.”
Shihoko, sorrindo loucamente, deu um tapinha novamente na pobre Mahiru, que não pôde fazer nada além de oferecer uma espécie de um sorriso vago em troca. Nem mesmo um anjo poderia retaliar em uma batalha como esta.
“Mãe, você está incomodando ela. Por favor, vá para casa.”
“Que grande homem você se tornou, dizendo para a sua mãe ir para casa.”
“Estou falando sério, por favor. Está bem óbvio que você está deixando ela desconfortável.”
“Ah? É verdade, Mahiru?”
“Não pergunte a ela; ela definitivamente dirá o que você quer ouvir. Só desta vez, por favor, vá. Você pode voltar em outro dia.”
“Bom, se você está indo tão longe, eu suponho que entendi a mensagem. Afinal, eu o invadi enquanto você estava sozinho com a sua namorada. É natural que você fique chateado por perder o tempo de vocês sozinhos.”
“Bem, você pode explicar como quiser. Apenas se apresse e vá!”
Amane estava mais do que cansado de discutir com a sua mãe, e toda essa situação devia estar afetando a Mahiru, também. Ele olhou para ela e viu que ela também parecia exausta.
Prometendo internamente demonstrar sua gratidão mais tarde, o Amane afastou a sua mãe e recebeu um olhar de desaprovação amarga em troca. Mesmo assim, a Shihoko não fez nenhum esforço para ficar, então pelo menos ela meio que se importava, embora fosse óbvio que sua visão da realidade ainda era bem diferente.
“Ah, Mahiru, vamos trocar nossos números de contato, podemos? Eu quero um relatório completo mais tarde sobre como o Amane está se saindo, entre outras coisas.”
“Uh, c-certo…?”
Em um último esforço, a Shihoko tentou cravar seus ganchos novamente. Pega no ímpeto poderoso da mulher, a Mahiru acabou trocando os números de contato com ela. Agora a mãe do Amane poderia entrar em contato diretamente com ela. Esse pensamento fez o Amane querer pressionar a mão na testa.
Com um grande sorriso no rosto, a Shihoko segurou a mão da Mahiru e lembrou a garota de cuidar de seu filho. Amane resolveu enviar uma mensagem para o seu pai mais tarde, pedindo para que ele controlasse a Shihoko.
“Eu estou exausta…”
“Me desculpe; ela é como um furacão.”
Shihoko não ficou muito tempo, mas deixou os dois completamente arrasados.
Depois de se jogar no sofá, o Amane colocou a cabeça nas mãos e suspirou profundamente. A Mahiru também se sentou com cuidado, mas sua postura normalmente perfeita estava curvada e abatida. O Amane achava que o anjo poderia lidar com qualquer um, mas até ela não tinha energia depois do encontro com a mãe dele. Ele não tinha certeza se deveria tentar se desculpar.
“Eu realmente não queria que ela fosse para casa acreditando na coisa errada,” Amane admitiu.
“Bom, não há nenhum dano real causado…,” Mahiru disse.
“Não, eu acho que tem… Se ela estava agindo assim, provavelmente significa que ela gostou de você… De uma forma ou de outra, ela vai ser um problema…”
Era realmente lamentável que isso fosse criar um fardo para a Mahiru. O amor da Shihoko por coisas adoráveis, junto ao fato dela pensar que a Mahiru era a namorada do seu filho, quase certamente significava que a mãe do Amane estaria encontrando novas maneiras de meter o nariz onde não devia nos próximos dias. Problemas estavam se aproximando.
“A Shihoko realmente se preocupa muito com você, não é?”
“Essa é uma forma educada de dizer, mas às vezes ela realmente se recusa a ouvir…”
Mais do que uma mãe excessivamente afetuosa, a Shihoko adorava e bajulava o Amane, mesmo que ele odiasse isso. Ele sabia que não deveria reclamar muito, já que provavelmente a culpa era, pelo menos em parte, ele mesmo, por ser tão desleixado. Não era como se ele fosse ingrato por tudo o que a sua mãe havia lhe proporcionado, mas ela podia ser um verdadeiro pé no saco, e ele gostaria que ela lhe desse mais espaço.
“...Que legal,” Mahiru murmurou baixinho.
Amane olhou para ela. “O que é?”
“Sua mãe é uma personagem e tanto, mas também é muito gentil.”
“Isso significa que ela é barulhenta e adora se intrometer.”
“...Mesmo assim, eu acho que é legal.”
As palavras da Mahiru não foram um elogio vazio; ela realmente parecia invejosa ao murmurar e desviar os olhos.
Uma expressão sombria estava estampada no rosto da garota. Tanto que o Amane pensava que ela poderia chorar a qualquer momento sem um motivo aparente. Qualquer um poderia ter sentido o quão frágil ela estava agora. Era claramente mais do que uma simples exaustão.
Mahiru deve ter percebido que o Amane estava olhando para ela, porque, de repente, olhou para cima e forçou os lábios em um pequeno sorriso. Então, com a mesma rapidez, ela recuperou sua compostura habitual e se recostou no sofá, algo que ela raramente fazia.
“Mahiru, hein?”
“...O que você está dizendo de repente?”
“Nada… Eu estava pensando que fazia tempo que ninguém me chamava pelo meu primeiro nome. A maioria das pessoas apenas se dirigem a mim pelo sobrenome.”
Foi muito surpreendente saber que alguém que parecia tão popular como a Mahiru não tinha amigos próximos o suficiente para chamá-la pelo primeiro nome. Todos na escola a viam como um anjo perfeito. Até mesmo os conhecidos da Mahiru provavelmente mantinham algum grau de formalidade com ela, e ninguém tinha coragem de conhecê-la de verdade. Muitos alunos apenas se dirijam a ela por um apelido do qual a própria Mahiru não gostava.
“Bom, acho que se você não tem nenhum amigo próximo, só restam seus pais, certo?” Amane perguntou.
“Meus pais nunca falariam comigo desse jeito. De jeito nenhum.” A resposta da Mahiru foi fria.
Olhando para ela, o Amane viu que o rosto da Mahiru era uma máscara sem expressão. Ela se assemelhava a uma linda boneca, completamente desprovida de sentimentos. No entanto, isso também durou apenas um segundo, e o rosto da Mahiru mudou novamente quando ela percebeu que o Amane estava olhando para ela. Suas sobrancelhas se abaixaram, como se ela estivesse preocupada com alguma coisa.
“...De qualquer forma, isso não acontece com frequência,” ela murmurou, antes de soltar um suspiro.
Amane já vinha se perguntando há algum tempo se a Mahiru tinha um relacionamento ruim com os seus pais. Já era fácil imaginar que ela tinha problemas em casa por causa do seu comportamento frio sempre que ele tocava no assunto. Além disso, ela nunca saía para comer fora com os pais e odiava seus próprios aniversários, mas o Amane nunca imaginaria que os pais da Mahiru fossem tão distantes a ponto de nem mesmo chamar a garota pelo primeiro nome.
Pensando em como a Mahiru havia dito discretamente que gostava da personalidade da Shihoko, o Amane imaginou como o anjo deve ter se sentindo naquele momento.
“Mahiru.” De repente, o Amane deixou escapar a palavra. Ele nunca havia chamado a sua vizinha pelo primeiro nome antes. A garota em questão piscou seus olhos caramelos. Ela parecia atordoada, e o Amane percebeu que ele a havia pegado desprevenida. A surpresa momentânea revelou uma juventude na Mahiru que ela normalmente mantinha escondida.
“É o seu nome. Alguém deveria chamá-la por esse nome,” Amane argumentou.
“...Eu suponho que você está certo,” Mahiru respondeu de forma direta. Alguns momentos depois, um pequeno sorriso apareceu. O peito do Amane tremeu quando ele o viu.
“...Amane.”
Quando ele ouviu a voz dela pronunciar o seu primeiro nome, a agitação se transformou em uma tempestade. Talvez fosse porque, até um momento atrás, era a sua mãe quem o chamava pelo seu primeiro nome, mas quando a Mahiru o chamou pelo primeiro nome cara a cara, ele sentiu a inquietação e a impaciência em seu peito se agitarem e rugirem.
“Por favor, não me chame assim lá fora, certo?” Mahiru lembrou.
“...Eu já não estava planejando isso. Isso também vale para você. Não se descuide fora do apartamento.”
“Entendi. Esse é o nosso segredo, né?”
Amane não conseguiu olhar diretamente para a Mahiru, pois ela estava sorrindo um pouco. Desviando o olhar, ele concordou e se remexeu em seu assento, virando-se para escapar do sorriso do anjo.
Embora a invasão da Shihoko no sábado tenha sido um pesadelo, nada mudou muito além da forma como o Amane e a Mahiru se referiam um ao outro.
Eles não haviam se tornado mais próximos de repente. O fato de se dirigirem um ao outro de forma um pouco mais direta não era grande coisa. No máximo, talvez o comportamento da Mahiru tenha se suavizado um pouco, mas foi só isso.
“...Hum, Amane?”
Mahiru chegou mais cedo do que o normal para jantar no domingo, talvez se sentindo um pouco desconfortável, pois parecia preocupada.
Amane ficou feliz em deixá-la entrar, mas ficou confuso com sua atitude peculiar. Ele pensou que talvez usar seus primeiros nomes não fossem bom para ela, mas quando chegou a hora, ela disse o nome dele sem hesitar, então devia haver algo mais a incomodando.
Por enquanto, eles se sentaram juntos no sofá e, enquanto ele esperava para ver o que a Mahiru faria, ela tirou um lenço do bolso da saia.
Enquanto o Amane continuava a se perguntar o que estava acontecendo, a Mahiru abriu o lenço cuidadosamente dobrado para revelar uma chave de prata manchada. Deve ter sido a mesma que ele lhe deu no dia anterior.
“Estou devolvendo sua chave reserva. No final, eu nunca tive a chance de usá-la e esqueci de devolvê-la. Sinto muito por isso.”
“Entendi.”
Aparentemente, a Mahiru não conseguiu descansar enquanto não devolveu a chave. Satisfeito por ter entendido a causa do comportamento estranho dela, o Amane olhou para o pedaço de papel que estava sobre o lenço.
Agora que ele pensava sobre isso, a Mahiru vinha ao seu apartamento quase todas as noites para preparar o jantar. Normalmente, ele a recebia na porta, mas às vezes demorava um pouco. Houve até momentos em que a Mahiru foi obrigada a esperar porque ele não estava em casa. Deve ter sido inconveniente para ela ter que esperar por ele do lado de fora, especialmente durante esses meses mais frios. Em algum lugar, o Amane tinha ouvido que o frio era o pior inimigo de uma garota e, agora que ele pensou sobre isso, ele também não teria ficado muito feliz em esperar no frio, se a situação fosse ao contrário.
Como a Mahiru vinha basicamente todos os dias, ele se perguntou se não seria mais fácil para ela ter uma chave para entrar.
“Está tudo bem; eu acho que você deveria ficar com ela,” ele disse.
“Hã?”
“Você pode me devolver sempre que pararmos de passar um tempo juntos.”
Isso parecia perfeitamente razoável para o Amane. Agora que a Mahiru tinha a chave, ela poderia ficar com ela, mas ela não parecia convencida.
“M-mas…”
“Quero dizer, ir até a porta toda vez que você vem é um incômodo.”
“Ah, então é disso que se trata.”
“Eu duvido que você vá fazer mau uso dela ou algo assim.”
“Bom, isso é verdade, mas…”
Amane vinha compartilhando refeições com a Mahiru há mais de um mês, e ele achava que a conhecia muito bem. Ela era sensata, atenciosa e gentil. Ele tinha certeza de que ela jamais entregaria a chave para outra pessoa ou faria qualquer coisa enquanto o Amane não estivesse por perto. Se havia alguém em quem ele podia confiar, era a Mahiru.
“Além disso, você deve achar que é um saco ter que tocar a campainha e esperar lá fora o tempo todo,” Amane disse.
“Mesmo que seja, eu sinto que você está sendo um pouco descuidado.”
“Mas eu estou dando a você porque eu confio em você.”
Com isso, os olhos da Mahiru se arregalaram e ela se atrapalhou com as palavras.
A confusão, juntamente com algo que o Amane não entendia muito bem, passou pelas feições delicadas da garota.
A verdade é que o Amane só queria que ela ficasse com a chave para evitar problemas, mas se ela realmente odiasse a ideia, ele estava preparado para recuar.
Quanto a Mahiru, ela olhou atentamente para frente e para trás entre o Amane e a chave por alguns instantes, então finalmente soltou um suspiro gentil.
“...Entendi. Vou guardá-la.”
“Hum.”
“Sabe, eu nunca tenho certeza se algo é importante para você, ou se você se importa, Amane,” Mahiru cutucou com um tom levemente irritado. Ela parecia cansada de tudo aquilo, e o Amane não pôde fazer nada além de sorrir ironicamente.
“Combina comigo, você não acha?”
“Você não deveria dizer coisas assim sobre si mesmo,” Mahiru advertiu.
O sorriso do Amane ficou mais largo. A Mahiru parecia estar ficando mais confortável com esse tipo de vaivém bobo. Eles agora se chamavam pelo primeiro nome, é claro. Teria sido estranho se eles não tivessem construído algum tipo de relacionamento. Enquanto os olhos da Mahiru ainda estavam cheios de irritação, como se dissesse que o Amane era realmente um caso perdido, o olhar dela não era frio. Na verdade, havia um pouco de calor perceptível nele. Ela entendeu que o Amane estava apenas brincando.
“Tudo bem então, não hesitarei em usar ela. Posso até fazer alguma coisa no seu apartamento sem avisar.”
“Tipo o que?”
“...Tipo… uma limpeza surpresa!”
“Eu ficaria grato por isso.”
“...Ou se, de repente, a sua geladeira aparecer cheia de comida?”
“Isso facilitaria o café da manhã e também teríamos mais opções para o jantar.”
A ideia de algum tipo de pegadinha da Mahiru claramente precisava de algumas melhorias. Amane teria ficado feliz em sofrer qualquer uma de suas sugestões. O fato dela não conseguir criar uma ameaça real, mesmo quando ela realmente tentou, apenas lembrou o Amane a natureza gentil da Mahiru. Foi bastante encantador e lhe trouxe um sorriso aos lábios dele.
“Você tem certeza que não está tirando sarro de mim?” Mahiru parecia estar prestes a fazer um beicinho, o que teria sido muito fofo, mas o Amane não queria irritar a Mahiru ainda mais.
Reprimindo o sorriso que ameaçava aparecer, Amane disse, “Claro que não.”