O Anjo da Porta ao Lado Me Mima Demais Japonesa

Tradução: DelValle

Revisão: Jeff, Mon, Kurayami


Vol 9

Capítulo 5: O Que Ainda Está Por Vir

   Na manhã seguinte, Itsuki estava sentado em sua mesa com uma expressão que gritava que ele estava de mau-humor.

   Normalmente, Amane chegava primeiro à escola, mas hoje parecia que Itsuki tinha saído excepcionalmente cedo. A julgar pela vermelhidão em seu rosto, ele deve ter chegado apenas alguns minutos antes, esquecendo o quão frio estava lá fora. Apesar disso, Amane podia sentir que a irritação de Itsuki havia melhorado um pouco em comparação a antes das reuniões de pais e professores. Isso significava que sua reunião não havia terminado com o pior resultado possível. 

“Bom dia” Amane cumprimentou. “Você não parece tão bem.”

“Bom dia. Essa é a primeira coisa que você diz?” Itsuki respondeu.

   Amane o cumprimentou normalmente, e Itsuki desviou os olhos da janela pela qual estava olhando, agora olhando para Amane com um sorriso irônico. Depois de estudar a atitude de Itsuki, Amane confirmou as suspeitas que tinha e, com um encolher de ombros, respondeu: “Quer dizer, estava escrito em todo o seu rosto. Como foi ontem?”

“Huh? Você realmente quer saber?”

“Não é que eu queira saber, mas você não se sentiria mais estranho se eu fingisse não notar ou se eu agisse como se estivesse evitando? Você não acharia estranho se eu tentasse ser atencioso?”

“Tenho que dizer, não tenho certeza de como me sentir sobre você saber de tudo isso.”

“Apenas aceite.”

   Itsuki preferia que as pessoas o confrontassem diretamente em vez de mostrarem consideração sem entusiasmo. Se alguém tentasse pisar em ovos perto dele, provavelmente acabaria o aborrecendo ainda mais. Portanto, Amane acreditava que era melhor perguntar sem rodeios, mesmo que parecesse um pouco rude. Dado o olhar ligeiramente aliviado que encontrou no rosto de Itsuki, estava claro que ele havia adotado a abordagem correta.

“Bem, nós realmente não chegamos a lugar nenhum. Ele está decidido a me matricular em uma universidade que ele já decidiu, então não conseguimos chegar a um acordo. Fui repreendido por escolher minhas matérias para o exame de admissão sozinho.”

“Ah…”

   Amane realmente fez algo parecido, mas seus pais queriam apoiar as escolhas que ele fez, e o pai de Itsuki era alguém que desconsiderava as escolhas do filho, então seus resultados eram completamente opostos. Percebendo isso, Amane se sentiu um pouco culpado.

“Mesmo assim, eu já enviei,” Itsuki disse.

“Então você está firme contra ele, hein.”

“Essa é a melhor coisa a fazer. Se eu mostrar fraqueza, então meu pai definitivamente me forçará a fazer o que ele quer. É por isso que espero seguir em frente com todas as minhas forças — Bem, você também pode dizer que essa é a única opção que me resta.”

[Mon: Coitado… / Kura: Às vezes entendo o Itsuki, quando você é menor de idade e os seus pais não colaboram, é horrível.]

   Em vez de ficar deprimido, Itsuki escolheu desafiar seu pai. Suspirando, ele disse: “Sério, que dor de cabeça isso é”, mas seus olhos ainda brilhavam com um brilho esperançoso.

“Felizmente, minha mãe estava realmente do meu lado. Ela disse coisas ao meu pai como: ‘Viu? Você não vai chegar a lugar nenhum tentando forçar alguém que está contra você!’, ‘O que eu disse? Se você forçar demais, ele vai chegar ao ponto de parar de te ouvir completamente!’ e ‘Desista logo!,’ então as coisas não estão tão ruins assim.” explicou Itsuki.

“Sua mãe é algo além, cara.” comentou Amane.

“Ela é obstinada, mas também é direta e decisiva. Sempre fala claramente o que pensa e odeia qualquer coisa ilógica ou injusta.”

   Até agora, a impressão de Amane era que ela falava mais diretamente do que qualquer outra mãe que ele já havia conhecido. Parecia que Itsuki — seu filho — sentia o mesmo.

“Não acho que meus pais sejam como uma família comum,” começou Itsuki. “Não é que minha mãe não se importe com meu futuro, mas ela é extremamente passiva. Ela basicamente me deixa fazer o que quero, desde que seja algo que eu realmente queira fazer.”

“Bem, você tem a aprovação dela, então isso não é ótimo para você?” Amane respondeu.

“Em troca, porém, ela diz: ‘Trabalhe o máximo que puder para garantir que você passe. Já que você queria isso, não venha chorar de volta para nós depois. Sempre assuma a responsabilidade pelo que você diz.’”

“…E-eu quero dizer, isso é maravilhoso, eu acho. Sim…”

   Ela tem um jeito com as palavras, Amane pensou, mas já que ela servia como uma fonte de motivação para Itsuki, ele se absteve de fazer qualquer comentário.

“Exatamente. Então eu só tenho que trabalhar duro. E isso é tudo,” afirmou Itsuki

“Nós dois temos que fazer o nosso melhor.”

   No ano que vem, ambos serão estudantes fazendo exames de admissão à universidade. Quando tudo foi dito e feito, tudo o que eles podiam fazer era se esforçar mais e fazer o melhor juntos.

“Você já decidiu o que quer fazer, certo?” Itsuki perguntou.

“Mais ou menos. Ainda não tenho nada específico em mente, mas tenho áreas em que quero estudar. Além disso, só quero ser capaz de me sustentar. Vou descobrir o que quero fazer depois disso e, se não conseguir fazer disso uma carreira, sempre posso fazer disso um hobby.”

“Ter um objetivo claro é ótimo. Aposto que você está super motivado porque quer passar mais tempo com a Shiina-san, hein?”

“Cale-se.”

“Heh heh heh, talvez vocês morem juntos de verdade na universidade.”

“Ow, vamos lá vai.”

   Agora que Itsuki se animou e começou a provocá-lo mais uma vez, as bochechas de Amane começaram a ficar tensas. Naquele exato momento, alguém com uma voz calma pôde ser ouvido entrando na conversa. “Ei Itsuki, continue provocando o Fujimiya desse jeito e ele pode te dar um gostinho do seu próprio veneno.”

   Virando-se para onde a voz vinha, os olhos de Amane encontraram Yuuta. Ele tinha seu olhar gentil de sempre no rosto enquanto tirava a mochila que carregava.

“Oh, Yuuta? Bom dia,” disse Itsuki.

“Bom dia, vocês dois,” respondeu Yuuta.

“Bom dia,” cumprimentou Amane.

   Calmo como sempre, Yuuta repreendeu Itsuki suavemente com um “Pega leve, cara,” antes de largar sua mochila na cadeira e voltar para se juntar a eles. “De qualquer forma, o que fez você trazer isso à tona?”

“Ahh, estávamos falando sobre as reuniões,” explicou Amane. “Estávamos falando sobre nossos planos futuros quando esse cara decidiu meter o nariz onde não era chamado.”

“Você está sendo um pouco duro aí, não acha!?” Itsuki exclamou.

“Você provoca o Fujimiya em todas as oportunidades, Itsuki. Você já esperava por isso,” Yuuta acrescentou.

“Você não tem intenção alguma de ficar do meu lado, tem?”

“Não.” Yuuta balançou a cabeça casualmente, como se tivesse acabado de ouvir a coisa mais óbvia do mundo. Itsuki, fingindo estar abalado até o âmago, cambaleou para trás, mas Amane e Yuuta sabiam que ele estava apenas fingindo. Eles trocaram olhares e o deixaram fazer o que queria.

“Todo mundo tem falado sem parar sobre as reuniões ultimamente, não é?”

“É. Acho que são um lembrete doloroso de que nossos exames estão se aproximando.”

“Como vocês podem ser tão cruéis assim, casualmente?” Itsuki disparou, recuperando-se rapidamente de seu desespero teatral. O tom levemente ressentido em sua voz não continha nenhuma raiva real quando ele voltou a se juntar à conversa de Amane e Yuuta. Tudo isso fazia parte de suas brincadeiras, algo que os três entendiam muito bem.

   Enquanto isso, de uma pequena distância, Chitose e as outras comentaram: “Talvez o Ikkun goste realmente de ser tratado assim?” e “Ele realmente emite essas vibrações, não é?” Amane só queria que elas tivessem pelo menos ficado quietas o suficiente para Itsuki não ouvir.

“Kadowaki, sua reunião é depois de amanhã, certo?” Amane perguntou.

“Sim. Estou muito feliz que minhas irmãs não estarão comigo neste dia.” 

“Aposto que elas querem vir junto—!” Itsuki disse.

“Aha ha... Eu me recuso totalmente a deixar isso acontecer.”

   Amane nunca conheceu as irmãs de Yuuta pessoalmente, mas ele já tinha ouvido o suficiente de outras pessoas sobre o quão intensa era a personalidade delas. Como filho único, ele não pôde deixar de sentir um pouco de simpatia por Yuuta.

     Ele realmente tem dificuldades.

“Kadowaki, você já decidiu sua carreira?”

“Sim, estou querendo conseguir uma bolsa de estudos esportiva. Se isso não der certo para mim, então eu vou me inscrever por meio de admissões regulares.”

“Você deixou sua marca no seu último torneio... É totalmente possível para você, Yuuta.” Itsuki respondeu.

   Mesmo como um estudante do segundo ano, Yuuta já havia alcançado resultados notáveis ​​em vários torneios, e Amane até o viu no palco em cerimônias de premiação várias vezes. Não havia dúvidas em sua mente de que Yuuta tinha potencial para ganhar o lugar de prestígio que ele almejava. Além disso, Yuuta não estava somente se destacando nos esportes, mas também tinha notas excelentes, o que lhe dava muitas opções para escolher.

“Espero conseguir, mas, na verdade, há muitos outros caras no meu nível. Preciso continuar melhorando ainda mais.”

“Yuuta, você realmente se desvaloriza, não é?”

“Desvalorizar? Não é a especialidade do Fujimiya?”

[Mon: Corte rápido. Faca? É Tramontina! / Kura: Perfurou legal kkk]

Ei!

“Ha ha, brincadeira.”

“Viu, até Yuuta acha que isso é sua praia.”

“Ah, cale a boca.”

   O próprio Amane reconheceu que tinha uma tendência a se subestimar, mas comparado a antes, ele agora tinha ganhado muito mais confiança. Mesmo durante os momentos em que se sentia inseguro, Amane agora conseguia reconhecer isso e ter uma mentalidade positiva. Ele tinha trabalhado muito duro para se aprimorar e superado muitos desafios pessoais.

   Como a provocação era apenas outra forma de brincadeira, Amane simplesmente fez um show de estar um pouco irritado.

“Não há como negar que ainda tenho um longo caminho a percorrer,” continuou Yuuta. “Meu treinador diz que tenho muito potencial e espaço para crescer, então preciso continuar trabalhando duro, tanto nos esportes quanto nos estudos.”

“O time de atletismo certamente tem um ás trabalhador.”

“Se eu não continuar dando tudo de mim, meu lugar como ‘Ás’ será tirado de mim em pouco tempo. Nunca desistirei desta posição, não até me aposentar. Como capitão do time, quero ficar orgulhoso enquanto lidero os membros.”

“Oh, certo, você é o capitão... Deve ser difícil.”

   Ele deve estar ainda mais ocupado agora, pensou Amane, lembrando que Yuuta havia se tornado o capitão do time logo após as férias de verão. No entanto, Yuuta não mostrou sinais de que isso o alcançaria e disse casualmente: “Bem, todos já são capazes, então não há muito que eu precise fazer,” parecendo completamente despreocupado. “O Kazuya é o vice-capitão, e nosso treinador está sempre lá para nós também. Estou feliz por ter membros de clube tão confiáveis ​​— às vezes me sinto culpado por não fazer muito.”

“Eles devem ter crescido seguindo o exemplo do esforçado capitão,” comentou Itsuki.

“Né?”

“Elogiar-me não vai levar vocês a lugar nenhum, sabia?”

[Del: Talvez no máximo a um pudim.]

“Só pensei em tentar fazer você corar.” brincou Itsuki.

   Yuuta não ficou nem um pouco abalado pelo sorriso provocador de Itsuki e simplesmente olhou para ele com um sorriso igualmente brilhante.

“Sério? Então talvez eu tente fazer você corar também, Itsuki. Ei, Fujimiya, outro dia o Itsuki, na verdade—”

“Sinto muito. Por favor, me deixe escapar dessa.”

   Amane não acreditou na rapidez com que Itsuki mudou de ideia. Ao vê-lo se desculpando profusamente, Amane percebeu que Itsuki devia ter feito algo que não queria que ninguém mais descobrisse. Infelizmente, a conversa saiu dos trilhos antes que Amane pudesse obter os detalhes, mas o que quer que fosse, estava claro que poderia ser usado como uma arma potente contra Itsuki.

“O que você ele fez? Ou tentou fazer?” perguntou Amane.

“Nada — só não pergunte.”

“Aha ha. Já que Itsuki está implorando com os olhos por perdão, vou poupá-lo dessa vez.”

“Kadowaki, você é realmente quem tem o maior poder sobre o Itsuki...?”

   Não havia sarcasmo por trás do sorriso alegre de Yuuta.

   Kadowaki poderia ser um aliado poderoso para manter Itsuki sob controle. Embora Amane imaginasse que ele próprio se sentiria estranho se descobrisse, Amane estava convencido da força dele. Assim, ele voltou seu olhar para Yuuta, cujo sorriso ainda brilhava intensamente.



✧ ₊ ✦ ₊ ✧



   A reunião de pais e professores de Mahiru estava marcada para bem tarde, então Amane passou o tempo estudando na biblioteca. Quando recebeu uma mensagem dela dizendo que a reunião havia acabado, ele foi até o ponto de encontro perto dos armários de sapatos.

   Mais uma vez, Amane tirou o dia de folga do trabalho hoje. Ele não queria deixar Mahiru ir para casa sozinha.

   Enquanto a luz do pôr do sol se derramava pelas janelas ao lado dele, Amane caminhou pelo prédio da escola, agora consideravelmente silencioso, onde logo chegou à entrada. Mahiru já tinha chegado lá antes dele, já tendo trocado de roupa para seus mocassins. Ela estava lá com seu smartphone na mão.

   Pelas portas abertas vazavam os tons avermelhados do sol poente, iluminando vividamente o cabelo louro de Mahiru. Sem outros alunos por perto, sua figura parada parecia um tanto solitária.



[Del: Caracas, que arte hein, dá uma energia bem diferente da maioria, mas uou, muito boa. / Mon: Pode apostar que sim! / Kura: Del, pensei o mesmo que você. Essa foi de quebrar os olhos.]

“Bom trabalho.” Querendo dizer algo, Amane chamou por Mahiru. Ela estava olhando para o telefone, mas levantou imediatamente a cabeça e deu a ele um sorriso suave e gentil.

“Obrigada por esperar. Sinto muito por fazer você ficar para trás.”

   Enquanto Mahiru corria até ele e parava na beirada de onde ainda era permitido andar com sapatos de rua, Amane sentiu como se quase pudesse ver um rabo abanando atrás dela. Embora ele quase tenha soltado um som de diversão, ele pensou que poderia parecer estranho, então ele disfarçou com um zumbido e gentilmente acariciou seu macio cabelo.

“Não, está tudo bem. Fiquei para trás porque eu queria. Na verdade, essa deveria ser minha fala. Deve estar frio aqui.”

“Isso é exatamente como você, Amane-kun. Assumir a culpa pelas coisas para não me fazer sentir culpado.”

“Não fique me explanando assim.”

“Hehe, eu consigo ler você como um livro, Amane-kun. Assim, eu gostaria de agradecer.”

“Não se preocupe.” Embora ele estivesse feliz que Mahiru entendesse sua maneira de pensar, também era problemático que ela visse através de tudo. Desta vez, o sentimento de constrangimento venceu.

   No entanto, parecia que Mahiru tinha visto através disso. Uma risadinha suave e divertida escapou de seus lábios. Sentindo-se envergonhado, Amane se virou e abriu seu armário de sapatos.



✧ ₊ ✦ ₊ ✧



“…Como foi?”

   Depois de voltarem para casa sem pressa, Amane hesitou por um momento antes de perguntar a Mahiru. Ela imediatamente entendeu exatamente a que ele estava se referindo e soltou um “Hmm” um pouco preocupado. Apesar disso, sua voz não continha nenhum traço de angústia. Provavelmente porque ela já havia se conformado com isso à sua maneira, o que se refletia em sua atitude alegre.

“É bem difícil descrever como foi. Quanto à ausência dos meus pais, parece que os professores finalmente aceitaram a improbabilidade ao longo do último ano e meio. Quando eu disse que eles não iriam comparecer, nosso professor aceitou minha resposta, embora não sem franzir a testa.”

“Não posso culpá-los, realmente.”

“Na verdade, não há mais nada que eu possa fazer sobre isso. Eu já presumi que eles não iriam comparecer.” Mahiru disse isso em uma voz prática e olhou para o chão, soltando um suspiro cansado como se dissesse: ‘Meu Deus’. “Verdade seja dita, é um pouco estranho se você se preocupa com isso. É tarde demais para mudar alguma coisa agora. Apesar de eu tê-los informado com antecedência, a reunião prosseguiu com uma atmosfera sombria... Isso me fez sentir incomodada.”

“É um assunto delicado, então acho que eles estão inseguros sobre como abordar as coisas.”

“Eu entendo isso, mas vê-los tentando evitar o assunto não é exatamente agradável, especialmente quando não estou realmente preocupada com a situação.”

“Mesmo assim, nossos professores devem estar preocupados. Surgiu algum problema durante a reunião em si?”

“Bem, tenho trabalhado bastante. Eles não se preocuparam com meus estudos. Como minhas notas e comportamento também não são um problema, eles disseram que eu deveria conseguir me matricular facilmente na universidade de minha escolha, considerando seus requisitos de entrada. O ideal seria garantir uma recomendação para admissão antecipada, mas se isso não der certo, planejo me inscrever normalmente.”

   O professor deles fez uma avaliação justa. Se Mahiru fosse considerada uma aluna problemática, a maioria do corpo estudantil também seria. Se havia uma coisa, era que ela não fazia parte de nenhum clube, o que também foi dito a Amane. No entanto, como Mahiru estava ativamente fazendo exames práticos para buscar suas qualificações, parecia que não era uma grande desvantagem.

   O que Amane estava curioso era sobre o caminho que Mahiru desejava seguir, um tópico que ambos haviam evitado discutir profundamente até agora.

“Em que curso você está pensando, Mahiru?”

“Idealmente, eu gostaria de me matricular na mesma universidade que você está almejando. No entanto, estaríamos em departamentos diferentes,” Mahiru respondeu casualmente, deixando Amane atordoado. Mostrando um leve sorriso, ela acrescentou: “Ah, eu não escolhi isso só porque queria estar com você, Amane-kun. Eu tomei a decisão sozinha. Eu não escolheria meu curso com base em romance.”

“Sim. Eu sei que você não deixaria outros decidirem seu futuro, Mahiru.”

   Ela riu: “Eu não iria tão longe... Mas, na verdade, há algumas coisas que me deixam hesitante.”

“Como o quê?”

“Por exemplo, hum, digamos que nós dois sejamos aceitos na universidade de nossa escolha... Nosso apartamento atual pode ser um pouco inconveniente. Ou seja, o campus seria bem distante daqui. Eu gosto deste lugar, no entanto, dada a área.”

“Hmm, sim, provavelmente levaria mais de uma hora para chegar lá,” Amane concordou. “Não é horrível, mas um trajeto mais curto definitivamente tornaria as coisas mais fáceis.”

   A universidade de escolha deles ficava dentro dos 23 bairros de Tóquio, mas como eles moravam fora dos bairros e tinham que andar uma boa distância até a estação mais próxima, o trajeto a partir de seu local atual levaria bastante tempo.

   Embora eles não perdessem tanto tempo em comparação com aqueles que se deslocam de outra prefeitura, eles ainda queriam minimizar o tempo de viagem o máximo que pudessem. Quanto menor o trajeto, mais energia eles teriam para as aulas. Morar mais perto proporcionaria uma maior sensação de facilidade e paz de espírito.

“Mas, novamente, se ficarmos em dormitórios estudantis, não poderei te ver com tanta frequência, Mahiru. Além disso, não sou muito fã de dividir um espaço de convivência com outras pessoas. Não gosto de banheiros e sanitários compartilhados e não gosto de muito barulho. Simplesmente não é meu tipo de coisa.”

“Eu me sinto da mesma forma,” respondeu Mahiru. “Eu me sentiria solitária se não pudesse te ver, Amane-kun.”

“Então, isso só nos deixa com a opção de mudarmos para um apartamento diferente juntos... Mahiru, eu sou egoísta por não querer ficar longe de você?”

   Apesar do fato de que eles estavam namorando e morando na porta ao lado do outro, Amane era inerentemente contra a ideia de se separar devido à universidade. Mahiru balançou a cabeça gentilmente, fazendo seu cabelo louro ondular levemente, e corou. Parecia que ela sentia o mesmo.

“U-uhm, eu estava pensando a mesma coisa... Eu também gostaria de ficar ao seu lado, se possível.”

“Claro. Isso me deixa feliz.”

   Se acabarmos nos mudando, é melhor discutirmos as coisas com meus pais primeiro, Amane pensou, sendo realista. Ele estava em êxtase ao saber que ela não queria ficar longe dele.

   Como ele já havia informado seus pais que iria para uma universidade local e eles concordaram que ele continuasse morando sozinho, Amane imaginou que obter permissão para se mudar não seria muito difícil, desde que o aluguel permanecesse o mesmo. No entanto, ele estava preocupado se eles conseguiriam encontrar um lugar com o mesmo aluguel, boa segurança e espaço suficiente — mesmo que ele comprometesse o tamanho dos quartos. E mesmo que eles escolhessem um local um pouco mais longe da universidade para economizar custos, ainda haveria uma diferença significativa entre morar dentro e fora das 23 alas de Tóquio.

   Considerando esses fatores, Amane percebeu que se mudar não seria uma tarefa fácil.

   O que fazer então...? Soltando um gemido pensativo, ele levou a mão à boca. Mahiru olhou para ele com uma expressão preocupada.

   Ao ver a expressão no rosto dela, uma ideia de repente surgiu em sua mente.

“Seria muito mais fácil se apenas vivêssemos juntos,” Amane deixou escapar.

“Huh—?”

[Del: Eh? Não sei se foi só eu, mas para mim já era consenso que eles morariam juntos. Estava errado? / Mon: Provavelmente, estavam falando de viver na mesma situação atual, vizinhos de porta. / Kura: Eles meio que se prepararam inconscientemente, não?]

   Amane ouviu a voz perplexa de Mahiru, mas continuou a falar. “Se morássemos juntos, poderíamos manter nosso aluguel relativamente baixo. Além disso, seria mais fácil para mim ir e voltar da universidade com você.”

   Era uma ideia direta: alugar um apartamento maior juntos sem dúvida tornaria os serviços públicos e outras despesas mais baratas em comparação com o aluguel de dois apartamentos separados. Não era uma má ideia. Na verdade, Amane sentiu que seus pais provavelmente concordariam — se não totalmente encorajadores — sobre a ideia de ele dividir um lugar com Mahiru.

   Enquanto Amane verificava casualmente o aluguel de propriedades perto da universidade desejada em seu telefone e fazia alguns cálculos, Mahiru respondeu com um vago: “... Bem, sim, suponho que sim,” nem concordando, nem discordando totalmente.

“Mahiru?”

     Eu pensei que era uma ótima ideia, no entanto.

   A expressão de Mahiru estava tensa e longe de ser alegre. Em vez disso, pintava um sentimento de confusão e constrangimento.

“Então, você realmente não se importa em morar comigo, Amane-kun?”

   Em resposta às palavras que Mahiru sussurrou fracamente, Amane deixou o telefone cair em sua coxa.

     ...Isso foi... Eu acabei de... Sugerir que deveríamos morar juntos?

[Del: Hum, sim? Uai kkkkkk.]

   Tendo mencionado isso tão casualmente, Amane não havia pensado muito no significado de suas próprias palavras. Ainda assim, essa era de fato a implicação por trás delas, e Mahiru claramente as interpretou dessa forma também.

   Assim que ele percebeu isso, seus pensamentos rapidamente se tornaram um redemoinho caótico, quase como se estivessem fervendo. Dominado pelo constrangimento, frustração por sua própria falta de consciência e culpa por confundir Mahiru, Amane acenou rapidamente com as mãos em uma tentativa de esclarecer as coisas.

“D-desculpe! Isso foi muito egoísta da minha parte, não foi!?” Amane exclamou. “Você precisa do seu próprio espaço privado também, e isso não é algo que eu possa decidir sozinho! Eu estava apenas pensando sobre o nosso futuro, e que, bem, você sabe, poderíamos ser mais felizes se ficássemos juntos, e dessa forma, poderíamos nos concentrar ainda mais em nossa vida universitária... Hum, d-desculpa.”

   Percebendo que ele estava tomando decisões por conta própria sem confirmar os desejos de Mahiru, Amane tentou desesperadamente transmitir suas desculpas a Mahiru com gestos frenéticos. No entanto, depois de ver sua reação, os olhos de Mahiru suavizaram um pouco.

   Em vez de brava, ela parecia mais exasperada.

“Quando você se desculpa desse jeito, parece que eu era contra a ideia,” Mahiru expressou.

“N-não foi isso que eu quis dizer. Hum, eu simplesmente não conseguia negar que estava dizendo algo egoísta.”

“Quando você diz ‘egoísta’, você está insinuando que desconsiderou meus desejos para sua própria conveniência?”

“Exatamente.”

“...Se sim, então isso não foi egoísmo.”

   Ele pensou que devia ter ouvido mal.

   A resposta de Mahiru foi benéfica demais — favorável demais — para ele, que Amane até duvidou de seus próprios ouvidos. Quando ele olhou rapidamente para Mahiru, suas bochechas estavam tão vermelhas quanto podiam ficar. Ela olhou para ele com esperança refletida em seus olhos úmidos e brilhantes, como se esperasse sua resposta com expectativa.

   Amane não era tão denso a ponto de confundir isso com rejeição. Perceber que Mahiru desejava passar um tempo juntos, viver sob o mesmo teto, o fez sentir como se um fogo tivesse sido aceso dentro de seu peito. O calor se espalhou por seu corpo, subindo até seus olhos.

“Está tudo bem para mim... Aceitar esse seu convite, certo?” Mahiru perguntou suavemente.

“...Sim.”

   O coração de Amane disparou, um baque alto reverberando por seu corpo enquanto ele processava o que ela havia dito. Mahiru falou através do crescente constrangimento, expressando suas palavras de forma recatada. Amane respondeu calmamente com um aceno de cabeça.

“Isso me deixa muito feliz.”

“Me deixa também.”

   Não importa quanto tempo ele passou com Mahiru, não importa o quão próximos eles se tornaram, ele ainda não conseguia aliviar o constrangimento que sentia naquele exato momento. Era natural, dado que eles tinham acabado de confirmar seu desejo de viver juntos. Por enquanto, Mahiru o visitava e passava a maior parte do tempo com ele, mas viver juntos era em um nível totalmente diferente.

   Apesar de todas as suas negações quando Itsuki o provocava sobre viverem juntos, Amane inconscientemente estava desejando isso. Depois de perceber esse fato, um constrangimento avassalador surgiu dentro dele. Mas, ao mesmo tempo, a alegria de Mahiru aceitar seu desejo lavou esse constrangimento, deixando somente pura alegria.

   Mahiru encontrou timidamente o olhar de Amane. Ela tinha um sorriso inocente tingido de constrangimento.

“Eu já estou tão feliz, isso significa que poderíamos dizer bom dia todos os dias, e dizer boa noite um ao outro antes de dormir e sair juntos da mesma casa. Só imaginar isso é tão maravilhoso. Isso me deixa incrivelmente feliz.”

   Enquanto Mahiru ria contente, suas palavras refletindo suas emoções perfeitamente, Amane foi cativado por sua expressão tímida, mas realizada. Então, ela pareceu perceber algo e olhou para Amane com uma pitada de preocupação.

“Ah — Eu deveria, hum, talvez, falar com a Shihoko-san e o Shuuto-san? Você é o precioso filho deles, não seria certo decidir isso sem a aprovação deles…”

“Hmm, bem, você tem razão. Eu acho que a mãe e o pai ficariam felizes com isso, no entanto. Se for esse o caso, eu também deveria ir falar com a Koyuki-san…?”

   Os pais biológicos de Mahiru, especialmente seu pai, eram um enigma, e sua mãe parecia pouco interessada nela. Amane deliberadamente evitou mencioná-los para não prejudicar seu humor. Felizmente, ela não percebeu sua escolha cuidadosa de palavras. Se a situação ficasse difícil, Amane estava pronto para estender a mão para Asahi e declarar seu desejo de levar Mahiru embora. Ele queria que Mahiru focasse sua atenção apenas em pensamentos felizes.

“Tenho certeza de que a Koyuki-san está preocupada com você, e só posso imaginar que ela ficaria ansiosa sobre você morar com um cara que ela não conhece bem. Provavelmente deveríamos ir falar com ela mais cedo do que tarde.”

“E-eu também gostaria. Quero encontrá-la novamente e apresentá-lo, e conversar com ela contando histórias sobre a gente... Então, definitivamente deveríamos reservar um tempo para isso.”

“S-sim, vamos fazer isso.”

   Eles continuaram falando sobre seus planos por um tempo, mas estava claro que estavam se precipitando, pois ainda nem tinham sido aceitos na universidade. Percebendo o quão prematura a discussão era, ambos não conseguiram deixar de rir de suas próprias ânsias e suposições precipitadas.

   Mesmo assim, o fato de terem feito essa promessa firme para o futuro foi o suficiente para encher seus corações de grande esperança e imensa felicidade.

[Del: “Então, estamos prometendo ficar juntos até então?” – Cap 6, vol 2. / Kura: O tempo aumentou agora…]

“Nós dois precisamos dar o nosso melhor nos nossos exames de admissão, não é?”

“Sim, eu definitivamente vou me esforçar ao máximo para passar. Há muito o que fazer.”

“Você acabou de aumentar sua própria carga de trabalho, no entanto.”

“Bem, isso é algo que escolhi fazer enquanto mantinha os exames de admissão e coisas do tipo em mente, então assumirei total responsabilidade e seguirei até atingir meus objetivos, e também não vou relaxar nos meus estudos.”

   Quanto ao seu trabalho de meio período, Amane já o havia aceitado como algo pelo qual precisava se esforçar em equilíbrio com suas outras responsabilidades. Ele não tinha intenção de usar isso como desculpa para relaxar. Ele escolheu esse caminho porque acreditava que conseguiria lidar com isso.

“Já que é sua decisão, Amane-kun, não farei nenhum comentário,” Mahiru disse. “Tudo o que posso fazer é apoiá-lo e ajudá-lo dia após dia.”

“Não, Mahiru, você deve priorizar suas próprias necessidades primeiro. As coisas que estou fazendo são para minha própria conveniência.”

“Bem, é isso que eu quero fazer. Vou continuar a fazer dentro do razoável,” Mahiru insistiu.

“...Você realmente não vai ceder nisso, hein?”

“Hehe, esse é o tipo de pessoa que eu sou.”

“Definitivamente.”

   Ao longo do ano passado, Mahiru e Amane lentamente descobriram e entenderam as personalidades um do outro. Eles sabiam que, uma vez que qualquer um deles tomasse uma decisão, não recuariam tão facilmente. Ambos se valorizavam, e esse respeito mútuo pelas escolhas um do outro era crucial — era o segredo para viver juntos em harmonia. Ao perceber isso mais uma vez, Amane segurou a mão de Mahiru, que se inclinou para perto para bajulá-lo.

     ...Uma chance de conversar, hein?

   Amane se lembrou da conversa anterior e refletiu sobre essas palavras silenciosamente em sua mente. Ele decidiu que, quando Mahiru fosse para casa, terminaria de escrever o e-mail meio escrito salvo em sua pasta de rascunhos.



Comentários do Tradutor/Revisores:

-DelValle:

-Mon: Del em branco… GENIAL! KakakkAKakaka. Inspirador!

-Kura: A reação dele ficou sem palavras kkkkk. Mas bom, esse capítulo foi inspirador, só por colocar a ideia deles na faculdade juntos.

 

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