Volume 1
O Aniversário do Anjo
“Amane, como você se saiu?”
Os exames semestrais finalmente acabaram. Depois de sobreviverem ao inferno coletivo, os alunos se reuniram em uma sala de aula, mais empolgados e animados do que o normal.
Amane e Itsuki, ambos aliviados por terem terminado todas as provas, estavam comparando seus desempenhos.
“Hm? Oh, bem mediano,” Amane respondeu. “Não é bom, mas, também não é ruim.”
A prova abordou o conteúdo esperado, então para quem estudou diariamente, não foi tão difícil. Amane tinha se saído tão bem desta vez quanto em outras provas, deixando pouco a dizer sobre seu desempenho acadêmico de uma forma ou de outra.
Amane ficava entediado com facilidade, mas, mesmo assim, sempre fazia questão de estudar. Ele era capaz de guardar a maioria das coisas que eram ensinadas em sala de aula, mas era muito difícil obter uma nota perfeita, então suas pontuações geralmente variam entre oitenta e noventa.
“Aposto que você vai ficar entre os trinta primeiros, se você não se superar… Seu cabeça de ovo,” Itsuki provocou.
“É porque eu estudo todos os dias,” Amane rebateu.
“Que bom pra você!”
“Não comece; é você que está se esquecendo de estudar porque está muito ocupado flertando.”
A diferença entre o Amane e o Itsuki provavelmente não tinha nada a ver com suas capacidades intelectuais, e mais a ver com o fato de qual deles passava o tempo todo livre com uma certa namorada chamada Chitose. Itsuki tinha a capacidade de chegar a uma pontuação bem alta se ele se desse ao trabalho de estudar seriamente, mas como a Chitose era sua prioridade, sua classificação atual era muito mais baixa do que a do Amane.
“...As namoradas são ótimas, sabe?” Itsuki disse com tristeza.
“Sim, sim.”
“Ei, Amane, você deve conseguir uma namorada, também!”
“Se os homens pudessem ter namoradas sempre que quisessem, eles não derramariam tantas lágrimas amargas.”
Havia muitos homens insatisfeitos que teriam se ofendido com o comentário impensado do Itsuki. Amane, no entanto, não estava realmente disposto a se irritar com ele por causa disso. Na verdade, ele nunca havia se sentido assim em relação a nenhuma garota, então ele se conformou em deixar o comentário passar.
“Supondo que eu conseguisse uma, e depois?” Amane perguntou.
“Um encontro duplo,” Itsuki respondeu.
“Isso acabaria em um caso grave de azia para a minha namorada fictícia e para mim. Teríamos que terminar o relacionamento.”
“Você poderia flertar na nossa frente, também, sabe!”
“Você realmente acha que eu posso encontrar uma namorada, da forma que eu vivo?”
“...Eu acho que isso é impossível.”
“Não é?”
Amane era extremamente honesto, até consigo mesmo. Ele sempre achou as outras pessoas difíceis e cansativas, e sabia que muitas pessoas o consideravam distante. Isso, além da maneira com que ele falava, significava que ele não era muito popular. O status social do Amane deixaria mais complicado encontrar uma namorada, mesmo que ele estivesse procurando por uma.
Contra todas as probabilidades, se o Amane de alguma forma encontrar uma namorada, ele tinha certeza que não seria como o Itsuki e a Chitose. Ele não conseguia se imaginar flertando em público com uma garota, sem se importar com quem pudesse ver.
“Vamos, você deveria pelo menos encontrar alguém que goste, Amane. Se você apenas cortar a franja um pouco mais curta, se limpasse, e talvez encontrasse um estilo que funcionasse em você, as garotas com certeza olhariam diferente para você, estou te dizendo.”
Supondo que a autoavaliação do Amane fosse correta, ele não tinha a aparência bonita de um garoto bonito como o Yuuta, nem a de um Romeu como o Itsuki, mas definitivamente ele não se considerava feio também. Amane achava que, se passasse mais tempo se arrumando e prestasse mais atenção às suas roupas, poderia rivalizar com a maioria dos outros garotos da sua idade. O problema era que ele não sabia o suficiente sobre moda para se vestir bem e certamente não era habilidoso o bastante com as palavras para conquistar qualquer garota.
“Eu não estou interessado no tipo de garota que escolhe um par com base na aparência,” Amane afirmou.
“Você diz isso, mas se não conseguir despertar o interesse deles em primeiro lugar, você não conseguirá nem mesmo conhecê-los bem o suficiente para julgar sua personalidade, não é?” Itsuki argumentou de volta.
“...Mesmo que isso seja verdade, eu realmente não estou procurando por uma namorada agora.”
Se alguma garota hipotética estivesse realmente interessada no Amane, tudo estaria acabado no segundo que ela visse como ele vivia. Amane era um desleixado sem habilidades para a vida, além disso, ele tinha dificuldade em se relacionar com outras pessoas. Se houvesse uma garota que se sentisse atraída por ele, apesar disso, ele gostaria de conhecê-la. Esse pensamento sem esperança foi o suficiente para trazer um sorriso amargo ao rosto do Amane.
Além disso, como a Mahiru estava preparando jantares para ele agora, uma namorada poderia introduzir algumas complicações desagradáveis. Não que o Amane tivesse a intenção de buscar um relacionamento desde o início, mas isso era apenas mais um ponto contra a ideia.
Amane sentiu que a culinária deliciosa da Mahiru valia mais do que a possibilidade de uma namorada ainda desconhecida, e essa convicção dificilmente seria anulada.
“Ugh, você é tão chato… Que tal eu pedir à Chi para apresentá-lo a uma das amigas dela?” Itsuki ofereceu.
“Você se preocupa demais com isso. A maioria das amigas da Chi são… nervosas. É difícil para mim conviver com elas, mesmo como amigo.” Amane rapidamente rejeitou a ideia.
“Só porque você é muito sombrio.”
“Ah, já entendi…”
“Bom, se você diz isso, não direi nada a ela por enquanto. Mas, como um garoto do ensino médio não é triste viver uma vida vazia, sozinho?”
“Eu não preciso de uma namorada; elas dão muito trabalho.”
Afinal, o que você acha que devemos fazer na escola? Amane pensou. Mesmo que ele não levasse os estudos tão a sério, ele ainda não via sentido em gastar tanto tempo se preocupando com o romance. Acima de tudo, encontrar um par de verdade não era uma tarefa fácil.
“...Que desperdício,” Itsuki resmungou.
“Sim, sim.” Amane encolheu os ombros.
“Mas escute, você mudará de opinião quando encontrar uma boa, Amane, ouviu?”
“Por que tem tanta certeza?”
“Porque as garotas gostam especialmente de homens como você.”
“Como quiser, cara.”
Amane não conseguia se imaginar agindo de forma tão sentimental; não parecia possível. Ele decidiu simplesmente ignorar as palavras do seu amigo. Itsuki estava olhando para o Amane com um olhar irritado, quando de repente, sua linha de visão mudou e seu rosto relaxou.
“Itsukiii! Vamos para casa juntos!”
“Ah, Chi!”
Neste momento, Chitose apareceu. Aparentemente, Itsuki havia prometido acompanhá-la até em casa, o que pôs um fim rápido à conversa.
Quando o Amane se virou para ver para onde a atenção do seu amigo havia se desviado, ele viu uma garota com cabelos castanhos claros curto tingido de vermelho, olhando para eles com um sorriso radiante. Bom, para ser mais exato, ela estava apenas olhando e acenando para o Itsuki. A aura animada e o rosto brilhante e sorridente da garota eram o suficiente para fazer o Itsuki sorrir sempre que a via. Esse era o tipo de efeito que a Chitose tinha sobre as pessoas e, para o bem ou para o mal, ela sempre era o centro das atenções.
Chitose era um tipo de beleza diferente da Mahiru. Ela tinha um sorriso enorme enquanto se aproximava apressadamente. Com sorte, ela não teria muito a dizer hoje, porque geralmente sempre que a Chitose falava, ela zombava do Amane.
“Você concorda, certo, Chi? Que o Amane é o tipo de pessoa que precisa de uma namorada para cuidar dele, não acha?” Itsuki perguntou.
“Não se meta onde não é chamado,” Amane repreendeu.
“Espera, o quê, você tem uma namorada, Amane?!” Chitose exclamou animada.
“Sem chance.”
“Ah, que pena,” Chitose disse, fazendo beicinho. “Se você tivesse, eu gostaria de ser amiga dela.”
“Conhecendo sua ideia de amizade, eu me sentiria mal por minha namorada imaginária,” Amane disse.
“Oh, você tem uma namorada imaginária?” Chitose perguntou.
“Não estamos falando sobre caso eu tivesse uma?!”
“Estou brincando, estou brincando.”
“Eu estou ficando cansado apenas por conversar com você…”
“Isso é porque você não tem resistência para lidar comigo.”
“Não é uma questão de paciência, é mais como…”
Mesmo uma breve conversa com a Chitose era mentalmente exaustiva para o Amane. Na maior parte das vezes, ele tentava manter a sua cabeça baixa e evitar outras pessoas, como na escola. Quando ele se via obrigado a manter uma conversa com alguém tão extrovertido como a Chitose, era realmente exigente para ele.
Chitose não deixou a atitude amarga do Amane incomodá-la e mostrou ao garoto de aparência exausta um sorriso verdadeiramente alegre. “Você é uma bagunça.”
Itsuki sorriu da mesma forma e deu alguns conselhos superficiais. “É melhor você se recompor, amigo.”
Amane já estava muito cansado, conseguindo apenas soltar um suspiro profundo.
“...O que você está fazendo?”
Após voltar para casa e devorar a comida feita à mão pela Mahiru, o Amane voltou para a sala de estar assim que terminou de lavar a louça e viu a Mahiru com um questionário aberto diante dela.
Não havia um acordo sobre quem lavaria a louça, mas o Amane tomava a iniciativa de assumir essa tarefa sempre que possível. Enquanto ele estava arrumando as coisas, a Mahiru foi se sentar na sala de estar. Seria imperdoável obrigá-la a fazer tudo e depois partir apressadamente.
“Eu estou me avaliando,” Mahiru respondeu.
“Quero dizer, consigo ver isso.”
Ela parecia estar revisando suas respostas com o livro, verificando se não havia entendido nada errado.
“Então, qual é o resultado?” Amane perguntou.
“Bom, se eu não cometi nenhum erro de registro na minha folha de respostas, então é… uma pontuação perfeita.”
“Eu não consigo pensar em nada para dizer, exceto: ‘Já era de se esperar’.”
Assim como a Mahiru não demonstrou muita reação em relação ao seu trabalho impecável, o Amane não teve uma resposta muito exagerada. Ele não ficou surpreso, porque o nome dela praticamente sempre estava escrito no primeiro lugar dos resultados das avaliações regulares. Ele sabia que a Mahiru era mais do que capaz de conseguir pontuação perfeita, por isso não ficou nem um pouco surpreso com o desempenho dela aqui.
“É porque estudar não me incomoda. Na verdade, já terminei todas as atividades deste ano letivo, então agora é o suficiente para simplesmente revisar,” Mahiru explicou.
“Uau, você realmente se esforça ao máximo…,” Amane respondeu.
“Você também estuda muito, Fujimiya.”
“Você sabe como são as minhas notas?”
“Eu meio que me lembro do seu nome na lista de classificação.”
Aparentemente, a Mahiru sabia um pouco sobre o Amane antes mesmo de eles se falarem. Ela deve ter notado ele entre os primeiros colocados, porque contou a colocação exata dele na prova mais recente sem hesitar, quase como se estivesse olhando para a lista agora.
Amane se esforçava bastante em seus estudos, mas não era por causa de um desejo sério de sucesso ou algo assim. Isso foi por causa de um acordo que ele fez com seus pais. Para poder morar sozinho, ele tinha que manter boas notas.
“Bom, é uma condição para meu estilo de vida atual: Tenho que manter as minhas notas altas.”
A única outra condição do acordo era que o Amane deveria visitar sua casa pelo menos uma vez a cada seis meses, mas ele poderia cuidar disso durante as longas férias escolares. Basicamente, desde que ele mantivesse suas notas altas, não havia problemas.
“Eu estudo o suficiente para me manter à tona, mas nada comparado a você. Você realmente se esforça muito.”
“...Eu tenho que me esforçar,” Mahiru resmungou, lançando os olhos para baixo. A expressão dela estava escondida pela franja e, embora o Amane não pudesse dar uma boa olhada nela, qualquer um teria reconhecido que não era uma expressão feliz. Antes que ele pudesse entender o que ela estava pensando, no entanto, ela rapidamente olhou para cima, mais uma vez usando sua expressão habitual.
Mesmo que houvesse tempo para apontar a curiosa mudança, o Amane provavelmente não faria. Ele podia perceber que a Mahiru carregava algum tipo de fardo doloroso por certas coisas que ela fazia ou expressões que fazia.
Embora o Amane fizesse questão de nunca perguntar à Mahiru o que a estava incomodando ou o que era tão desagradável, ele ainda tinha a impressão de que ela estava lutando com alguma coisa. Amane imaginava que, seja lá o que fosse, tinha suas origens na vida familiar da Mahiru. Não era o tipo de assunto que ele poderia abordar casualmente com a garota. Ele entendia que essa não era uma área na qual um estranho como ele poderia se intrometer e, por isso, o Amane nunca tocava no assunto e tentava persistentemente manter um senso de distância adequada para um vizinho.
Todos tem coisas que não querem falar sobre, até mesmo o Amane. Agir descuidadamente com a Mahiru seria rude, e ele tinha certeza de que ela apreciava o fato de ele fingir não perceber a sua angústia.
Depois de disfarçar sua mudança repentina de humor, a Mahiru declarou em voz clara que iria voltar para seu próprio apartamento. Ela colocou o livro e a folha de respostas de volta na bolsa.
Amane não tinha nenhuma intenção de impedi-la, então respondeu simplesmente “Hmm, tudo bem” e observou a Mahiru se preparar para sair.
Quando o anjo terminou de guardar tudo, ela se levantou da cadeira e o Amane percebeu que ela havia deixado algo para trás ao lado da xícara vazia. Ele o pegou e descobriu que era um estojo com a carteira de estudante da Mahiru, do tipo que qualquer estudante teria. Ela provavelmente o pegou junto com o livro e esqueceu de guardá-lo.
Além de seu nome e foto, o pequeno cartão de plástico exibia informações comuns, como seu número de estudante, aniversário e tipo sanguíneo. Depois de olhar para ele por um segundo, o Amane chamou a Mahiru, que estava na entrada calçando os sapatos.
“Você esqueceu isso,” ele disse.
“Ah, desculpe-me pelo incômodo. Bom, então, boa noite.”
“Boa noite.”
Mahiru fez uma reverência rápida e educada e deu as costas para o apartamento do Amane. Com um pequeno suspiro, o Amane a observou sair.
Pensando na data de nascimento registrada na carteira de identidade escolar da Mahiru, o Amane levou a mão à testa ao perceber uma coisa.
“...Isso é daqui a quatro dias, não é?”
Se ele não tivesse visto a identidade da garota sem querer, provavelmente ele nunca teria descoberto.
Amane desejou ter sabido do aniversário da Mahiru um pouco antes e soltou outro suspiro, um suspiro profundo.
“Ei, eu estava me perguntando, tem alguma coisa que você quer?”
No dia seguinte, o Amane tentou ver se havia algo que a Mahiru pudesse gostar de receber de presente.
Não havia segundas intenções por trás do gesto. Na verdade, o Amane estava pensando há um tempo que seria bom comprar algo para a garota que cuidava dele todos os dias. O aniversário parecia ser o momento perfeito.
Deve ter havido algo estranho na maneira como o Amane formulou a pergunta, no entanto, porque a Mahiru lançou a ele um olhar surpreso. Uma que fez o Amane começar a se arrepender de ter feito uma pergunta tão direta.
“Por que está perguntando assim de repente?” Mahiru perguntou.
“Você não parece muito materialista, por isso fiquei curioso.”
“Do nada, de novo…”
Amane pensou que provavelmente deveria ter tentado agir com mais sutileza, mas agora já era tarde demais para isso. A única graça salvadora possível foi o fato de que a Mahiru não parecia ter percebido que era sobre o seu aniversário. Até onde ela sabia, o Amane não tinha como saber sua data de nascimento. Esperançosamente, isso a impediria de perceber.
“Bom, vamos ver, tem uma coisa que eu preciso. Acho que é isso que eu quero agora.”
“O que você quer?”
“Uma pedra de amolar.”
“Uma… pedra de amolar?”
Inconscientemente, o Amane repetiu as palavras da Mahiru, pois a resposta da garota havia sido muito inesperada.
Ninguém poderia esperar esse tipo de resposta de uma garota do ensino médio. Normalmente, você pensaria que elas iriam querer cosméticos, acessórios, bolsas ou algo do gênero, Amane pensou. Ele nunca em seus seus mais loucos esperaria que uma garota quisesse uma ferramenta para afiar metal.
“É isso mesmo, uma pedra de amolar. Eu já tenho várias, mas quero uma com uma superfície de acabamento mais fina, entende?” Mahiru explicou.
“Você tem certeza de que é realmente uma garota comum do ensino médio?” Amane perguntou.
“Por favor, não espere que eu seja comum.”
Era difícil para o Amane discordar disso. Descrevê-la como um anjo parecia totalmente correto. A Mahiru era um prodígio que era bom na escola e nos esportes. Além do mais, ela era uma excelente cozinheira e uma dona de casa habilidosa. Como se isso não bastasse, a Mahiru era uma jovem nobre que passava tanto tempo cuidando de um desleixado como o Amane que poderia ter sido confundida com uma mulher casada.
Ainda assim, quem poderia imaginar que ela iria querer algo como uma pedra de amolar?
Mahiru devia ser a única garota do ensino médio em todo o mundo que queria uma coisa dessas.
“Você não pode comprá-lo sozinho?” Amane se perguntou em voz alta. Afinal, ela era rica.
“Não é exatamente que eu não possa comprar, você sabe. É só que eu não terei muitas oportunidades de usá-lo e ele é bem caro. Depois de considerar tudo isso, eu realmente não conseguiria justificar a compra. Eu já tenho uma que consegue afiar bem, então continuo me dizendo que não preciso realmente dela.
Amane teve que admitir que era mais do que assustador saber que a Mahiru já possuía várias pedras de amolar.
“...Quantas garotas colegiais por aí afiam suas próprias facas de cozinha?” ele perguntou.
“Muitas,” Mahiru respondeu.
“Mesmo que haja, você é a única que eu conheço e também a única que quer outra pedra de amolar.”
“Bem, acho que é bom ser única.”
“Se você diz…”
Esse certamente era um anjo com interesses incomuns. Amane não conseguia entender o que ela estava pensando.
Mahiru inclinou a cabeça em sinal de confusão enquanto o Amane permanecia ali, parecendo perplexo. Ele havia perdido completamente de vista seu objetivo original.
“Ei, Itsuki?”
Depois de falhar completamente em decidir um presente que a Mahiru pudesse apreciar, Amane decidiu consultar seu melhor amigo. O Itsuki tinha jeito com o coração das mulheres, e também uma namorada para consultar, então o Amane esperava que ele provavelmente tivesse alguma noção do que uma garota normalmente desejaria. Embora ele não tivesse certeza se era uma boa ideia aplicar padrões normais a alguém como a Mahiru, ele esperava que ela não odiasse coisas que deixassem a namorada de outra pessoa feliz.
“E aí?” Itsuki respondeu.
“Quando você dá presentes à Chitose, o que costuma dar a ela?”
Amane achou melhor começar perguntando o que o Itsuki havia comprado para sua garota, mas tudo o que ele recebeu em resposta foi um olhar vazio.
“Huh, você está planejando dar um presente para alguma namorada sua?”
“Você acha que eu sou capaz de fazer algo assim?”
“Nope.”
“Tudo bem, então.”
“Nesse caso, por que está perguntando?”
“Alguém que eu conheço fará aniversário em breve, então queria lhe perguntar.”
Embora o Amane planejasse ouvir os conselhos do Itsuki com máxima atenção, ele também estava determinado a não revelar muito sobre suas próprias circunstâncias.
“Hmmm…para começar, você deve tentar descobrir o que elas querem. Você sabe, é importante fazer esse tipo de pesquisa regularmente. Esse é o segredo para um relacionamento harmonioso, eu estou lhe dizendo,” Itsuki disse.
“Eu te disse que isso não é para uma namorada,” Amane lembrou.
Deixando de lado o potencial perigo que os outros garotos da escola representariam para a segurança física do Amane se a notícia se espalhasse, a Mahiru era tão impressionante que sequer considerar convidá-la para sair seria uma opção.
Claro, ele se sentia à vontade em conviver com ela, e eles se davam bem o suficiente como duas pessoas sinceras, mas não havia absolutamente nenhum sentimento romântico entre eles. Claro, ela era bonita, mas isso não significava que o Amane queria um relacionamento.
“O que elas querem, hein…? E se você não souber?” Amane perguntou.
“Depende do quão próximos vocês são. Se vocês são bons amigos, um acessório ou algo assim é bom, mas se não forem próximos, algo prático que elas possam usar é uma aposta mais segura. Há muitas garotas que ficam felizes em receber flores, mas não sabem o que fazer quando as recebem,” Itsuki explicou.
“...Você com certeza sabe das coisas.”
“Bom, eu fiz uma boa pesquisa, eu acho.”
Itsuki e a Chitose nem sempre foram tão loucos um pelo outro. O relacionamento deles havia se desenvolvido lentamente, começando no fundamental. Amane havia frequentado uma escola secundária diferente, então ele não sabia todos os detalhes, mas aparentemente eles haviam passado por muitas coisas juntos, e seu relacionamento havia se fortalecido a partir dessas experiências, ao ponto de hoje em dia, eles não pararem de falar um do outro.
Pelo o que ele contou, o Itsuki também estava bastante perdido na primeira vez em que teve que dar um presente para a Chitose, então o Amane imaginou que poderia se beneficiar da experiência do seu amigo.
“Ah, e nenhuma garota odeia creme para as mãos,” Itsuki acrescentou.
“Creme para as mãos?”
Enquanto o Amane refletia sobre essa opção inesperada, o Itsuki sorriu e explicou com orgulho, “Não importa a idade, todas as garotas tem alguma utilidade para isso. Se ela é uma estudante, suas mãos ficam ressecadas devido ao manuseio de cadernos e livros em sala de aula; se ela trabalha, suas mãos ressecam devido à digitação e ao ar condicionado; e as donas de casa cozinham e limpam, então suas mãos sofrem também. Não há como errar com esse material.”
“Hmm. Você com certeza sabe muito sobre as mãos das mulheres…,” Amane disse.
“Foi você quem veio me perguntar!” Itsuki se irritou.
Itsuki deu um tapa nas costas do Amane, mas não havia força nele. Os dois amigos riram juntos.
Creme para as mãos, não é? Eu acho que é uma aposta segura.
Amane estava tomando a iniciativa de lavar a louça depois do jantar, mas a Mahiru obviamente lavava sua própria louça no seu apartamento, então ele podia imaginar que suas mãos precisavam de um pouco de hidratação. Mais importante, o Amane tinha certeza de que ela já cuidava de suas mãos, já que eram tão macias.
“Legal, obrigado por suas ideias,” Amane disse.
“Vamos tentar perguntar para a Chi, também. Como uma garota, ela provavelmente tem uma ideia melhor,” Itsuki propôs.
“...Hein?...”
“Você precisa se acostumar com ela.”
Amane certamente não a odiava, mas a Chitose não era exatamente seu tipo de garota favorita, e estar perto dela sempre o fazia se sentir estranho. Normalmente, ele tentava evitar interagir com ela completamente. Itsuki deu outro tapa gentil nas costas do Amane, sorrindo divertidamente.
“O queee?! Amane, você está dando um presente de aniversário para uma garota.” Chitose estava sorrindo— na verdade, mais como um sorriso sarcástico— diante desse acontecimento raro, e o Amane se esforçava para não fazer uma careta.
Ele foi à sala de aula da Chitose para conversar com ela após a escola e, como esperado, ela parecia muito divertida. Aliás, o Itsuki havia enviado uma mensagem a Chitose dizendo que ele não se preocupava com o fato dela ficar sozinha com outro garoto, desde que fosse o Amane, então ele foi para casa. Amane suspirou novamente, enquanto a Chitose sorriu largamente.
Eu disse a ele que não queria perguntar a ela.
Era óbvio que ela definitivamente iria se intrometer e ridicularizá-lo, então ele não tinha intenção de pedir ajuda a ela. Amane certamente não odiava a Chitose, mas ele não podia negar que havia algumas coisas nela que ele simplesmente não suportava.
“Certo, então o Itsuki escreveu aqui que “O Amane esperava que você desse algumas dicas a ele.’ Então você quer a minha ajuda, hein?”
“Você é a única garota que eu possa pedir, Chi.”
“Não soa muito bem quando você coloca dessa forma, sabe.” Chitose olhou para o Amane com clara pena, mas ele deixou passar.
A verdade era que o Amane não tinha nenhuma amiga além da Chitose. Cada garota em sua turma mal poderia ser considerada como uma conhecida, e ele não era próximo o suficiente de nenhuma delas para pedir ajuda com coisas assim.
Na verdade, o Amane costumava ser bastante quieto na escola. Se uma de suas colegas tentasse falar com ele, provavelmente ele não saberia o que fazer.
“Tudo bem, bom, não consigo imaginar que você realmente entenda como as garotas pensam, Amane. Mas, não se preocupe! A Srta. Chitose está aqui para aconselhá-lo!”
“...Acho que estou em suas mãos,” Amane disse.
“Você acha? O que há para adivinhar? Posso não parecer, mas conheço perfeitamente o coração das mulheres!”
“Quero dizer, você é uma garota, afinal de contas… Eu acho.”
“Cuidado com essas suposições, amigo! Não sei se gosto do que você está insinuando!”
Chitose limpou a garganta e estendeu o peito. Comparado com a Mahiru, que o Amane via todos os dias, o resultado foi, na melhor das hipóteses, abaixo do esperado.
Independentemente de sua opinião pessoal, a Chitose era popular entre os rapazes. Em termos de personalidade, ela era alegre e amigável, e conversava com todos sem escolher favoritos, então a popularidade dela era diferente da Mahiru. Ela se dava bem com garotos e garotas. Ela realmente era a personificação de alguém animado e divertido em festas.
Aparentemente, ela foi membro do clube de atletismo no fundamental, e sua constituição esbelta e pernas tonificadas certamente não prejudicavam sua popularidade. Era um fato comprovado de que as pernas dela eram lindas, tanto que o Itsuki havia avisado aos outros rapazes na escola que ele ficaria com raiva se eles a olhassem demais.
“Ah, certo, certo,” Chitose murmurou. “Algo para uma garota bonita, vamos ver…”
Havia momentos em que ela se tornava amigável demais, mas o Amane não negava que a Chitose era fofa. Ele podia entender o porquê dos outros rapazes da escola gostarem dela.
“...Sabe,” Chitose acrescentou, “Essa sua atitude sombria vai realmente dar às pessoas a ideia errada.”
“Nossa, obrigado por sua preocupação,” Amane respondeu.
“Tudo bem, tudo bem. Então você está dando algo para uma garota, certo? Bom, que tipo de garota?”
A pergunta da Chitose não lhe deixava muito espaço para manobras, mas o Amane sabia que se fosse descuidado com o que dissesse a ela, ela não deixaria esquecer, então ele escolheu cuidadosamente suas palavras.
“Ela é uma conhecida minha e é relativamente jovem. Além disso, eu estou exercendo meu direito de permanecer em silêncio.”
“Uh… Se você não me contar sobre a personalidade dela ou do que ela gosta, nem mesmo eu consigo ter nenhuma ideia, você sabe.”
“Você não pode simplesmente me dizer algumas coisas que gostaria de ganhar de presente? Então eu escolherei entre eles.”
“Entendi; você não quer me contar nada sobre ela. Tudo bem, vamos fazer isso do seu jeito.”
Chitose tinha um bom ponto, mas se ele contasse mais a ela, a Chitose saberia que o Amane era próximo de uma garota da idade deles, e provavelmente a conversa tomaria um rumo estranho e desconfortável a partir daí. Se ele se descuidasse, a Chitose poderia até acabar descobrindo que ele estava falando da Mahiru.
Amane queria evitar isso, se possível, por isso decidiu não lhe contar nada que não fosse estritamente necessário. A Chitose também parecia entender que ele não revelaria voluntariamente muito mais, e felizmente, ela foi gentil o suficiente para parar com as perguntas.
“Hmmm, vamos ver… Eu não sei que tipo de relacionamento você tem com ela, mas se ela é uma conhecida com quem você fala com bastante frequência, presumo que ela ficaria feliz em receber algo de uma pessoa que é tão próxima a ela quanto eu sou de você. Nesse caso, geralmente um item consumível ou de uso diário que não seja muito caro deve ser bom.”
“O Itsuki me disse praticamente a mesma coisa,” Amane disse.
“É óbvio. Ele entende como as garotas pensam. Agora, se estiver procurando um presente casual, alguns doces e um lenço ou algum item pequeno podem ser bons. Se eu ganhasse um acessório caro de você, Amane, eu ficaria tipo ‘Um suborno?!’ ou algo assim.
“Mas acho que não conseguiria nada subornando você.”
Depois de lançar ao Amane um olhar que parecia pedir algum tipo de recompensa por sua ajuda, a Chitose sorriu e respondeu, “Bom, você tem razão. De qualquer forma, pequenas coisas assim são seguras.”
“...Entendi.”
“Você parece um pouco insatisfeito.” Chitose inclinou a cabeça.
“Não é que eu não esteja satisfeito, mas…” Amane se afastou. Na verdade, ele simplesmente não tinha certeza de que a Mahiru apreciaria o tipo de presente que ele escolheria. Ela provavelmente tinha um gosto impecável e parecia ser do tipo que escolhe coisas que combinam qualidade e funcionalidade. Amane não tinha certeza se sua escolha estaria à altura.
Chitose podia sentir uma leve hesitação no comportamento do Amane, e ela cantarolou um pouco para si mesma. “...Vamos ver…Uma outra opção pode ser… alguma coisa fofa?”
“...Tipo?”
“Depende do gosto da pessoa. Por exemplo, um bicho de pelúcia ou um chaveiro com um personagem adorável. Acho que dar a ela algo como isso pode funcionar.”
Amane piscou de volta para a Chitose depois de ouvir a sugestão inesperada, e a Chitose sorriu sabiamente. “A maioria das garotas gosta de coisas bonitinhas, entende? Há até mesmo algumas pessoas que continuam colecionando bichos de pelúcia muito tempo depois de crescerem, e muitas garotas gostam deles em geral, certo?”
“...Um bicho de pelúcia, hein?” Amane não sabia se a Mahiru tinha algum interesse feminino, mas ela usava roupas decoradas como babados e enfeites fofos, então provavelmente ela não odiava coisas mais fofas como bichinhos de pelúcia.
Amane certamente poderia imaginar a Mahiru feliz por receber um brinquedo de pelúcia.
“Oh, será que eu estou sentindo algum interesse?” Chitose sorriu. Aparentemente, ela percebeu a mudança mínima que ocorreu no Amane. Ele acenou com a cabeça, embora não tivesse certeza, e soltou um pequeno suspiro.
“...Mas será muito estranho para mim comprar um bicho de pelúcia, eu acho,” Amane admitiu.
“É um presente; você não está comprando para si mesmo. Qual é o problema?” Chitose perguntou.
“Eu quis dizer, um cara da minha idade, carregando um bicho de pelúcia até a caixa registradora…?”
“Você é realmente patético, você sabe disso?”
“Hm-hmm.”
Não havia como negar, mas o Amane ainda sentia dor ao ouvir isso. Ele deveria ser capaz de superar um problema tão insignificante, mas até mesmo entrar em uma loja que vendia bichos de pelúcia sozinho era o suficiente para deixá-lo constrangido.
Felizmente, a Chitose estava com ele hoje. Amane pensou que poderia convencê-la a acompanhá-lo a uma loja no caminho para casa. Isso certamente não estava fora de cogitação, mas…
“...Chitose, venha comigo,” Amane disse.
“O que você quer dizer com isso?”
“...Por favor, me acompanhe para fazer compras.”
“Hmm, eu me pergunto se eu deveria…” Era típico da Chitose provocá-lo dessa forma.
É claro que ela não tinha realmente a intenção de recusar o pedido do Amane, mas não havia dúvida de que ela estava agindo de propósito, tanto para zombar dele quanto para fazê-lo implorar pela ajuda dela.
“Eu estou lhe pedindo, por favor. Eu estou realmente contando com você,” Amane implorou.
“Hmmm, eu acho que eu poderia ir… A propósito, Amane, estou com vontade de comer algo doce. E a barraca de crepe em frente à estação tem um item super delicioso por tempo limitado…”
“...Por favor, permita-me te pagar um.”
“Yay!”
Amane fez uma careta diante da manipulação inteligente da Chitose, mas percebeu que era um pequeno preço a pagar por sua ajuda. Era muito melhor pagar por um crepe do que ir sozinho a uma loja fofa. Amane soltou um suspiro profundo enquanto olhava para a Chitose, que estava sorrindo maliciosamente, e então calculou mentalmente seu orçamento aproximado com base no que havia em sua carteira.
Depois de consultar o Itsuki e a Chitose, o Amane finalmente tomou uma decisão sobre o que dar para a Mahiru no seu aniversário. Olhando para as costas da garota em questão, uma expressão nervosa tomou conta do rosto do Amane.
Como compensação por um crepe de luxo da loja em frente à estação, o Wintetime Limited Edition Berry Berry Special, para ser exato, o Amane pediu a Chitose mais uma coisa. Ele e o presente propriamente dito agora estavam juntos em uma sacola. O problema era que o Amane estava completamente perdido em relação a quando deveria dar o presente para a Mahiru.
A aniversariante estava preparando o jantar como de costume, sem nenhuma mudança de comportamento.
Amane não sabia o que havia no cardápio, mas tinha um ar de comida japonesa e certamente não parecia nada de especial. Ela parecia tranquila enquanto se preparava.
Mahiru não tinha dado nenhuma indicação de que hoje seria algo além de um dia normal. Ela estava agindo tão normal que o Amane se perguntou talvez ela sequer sabia.
Quando a Mahiru começou a arrumar a mesa, o Amane não pôde deixar de notar que o rosto dela permanecia completamente inalterado. Os dois tiveram um jantar extremamente típico e mantiveram uma conversa totalmente normal. Durante todo esse tempo, o Amane permaneceu completamente inseguro sobre quando seria o momento ideal para presentear a Mahiru com os presentes que ele havia comprado. Franzindo a testa, ele olhou na direção do saco de papel escondido atrás de seu sofá.
Ele decidiu esperar até que eles tivessem terminado de limpar tudo após o jantar e voltado para a sala de estar, quando ele poderia sentar ao lado da Mahiru no seu sofá de duas pessoas. Ela havia trazido alguns livros para dar uma olhada depois da refeição, então aquele parecia ser o melhor momento do que qualquer outro.
Fiel ao seu apelido, o anjo era tão bonita quando ele estava lendo.
Sem saber o porquê, o Amane hesitou um pouco em se sentar ao lado dela, mas mesmo que hesitasse, não havia como contornar a situação, então ele pegou a sacola de presente do esconderijo e se sentou ao lado da Mahiru.
Imediatamente, a cabeça da garota se levantou. Se ela notou a presença do Amane ou ouviu o som do saco de papel amassado não estava claro. De qualquer forma, seus olhos cor de caramelo se voltaram para o Amane antes de mudar para o que ele estava segurando.
Mahiru parecia confusa, como se ainda não tivesse percebido que se tratava do seu aniversário.
“Aqui. Para você.” Amane colocou a bolsa sobre os joelhos da Mahiru, e a expressão da garota ficou ainda mais confusa.
“O que é isto?” ela perguntou.
“É o seu aniversário, não é?”
“Isso é verdade… mas espera, como você sabia disso? Eu não me lembro de contar para ninguém.” Mahiru ficou subitamente em alerta.
“Lembra quando você deixou sua carteira de estudante no meu apartamento?” Amane a lembrou.
Ela pareceu entender, e a sua expressão normal voltou. “Eu realmente gostaria que você não tivesse se dado ao trabalho. Eu… não celebro meu aniversário.”
Amane tinha certeza de ter ouvido um pouco de distanciamento frio na voz da Mahiru quando ela falou. O olhar dela disse a ele que até mesmo a palavra aniversário era algo que ela evitava.
Entendi, ele pensou. Então, a razão pela qual ela não agiu de forma diferente, mesmo sendo seu aniversário, não foi porque ela se esqueceu… Ela estava ignorando isso de propósito. Alguma coisa nisso deve incomodá-la.
Amane percebeu que, se esse não fosse o caso, a Mahiru não teria falado daquele jeito.
“Certo, então, chame isso de uma expressão de gratidão por tudo que você fez por mim. Eu apenas decidi lhe dar algo para retribuir.”
Deixando de lado qualquer menção ao aniversário da Mahiru, o Amane pressionou a sacola sobre ela, justificando que era uma forma de agradecê-la por suas gentilezas diárias. Ela cozinhava refeições para ele todas as noites e, às vezes, ajudava ele na limpeza. No final das contas, a Mahiru fez muito para cuidar do Amane. Ele queria pagar essa dívida de qualquer forma possível.
Amane estendeu o presente para a Mahiru, mas ela se afastou. Primeiro, ela parecia confusa, então ela franziu a testa para a determinação do Amane. Por fim, ela aceitou a sacola de presentes.
“...Bom, eu posso abri-la?” Mahiru perguntou.
“Sim,” Amane disse.
Mahiru acenou com a cabeça e, com cuidado, puxou a caixa que estava dentro da sacola de papel, então ela cuidadosamente desamarrou a fita e renovou o papel de embrulho.
O fato de ver a Mahiru abrir o presente deixou o Amane extremamente nervoso.
Dentro da caixa estava o creme para as mãos que o Itsuki havia sugerido. Ele estava em uma caixa grande ao lado de alguns doces. Aparentemente, era um tipo de conjunto. Não era o tipo de creme para as mãos que cheirava particularmente bem, nem era tão estiloso assim. Em vez disso, era do tipo sem cheiro que era suave para a pele. Dessa forma, ele não causaria nenhum problema durante as tarefas domésticas. Este era o tipo de produto anunciado como retentor de umidade. Amane fez questão de verificar as análises do produto na Internet, por isso ele tinha certeza da sua eficácia.
“É, desculpe, mas não é nada muito louco. Só pensei que, como você faz muito trabalho doméstico, suas mãos poderiam ficar ressecadas. Eles tinham os perfumados, mas achei que você já teria alguns. Aparentemente, ele é eficaz e não agride a pele.”
“É… bastante prático,” Mahiru disse.
“Achei que você valorizaria a praticidade acima de qualquer outra coisa.” Amane respondeu.
“Sim, você está certo. Muito obrigada.” Mahiru sorriu levemente, como se entendesse o raciocínio do Amane. Um pouco menos nervoso agora, a expressão do Amane suavizou um pouco também. Parecia que ele tinha causado uma boa impressão.
Ainda havia mais um presente, porém, e o Amane se sentiu envergonhado pela Mahiru abrir este presente na frente dele por algum motivo. Ele esperava que ela só percebesse depois que ela voltasse para casa.
No entanto, a Mahiru estava olhando para a sacola de papel, como se já tivesse percebido que tinha mais uma coisa escondida dentro dele.
“...O quê, mais um?” ela perguntou.
“Ah. É, tem mais um. É um bônus; Eu mesmo escolhi,” Amane respondeu.
“O que isso quer dizer?”
“...Exatamente o que eu disse.”
Amane desviou os olhos. A Mahiru inclinou a cabeça em confusão por um instante e, em seguida, tirou o segundo presente da sacola.
Para disfarçar propositalmente esse outro presente, Amane o embrulhou intencionalmente com um papel da mesma cor do interior da sacola. Ele esperava que isso o destacasse menos— e que a Mahiru só o notasse mais tarde, quando ele não estivesse por perto. Infelizmente, era grande o suficiente para que o Amane soubesse que seria impossível não notar. Sinceramente, não tinha como a Mahiru não perceber isto.
Ao contrário do creme para as mãos, este presente não veio em uma caixa, apenas em uma sacola de poliéster. Ele tinha o tamanho certo para caber confortavelmente nos braços da Mahiru. A sacola estava amarrada com uma fita azul-marinho, e o Amane observou a Mahiru desfazê-la cuidadosamente também, se perguntando se não haveria problema em se levantar do seu assento. Finalmente, a Mahiru puxou cuidadosamente o que estava dentro.
Ela segurou o conteúdo da sacola gentilmente com as duas mãos, piscando os olhos grandes dramaticamente, parecendo realmente surpresa.
“...Um urso?” Mahiru murmurou.
Era um animal de pelúcia. Não muito grande, era perfeitamente proporcional para um aluno do fundamental. Seu pelo de cor clara era macio, muito parecido com o cabelo da própria Mahiru. Uma fita azul clara foi amarrada no pescoço do brinquedo para formar uma coleira. Ele tinha uma aparência bastante angelical costurada em seu rosto, e os olhos redondos e adoráveis, com botões reluzentes, refletiam o rosto da Mahiru enquanto eles olhavam para ela.
Sem dúvida, a garota estava se perguntando o porquê do Amane ter dado algo assim quando ela estava no ensino médio. A verdade é que o Amane se arriscou e escolheu com base no conselho da Chitose de que garotas gostam de coisas fofas, não importava a idade.
Claro, ele estava muito envergonhado para ir comprar o urso sozinho, então a Chitose tinha ido com ele para fazer a compra, embora apenas em troca do crepe de luxo da loja em frente a estação.
O rosto sorridente da Chitose ficou pairando sobre o Amane durante todo o processo de comprar o urso e embrulhá-lo. No fim, ele não pôde deixar de pensar que poderia ter sido melhor se ele tivesse ido sozinho. No entanto, não havia nada que ele pudesse fazer sobre isso agora.
“...Achei que parecia algo que uma garota gostaria,” Amane murmurou para ninguém em particular, coçando a cabeça. Ele era péssimo em coisas assim.
A última vez que ele tinha comprado um presente para alguém do sexo oposto foi quando ele dava presentes para a sua mãe quando ele era criança. Amane nunca tinha pensado que teria que escolher algo para uma garota.
Então, ela não se incomoda em ganhar um bichinho de pelúcia fofo de um garoto, hein…?
Arriscando uma olhada rápida para a Mahiru, o Amane a viu olhando diretamente para o rosto do urso.
Ele não podia dizer pela expressão dela se ela estava feliz, apenas que seus olhos estavam fixos no bicho de pelúcia.
“Eu quero dizer… Se você não gostar, pode simplesmente jogá-lo fora,” Amane disse, na esperança de amenizar a situação com algum humor leve.
Mahiru se virou bruscamente para ele e franziu as sobrancelhas com força. “Eu nunca faria isto!”
“C-claro, eu… não pensei que você faria isso ou algo assim.”
A resposta foi tão definitiva que o Amane não pôde deixar de se assustar e mal conseguiu acenar em resposta.
“...Eu jamais faria uma coisa tão cruel. Vou guardá-lo com carinho.” Braços finos abraçaram o urso de pelúcia, como se quisessem envolvê-lo completamente. Amane não conseguia decidir se a Mahiru parecia mais uma criança com seu brinquedo favorito ou uma mãe protegendo um bebê. De qualquer forma, ela certamente abraçou o urso com paixão, olhando para ele como se fosse o objeto mais precioso do mundo.
O rosto da Mahiru não era a máscara de pedra que ela mantinha na escola, nem era o rosto que ela frequentemente usava quando estava irritada com o Amane. Desta vez, era tranquilo, suave e um tanto afetuoso— uma expressão inconfundivelmente doce.
Amane sentiu uma inocência nela, e seu sorriso puro era bonito o suficiente para lhe tirar o fôlego.
Eu não deveria estar olhando, Amane pensou. Mahiru poderia perceber se ele continuasse olhando para ela daquele jeito.
Amane tinha certeza de que não estava apaixonado, mas ver uma linda garota fazer uma cara como aquela, e saber que ele era a causa disso, inegavelmente fez seu coração palpitar. Ela parecia tão adorável enquanto estava sentada com um leve sorriso, abraçando o bicho de pelúcia em seu peito. Qualquer pessoa que a visse ficaria cativada com a visão. Amane estava, apesar de suas reservas habituais.
Bastava encostar a palma da mão no rosto dela para que ficasse imediatamente aparente o quanto estava mais quente do que o normal. Envergonhada depois de ter sido tão aberta com suas emoções, ela xingou baixinho. “...Droga.” A palavra era tão baixa que mal podia ser ouvida.
Felizmente, a Mahiru não parecia ter notado como o Amane estava olhando para ela, porque o rosto dela estava meio enterrado no bicho de pelúcia que ela segurava no peito.
Ela ainda parecia extremamente doce, e o Amane estava preocupado que ele dissesse algo estranho, mesmo contra sua própria vontade.
“...Eu estou realmente muito feliz por você ter gostado,” Felizmente, o Amane conseguiu ser breve no que disse.
Rapidamente, a Mahiru se virou para encará-lo. “Essa é a primeira vez que eu recebo algo assim.”
“Huh? Como você é popular, achei que receberia presentes como este o tempo todo…”
“O que você está pensando de mim…?” Foi um alívio ver o comportamento habitual da Mahiru voltar, mas isso era apenas porque o Amane não conseguia ver sua expressão atual por trás do urso. “...Eu nunca contei a ninguém quando era o meu aniversário,” Mahiru continuou, olhando para baixo, para o bicho de pelúcia. “Eu odeio este dia, por isso eu não o compartilho.”
A expressão da Mahiru suavizou quando ela olhou para o presente, embora suas palavras continuassem afiadas.
“Normalmente, eu odeio receber presentes de estranhos, por isso não os aceito,” Mahiru explicou.
“Mas, você está aceitando este,” Amane disse.
“...Fujimiya…,” Mahiru disse calmamente, “Você não é um estranho.”
Com o rosto ainda meio enterrado no pelo, a Mahiru olhou novamente para o Amane. Ela tinha uma expressão sonhadora e inocente. Foi cativante e, ao olhar para o anjo sentado em seu sofá, o Amane percebeu que estava em apuros.
Mahiru era tão fofa que o Amane se viu tentando acariciar seus cabelos sem querer, e teve que colocar rapidamente a mão atrás das costas antes de fazer algo realmente estranho.
…Isso foi perto! Se o Amane tivesse baixado a guarda, provavelmente teria começado a dar tapinhas na cabeça da Mahiru naquele exato momento. Fazer algo tão inapropriado teria destruído tudo o que ele havia construído com ela.
“...O que é?” Mahiru perguntou.
“N-nada,” Amane respondeu timidamente.
Talvez a Mahiru tenha visto o movimento do braço dele, ou talvez ela tenha percebido sua angústia óbvia enquanto ele lutava para impedir que seus sentimentos alarmantes viessem à tona. A cabeça da Mahiru se inclinou para um lado, demonstrando confusão. Este simples movimento foi o suficiente para deixar o Amane sem palavras, e ocorreu a ele que belas garotas possuem um poder aterrorizante. Mesmo assim, ele se sentiu envergonhado por ter sido tão cativado pela fofura da Mahiru. Ele também estava confiante de que, se contasse a ela como se sentia, ela ficaria confusa.
Algo nessa sensação provocou um senso de perigo no Amane, e ele fez o possível para empurrá-la para o fundo.
“...Muito obrigada, Fujimiya,” Mahiru disse com uma voz suave, mas o Amane já havia se afastado dela.
“Ei, ei, Amane, como foi com aquela garota para quem comprou o presente?”
Obviamente a Chitose iria se intrometer, já que o Amane a havia convencido a ir fazer compras com ele. No dia seguinte ao aniversário da Mahiru, Amane foi abordado com a pergunta sorridente da Chitose.
Chitose estava em uma classe diferente, mas tinha ido à sala de aula dele depois da escola. Só isso não era um grande problema, mas o sorriso dela era o tipo de sorriso que fazia o Amane sentir que ela estava tramando algo. Hoje, especialmente, ele sentiu o desejo de se virar e correr.
“Não aconteceu nada— pelo menos, nada como você está imaginando,” Amane respondeu.
E era verdade. Ele definitivamente não estava guardando nenhum sentimento amoroso e não havia dado o presente a Mahiru porque esperava que isso levasse ao início de algo mais. Claro, ela aceitou graciosamente os presentes, mas certamente não houve desenvolvimentos românticos do tipo que a Chitose esperava.
“Agora espere,” Itsuki interrompeu, “O fato de você estar tão preocupado com alguém é uma coisa muito rara, você sabe. De repente, você conhece algum conhecido com quem parece estar envolvido, e é uma garota. Muito suspeito.”
“Não é nada disso.” Amane sabia que precisava acabar com o assunto agora. Ele estava feliz que a Mahiru tivesse ficado satisfeita com seus presentes, mas ele estava começando a pensar que envolver outras pessoas na situação era mais problemático do que valia a pena.
Não querendo mais alimentar a curiosidade deles, o Amane respondeu da forma mais direta possível, mas o Itsuki levou a mão à boca, como se estivesse pensando algo.
“...Hmm…diga, Amane?”
“O que é?”
“É possível que a pessoa a quem você deu o presente seja… seu vizinho?”
Itsuki era inteligente e muito perspicaz, o que, em momentos como esse, pode ser uma verdadeira dor de cabeça.
“...O que lhe faz pensar nisso?” Amane perguntou nervosamente.
“Bom, ela é a única pessoa que me lembro que se preocupa em cuidar de você. E você não é daqui, então, não conhece muitas pessoas. Além disso, você não sai com muitas garotas. Ela lhe trouxe o jantar naquele outro dia, certo? Eu estava pensando que talvez isso fosse sobre você querer retribuir o favor.
“Bom…”
“Hmm… o Amane está parecendo muito saudável recentemente, certo, Chi?”
“Ah, eu também achei isso.”
“Ela deve estar levando refeições para ele com bastante frequência, não é? Será que é por isso que ele queria lhe dar um presente de aniversário, para agradecê-la?”
Amane lutou para manter uma expressão de indiferença enquanto o Itsuki descrevia perfeitamente a situação para a Chitose. Era tão preciso que parecia que ele estivesse lá para ver tudo acontecer. Às vezes, o Itsuki era assustador desse jeito. Amane podia ver o porquê do seu amigo ser tão popular. Ele era um pouco exibido, mas também era inteligente e atencioso. Amane apenas desejou que o Itsuki guardasse as exibições para sua namorada.
“Que imaginação hiperativa…,” Amane interrompeu.
“Bom, você não vai confessar, então tudo que temos é imaginação. Vamos, desembucha!” Itsuki pressionou.
“Quem sabe…?”
“Você está escondendo de nós!”
“Tão mesquinho!” Chitose concordou.
“Já entendi.”
Não importa o que alguém dissesse, o Amane não planejava confirmar a verdade. Se ele deixasse alguma coisa escapar, o Itsuki e a Chitose nunca parariam de persegui-lo até que ele contasse toda a história. Na verdade, o Itsuki era apenas a ponta do iceberg; o Amane estava na presença de uma colegial que adorava fofocas, especialmente quando se tratava de casos românticos. Embora não houvesse o mínimo romance aqui, se a Chitose sentisse o cheiro da pessoa envolvida, ela o provocaria incessantemente.
Suspirando irritado, o Amane terminou de arrumar suas coisas e pegou sua mochila. Ele decidiu fazer uma retirada estratégica, antes que seus dois amigos lhe causassem azia.
“Até mais. Vocês dois podem ir em frente e flertar o quanto quiserem em particular,” Amane disse.
“Nós íamos fazer isso, mesmo se você dissesse o contrário!” Itsuki gritou.
“...Itsuki, não íamos segui-lo e tentar encontrar a garota em questão…?”
“Sim, você provavelmente não deveria discutir sua operação na frente do alvo… E de qualquer forma, não há nada para ver. Mesmo que houvesse, vocês dois nunca passariam pelo saguão." Amane repreendeu.
“Tsk!” Os lábios da Chitose se curvaram em um beicinho bonito, mas seus olhos estavam sérios. Aparentemente, ela realmente estava planejando seguir o Amane. Nervosamente saindo apressado da sala, o Amane deixou seus amigos para trás.
“...Essa foi por pouco,” Amane resmungou sem pensar.
“O que foi?” Mahiru perguntou a ele com curiosidade.
Ainda era um pouco cedo para fazer o jantar, mas o Amane e a Mahiru tinham ido às compras e voltaram para o apartamento dele. Eles estavam relaxando um pouco, quando a Mahiru ouviu o Amane falando sozinho.
Mahiru estava agindo como de costume; não havia nenhum vestígio da garota que estava tão apaixonada pelo urso de pelúcia. A mesma expressão plácida permaneceu, e o Amane se perguntou se talvez ele tivesse sonhado com todo o incidente do aniversário. Na verdade, ele preferiria que ela fosse assim. Ele não tinha certeza de que seu coração poderia suportar vê-la olhar para ele do jeito que ela tinha feito no outro dia.
“Ah, bom, o Itsuki e a Chitose estavam desconfiados sobre o presente.”
Amane pretendia explicar que os havia consultado sobre o presente, mas a Mahiru parecia se lembrar do nome do Itsuki, e ela suspirou, dizendo “Ah, entendi” como se ela entendesse.
“Bom, não parecia ser o tipo de coisa que você compraria por conta própria.”
“Não era com isso que eu estava preocupado…”
Aparentemente, ninguém achava que o Amane fosse capaz de comprar um presente para uma garota. Para ser honesto, ele realmente não achava que nunca experimentaria os sentimentos doces e amargos que deveriam acompanhar o amor de uma só vez.
“Minhas compras são da minha conta. Por que todo mundo pensa assim de mim, afinal?”
Sem dúvida, a Mahiru era bonita, e ontem ele sentiu o desejo de estender a mão e tocá-la. Isso ele não poderia negar, mas que jovem não teria se sentido assim? a Mahiru era extremamente bela, afinal de contas. Amane havia se deixado levar por sua beleza; isso era tudo. Nada do que tinha acontecido demonstrava que ele tivesse sentimentos mais profundos. Mahiru era uma ótima pessoa, mas o Amane não estava interessado nela dessa forma.
Ele deu uma olhada para a Mahiru. Ela estava linda como sempre, mas o coração do Amane não batia mais como na noite anterior. Mais uma vez, ele se lembrou de que não se importava com a Mahiru de nenhuma forma significativa.
Preocupado com a possibilidade da Mahiru dizer algo se pegasse o Amane olhando para ela, ele olhou para o celular. Quando olhou, percebeu que havia recebido uma tonelada de novas mensagens de texto. Pensando que provavelmente se tratava do Itsuki, o Amane decidiu verificá-las, mas acabou que elas não tinham vindo do seu amigo.
Amane franziu a testa ao ver o nome do remetente: SHIHOKO.
Ela era um dos três contatos femininos no celular do Amane. Havia a Chitose, a Mahiru e… a mãe do Amane.
Curioso sobre o que ela poderia querer, o Amane tocou na conversa. Ele odiava lidar com as perguntas tensas da sua mãe, sempre perguntando como as provas estavam indo ou se ele precisava de alguma coisa. Ele mal conseguia lidar com a Chitose, mas alguns membros da sua família eram exatamente como ela. De fato, a Chitose poderia se tornar muito parecida com a mãe do Amane quando ficasse mais velha. Shihoko não era tão ruim a ponto do Amane odiá-la, mas ele não suportava a personalidade da sua mãe.
“Eu trouxe algumas frutas da casa do vovô, então vou compartilhá-las com você, Amane. Estou às enviando, então esteja no apartamento no sábado à tarde! Eu não vou te perdoar se você recusar a entrega ou não estiver lá para pegá-la, certo?”
“Então você pode decidir meus planos sozinha…?” Amane murmurou. Agora, ele realmente não tinha planos para o sábado, mas achava que sua mãe deveria pelo menos ter entrado em contato com ele um pouco mais cedo.
“Aconteceu alguma coisa?” Mahiru deve ter ouvido os sussurros do Amane, pois olhou para ele com sua expressão calma de sempre.
“Minha mãe colheu umas frutas na casa do meu avô e vai enviá-las para cá no sábado à tarde. Provavelmente são maçãs e outras coisas,” Amane explicou.
“Você descasca suas maçãs?”
“...Eu acho que eu poderia fazer isto com um descascador.”
“Isso iria descascá-las, mas… também tiraria grande parte da polpa, então seria um pouco de desperdício.”
As palavras da Mahiru soaram como algo que a mãe do Amane diria, e ele tentou engolir esse pensamento antes que viesse à tona.
“Se for o caso, podemos simplesmente comê-los inteiros,” ele disse.
“Que selvagem.”
“É uma dor de cabeça descascá-las.” Amane deu de ombros e sorriu desajeitadamente.
“Você é uma bagunça.” Apesar da Mahiru parecer irritada e fazer uma avaliação bastante brutal dos modos de comer do Amane, a maneira como ela se comportava também mostrava um certo entendimento. “Acho que tudo é a mesma coisa quando você come.”
“Sabe, não sei se conseguirei comer todas antes que estraguem. Você quer algumas, também?” Amane perguntou.
“Claro, eu ficaria feliz em pegar um pouco. Afinal, frutas são caras.” Era uma fala meio doméstica, mas, novamente, esse era o tipo de pessoa que a Mahiru era.
“Sábado, certo? Neste caso, eu farei um almoço para nós antes, como agradecimento,” Mahiru disse.
“Mas, você já está sempre cuidando de mim,” Amane comentou.
“Como eu já lhe disse, eu realmente não me importo de fazer comida para você, Fujimiya.” Mahiru sorriu muito levemente. De alguma forma, aquele pequeno sorriso fez o Amane se sentir constrangido. Isso lembrou os acontecimentos do dia anterior, e o Amane não pôde deixar de desviar os olhos do belo anjo em seu apartamento.
“...Tudo bem, obrigado,” ele respondeu secamente.