O Anjo da Porta do Lado me Mima Demais Japonesa

Tradução: Mie

Revisão: Saki


Volume 1

Aulas de Culinária com o Anjo

Amane geralmente comprava algo para almoçar na escola, mas nos dias de folga, isso não era possível. Ele e a Mahiru tinham suas próprias tarefas para cuidar, então era impossível almoçar e jantar juntos. Mesmo que isso fosse possível, o Amane teria se sentido extremamente culpado ao pedir que a Mahiru para preparar e comer duas refeições com ele.

Normalmente, o Amane apenas precisava lidar com seus almoços de fim de semana, mas se ele recorresse com muita frequência à loja de conveniência, a Mahiru o repreendia, dizendo algo como “Você precisa ter uma dieta adequadamente balanceada.” Com os custos de seus jantares se acumulando, o Amane também se sentia constrangido em sair para almoçar.

O que fazer para a refeição do meio-dia estava rapidamente se tornando um problema.

“...Será que eu deveria cozinhar alguma coisa?”

Sem nenhum compromisso que levasse o Amane para fora de seu apartamento, ele ficou sozinho em seu apartamento. Faltava apenas uma hora para o meio-dia.

Mahiru provavelmente já havia começado a fazer algo para si mesma, mas o mesmo não poderia ser dito para seu infeliz vizinho.

Quando chegava a esse ponto, o Amane poderia fazer algo se realmente precisasse. Não era como nos mangás, onde ele produziria algum borrão censurado. Embora não tivesse uma aparência particularmente fantástica e talvez não tivesse um sabor espetacular, a comida que o Amane era capaz de criar era comestível. Não era exatamente cozinhar, mas era o suficiente, e isso o mantinha alimentado.

O problema era que ele havia se acostumado com as refeições de primeira linha da Mahiru, então a ideia de voltar a comer seus próprios pratos não era muito atraente. Ninguém gostaria de voltar a um prato tão simples depois de experimentar essas deliciosas obras de arte.

…Augh, a Mahiru realmente me mima.

Amane havia se tornado um escravo da culinária da Mahiru. Ele se sentia envergonhado ao pensar em sair para comer novamente, mas também havia perdido o interesse pelas refeições da loja de conveniência.

Decidindo que ele estava dependendo demais da Mahiru, o Amane concluiu que esse era um bom momento para se desafiar. Mesmo que ele tenha falhado até agora ao preparar suas próprias refeições até agora.

Afinal, a Mahiru não ficaria com ele para sempre. As coisas entre eles estavam boas e confiáveis por enquanto, mas ainda faltavam dois anos de ensino médio, então se algo acontecesse durante esse tempo, esse relacionamento deles poderia chegar a um fim abrupto. Além disso, eles certamente seguiriam em caminhos separados quando chegasse a hora da faculdade. Não havia como as coisas simplesmente continuarem assim indefinidamente.

Acho que é melhor eu tentar me esforçar um pouco agora, enquanto ainda a tenho por perto.

Resolvendo fazer alguma coisa, mesmo que fosse relativamente pequena, o Amane se levantou do sofá e pegou sua carteira.



“Oh, você foi ao supermercado?”

Ao voltar da loja, o Amane encontrou a Mahiru no saguão do apartamento. Ele não tinha certeza se o encontro casual era bom ou ruim. Mahiru também parecia ter acabado de sair, pois estava carregando uma sacola de compras da papelaria próxima.

“Sim,” Amane admitiu. Não havia necessidade de escondê-las, então o Amane acenou com suas sacolas de supermercado para mostrar a ela.

Com uma expressão curiosa, a Mahiru perguntou, “Ah, as compras do dia anterior não foram o bastante? Você não comprou tudo que estava na lista?”

“N-não, não é isso… É só que… Eu pensei que eu poderia tentar preparar o almoço sozinho,” ele disse.

“...Sozinho?”

Apesar da explicação, os olhos da Mahiru pareciam cheios de dúvidas. Isso era normal.

Antes de se tornar dependente da comida da Mahiru, o Amane sobrevivia comprando refeições prontas e almoços em lojas de conveniência. Deve ter sido difícil para ela acreditar que ele realmente iria cozinhar para si mesmo.

“Eu não quero dizer nada de ruim,” Mahiru continuou, “Então, vou apenas lhe dizer que seria mais seguro parar agora. E se você se queimar ou se cortar?”

“...Sabe, não é como se eu literalmente não pudesse cozinhar nada.”

“Certo, é que você não consegue cozinhar nada que tenha um bom gosto. E isso supondo que você não se mate no processo.”

A crítica detalhada da Mahiru deixou o Amane sem palavras. Ela disse exatamente o que ele mesmo estava pensando. 

“Se você disser que está indo em frente com isso, não vou impedi-lo,” Mahiru disse, “Mas controle suas expectativas, ou você acabará gravemente desapontado.”

“...Pois bem,” Amane concordou.

Com “expectativas” ela deve ter se referido à sua própria culinária. Mahiru estava confiante em suas habilidades e sabia muito bem o quanto o Amane gostava de sua comida.

“É que, bem, você sempre está falando em nutrição e outras coisas.  Pode ser que no futuro eu realmente tenha que viver por conta própria, como na faculdade. Não posso contar com você para sempre, certo?”

Depender demais da Mahiru só traria problemas para o Amane. Depois de perceber o quanto a Mahiru o estava mimando ultimamente, ele sentiu que deveria ser capaz de, pelo menos, administrar o básico.

Os olhos da Mahiru se arregalaram com as palavras do Amane e, em seguida, ela soltou um suspiro que parecia levemente impressionada.

“...Eu acho que é ótimo que você esteja pensando no futuro, mas se for assim, você não deveria ter vindo falar comigo primeiro?” ela questionou.

“Hã?”

“Em vez de fazer seja lá qual tipo de bagunça que você está prestes a fazer sem a minha supervisão, seria muito melhor se eu observar e garantir que nada dê errado. Amane, você tem certeza de que não vai destruir acidentalmente sua cozinha?”

“...Não.” Amane suspirou. Ele sabia que fazia uma bagunça horrível em sua cozinha sempre que tentava usá-la. Sem refutar, ele acenou lentamente com a cabeça para a Mahiru.

“Já era de se esperar,” Mahiru respondeu com firmeza. “É por isso que é melhor que eu esteja lá, certo?”

“Isso seria pedir demais?”

“Se eu não quisesse fazer isso, eu não teria sugerido a ideia.” A voz dela tinha um tom um pouco frio, mas como ela estava concordando em ajudá-lo, o Amane não se importou. Ele se curvou profundamente para expressar sua gratidão.

“Você não precisa ser tão formal,” Mahiru disse, parecendo confusa. Amane sorriu e os dois entraram no elevador, subindo até o andar deles.

“...A propósito, você tem um avental?” Mahiru perguntou.

“Não há problemas com relação a isso. Comprei um para a aula de culinária.”

“E você o usou?”

“Não tinha realmente sentido. Tudo o que eu fazia era medir ingredientes e lavar a louça.

“Imaginei.” Mahiru suspirou, como se isso fosse exatamente o que ela suspeitava. Ela acompanhou o Amane até o apartamento dele. Na verdade, já havia outro avental, um que a Mahiru havia deixado para trás. No entanto, o Amane teria se sentido bastante desconfortável ao usar esta opção. 

Vestindo o avental que guardava no apartamento do Amane, a Mahiru prendeu o cabelo em um rabo de cavalo, como costumava fazer. Com os olhos estreitados, ela observou o Amane colocar o avental de cor escura que ele havia tirado do fundo de uma gaveta cômoda.

“Uau, eu nunca vi você nisso antes, Amane. Parece que o avental está vestindo você.”

“Ah, bom, me descuuulpe então”

“Eu acho que não há nada que possamos fazer quanto a isso. Então, você já decidiu o que planeja fazer, certo? Já que você foi comprar os ingredientes.” Mahiru deu uma olhada na sacola de compras que o Amane havia colocado na prateleira.

Amane assentiu. “Legumes salteados e uma omelete.”

“...Refogado  de legumes, porque eu o tenho repreendido para comer mais vegetais e uma omelete porque você gosta de ovos, certo?”

“Em cheio.”

“Não é que tenha sido difícil adivinhar. Que temperos você usa para o refogado?”

“Isto: molho yakiniku.”

“Oh… direto da garrafa, hein? Eu acho que tem aquele sabor robusto que os meninos gostam… e eu acho que é saboroso…”

“É melhor do que eu tentar fazer algo do zero, não é?”

Se o Amane não tivesse molho yakiniku à mão, ele planejava preparar algo que usasse sal, pimenta e molho de soja. Na verdade, ele estava feliz por ter o molho yakiniku. Amane sussurrou uma expressão silenciosa de gratidão por sua sorte de ainda ter um condimento que ele pudesse usar, depois seguiu o exemplo da Mahiru e lavou as mãos. 

Enquanto fazia isso, a Mahiru arrumava todos os utensílios necessários e alinhava os ingredientes para que fossem fáceis de usar. De fato, a eficiência do anjo não tinha limites.

“Para o refogado de legumes, é só cortar os legumes e fritar até que estejam dourados por igual, certo?... Você sabe como cortá-las?” Mahiru perguntou.

“Você está brincando comigo?” Amane respondeu.

Era óbvio que ele sabia disso. Ele não era muito bom nisso, mas sabia manejar uma faca.

Sob a cuidadosa supervisão da Mahiru, o Amane começou a cortar finalmente um pouco de repolho, mas logo percebeu o quanto suas palavras anteriores não tinham sentido depois que cortou o próprio dedo.

Primeiro o Amane foi ensinado a como fazer isso, e depois a Mahiru o deixou para tentar sozinho enquanto ela observava. Ele tinha se saído bem no começo, enquanto a Mahiru o ajudava a se acostumar com a tarefa, mas assim que ela deixou o Amane sozinho, ele se atrapalhou.

“...Aiii,” ele murmurou, olhando para o dedo. Era apenas um pequeno corte, mas estava sangrando.

A primeira coisa a fazer era lavá-lo, mas é claro que molhá-lo também arderia.

“...Eu pensei que algo assim poderia acontecer. Aqui, me dê isso.” Mahiru tirou um curativo do bolso do avental e o enrolou habilmente no dedo machucado do Amane. Ele estava igualmente grato e impressionado. 

“Você é muito preparada,” ele elogiou.

“Iniciantes frequentemente se machucam.” 

“Você não tem fé em mim, tem?” Apesar de tal acusação, o Amane sabia muito bem que não havia razão para ela pensar que ele não era nem um pouco capaz. Ele se machucou quase imediatamente, afinal de contas.

“Eu reconheço que você estava dando o seu melhor,” Mahiru consolou. “Isso é maravilhoso.”

“Nossa, obrigado.”

“Mesmo assim, eu gostaria que você tivesse me perguntado antes.” 

“Você diz isso, mas teria sido horrível fazer você preparar o almoço para mim também, especialmente em um fim de semana.”

“Eu sei que você está tentando lidar com as coisas sozinho, mas se você fizer alguma besteira e isso se tornar uma situação que acabe me chamando de qualquer maneira… Seria mais fácil estar aqui desde o início.”

“Tudo bem.”

Desta vez, o Amane escapou com apenas um ferimento leve, mas se tivesse acontecido algum desastre terrível na cozinha ou se ele tivesse usado algum aparelho errado e ele parasse de funcionar, ele sabia que não teria sido capaz de lidar com isso sozinho. Mahiru estava absolutamente certa.

“...E, por favor, nunca tente fritar nada. Você irá começar um incêndio,” ela acrescentou.

“Eu não estou nem perto de ser avançado o suficiente para fazer frituras,” Amane admitiu.

“Eu não acho que seja tão difícil assim… Mais uma vez, sou forçada a me perguntar como você sobreviveu por conta própria durante todo esse tempo,” Mahiru brincou.

“Me desculpe por tudo isso,” Amane respondeu com uma voz irritada. “Agora você sabe o porquê que eu estava vivendo de comida de loja de conveniência.”

Mahiru olhou para ele com preocupação no rosto. Amane não estava particularmente desanimado ou com raiva, então ela não tinha nada com que se preocupar, mas a Mahiru baixou os olhos, parecendo um pouco preocupada com alguma coisa.

“...É só— eu estou com medo da ideia de você fazer frituras, Amane, então, se você realmente quiser, por favor, venha me pedir.”

“Tudo bem, então, amanhã eu quero comer costeletas de carne moída fritas.” Imediatamente recuperando o seu bom humor, o Amane já estava fazendo um pedido para o jantar do dia seguinte. Mahiru deu um pequeno suspiro de alívio ao ouvir isso. 

“Tudo bem, mas você está comendo muita salada de repolho à parte. E eu estou fazendo sopa de missô com muitos vegetais, entendeu?”

“Sim, sim. E…obrigado.”

“Pelo o quê?”

“Por tudo.”

Mahiru fazia muito pelo Amane todos os dias e ainda encontrava tempo para se preocupar com ele. Amane estava realmente grato, mesmo que às vezes ele dissesse coisas estúpidas e ofensivas. Ele não tinha certeza de onde estaria sem ela. No entanto, admitir isso foi um pouco constrangedor.

“Você me ajuda muito,”ele murmurou baixinho. Ele então prontamente voltou para os vegetais.



“Vamos comer.”

“Parece bom.” 

A luta contra os vegetais levou quase uma hora, mas valeu a pena. Na mesa tinha um refogado feito com verduras cortadas de forma desajeitada, uma omelete com formato bonito… e uma pilha de ovos mexidos. 

Naturalmente, a bela omelete foi feita pela Mahiru em uma tentativa de dar ao Amane algo para usar como referência. Enquanto o Amane tentou o seu melhor para fazer uma segunda omelete, ele acabou com ovos mexidos.

A tentativa fracassada foi colocada na frente da Mahiru para que ela pudesse avaliar o trabalho dele. O exemplo perfeito, a idealização platônica de uma omelete, tinha sido preparado para o Amane.

Depois de apertar as mãos em agradecimento pela comida, a Mahiru pegou um pedaço dos ovos esfarrapados com os hashis para verificar o sabor. 

“...São ovos mexidos sem sabor, sem dúvida. Você não adicionou sal ou pimenta?”

“Eu esqueci. Além disso, eu deveria estar fazendo uma omelete.”

“Você o embaralhou muito. O que você estava pensando, misturando com os hashis até desmanchar? Eu te avisei sobre isso.”

“Me desculpe.”

Amane tinha esquecido de acrescentar os temperos porque ele havia misturado o ovo enquanto a Mahiru fazia sua omelete. De outra forma, ele tinha sido cuidadosamente supervisionado durante todo o processo. A falta de sabor e forma de seus ovos foi claramente culpa do próprio Amane.

Por outro lado, o prato da Mahiru era macio, fofo e indescritivelmente delicioso. A diferença deles era enorme.

“...Eu acho que, para você, foi uma tentativa muito boa. O mais importante é que você tentou. Ainda assim, eu estou preocupada que, se eu deixar você tentar sozinho, a limpeza depois será horrível, então gostaria que você fosse devagar, certo?” Mahiru perguntou.

“...Eu vou me tornar totalmente dependente de você,” Amane respondeu.

“Já é um pouco tarde para isso.”

“Ugh…”

“Brincadeira. Bom, na verdade não, mas eu gosto que você aprecie minha culinária e também não odeio ensinar você a cozinhar, então… na verdade, você não precisa se preocupar.”

“...Obrigado novamente— por tudo.”

Foi realmente graças à bondade da Mahiru que o Amane pôde viver tão bem quanto ele estava. Ele devia muito a ela, mas sabia que a Mahiru odiaria se ele se rebaixasse demais, por isso ele manteve a cabeça erguida. 

Curiosamente, a Mahiru estava com uma expressão um pouco solitária ao dizer isso, “Se você aprender a cozinhar, Amane, eu acho que serei dispensada de minhas funções.”

Certamente era verdade que, quando o Amane aprendesse a preparar suas próprias refeições, não haveria mais necessidade da Mahiru fazer isso por ele, mas o Amane balançou a cabeça.

“Não, isso é… Quero dizer… Sua comida é a melhor, Mahiru, então, por favor… Eu quero continuar comendo o máximo que puder. Embora, eu acho que é meio sem vergonha da minha parte pedir isso.”

Amane nunca negaria que era egoísmo da parte dele querer que a Mahiru continuasse cozinhando para ele, mas, ao mesmo tempo, a comida dela era obviamente muito melhor do que a dele, e ele não podia recusar. O vício já havia se instalado há muito tempo, e o Amane estava aterrorizado com a possibilidade de ser privado disso.

Os olhos da Mahiru se arregalaram com o pedido humilde e ela sorriu levemente. A vaga sensação de solidão desapareceu em um instante.

“Ha-ha. Você realmente não tem esperança, não é? Bom, eu não pretendo parar, então você pode relaxar.”

“...Obrigado,” Amane disse, sentindo-se aliviado ao ver que a expressão de ansiedade que ele havia visto em seu rosto tinha desaparecido, substituída por um leve sorriso.

“Que tal se eu pedir para você me ajudar às vezes? Descascar legumes, medir ingredientes, coisas assim,” Mahiru propôs.

“Como uma criança ajudando na cozinha.”

“Amane, é por aí que você precisa começar, sabe?”

Como o nível de habilidade do Amane era realmente igual ao de uma criança, não havia nada que ele pudesse responder. A Mahiru parecia estar se divertindo.



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