Volume 1
A Primeira Refeição Juntos
Mahiru ia começar a preparar o jantar no apartamento do Amane e ela apresentou a ele uma lista de condições:
- Amane pagaria metade do custo dos ingredientes, mais um custo adicional de mão de obra, mais o custo de quaisquer despesas acidentais.
- Os dois entrariam em contato um com o outro no máximo um dia antes se tivessem algo para fazer e não pudessem comer juntos.
- Os dois iriam dividir o trabalho de fazer compras e limpar o local depois.
Com relação ao custo extra de mão de obra, foi necessário algum trabalho para que a Mahiru concordasse com isso. Amane insistiu que ele se sentia mal por todo o tempo que ela passava com ele. Isso era de se esperar, já que ela fazia todo o trabalho para preparar a comida. Além disso, Amane e Mahiru chegaram a um acordo rapidamente.
“É realmente tudo novinho em folha, até parece que nunca foi usado…", Mahiru comentou.
“Corta essa.”, Amane rebateu.
Uma linda garota estava em sua cozinha usando um avental. Isso foi como uma fantasia se realizando. Amane tinha certeza que ele iria perder a cabeça a qualquer momento. Quando a Mahiru apontou, mais uma vez, que ele realmente nunca havia usado sua cozinha, ele sentiu uma profunda vergonha.
“Você tem uma coleção impressionante de utensílios culinários, mas eles são como pérolas jogadas aos porcos.", Mahiru observou.
“Bom, se você usá-los, eles não serão desperdiçados.", Amane argumentou.
“Que desculpa esfarrapada. Seus preciosos utensílios estão praticamente morrendo de negligência.”
“Tá bom, então, traga-os de volta à vida usando o seu incrível talento culinário. Eu com certeza não posso.”
Com uma concessão graciosa, Amane fez um sinal para que a Mahiru assumisse o controle. Ela retribuiu o gesto com uma expressão irritada, mas talvez porque já esperasse isso, ela apenas suspirou e não reclamou mais.
“Certo, vamos começar. Você tem algum tempero?”
“Claro que sim. Você está brincando comigo? Todos eles estão armazenados adequadamente e… a validade de nenhum deles expirou também.”
“Uau, eu estou surpresa.”
“É porque eles nunca foram abertos.”
“Isso não é motivo de se gabar. Certo, se você não tiver o que precisamos, posso trazer coisas do meu apartamento para usarmos desta vez.”
“Isso seria útil.”
“Por enquanto, se você tem o básico, eu acho que podemos nos virar. Além disso, eu decidi os pratos de hoje. Tudo bem para você?”
“Eu não sei muito sobre culinária, então eu fico feliz com qualquer coisa, desde que eu possa comer. Eu não tenho grandes preferências.”
“Sério? Então vamos nos apressar e começar… Por favor, mostre-me onde você guarda tudo.”
“Nesta cesta.”
“Eles realmente não estão abertos, hein…”
Mahiru ergueu as sobrancelhas, chocada, enquanto olhava para a cesta cheia de temperos intocados. Talvez por ter sido avisada antes de ver os temperos não utilizados, ela rapidamente retomou seu comportamento habitual e começou a lavar as mãos na pia.
“Certo, vou começar a fazer as coisas, então você pode esperar na sala de estar ou no seu quarto.", Mahiru afirmou.
“Tudo bem. Eu não posso lhe ajudar com nada de qualquer forma.", Amane aceitou.
“Que cavalheiro… Eu suponho que você apenas atrapalharia se ficasse por perto.”
“Você é terrivelmente honesta.”
“É apenas a verdade. Não tem necessidade de adoçar isso.”
Como a Mahiru disse, ele claramente estaria apenas atrapalhando, então o Amane obedientemente voltou para a sala de estar e a observou enquanto ela trabalhava.
Quando ela terminou de lavar as mãos, Mahiru rapidamente começou a trabalhar. Amane não sabia o que ela estava fazendo, mas, com base nos ingredientes que ela havia preparado, era provavelmente alguma comida japonesa.
Tudo isso parecia estranho para o Amane, como se ele estivesse em um sonho, mas era real. Mahiru estava preparando os ingredientes ali mesmo, com o cabelo amarrado delicadamente em um rabo de cavalo que balançava suavemente.
‘O que está acontecendo aqui? É como se eu tivesse uma esposa ou com algo assim’, Amane pensou.
Mahiru provavelmente não se sentia da mesma forma, mas a situação deles parecia um pouco demais como uma família feliz e Amane não conseguia deixar de imaginar isso. Ele não tinha nem mesmo o menor desejo de viver com a Mahiru, mas a visão linda de uma garota em sua cozinha era, por si só, suficiente para levar sua mente a todos os tipos de lugares. Independentemente de haver ou não algum afeto entre o Amane e a Mahiru, o simples fato de uma garota adorável lhe oferecer uma refeição caseira foi o suficiente para tocar o coração do Amane.
“Você está pensando em coisas estranhas aí?”
“Você pode parar com especulações estranhas.”
Amane havia congelado quando a Mahiru chamou por ele. Ela adivinhou o que ele estava pensando sem nem mesmo virar.
‘Ela é muito perspicaz…’
Sentindo-se surpreso e ansioso ao mesmo tempo, Amane controlou os instintos não exatamente malignos que começaram a surgir dentro dele e voltou a olhar para as costas da Mahiru.
Cerca de uma hora depois, a Mahiru começou a colocar os pratos prontos na mesa.
Ela escolheu fazer comida japonesa hoje, o que era típico quando se considerava sua tendência para culinária saudável.
“Acontece que você tem alguns utensílios e temperos, então parece que não precisarei trazer nada do meu apartamento. A partir de amanhã, eu posso tentar pratos mais elaborados, também.”
“Bem, eu estou simplesmente grato por você estar fazendo alguma coisa para mim.", Amane admitiu.
Talvez porque a Mahiru não soubesse quantos utensílios de cozinha e temperos o Amane tinha em sua coleção, ela fez muitos pratos simples em vez de algo mais complexo, mas a apresentação estava impecável mesmo assim.
Ao longo da mesa, havia uma variedade de pratos de estilo japonês. De peixe cozido em molho de soja a verduras temperadas. Desde omeletes enrolados a sopa de missô. Cada item era algo que o Amane jamais sonharia em fazer.
Anteriormente, Amane havia dito que não tinha nenhum gosto ou desgosto em particular, mas de fato amava comida japonesa. Ele queria tranquilizar a Mahiru, que parecia estar se desculpando por ter preparado apenas receitas fáceis, que isso era exatamente o que ele queria.
“Está incrível.", Amane disse.
“Eu estou feliz por ouvir você dizer isso. Coma-os enquanto ainda estão quentes.”
Mahiru se sentou em uma cadeira ao lado dela, então o Amane se sentou do outro lado da mesa.
Sua mesa de jantar era pequena, já que ele morava sozinho, então, não importava como se sentassem, eles ainda estavam próximos um do outro. Foi uma sorte que o Amane tivesse duas cadeiras para o caso de um convidado aparecer, mas ver uma garota linda sentada bem diante de seus olhos despertou um sentimento indescritível dentro dele.
No entanto, quando o Amane começou a comer, até mesmo a beleza da Mahiru deixou de ter importância.
Apressadamente, ele disse: “Vamos comer” e começou com a sopa de missô.
No momento em que ele levou a tigela aos lábios e tomou um gole, o missô perfumado e o sabor do dashi se espalharam por sua boca. O sabor suave era completamente diferente da sopa de missô instantânea. Amane pôde perceber que ele deve ter sido preparado com muito cuidado. O sabor do missô não era muito forte e foi cuidadosamente temperado para permitir que o sabor do daishi ficasse evidente.
No início, o Amane achou que o sabor da sopa era um pouco forte, mas depois pensou em tomá-la enquanto comia os outros pratos, ele percebeu que havia um equilíbrio perfeito e sabia que iria esvaziar sua tigela. Em vez de ser muito forte, a sopa de missô tinha um sabor reconfortante. Era um sabor que dava vontade de comer mais.
“Delicioso.", Amane disse com sinceridade.
“Obrigada por dizer isso.”
Os olhos da Mahiru se arregalaram em um sorriso.
Amane já vinha elogiando a culinária da Mahiru há algum tempo, mas provavelmente ela estava se sentindo nervosa por ser a primeira vez que cozinhava na frente dele.
Mahiru observou o Amane por alguns instantes antes de comer qualquer coisa. Quando ela finalmente começou a comer, o Amane estendeu os pauzinhos para os outros pratos.
Provando um pouco de cada prato, o Amane não se surpreendeu com o fato de que tudo o que a Mahiru havia preparado era fantástico.
O peixe cozido estava cheio de sabor suculento sem sacrificar sua maciez.
Normalmente, quando o peixe é cozido por muito tempo para realçar o sabor, ele naturalmente perdia um pouco da umidade e secava, mas este estava bem carnudo e tinha uma textura agradável.
Quanto aos omeletes enrolados, eles foram feitos exatamente conforme o gosto do Amane. Eles eram um amarelo sedutoramente vívido, e quando o Amane colocou um em sua boca, ele não se surpreendeu com o tempero suave do daichi que o recebeu.
Quando se tratava de omeletes no estilo japonês, o Amane sabia que algumas pessoas adicionavam açúcar ao prepará-las, enquanto outras usavam apenas sal. Estes enrolados tinham sido temperados com daichi, no entanto. Além do sabor rico do daichi, o Amane também podia sentir uma leve doçura. Ele se perguntou se aquele leve tom vinha do mel. Provavelmente não havia muito nos omeletes enrolados, mas o toque satisfatório de doçura trouxe uma profundidade real.
Amane não tinha nenhuma preferência real entre doce ou salgado quando se tratava de pratos com ovos, mas os que ele mais gostava combinavam o sabor complexo do daishi com o que ele suspeitava ser um pouco de mel. Mahiru conseguiu fazer isso com maestria, e o Amane ficou bastante impressionado.
Murmurando baixinho que as omeletes enroladas estavam deliciosas, o Amane pegou outra com seus pauzinhos e rapidamente jogou na boca.
Eles não apenas tinham sido perfeitamente aromatizados, mas também foram cozidos com habilidade. O caldo adicionado aos ovos os tornava mais suculentos.
Definitivamente, são melhores do que as omeletes enroladas da mamãe. Ele guardou para si os pensamentos rudes sobre sua mãe ausente para si enquanto estalava os lábios alegremente. Então ele percebeu que a Mahiru estava olhando para ele.
“Você realmente parece estar gostando...”
“Porque é tudo tão bom. Estou prestando meus respeitos à comida deliciosa.”
“Claro, tudo bem.”
“Além disso, não parece melhor quando sou honesto sobre o quanto eu gosto disso em vez de ficar aqui comendo com uma expressão vazia?”
Se você acha que algo é delicioso, você tem que realmente agir como se fosse, caso contrário, a pessoa que fez ficará em dúvida. Mesmo que você diga que gosta, quem acreditaria em você se não tivesse essa aparência? É melhor ser honesto e deixar que o que você sente transpareça diretamente em seu rosto. Não importa se é você quem agradece ou é agradecido, é melhor fazer o que se sentir bem.
“Sim, eu acho que sim…” Mahiru pareceu entender o que o Amane estava dizendo e sorriu levemente. A expressão era gentil e revelava um pouco de alívio. Foi doce o suficiente para que todos os pensamentos do Amane parassem por um segundo.
“Fujimiya?” Mahiru perguntou.
“Ah… Não, não é nada.",Amane respondeu. Ele havia se encantado com o sorriso do anjo, mas ele não poderia dizer isso a ela. Para esconder seu crescente constrangimento, o Amane deu mais uma outra mordida na comida, encerrando qualquer outra discussão.
“Obrigado pelo jantar.”
“Fico feliz que você tenha gostado.”
Amane havia devorado completamente todos os pratos que a Mahiru havia preparado. As palavras da Mahiru foram calmas, mas sua expressão era serena, e ela parecia feliz que o Amane tenha enchido seu estômago. Nem um único grão de arroz foi deixado para trás.
“Estava delicioso.", Amane elogiou.
“Eu poderia dizer isso apenas observando você.", Mahiru brincou secamente.
“Melhor do que a comida da minha mãe.”
“Eu ouvi dizer que é um tabu comparar a comida de uma garota com a de sua mãe.”
“Isso não só é verdade quando você está criticando alguém? De qualquer forma, isso te incomoda?”
“Eu não me importo, não.”
“Bom, então está tudo bem, certo? Isso não muda o fato de que é delicioso.”
Mahiru claramente não era uma cozinheira amadora. A mãe do Amane provavelmente tinha mais anos de experiência, mas ela preferia sabores diferentes, e muitos de seus pratos eram bastante insossos, por tanto, não eram páreo para as comidas cuidadosamente preparadas pela Mahiru.
“Cara, isso é incrível. Poder comer assim todas as noites!” Amane exclamou.
“Desde que eu não tenha mais nada acontecendo, é claro.", Mahiru acrescentou.
“Então eu posso realmente hospedar você todas as noites para jantar?”
“Eu não teria sugerido isso se fosse contra a ideia.”
“Bom, acho que isso é verdade.”
Mahiru era uma pessoa direta, então é claro que ela nunca concordaria com isso se não quisesse, em primeiro lugar. o Amane ainda não tinha certeza se era bom que ela cozinhasse para ele com tanta frequência, no entanto.
Ele estava pagando pela metade dos ingredientes, além de um pouco mais para cobrir o trabalho dela, mas, mesmo assim, ele não podia deixar de sentir que o fardo sobre a Mahiru era muito grande.
“Você costuma cozinhar para os garotos de quem não gosta?”, Amane perguntou.
“Estou fazendo isso porque você estava negligenciando sua saúde. Além disso, eu gosto do próprio ato de cozinhar, e não odeio ver você comendo com tanto gosto.
“Mas..."
“Se isso o incomoda tanto assim, não seria um problema parar.”
“Não, por favor, estou lhe implorando.”
Ao primeiro sinal de que a Mahiru possivelmente não poderia estar mais cozinhando para ele, o Amane instantaneamente retirou toda e qualquer reclamação. Isso era o quanto a comida dela significava para ele. Para que ela fosse levada embora agora—seria praticamente uma questão de vida ou morte.
Amane estava totalmente ciente de que a Mahiru havia obtido controle total sobre ele por meio de seu estômago. Retornar para as refeições da loja de conveniência agora seria como roubar as cores do mundo.
Chocada com a resposta imediata do Amane, a Mahiru ficou espantada por um momento antes de abrir um sorriso.
“Bom, então, por favor, continue aproveitando.”
“Certo.”
Parecia que os dias do Amane jantando com o anjo extremamente caridoso que fazia toda a comida à mão continuariam por um tempo ainda. Ele não pôde deixar de suspirar de felicidade, culpa e expectativa.