O Anjo da Porta ao Lado Me Mima Demais Japonesa

Tradução: DelValle

Revisão: Mon, Kurayami


Vol 10

O Alegre Dia Seguinte

 

   Era a manhã logo após o aniversário de Mahiru, e ela tinha ido à casa de Amane antes da escola. Apesar de seus olhos ainda estarem um pouco inchados, em seu rosto havia um sorriso de pura felicidade e alegria.

   Graças ao seu trabalho, Mahiru havia chorado várias vezes no dia anterior, mas Amane ainda estava preocupado que seus olhos pudessem estar inchados. Felizmente, o inchaço não era grave o suficiente para tornar óbvio que algo havia acontecido, o que deixou Amane tranquilo. Apesar de suas preocupações, no entanto, Mahiru não parecia nem um pouco incomodada. Sua expressão era natural e gentil, indicando que ela ainda estava vivenciando o brilho residual de todas as emoções que ferviam dentro dela desde o dia anterior.

   Com uma expressão tão cheia de satisfação que não deixava espaço para mais nada, o olhar no rosto de Mahiru era radiante demais para que Amane o visse logo de manhã. Era terrível para o seu coração.

“Bom dia,” cumprimentou Mahiru.

“...Bom dia”, respondeu Amane.

“...Por que você está desviando o olhar?” Ela perguntou.

   Mahiru imediatamente percebeu que ele não conseguia olhá-la nos olhos.

[Del: É né, o volume já começa com uma pedrada de arte dessa. Que sorriso minha gente. | Mon: Mahiru usa ‘Sorriso Genuíno’: É muito efetivo. | Kura: Esse foi efetivo, depois de um tempo, a noção voltou.]

   Amane não teve escrúpulos em cumprimentá-la na sala de estar. Apesar disso, ainda de pijama, ele instintivamente recuou quando Mahiru se aproximou e lhe lançou um olhar de desaprovação. Foi um ato instintivo, uma tentativa de se proteger da força avassaladora que era a fofura de Mahiru, mas ela provavelmente não sabia o motivo.

   Com o canto do olho, Amane viu as sobrancelhas de Mahiru se arquearem em consternação. Percebendo imediatamente que havia errado, ele rapidamente diminuiu a distância entre eles, passando o braço em volta das costas dela. Virar-se tinha sido um erro bobo. Ele não pretendia machucá-la, então Amane sabia que precisava explicar adequadamente o significado do que acabara de fazer.

“Desculpe, não é que eu tenha me cansado de você ou não queira mais olhar para você. É só que você é... demais”, disse Amane.

“Demais...?”

“Você parecia tão feliz e, hum... estava tão radiante que eu não consegui olhar diretamente para você logo depois de acordar. Você parecia adorável demais, e foi demais para mim. Me desculpe. Só fui eu que agi de forma estranha. Eu não queria te machucar.”

   Enquanto Amane falava, Mahiru relaxou gradualmente em seus braços. Ela se inclinou para ele com um olhar aliviado, mostrando que o mal-entendido havia sido resolvido. Enquanto se mexia levemente, Mahiru não parava de se agarrar a ele. Satisfeita, ela olhou para cima e murmurou: “Nesse caso, está tudo bem,” antes de enterrar o rosto novamente em seu peito.

“...Eu realmente parecia tão feliz?” Ela então perguntou.

“Super feliz. Você estava praticamente brilhando de dentro para fora.”

“S-Sério...?”

“Sério.”

   Mahiru havia mostrado a Amane um sorriso tão brilhante que poderia cegá-lo, mas ela não percebeu.

“...Desde ontem, estou tão feliz que não consigo parar de sorrir. Hum, e-eu vou ser mais consciente.”

“Por favor, faça isso. Se você sair assim, não serei só eu — todos ao nosso redor vão cair como moscas.”

“Você não está exagerando um pouco?”

“Não, estou falando sério... Mahiru, por favor, perceba que seu sorriso natural tem um poder ridiculamente destrutivo.”

[Kura: É meu povo, nova skill adquirida kkk.]

   Seu sorriso genuíno, completamente diferente daquele que ela inventava como o “Anjo”, irradiava pura felicidade das profundezas de seu coração. Transmitia sentimentos fortes mesmo sem palavras. Como seu namorado, Amane o via como uma força a ser reconhecida. Poderia queimar os olhos e a mente de qualquer um que o visse.

   Mahiru então ergueu a cabeça, controlando aquele sorriso deslumbrante. Amane ficou aliviado, mas ainda esperava que ela se abstivesse de mostrá-lo em público.

“Nesse caso, só o mostrarei na sua frente, Amane-kun.”

“Isso seria ótimo.”

   Mahiru, agora exibindo um sorriso muito mais suave, agarrou-se a Amane com ainda mais prazer. Sentindo o calor do corpo delicado dela pressionado contra o seu, Amane mordeu o lábio, lutando para engolir a sede que ameaçava vir à tona. Como as coisas sem dúvida iriam para o lado errado se ele deixasse Mahiru continuar com seus afetuosos carinhos, ele deu um tapinha leve em suas costas como uma forma sutil de acalmá-la, criando delicadamente um espaço entre eles.

“...Por favor, espere aqui um pouco, Mahiru — ainda não me vesti. Eu já venho.”, disse Amane.

   Um olhar melancólico imediatamente passou pelo rosto de Mahiru. Percebendo como era fácil entender seus sentimentos, Amane não pôde deixar de rir. No entanto, isso a irritou um pouco, pois seus lábios se curvaram levemente em resposta. A demonstração aberta de afeto de Mahiru era adorável, mas quando ela era tão fofa, rapidamente se tornava um pouco opressora para Amane. Ele precisava desesperadamente de um tempo para acalmar o calor que se acumulava dentro dele.

“Você pode vir comigo, mas tem certeza de que quer me ver trocar de roupa?”

“Ainda com sono, né?”

“Você não se conteve, hein?”

   Sabendo que provocá-la demais só resultaria em uma resposta fria, Amane decidiu não insistir. Ele deu um cafuné gentil na cabeça de Mahiru, que parecia relutante em soltar, e a liberou de seus braços. Ela obedientemente deu um passo para trás, olhando para ele com uma expressão expectante, como se dissesse: “Esperarei pacientemente.” Vendo isso, Amane riu baixinho para si mesmo e foi em direção ao seu quarto.

     É melhor eu me arrumar o mais rápido possível.



✧ ₊ ✦ ₊ ✧



“Shiina-san, seus olhos parecem um pouco inchados. Está tudo bem?”

   Ayaka chegou mais cedo que eles e chamou Amane e Mahiru quando entraram na sala de aula.

   Normalmente, Amane e Mahiru chegavam mais cedo que os amigos, mas hoje, eles haviam aproveitado o tempo relaxando em casa antes de irem para a escola, então foram os últimos do grupo habitual a chegar.

   Ontem, depois de chorar, Mahiru lavou bem o rosto, esfriou-o e o hidratou cuidadosamente, mas parecia que ainda não conseguia evitar completamente o inchaço. Seus olhos estavam levemente vermelhos. Embora não fosse óbvio, era o suficiente para causar uma sutil sensação de que algo estava errado, o que Ayaka percebeu com atenção.

“Estou bem. É que, hum, muitas coisas aconteceram”, respondeu Mahiru suavemente.

   Ayaka sabia sobre o aniversário de Mahiru, mas se absteve de mencioná-lo na sala de aula. Mahiru, negando discretamente, ficou envergonhada por seu choro ter sido notado e encolheu-se um pouco.

     Considerando o quanto a Mahiru detesta demonstrar fraqueza aos outros, não é surpresa que ela não queira que ninguém saiba que ela estava chorando, pensou Amane.

   Observando Mahiru se mexer desajeitadamente, Amane — o culpado — deu um sorriso leve e forçado.

“...Fujimiya-kun, você não deve ser tão duro com a Shiina-san, ouviu?” Comentou Ayaka.

“Espere, você entendeu errado. Eu não fiz a Mahiru sofrer de forma alguma”, Amane acenou com as mãos, agitado, tentando negar qualquer sinal de comportamento cruel.

“E-Ele está certo,” Mahiru o apoiou. “O Amane-kun sempre cuida bem de mim. Ele é sempre gentil comigo e me trata com a maior gentileza possível.”

   Depois de piscar algumas vezes, surpresa, a expressão de Ayaka ficou séria por algum motivo estranho. Ela então segurou firmemente o ombro de Amane. “...Fujimiya-kun, pega leve com ela da próxima vez, okay? A Shiina-san não aguenta tanto assim como você.”

[Del: Concordo, se não vai matar a bichinha do coração. | Mon: E o “tadinho” do Amane… GENTE, ele sofre coitado!! | Kura: Imaginando a Mahiru vermelha e a quinta série atacando.]

“Espera aí, espera aí! Você entendeu completamente errado!” Amane exclamou em pânico. “Não é isso!”

   Percebendo que Ayaka havia interpretado demais as palavras de Mahiru, Amane balançou a cabeça freneticamente, tentando vigorosamente afirmar que ela estava errada. Depois de ver sua reação de pânico, a expressão séria de Ayaka se suavizou em um sorriso.

“Heh heh, brincadeira, brincadeira. Eu sabia o que você queria dizer. Imaginei que você tivesse tido uma festa maravilhosa ontem.”

“...Kido, você definitivamente está pegando os maus hábitos do Itsuki e da Chitose.”

“Oh, de jeito nenhum,” respondeu Ayaka, brincando. “De qualquer forma, é melhor ficar atento, Fujimiya-kun. A Shiina-san fica um pouco boba perto dos amigos, se é que você me entende. Não me surpreenderia se ela se empolgasse e deixasse algumas coisas escaparem sem querer.”

[Del: É… | Kura: Qual das coisas…?]

“B-Boba...?” Mahiru repetiu como um papagaio.

“Eu sei exatamente o que você quer dizer,” respondeu Amane.

“Como você sabe disso!? Estou chocada.” Dizendo isso, Mahiru voltou seu olhar para Amane, que, junto com Ayaka, respondeu em uníssono: “Bem, é verdade.” Isso só fez o olhar de reprovação de Mahiru se tornar mais afiado enquanto ela os repreendia silenciosamente.



✧ ₊ ✦ ₊ ✧



“...Vocês deram o próximo passo sem nos avisar!?”

   No momento em que Amane deixou Ayaka e foi até Itsuki e Chitose, foi recebido com aquele comentário. Em vez de ficar com raiva, uma sensação de exasperação o invadiu — de novo.

   Esses caras também não... pensou. É mesmo esse o tipo de vibração que eles estão sentindo da Mahiru? Amane sentiu as bochechas se contraírem com o pensamento.

“Olha, eu vou ficar bravo se isso continuar.” 

Eita!

“Ikkun, pense bem. Não tem como Amane agir assim tão facilmente. Ele preza tanto a Mahirun que está praticamente se jejuando por ela!”

“Pode, por favor,” exigiu Amane, já sentindo a dor de cabeça se aproximando.

   Chitose sendo Chitose, ela havia acrescentado um comentário totalmente desnecessário à mistura. Mas, como sempre, não lhe deu atenção e lhe lançou um sorriso radiante. “Mas não consegue negar, né?” disse ela. Amane não pretendia responder, então simplesmente a ignorou. Em resposta, Chitose lançou-lhe um olhar cúmplice, quase provocador, mas Amane simplesmente mordeu o lábio e deixou passar sem dizer uma palavra.

   Entendendo que ele não tinha intenção de cair na provocação dela, Chitose deu de ombros e se virou para Mahiru, que os observava em silêncio. Sua expressão era calma, mas alegre, e parecia que Chitose já havia percebido os resultados dos esforços do mês anterior só por aquele olhar.

“Parece que nosso plano foi um sucesso e tanto. Fico feliz.”

“Muito obrigada a todos.”, Mahiru expressou sua gratidão.

“Não, não, queríamos comemorar seu aniversário também, Shiina-san,” esclareceu Itsuki. “E hoje é a nossa vez de fazer exatamente isso. Mas não se preocupe, não planejamos fazer nada aqui. Você provavelmente prefere que os outros não saibam, certo?”

“Vamos pegar emprestado o apartamento do Amane!” Exclamou Chitose.

“Você poderia ter me contado antes, sabia?” Retrucou Amane.

“Aposto que você tinha um pressentimento de que isso ia acontecer, certo?”

“Bem, sim.”

“Ha ha, isso deve ser o que chamam de telepatia!”

“Antes de começar a apostar na sua ‘telepatia’, é melhor lembrar da próxima vez que simplesmente me contar é muito mais eficaz.”

   Amane entendia perfeitamente que seu apartamento era o mais conveniente e, mais ou menos, esperava que as coisas acontecessem dessa forma. De qualquer forma, teria sido mais tranquilo se tivessem feito uma ou duas reservas com antecedência. Ele tentou repreendê-los gentilmente enquanto se lembrava de incidentes semelhantes, mas os dois permaneceram totalmente imperturbáveis. Suas palavras entravam por um ouvido e saíam pelo outro.

   Sinceramente, esses caras... 

Completamente incapaz de esconder sua exasperação, Amane suspirou exageradamente, deixando evidente sua amargura. Mahiru, observando-o, sorriu suavemente. Ela estava um pouco perturbada, mas achou a situação um pouco divertida.

“Muito obrigada por serem tão atenciosos... É realmente uma sensação adorável, não é? Ser celebrada assim.” As palavras murmuradas por Mahiru foram ditas suavemente o suficiente para que apenas aqueles próximos a ela pudessem ouvir, e parecia que tanto Itsuki quanto Chitose captaram cada palavra.

“Tudo bem, então! Teremos que garantir que você se alegre tanto que fique exausta no final. Afinal, Mahirun, você é a estrela do show.”

“Exatamente.”, concordou Itsuki. “Você é sempre tão humilde, Shiina-san, mas hoje é hora de você dizer: ‘Eu sou a estrela do show! Curve-se diante de mim!’ Abrace o espírito!”

“H-Huhh...? Agir com tanta arrogância seria um pouco...”

“Mahiru, eles querem dizer que você deveria sentir que merece uma grande comemoração. Afinal, não sou o único que sinceramente quer te desejar um feliz aniversário.”

   Mahiru merecia ser celebrada por seus amigos próximos por todas às vezes que não esteve presente antes, e mais algumas. A alegria que ela sentiu com a comemoração de Amane pode ser um pouco diferente da de Chitose e Itsuki, mas quanto mais alegria ela tivesse, melhor. Amane queria que ela aproveitasse essa felicidade à vontade.

   Com esse pensamento em mente, Amane sorriu enquanto acariciava gentilmente a cabeça de Mahiru, dizendo: “Não se preocupe, esses seres humanos só têm pensamentos puros, então você pode relaxar.” Mahiru olhou para os outros três, parecendo um pouco insegura, mas assentiu levemente e timidamente após um momento.

[Kura: Puros hein? Kkkkk]



✧ ₊ ✦ ₊ ✧



“Mais uma vez, feliz aniversário, Mahirun!”

   Chitose conteve a empolgação enquanto estavam lá para evitar chamar a atenção para o aniversário de Mahiru na escola. Mas assim que chegou à casa de Amane, ergueu o punho para o céu com alegria, gritando com uma voz radiante.

   Assistindo com sorrisos calorosos, Ayaka e Yuuta aproveitavam o momento em silêncio. Enquanto isso, Itsuki, com um sorriso leve e divertido, disse: “Ela é cheia de energia, né?” e olhou para Mahiru com uma expressão gentil.

   Hoje era a segunda rodada da comemoração do aniversário de Mahiru, e os convidados eram os ajudantes que decoraram o apartamento ontem.

“Feliz aniversário para você, Shiina-san.”

“Obrigada a todos”, respondeu Mahiru calorosamente.

   A Mahiru do passado, que antes menosprezava seu próprio aniversário como insignificante, não estava mais lá. Sua expressão agora era de alívio com uma gentil alegria.

   Ver Mahiru feliz e cercada por seus amigos próximos celebrando seu dia especial encheu Amane de genuíno alívio. Ele estava feliz por ela finalmente poder aproveitar seu aniversário apropriadamente.

“Heh heh heh, agora temos a mesma idade, Mahirun! Você costumava ser a mais nova!”

   Amane, Mahiru, Itsuki e Chitose — esses quatro costumavam passar tempo juntos, a ponto de se tornar natural para eles. Entre eles, Chitose era a mais velha, seguida por Amane, Mahiru e, finalmente, Itsuki.

   Em outras palavras, Chitose havia se tornado a mais velha do grupo um pouco mais cedo que os outros, mas quando se tratava de se ela parecia mais madura por causa disso, Amane certamente tinha suas dúvidas. Ela não era particularmente infantil, mas se Chitose poderia se proclamar a “mais velha e sábia” do grupo era outra história.

“Mahiru sempre foi a mais madura, no entanto. Não posso negar isso,” comentou Amane.

“Tem algum problema com a minha maneira de agir, hmm?”

“Nop. De jeito nenhum...”

“A questão é, Chi, você semp...” Itsuki começou.

“Oi, e o que tem eu? Tem algo a dizer?”

“Não! De jeito nenhum!”

   Até Itsuki, seu namorado, parecia ter algumas opiniões sobre o comportamento de Chitose. No entanto, sabendo que levaria a culpa se as expressasse, ele simplesmente sorriu amargamente e deixou por isso mesmo. Enquanto Chitose fazia uma careta de frustração, Mahiru interrompeu gentilmente com um suave “Calma, calma,” ajudando-a a recuperar a compostura. Com isso, Amane e Itsuki trocaram olhares secretos e compartilharam um sorriso divertido.

“Tudo bem, aposto que o Amane fez de ontem um dia extraordinário para você, então hoje é a nossa vez de comemorar!”

   Assim que a sala se acalmou, Itsuki levantou a voz lentamente e falou em nome de todos.

“Sinto que já recebi bastante de todos... Quer dizer, vocês todos ajudaram com a decoração, certo? Ficou adorável.”

“Heh heh, bem, eu conheço seus gostos tão bem quanto o Amane, se não melhor!”

“É, sinceramente, você provavelmente é a especialista nesse quesito, Chitose. Eu sei de que tipo de coisas Mahiru gosta, mas não sou tão bom em identificar exatamente o que a deixará mais feliz imediatamente. Você sempre me apoia nisso.”

   Claro, Amane entendia as preferências de Mahiru, mas quando se tratava de decidir com confiança a escolha perfeita, ele não era tão confiante. Mesmo conhecendo os gostos dela, não conseguia escolher a melhor opção ou combinar habilmente essas preferências em algo especial. Ele simplesmente não tinha o senso de estilo de Chitose, nem podia competir com as escolhas dela, que muitas vezes se beneficiavam de sua perspectiva como garota.

   Embora Chitose geralmente gostasse de provocar Amane, ela era sincera quando se tratava de Mahiru. Não havia dúvidas sobre seu talento nesse sentido.

“Heh heh... Confie mais em mim. Admire-me mais!”

“Ha ha...”

“Vocês dois...” Mahiru disse com uma risadinha suave.

   Decidindo entrar na brincadeira, Amane abaixou a cabeça em um gesto de submissão fingido. Atrás dele, a voz de Mahiru, uma mistura de diversão gentil e leve exasperação, podia ser ouvida, como se ela não conseguisse conter o riso da cena.

“E então, meu presente é este! É uma edição limitada dos produtos de cuidados com a pele que você sempre usa, Mahiru. Por uma fofura incomparável!”

“Muito obrigada, Chitose-san. Estou surpresa que você tenha lembrado.”

“Bem, eu já fiquei na sua casa muitas vezes, afinal. Tá com ciuminho, Amane?”

“Por que essa cara de convencida...? Eu também sei o que Mahiru usa.”

   Mahiru era uma mulher que nunca poupou esforços em relação aos cuidados pessoais. Ela tinha sua própria filosofia sobre cuidados com a pele, tendo experimentado vários produtos ao longo dos anos até finalmente encontrar o que melhor lhe convinha, que agora usava rotineiramente. E, às vezes, essa dedicação se estendia a Amane também.

   Amane chegou a pedir conselhos a Mahiru sobre quais produtos seriam adequados para ele. Como resultado, ela usou várias amostras restantes na pele dele como um teste de tratamento de pele. Foi assim que ele descobriu os produtos que Mahiru usava atualmente. Claro, não era surpresa que ele soubesse — afinal, ele a vira usá-los várias vezes quando dormia lá.

“Minha nossa…”

“Calma, calma.”

   Ele não quis dizer isso, mas o fato de Amane saber sobre a rotina de cuidados com a pele de Mahiru pareceu despertar em Itsuki e Chitose alguns pensamentos sobre o que devia ter acontecido nos bastidores. Percebendo suas expressões divertidas enquanto trocavam sorrisos cúmplices, Amane estreitou os olhos para eles, com suas bochechas se contraindo o tempo todo.

“Pare com esses sorrisos. O que quer que você esteja imaginando não aconteceu.”

“Oh, mas será mesmo...?”

“...A Chii-chan e o Akazawa-kun nunca aprendem, não é?” Ayaka interrompeu.

“Pode repetir. Ambos sabem que, se você provocar o Fujimiya demais, ele vai ficar bravo — e um pouco envergonhado,” acrescentou Yuuta.

“Kadowaki, Kido. Se vocês sabem disso, poderiam impedi-los, sabia?” Disse Amane.

“Acho que eles vão continuar mesmo se tentarmos parar eles, sabia?”

“Bom ponto.”

   A provocação deles não era novidade, e Amane sabia que não havia maldade por trás disso, então interpretou como uma brincadeira despreocupada. No entanto, isso não mudava o fato de que ser provocado constantemente não era particularmente divertido para ele. Ele gostaria que os dois espectadores pudessem servir de paliativo, pelo menos ocasionalmente.

   Quanto a Mahiru, ela acariciou delicadamente a caixa com o presente de Chitose, sorrindo suavemente. Era evidente que ela também não tinha intenção de impedir Chitose. Sabia que não adiantaria nada, mesmo que tentasse.

“Estou surpresa que você tenha conseguido um desses... Não era possível encontrá-lo apenas por meio de um sorteio online?” Perguntou Mahiru.

“Viu, é aí que entra a minha sorte!”

“Deve ter sido difícil conseguir... Mais uma vez, muito obrigada.”

“Ah, não pense nisso. Eu também pensei que um batom bonitinho cairia bem, mas cada garota tem uma preferência de cor diferente. Então imaginei que você ficaria mais feliz se o Amane comprasse isso para você... Sabe, para dar uns beijos.”

Chitose-san!?

“Brincadeira, brincadeira!”

[Del: Curiosidade, existe um capítulo comemorativo da WN em que a Mahiru testa uns produtos saborizados para os lábios, e, é, acontece. Eu traduzi, mas como não é oficial da LN, eu só o disponibilizei no nosso Server do DC, se quiserem ler, entrem lá e me procurem. | Kura: Pasmei com essa informação, vou atrás…]

“Chi, não provoque ela demais. Olha, o guardião dela ali, está pronto para apontar o dedo para você.”

“O que ele vai fazer com apenas um dedo?”

“Bem, eu sempre posso dar um peteleco na sua testa. Quer experimentar?”

“Hã, não, obrigada! Eu passo!”

[Del: Amane: “Eu matei uma mulher (homem) com este polegar.” | Kura: Tento não entrar em seus comentários, mas não consigo kkkk. O amane e suas histórias de tio.]

   Amane curvou o polegar e enganchou o dedo médio com pressão para mostrar que estava pronto para dar um peteleco. Chitose balançou a cabeça em pânico, e seus lábios tremeram. Itsuki, divertido com isso, imediatamente caiu na gargalhada a ponto de agarrar a barriga. Amane lançou-lhe um olhar furioso, dizendo-lhe silenciosamente para controlar a namorada, mas isso só fez Itsuki rir ainda mais.

   Imperturbável pelo olhar frio que Amane lhe lançou, Itsuki continuou rindo até enxugar as lágrimas dos cantos dos olhos. Depois de se recompor, enfiou a mão na sacola que havia deixado ali perto e tirou uma caixa cuidadosamente embrulhada. Com uma mudança inesperada para uma atitude mais séria, Itsuki entregou cuidadosamente o presente a Mahiru com as duas mãos. A mudança repentina em seus maneirismos deixou Mahiru visivelmente desorientada.

“Isto é de mim e do Yuuta. Por favor, aceite o nosso presente.”

“V-Você não precisa ser tão formal... mas obrigada, Akazawa-san. E a você também, Kadowaki-san.”

“Não, não,” disse Yuuta. “É uma honra ter esta oportunidade de comemorar seu aniversário.”

“Quer conferir primeiro, Amane?” Sugeriu Itsuki.

“O quê, você colocou algo inapropriado aí ou algo assim? ...Foi o que pensei no começo, mas não consigo te imaginar fazendo isso. Você escolheu com o Kadowaki, então é impossível.”

   Amane não achava que haveria algo inapropriado lá dentro. Afinal, Itsuki era geralmente uma pessoa sensata. No entanto, quando estava com Chitose, sempre havia uma pequena chance de eles incluírem algo malicioso na tentativa de aproximar Mahiru e Amane. Como Itsuki mencionou que consultou Yuuta para esse presente, Amane ficou bastante tranquilo.

“Você não tem fé em mim!?” Itsuki retrucou.

“É, talvez você possa tirar um momento para refletir sobre suas travessuras passadas.”

“...Eu não fui tão ruim assim, fui? Certamente...”

“Aha ha...” Yuuta riu sem jeito. “Bem, quero dizer...”

   Itsuki fez uma careta. “Podia ter me apoiado, Yuuta.”

“Bem, não consigo imaginar você sendo desrespeitoso com a Shiina-san.”

“É, o Kadowaki tem razão. Você não faria isso com a Mahiru. Agora estou aliviado.”

“A diferença de tratamento é surreal...”

“É, é. Não me diga.”

“Você também pode ser bem duro, hein, Yuuta.”

   Itsuki e Yuuta eram próximos há tanto tempo que conseguiam trocar brincadeiras tão descontraídas sem ressentimentos. Apesar de Yuuta geralmente ser a imagem da calma, com um sorriso caloroso e um ar de sinceridade, momentos como esses revelavam um lado brincalhão que combinava com sua idade. Amane não conseguia deixar de sentir que ser provocado de vez em quando por Yuuta significava que ele era considerado um amigo próximo — pelo menos, era nisso que ele gostava de acreditar.

“A propósito, nosso presente foi... Ah—

“Por que você hesitou?”

“Quer dizer, não tenho certeza se é o presente mais adequado. Veja bem, nós conversamos sobre isso antes.”

   Eles tiveram dificuldade para escolher um presente, especialmente porque era mais desafiador escolher um para uma amiga do que para uma namorada. Tanto Itsuki quanto Yuuta tinham expressões estranhas beirando sorrisos amargos, o que sugeria que o processo de decisão tinha sido bastante exaustivo.

   Amane não duvidava do bom gosto deles, mas vê-los com uma expressão tão insegura o deixou um pouco preocupado. “...O que vocês acabaram comprando?”

“Um belo conjunto de dashi de alta qualidade.”

“Q-Que prático...”

   A reação de surpresa de Chitose refletiu os pensamentos de Amane — era um presente prático mesmo. Tanto Itsuki quanto Yuuta haviam dedicado tempo e esforço para selecionar algo apropriado, garantindo que não fosse muito pessoal, mas alinhado com o gosto de Mahiru. Suas expressões tornavam fácil perceber o quanto eles haviam pensado na decisão.

“Ouvimos dizer que você queria uma pedra de amolar, mas pareceu um pouco demais, então imaginamos que algo prático na cozinha seria uma boa escolha... Além disso, isso também beneficia o Fujimiya.”

O qu—!? Amane-kun, você contou a eles sobre a pedra de amolar?”

[Del: Kkkkkkkkk, nmrl, acho que uma das maiores pérolas de Otonari é a pedra de amolar (ele tem que ganhar essa pedra alguma hora). | Mon: Se no próximo White Day ele não retribuir com um buquê e uma pedra de amolar eu choro akakak | Kura: Descobriram o segredo da menina kakakakaka]

   Ciente de que uma pedra de amolar não era algo que a maioria das garotas do ensino médio normalmente desejaria, Mahiru se agarrou a Amane, a fonte do vazamento. Suas bochechas estavam levemente tingidas de um leve rubor de vergonha. Amane, preso no momento, pediu desculpas repetidamente com uma voz um tanto patética: “D-Desculpe, desculpe.”

   Embora não fosse exatamente algo que Mahiru quisesse manter em segredo, ela não gostou nada de ser mencionada. Ela atirou um olhar em Amane, embora fosse menos um olhar penetrante e mais um olhar penetrante para cima, cheio de leve desgosto. Em resposta, Amane deu um tapinha gentil em seu ombro para acalmá-la.

“Mas você ainda quer uma pedra de amolar, certo?” Continuou Amane.

“Existe mesmo alguém que não gostaria?” Retrucou Mahiru.

[Del: Eu gostaria, minhas facas tão querendo. | Mon: Pior que eu peguei uma na casa do meu avô que é 100% automática. Muito bom, até tesoura ela afia.]

“É um pouco cedo demais para eu me concentrar em algo tão especializado...” Respondeu Ayaka.

“Concordo!”

“Eu não tenho tanto entusiasmo por cozinhar...”

“Contanto que a faca corte bem, tudo bem.”

“M-Meus aliados… estão contra mim.” Mahiru suspirou, percebendo que seu apoio estava diminuindo.

[Mon: Fatality]

   Como ninguém mais no grupo compartilhava a culinária como hobby, não havia ninguém para apoiar a opinião de Mahiru. Ela franziu as sobrancelhas, decepcionada, como se expressasse silenciosamente: “Diga-me que não é verdade...” Ao ver isso, Amane afagou-lhe a cabeça gentilmente, num gesto reconfortante.

[Del: Alguém dá uma pedra de amolar para essa garota pelo amor de Deus.]

“Está okay, Mahiru — você me pegou. Embora, honestamente, seria um desperdício para mim, já que não tenho utilidade para isso.”

   Amane entendia a importância de afiar facas, mas como não conseguia usar uma pedra de amolar adequada e um amolador de facas básico era bom o suficiente para ele, não podia apoiar Mahiru totalmente desta vez. Da sua perspectiva, porém, ver Mahiru fazendo um beicinho tão adorável tornava difícil manter a seriedade. Enquanto lutava para conter um sorriso, Ayaka rapidamente o decifrou e sorriu com conhecimento de causa. Envergonhado, Amane imediatamente desviou o olhar.

“Bem, foi por isso que escolhemos o conjunto de dashi”, explicou Yuuta. “É mais prático e fácil de usar quando você precisa, já que é um item consumível e serve como um bom estoque.” Ele se virou para Mahiru. “Você pode usá-lo para agarrar ainda mais a barriga da Fujimiya.”

“Estou preocupado de que ela vá apertar minha barriga com tanta força que vai acabar se contorcendo.”

   Mahiru deu uma risadinha. “Nesse caso, eu assumo total responsabilidade e cuido de você quando isso acontecer.”

“Uau! Isso sim é amor.”

[Del: Pior que já me ocorreu isso. Fiquei internado 8 dias no hospital porque tive colite, tinha comido comida fortemente temperada (chilli) por alguns dias seguidos. Foi legal não, só não fiz cirurgia porque meu corpo estava muito fraco.]

   Mahiru simplesmente sorriu suavemente, com uma ponta de constrangimento no rosto. Ela não confirmou nem negou o comentário. Aquele sorriso despertou algo profundo em Amane, uma sensação suave, porém delicada, que fez seu olhar vagar. Ele entendia que esse desconforto vinha de timidez e felicidade, mas optou por não expressá-lo. Mesmo assim, seus lábios devem tê-lo traído, porque Ayaka, em um tom totalmente isento de provocações, disse: “Fujimiya-kun, não estamos na escola, então você não precisa tentar esconder o que sente nem nada.”

“...Não há necessidade de comentários desnecessários.”

“Aha ha — desculpe, desculpe. Você só parecia tão em conflito, apenas isso.”

“Você realmente não está sendo honesto consigo mesmo, não é, Amane?” Itsuki comentou.

“Quieto, você.”

“Entendeu o que eu quis dizer?!”

  Itsuki tentou provocá-lo, então Amane lançou um olhar penetrante para silenciá-lo. Mesmo assim, Itsuki ainda parecia se divertir. A expressão em seu rosto era tão animada e irritante como sempre.

“Todo mundo pensou muito nos presentes, né? Quanto a mim… bem, na verdade, escolhi um com a minha tia. Tivemos dificuldade para decidir, mas aqui está o que escolhemos para o seu presente de aniversário.” Ayaka tirou um envelope fofo da bolsa.

   Enquanto Amane se maravilhava com a facilidade com que Ayaka ignorava as brincadeiras habituais de Itsuki com um sorriso, Mahiru piscou surpresa com o presente. Este parecia diferente dos outros que vira até então. Enquanto segurava o envelope, Ayaka deu uma piscadela brincalhona para Mahiru.

“Ingressos de chá da tarde para dois. Completos, com serviço de mordomo. Consegui esses usando os contatos da minha tia.”

“A rede de contatos do Itomaki-san não é um pouco vasta demais?”

“Eu pensei a mesma coisa. É meio assustador, de certa forma. Mas depois de alguma discussão, foi isso que escolhemos.”

   Mahiru não conseguiu esconder sua confusão, claramente se sentindo um pouco sobrecarregada. Ela até recebeu um presente parcial de Itomaki, alguém que não tinha nenhuma ligação direta com ela. Seus olhos revelavam uma preocupação que ela guardava no fundo do coração: Será que está realmente tudo bem eu receber tanta atenção e carinho?

   Percebendo isso, Ayaka deu um sorriso meio apologético e tentou tranquilizá-la, dizendo: “Está tudo bem. Você é minha amiga, e a Tia também gosta do Fujimiya-kun.” Até Ayaka pareceu um pouco preocupada, mas fez o possível para confortá-la.

“Não é como se o Fujimiya-kun também não gostasse de doces, né? Além disso, achamos que seria uma boa oportunidade para ele observar o serviço e as maneiras deles para referência futura. Ah, e a propósito, tudo o que servem neste hotel é tão gostoso, então pensei que poderia te inspirar também, Shiina-san.”

“Muito obrigada... Eu nem tive a chance de conhecer a Itomaki-san direito, então estou bastante surpresa.”

“Você está só esperando o Fujimiya-kun te convidar, né? Minha tia entende o que está acontecendo, não se preocupe.”

“Ugh... Vou tentar me acostumar com isso o mais rápido possível,” prometeu Amane.

   Amane entendeu que a provocação sutil era bem merecida, então tudo o que pôde fazer foi abaixar a cabeça. Embora estivesse gradualmente se acostumando com o aspecto de atendimento ao cliente do seu trabalho e se sentindo mais confortável com sua função em geral, ele ainda cometia erros ocasionalmente, muitas vezes mostrando seu lado imperfeito para seus superiores e para Souji.

   Amane não conseguia evitar o desejo egoísta de que Mahiru o visse quando se tornasse competente — seu desejo de mostrar a ela um lado mais maduro e confiável era tanto orgulho quanto vaidade. No entanto, ele não conseguia abrir mão do desejo de impressioná-la.

“Depressa caaaraa. Quero ver você trabalhando também!” disse Itsuki.

“Eu também, eu também!” Seguiu-se por Chitose.

“Você só vai tirar sarro de mim!” Exclamou Amane.

“Oh, por favor. Você é muito cauteloso.”

“Eu simplesmente não posso confiar em vocês dois...”

   Se Itsuki e Chitose aparecessem, havia 90% de chance de que o provocassem — se não 99,9%. Amane faria qualquer coisa para impedi-los de visitá-lo durante o trabalho.

“...Por favor, me mostre logo como você é legal, Amane-kun. Okay?”

“Eu vou me esforçar ao máximo.”

   Não havia como evitar, mas mesmo com Mahiru o incentivando sutilmente, Amane percebeu que não adiantaria deixá-la esperando por muito tempo. Decidido a se dedicar ainda mais ao seu trabalho de meio período, olhou para Chitose rindo alegremente da cena. Ela mostrou a língua de brincadeira quando ele a encarou, sem demonstrar remorso. Amane se virou com um suspiro e optou por ignorar a provocação.

“Muito obrigada a todos. Vocês fizeram tanto por mim... Me sinto verdadeiramente abençoada.”

   Mahiru segurou seus presentes com um sorriso tímido, uma expressão de pura alegria. Talvez por ter chorado tanto ontem, ela parecia um pouco mais forte hoje, conseguindo conter as lágrimas. Mesmo assim, seus olhos cor de caramelo brilhavam intensamente, transbordando um delicado calor que ameaçava transbordar.

“Você poderia se beneficiar sendo um pouco mais egoísta, Mahiru.”

“Exatamente! Um pouco de egoísmo estratégico aqui e ali para conseguir o que quer não fará mal, Mahirun!”

“...Algo me diz que você está tentando colocar ideias estranhas na cabeça dela,” Amane se virou para Chitose com um sorriso irônico. “Mas sim. Mahiru, você pode pedir mais e confiar em mim o quanto quiser, okay?”

   Todos que conheciam Mahiru concordavam: ela era uma garota que nunca pedia nada aos outros e sempre se abstinha de expressar seus desejos, suportando silenciosamente tudo o que surgisse em seu caminho. Embora ocasionalmente se referisse a si mesma como egoísta, sua versão de egoísmo era tão modesta que dificilmente poderia ser chamada assim. Se seu comportamento pudesse ser chamado de egoísta, então, em comparação, o mundo inteiro estaria cheio de pessoas gananciosas. Devido à sua natureza autossuficiente, Mahiru era habilidosa em lidar com as coisas de forma independente, o que a fazia hesitar em confiar nos outros. Como seu namorado, Amane estava determinado a incentivá-la a depender mais dele e a garantir que ela se sentisse confortável fazendo isso.

“Faça isso, e o Amane com certeza vai te mimar o quanto você quiser,” acrescentou Chitose.

“...E-eu vou pensar nisso,” disse Mahiru. “Além disso, o Amane-kun já me mimou bastante ontem.”

“Ah, é mesmo? Me conte mais. Vamos lá, somos só nós aqui!” 

“Ei, pare com isso,” interrompeu Amane rapidamente.

   Eles não fizeram nada inapropriado, mas isso não vinha ao caso. Ser questionado sobre o que aconteceu enquanto estavam juntos ainda era constrangedor. Amane confiava que Mahiru não havia entrado em detalhes sobre a estadia deles após o festival cultural, mas conhecendo Chitose e suas táticas ardilosas, ele ainda estava um pouco preocupado. Teria que verificar com Mahiru mais tarde para garantir que ela não tivesse deixado nada escapar.

   Mesmo que Amane tentasse impedi-la, Chitose continuava se aproximando de Mahiru com um sorriso despreocupado, claramente com a intenção de arrancar os detalhes.

   Ela se agarrou a Mahiru, brincando, e a conduziu para um canto, onde ninguém as ouviria. Mahiru exibia um sorriso ambíguo, mas não de total rejeição, e simplesmente permitiu que Chitose a arrastasse para longe do resto do grupo. Como seu namorado, Amane só conseguiu suspirar, levando a mão à testa.

     Eu sabia que isso aconteceria.

   Mahiru gostava de compartilhar momentos felizes com os outros e, a menos que o assunto fosse algo que ela quisesse absolutamente manter em segredo, ela poderia ser facilmente convencida a falar quando pressionada por amigos próximos. Amane não conseguia evitar a ansiedade sobre o que ela poderia acabar compartilhando... Mas, de repente, percebeu que Yuuta parecia um pouco perturbado. Ele estava sentado o mais longe possível de Mahiru.

“Kadowaki, algo errado?” Perguntou Amane baixinho.

   Percebendo a expressão que ele devia estar fazendo, Yuuta respondeu com um sorriso ainda mais preocupado. “Bem, eu só estava pensando... Será que está tudo bem eu ser convidado para vir aqui?”

“Isso é só demonstração de humildade, Kadowaki-kun. Mas, sabe, isso não é algo que você deva dizer em voz alta aqui.”

   Mesmo que Yuuta tivesse falado num sussurro, Ayaka ainda captou o que ele disse. Ela lhe lançou um olhar gentil de repreensão, como se dissesse “Mau!” embora seu olhar fosse caloroso e compreensivo. Não havia nenhuma reprovação à vista.

“Certo, me desculpa.”

“Essa cara de quem pede desculpas não está te ajudando muito, sabia?”

“Sinceramente, eu conheço a Shiina-san há ainda menos tempo do que você, Kadowaki-kun. Então, tecnicamente, eu deveria ter dito isso.”

“Mas Kido, esse tipo de coisa não te incomoda nem um pouco, incomoda?”

“Hmm, veja, eu sinto que a Shiina-san me aceita mais ou menos. A atitude dela deixa isso bem claro, então não me afeta. Quando você se aproxima dela, é bem fácil entendê-la.” Ayaka sorriu com naturalidade e confiança. Não havia nem um pingo de dúvida em suas palavras. Era evidente que ela se sentia totalmente segura do que havia dito.

   Ayaka costumava dizer que observar as pessoas era seu hobby, mas isso não se concentrava apenas em seus músculos, como Amane pensava inicialmente. Ela também era sensível a sutis interações humanas. Embora Amane estivesse feliz por ter outra pessoa que entendia Mahiru, não conseguia deixar de se sentir um pouco constrangido, sabendo que Ayaka era perspicaz o suficiente para perceber vários outros detalhes que ele poderia ou não preferir manter ocultos.

“Você é bastante confiante com essas coisas, na verdade,” apontou Yuuta.

Confiante talvez seja um exagero. É mais como se eu pudesse dizer que ela me vê como uma amiga pela forma como me trata calorosamente. A Shiina-san sabe que eu amo o Sou-chan, então ela não vai suspeitar que eu esteja tentando fazer algo engraçado. Acho que é por isso que ela se sente confortável perto de mim.”

“Ah, faz sentido.”

“Por que você está concordando com isso, Kadowaki?”

“Quem sabe?”

“Quem sabe!?”

“O que há com vocês dois?”

“Fujimiya-kun, lembra do festival cultural? As garotas estavam se emocionando com você, não é?”

Emocionando...?

“É, tipo, ‘Ele não é meio gato (hot)?’ Esse tipo de coisa.”

“É meio difícil concordar com isso quando tenho o Sr. Popularidade em pessoa sentado bem ao meu lado,” disse Amane.

   A maioria dos aplausos durante o evento de café simulado foram direcionados a Yuuta. Amane não podia dizer que ninguém o havia elogiado, mas a admiração avassaladora por Yuuta abafou seus elogios. Além disso, qualquer atenção que Amane recebesse não tinha o tom doce e romântico que Yuuta tinha.

   Apesar disso, Ayaka lançou a Amane um olhar cúmplice. Ela balançou o dedo indicador de um lado para o outro como se dissesse: “Você não entende, entende?”

“Fujimiya-kun, você é um arquétipo diferente — essa é a chave.”

“Arquétipo?”

“Kadowaki-kun é como um príncipe — gentil, bonito e um cavalheiro de primeira linha.”

“Eu devo concordar com isso?” Yuuta falou.

“Sim, Kadowaki-kun, é aqui que você concorda. Já Fujimiya-kun, por outro lado, você é o tipo indiferente e descolado que não gosta de pessoas. Mas no festival, você abriu aquele sorriso perfeito de vencedor de prêmio do nada. Esse contraste realmente fez sua mágica.”

“Do que você está falando?”

“Estou falando sério! Você, um garoto fora do radar das pessoas, apareceu no festival todo arrumado e elegante só para dar o sorriso mais brilhante! Então, suponho que algumas pessoas ficaram fracas com o contraste.”

“Kadowaki, você entendeu?”

“Hmm...”

“Por que você não concorda comigo agora!?” Ayaka soltou um grito deliberadamente exagerado e fraco de “Iiip!” como um animal ferido.

   Amane não pôde deixar de lançar a ela um olhar de total perplexidade, como se estivesse olhando para uma criatura que não conseguia entender direito. Ele esperava que não fosse uma reação muito rude.

“Fujimiya, quer você perceba ou não, não há como negar que você está recebendo mais atenção ultimamente. Mesmo sem a Shiina-san por perto, as pessoas estão te notando agora. Isso era algo com que a Shiina-san estava nervosa e ainda está. Não se preocupar com isso pode ser uma grande vantagem ao construir relações amigáveis.”

“É exatamente isso! Você realmente sabe como colocar as coisas em palavras, Kadowaki-kun.” Ayaka bateu palmas com um sorriso radiante e declarou: “Nota máxima para você!” Sua expressão despreocupada encontrou o olhar de exasperação e confusão de Amane.

“É por isso que acredito que a Shiina-san estava disposta a se tornar minha amiga.”

“Entendo o que você está tentando dizer, Kido... mas, certo ou errado, não acho que essa seja a história toda.”

“O que você quer dizer?”

“Mesmo que você esteja certo, acho que a Mahiru se tornou sua amiga porque ela realmente gosta de você e acha que você é uma boa pessoa.”

Fweh?” Um som suave e atordoado escapou dos lábios de Ayaka. As palavras de Amane devem tê-la pegado de surpresa.

   Por que ela está tão confusa? Pensou Amane. Era como se ela não entendesse o que ele queria dizer. Após um breve momento de reflexão, ele decidiu explicar melhor, escolhendo as palavras com cuidado enquanto começava a falar lentamente.

“Tipo, você está sempre cuidando das pessoas. Você é amigável, sempre sorridente e nunca hesita em ajudar alguém que precisa. Você presta muita atenção às pessoas ao seu redor, sabendo exatamente quando ajudar e quando recuar sem exagerar. Você mantém um bom equilíbrio.”

   De certa forma, Mahiru era ainda mais introvertida do que Amane. Embora conseguisse manter uma comunicação superficial perfeita e se apresentar de forma charmosa, pouquíssimas pessoas conseguiam romper a casca que ela construía em torno de seu verdadeiro eu. A única razão pela qual Chitose conseguiu romper tão rapidamente foi porque ela tinha uma conexão com Amane — alguém em quem Mahiru já confiava até certo ponto. E o fato de Amane ter se aproximado de Mahiru foi nada menos que um milagre. Deixando isso de lado, Mahiru sempre manteve as pessoas à distância. Mesmo depois de se livrar da fachada de “Anjo”, aquela natureza reservada permanecia, ainda que um pouco suavizada. Embora tivesse melhorado em interagir com os colegas de classe, ela ainda não era do tipo que compartilhava abertamente seus verdadeiros sentimentos. No entanto... a personalidade gentil, atenciosa e acolhedora de Ayaka deve ter ressoado com ela, despertando algo em seus sentidos Mahiru, o que facilitou sua abertura.

“Você é genuína, sempre positiva e mantém a distância certa, ao mesmo tempo em que é atenciosa e tem consideração. Claro, você pode se empolgar um pouco demais com seus hobbies, mas isso só mostra o quão apaixonada e dedicada você é. Além disso, você nunca ultrapassa os limites ou se torna um incômodo para os outros. Acho que a Mahiru captou essas qualidades e as considera admiráveis. É por isso que ela queria ser sua amiga.”

   Pelo que Amane observou, Mahiru parecia preferir pessoas calmas e sensatas, e Ayaka se encaixava perfeitamente nessa descrição. No entanto, não era apenas uma questão de se alinhar às preferências de Mahiru. O fato de ela achar a personalidade de Ayaka genuinamente agradável era evidente na forma como o relacionamento delas havia se desenvolvido. Se Mahiru não se sentisse assim, certamente não teria convidado Ayaka para a casa dela — tecnicamente a de Amane, mas para Mahiru, aquela se tornara praticamente sua casa também. Convidar alguém para aquele espaço provava que ela confiava e se sentia confortável com essa pessoa.

[ Kura: Um convite para o ninho não é para qualquer um.]

“A Mahiru às vezes se preocupa com o quão pequeno é o meu círculo de amigos, mas, se quer saber, ela tem menos pessoas ainda com quem se abre. É por isso que ter alguém como você se tornando amiga dela me deixa feliz, Kido. E estou feliz por poder ser seu amigo também.”

   Amane havia apenas expressado seus sentimentos genuínos, mas depois de ouvi-lo, Ayaka olhou para ele como se tivesse algo que quisesse desesperadamente dizer, com as sobrancelhas franzidas de forma cômica. Confuso, Amane se virou para Yuuta, que respondeu com um dar de ombros, sua expressão entre exasperação e admiração. Amane não tinha ideia do que estava acontecendo.

“...Estou impressionada como você consegue dizer algo assim tão diretamente. Sinceramente, é um pouco constrangedor. Como você consegue fazer isso sem se preocupar com nada, eu entendo perfeitamente porque a Shiina-san se apaixonou por você. E também entendo por que ela está um pouco preocupada com as coisas.”

“Concordo.”

“De novo, por que você está concordando, Kadowaki?” Amane retrucou, perplexo.

“Quem sabe?”

“Quem sabe??”

“Oh, qual é…”

   Amane não pôde deixar de se sentir intrigado. Os dois, que antes não pareciam ter muita conexão, de repente estavam trabalhando juntos perfeitamente, como se tivessem chegado a um entendimento tácito.

     Por que diabos eles estão tão em sintonia hoje?

“Fujimiya, você sabe que quando se aproxima de alguém, você sempre se torna ridiculamente franco e direto com a pessoa, certo?”

“Quer dizer, mesmo que você me pergunte isso...”

   Amane sempre se viu como mais cínico ou meio torto, definitivamente não alguém franco e direto. No entanto, para seus amigos, parecia que ele não era assim.

“Fujimiya-kun, eu sei que você não quer dizer nada com isso, mas às vezes você joga as coisas de uma forma tão direta. Pode ser uma maneira ruim de dizer, mas mesmo sem querer, há uma chance de uma garota conversando com você ser atingida onde menos espera.”

“...Em outras palavras?” Perguntou Amane, ainda um pouco perdido.

“Há uma chance de outras garotas se interessarem por você sem que você perceba. Aos olhos da sua namorada, isso é assustador. Principalmente porque você mesmo não tem consciência disso.”

...Eu?” Amane respondeu, com um tom de incredulidade.

“Cara, ele não está acreditando.” Itsuki, que estava ouvindo a conversa em silêncio, não conseguiu mais ficar quieto e comentou. Quando Amane se virou para olhar, notou que Mahiru e Chitose haviam terminado a conversa e estavam voltando.

“Acredito que todos aqui hoje concordam com os encantos do Amane-kun.”

“Cem por cento de essa ser a sua opinião tendenciosa falando, Mahiru.”

   Amane não conseguiu evitar lançar um olhar cético ao ouvir o comentário de Mahiru, mas ele instintivamente se endireitou quando ela voltou o olhar para ele. Mahiru exibia um sorriso brilhante e genuinamente doce.

[Del: Vish… | Mon: Vish… | Kura: Vish… me perdi aqui.]

“Amane-kun.”

“Sim?” Ele respondeu reflexivamente ao tom gentil, porém focado, de Mahiru.

“Gostaria de ter uma conversa agradável mais tarde sobre sua baixa autoestima, mas vamos deixar isso de lado... Você tem se esforçado muito para se aprimorar e alcançado resultados dos quais pode se orgulhar, certo?”

“Sim.”

“Então, quando as pessoas notarem como você mudou, você não deve ignorar os elogios tão rapidamente, okay?”

“Vou manter isso em mente,” afirmou Amane.

   Amane entendeu o ponto de Mahiru e nem pensou em retrucar. Ainda assim, parte dele não conseguia se livrar da sensação de que estava sendo superestimado. No entanto, assim que esses pensamentos começaram a surgir, Mahiru lhe deu um sorriso deslumbrantemente lindo, como se tivesse visto através dele. Aquele sorriso lhe causou um arrepio na espinha. Ele rapidamente dissipou qualquer dúvida. 

“Você não tem chance contra a Shiina-san, tem?”

“Quieto.”

   Amane sabia que era fraco em relação a Mahiru, então certamente não precisava que Itsuki apontasse. Mesmo sabendo que era verdade, ouvir aquilo em voz alta o irritava. Retrucando bruscamente, lançou a Itsuki um olhar frio. Em resposta, Itsuki apenas acenou com a mão casualmente, como se dissesse: “Certo, certo, eu entendi.”

“Acho que o Amane-kun jamais... direcionaria sua atenção para outras mulheres. Ele só tem olhos para mim.”

Whoo, whoo!” Ao ouvir a declaração de Mahiru, Chitose assobiou alegremente.

“Não me provoque.”

“Sim, senhora.”

[ Kura: Moço, esse cap tá de tirar a peruca kakaka]

   Amane imediatamente se sentiu satisfeito ao ver Mahiru interromper rapidamente as provocações de Chitose. Ele imaginou que não havia mal nenhum em aproveitar o momento, só um pouquinho.

“... Mesmo assim, hum, eu não ficaria feliz se outras garotas tentassem a sorte com você, então se você pudesse se lembrar disso, eu me sentiria melhor… Embora sei que é egoísmo da minha parte perguntar.”

“Mahiru, eu nunca deixaria ninguém se aproximar de propósito, sabendo que isso te deixa ansiosa. Vou me certificar de manter distância.”

   Percebendo mais uma vez que o pedido de Mahiru vinha de uma preocupação genuína, Amane decidiu firmemente tranquilizá-la. Ele respondeu com clareza e confiança inabalável, totalmente determinado a aliviar suas preocupações de uma vez por todas.

   A ideia de ser seduzido por qualquer outra mulher que não fosse Mahiru era totalmente impensável para Amane, e buscar a atenção de outras pessoas para confirmar o amor de Mahiru era ainda mais absurdo. Ele não era tolo ou descuidado o suficiente para se envolver em tal comportamento imprudente. Embora fosse mentira dizer que não se sentia lisonjeado quando Mahiru sentia um pouco de ciúme, o fato de o ciúme advir da insegurança dela tornava isso algo que ele jamais provocaria de bom grado. Como namorado dela, fazê-la se sentir desconfortável deliberadamente era algo que ele queria evitar a todo custo.

“Além disso, todo mundo já não sabe que estamos namorando? Alguém tentaria dar em cima de mim?”

   Olhando para trás, Amane achou a lembrança um pouco constrangedora, então não a relembrava com frequência. No entanto, o evento que levou Mahiru e ele a ficarem juntos foi a corrida de caça ao tesouro durante o festival esportivo. Durante a competição, Mahiru o declarou publicamente a pessoa mais importante do mundo para ela, na frente de toda a escola. A essa altura, era seguro presumir que a notícia já havia se espalhado para todos os alunos.

   Desde então, Amane fazia questão de ficar confiante ao lado de Mahiru, deixando isso claro para qualquer um que estivesse assistindo. Embora relutasse em admitir, até Itsuki e seus outros amigos os provocavam sobre o quão “amorosos” eles eram. Não havia espaço para ninguém se intrometer.

“A Mahirun ainda recebe confissões até hoje, sabe? Não tanto quanto antes, mas ainda assim. Você não acha que isso também poderia acontecer com você, Amane?”

“Hmph. Mas até agora, isso não aconteceu de jeito nenhum.”

[Del: Quem que são os meliantes que ainda se declaram…? …Só pra saber sabe, só pra saber… | Mon: Eu só digo uma coisa: Mk.12 SPR | Kura: Vão juntar uma quadrilha com o Amane?]

   Amane não estava totalmente convencido com o ponto de Ayaka, e era exatamente por isso. Embora Mahiru o elogiasse, e até Itsuki e seus outros amigos comentassem o quanto ele havia mudado, não era como se ele tivesse entrado repentinamente em sua suposta fase popular. Não havia uma única mulher além de Mahiru que tivesse demonstrado qualquer interesse romântico por ele.

   Claro, Amane tinha ouvido alguns comentários positivos durante o festival cultural, mas nada de significativo aconteceu desde então. Seus colegas continuaram a tratá-lo como sempre, então ele não conseguia entender por que seus amigos o elogiavam. Cada vez que recebia um elogio, ele se pegava coçando a cabeça. Mas antes que pudesse pensar mais nisso, o suspiro de Chitose, acompanhado de um “Você não entendeu, não é?” interrompeu sua linha de pensamento, interrompendo-a.

“Essa é a questão...” ela continuou. “Amane, você não tem aquele tipo de apelo universal que a Mahirun tem, mas... como posso dizer...”

“Eu consigo imaginá-lo atraindo sentimentos genuínos de um grupo pequeno e muito dedicado.”, disse Itsuki.

“Não consigo imaginar isso acontecendo,” disse Amane, “e mesmo que acontecesse, eu jamais aceitaria.”

“A questão é: fique atento. Não estamos preocupados com você procurando em outro lugar nem nada.”

   Amane franziu a testa levemente.

     Não tenho interesse em olhar para outras garotas. Se uma garota demonstrasse interesse em mim, eu me sentiria desconfortável, pois não posso retribuir os sentimentos dela.

   Chitose não o provocou, riu ou olhou para ele com descrença. Em vez disso, ela o advertiu em voz baixa, não deixando outra opção a Amane a não ser assentir pensativamente em resposta.



✧ ₊ ✦ ₊ ✧



“Para esclarecer, não estou duvidando de você, okay?”

   Depois que todos foram embora, Mahiru falou com uma voz direta e suave. Isso assustou Amane, fazendo-o se perguntar se algo estava errado.

   Quando Amane piscou ao perceber, finalmente entendendo que Mahiru continuava a conversa que havia deixado de lado antes, ela se sentou ao lado dele no sofá, olhando para baixo levemente enquanto beliscava delicadamente sua manga. Aquele olhar levemente vulnerável em seu rosto sugeria que talvez até Mahiru estivesse um pouco ansiosa.

“Tenho plena consciência de que, uhm, você me ama muito, Amane-kun. E sei que você não é o tipo de pessoa que quebra uma promessa feita,” disse Mahiru.

“Mas tenho agido de maneiras que te deixam preocupada, não é? Vou ser mais cuidadoso,” respondeu Amane.

   Só porque ele não sabia disso não significava que estivesse isento dos limites entre o certo e o errado. Amane não era tão insensível, desconsiderado ou insensível a ponto de ignorar as preocupações legítimas de Mahiru como sua namorada.

“Faz parte do seu charme, Amane-kun, então não é algo que eu deva tentar restringir. E, claro, acho bom que as pessoas estejam começando a ter uma boa opinião de você.”

“Mas Mahiru, não quero que você se sinta desconfortável por causa disso.”

“Acho que não tem problema você ter cautela com garotas que se aproximam de você, mas, honestamente, não há nada que você possa fazer para evitar que elas tenham uma queda por você. Isso só significa que as pessoas ao nosso redor reconhecem o quão maravilhoso você é, Amane-kun, e eu entendo que é melhor ser querido do que odiado — pelo menos até certo ponto.”

“É, concordo com isso. Digamos... estou saindo do assunto, mas tenho uma pergunta rápida.”

“O que é?”

“Eu perguntei algo parecido antes, mas... hipoteticamente, digamos que haja uma garota que goste de mim. Por que ela se daria ao trabalho?”

   Essa era a parte que Amane não conseguia entender. Ele conseguia entender a ideia de alguém tentando atrair uma pessoa de quem gostava — isso fazia muito sentido. No entanto, a situação mudava completamente quando se considerava que essa pessoa já tinha um parceiro.

   Embora as emoções não fossem algo que se pudesse controlar completamente, agir de acordo com esses sentimentos, mesmo sabendo que a pessoa já tinha um parceiro ou cônjuge, era um ato além da compreensão de Amane.

“Se elas adotassem uma abordagem assertiva, isso não significaria que queriam algum tipo de resposta minha?”

“De fato. Elas se aproximariam de você esperando que você retribuísse os sentimentos delas, querendo que você olhasse para elas.”

“Então, para ser franco... eles estariam tentando me roubar de você, Mahiru?”

“É nisso que tudo se resume, sim.”

“Francamente, fico um pouco ofendido por elas ainda acharem que há espaço para se intrometerem quando estou tão apaixonado por você. Não entendo. Não sei como alguém pode olhar para mim e pensar que eu te deixaria.”

   Deixando de lado a discussão sobre se eles eram abertamente afetuosos na frente dos outros, uma coisa era certa: Amane sempre prezava e valorizava Mahiru, não importa onde estivessem. Eles nunca brigaram, nem ele a tratou com frieza. Ele se orgulhava do fato de se respeitarem e de desfrutarem de um relacionamento pacífico. Mahiru reconhecia isso, e até mesmo aqueles ao redor acreditavam que os dois nunca se separariam.

   Amane nunca havia voltado sua atenção para outra mulher. Ele era tão desinteressado por mais ninguém que até Itsuki achava surpreendente. Qualquer um que conhecesse Amane riria do absurdo da ideia de que ele se aproximaria repentinamente de outra mulher.

   Se, hipoteticamente, uma mulher tentasse conquistar Amane, ele ficaria profundamente ofendido se ela pensasse que ele era o tipo de pessoa que poderia facilmente trocar de parceira com apenas um pequeno flerte. Se alguém julgasse mal seus sentimentos por Mahiru como tão superficiais, ele não sentiria nada além de desconforto e imediatamente as cortaria sem hesitar.

“Se elas se aproximassem de mim sabendo sobre você, Mahiru, isso já me deixaria desconfiado. Será que elas não conseguem perceber só de me olhar que eu não estou interessado em outras garotas? Eu as rejeitaria imediatamente.”

   Amane era conhecido por ter um círculo limitado de amigos, mas também um espaço pessoal notavelmente amplo. Qualquer um que cruzasse a linha que ele havia traçado se tornaria imediatamente alvo de cautela, especialmente se houvesse a possibilidade de machucar Mahiru no processo. Ele não conseguia compreender a mentalidade de alguém disposto a criar uma ruptura no relacionamento harmonioso de outra pessoa. Nem queria. Para ele, tais pessoas nem sequer mereciam sua atenção.

[Del: Saeki-san cozinhou uma redação sobre esse tópico aqui hein. | Mon: D-I-V-A.]

“Você é mais rigoroso do que eu em relação a isso, Amane-kun.”

“Não se trata de ser rigoroso nem nada... Isso não é normal? Tipo, ninguém se sentiria desconfortável se isso acontecesse com eles?”

“Eu entendo o que você quer dizer. Mentalmente, eu os rotularia como alguém que faz coisas falsas e manteria-os à distância.”

“...Isso não torna você tão rigorosa quanto eu, Mahiru?”

“Você poderia encarar dessa forma. Mas acho que você traçaria uma linha mais clara do que eu, Amane-kun. Eu tendo a erguer um muro entre mim e a outra pessoa, enquanto você a rejeitaria de cara.”

   Ao ouvi-la dizer isso, Amane percebeu que seria mais rigoroso do que Mahiru ao rejeitar confissões.

“Bem, não tem jeito. O principal motivo é que eu não quero que você me entenda mal, Mahiru. Eu não gostaria de ter um relacionamento com alguém indeciso e irresponsável o suficiente para se deixar levar facilmente por relacionamentos instáveis ​​como esse. É por isso que estou tentando ser cuidadoso. Prefiro prevenir quaisquer mal-entendidos estranhos antes que aconteçam.”

[Del: Esse rigor, essa firmeza do Amane em sua convicção me lembra do Shuuto, seu pai, um pouco (quem leu o 8.5 saberá).]

   A filosofia de Amane era que cortar qualquer causa potencial de mal-entendidos ou discussões pela raiz era o melhor. Ele e Mahiru eram naturalmente calmos e dispostos a ouvir um ao outro. Eles sempre buscavam um ponto em comum, e é por isso que nunca discutiam. No entanto, a única coisa que poderia causar um rompimento entre eles seria se um fizesse algo errado ou quebrasse uma promessa.

   Seja a verdade ou um mal-entendido, no momento em que a dúvida se instalou, era natural que a confiança que haviam construído se deteriorasse. Por isso, minimizar qualquer motivo para a outra pessoa duvidar de você é crucial. Evite sempre se comportar de forma suspeita, comunique-se aberta e claramente e, às vezes, até peça a uma terceira pessoa neutra para confirmar. Essas eram precauções que Amane acreditava que deveriam ser mantidas em mente o tempo todo.

[Del: Bravo. Sim! A mentira é um grande veneno em relacionamentos, pois muitas vezes até a menor das mentiras é causa de dúvida e desconfiança em relacionamentos. | Mon: “Decidir confiar em você, é escolha minha, me trair já é escolha sua.” Isso é uma frase de Bob Esponja. | Kura: Mentiras em relacionamentos só servem para acabar com eles.]

“Voltando ao assunto — é por isso que, se alguma mulher demonstrasse interesse por mim, eu só me sentiria desconfortável e a rejeitaria. Embora, honestamente, eu ainda duvide que alguém assim exista.”

“Se você começar a duvidar disso, vamos andar em círculos,” respondeu Mahiru.

“É, mas... no fim das contas, ninguém nunca tentou dar em cima de mim antes.”

“Sim. Afinal, você é rápido em sentir mau-caráter, mas quando se trata de demonstrar afeto, você é alheio.”

“...Mahiru-san, você está chateada?”

“Não exatamente chateada... é só que… lembrar o quanto foi difícil para mim fazer você notar meus sentimentos me deixou um pouco...”

   Mahiru levou a mão à testa e soltou um suspiro suave, como se estivesse se sentindo um pouco cansada. Amane, que havia causado suas dificuldades, ficou sem palavras. Seu rosto se enrijeceu, dividido entre a culpa e um sorriso.

   Cerca de meio ano se passou desde que Amane e Mahiru começaram a namorar, mas a jornada até aquele momento rendeu a aprovação um tanto irritada de Itsuki e Chitose. Eles disseram: “Demorou tanto por causa de quão ridiculamente denso você era. Você estava sempre em cima do muro por falta de confiança.” Amane sabia muito bem que sua insegurança o levava a questionar os sentimentos de Mahiru, pensando que não havia como ela se interessar por ele. Ele entendia perfeitamente por que Mahiru havia lutado durante aquele tempo e sentia genuinamente arrependimento disso.

“Claro, agora eu sei que você estava se esforçando para expressar seus sentimentos para mim, Mahiru! Eu simplesmente não estava confiante o suficiente para acreditar!”

“Se você tivesse dito que não percebeu naquela época, eu teria imediatamente enterrado o rosto nas mãos... Você era tão denso, mesmo quando eu era direta com você.”

“Desculpe.”

“A-Agora, eu sei que você percebe meus sentimentos e expressa os seus com muita clareza! D-De qualquer forma, voltando ao assunto. Hoje em dia, você é muito sensível ao meu afeto e corresponde maravilhosamente. No entanto, você ainda pode ser um pouco alheio quando se trata de outras pessoas — particularmente do interesse romântico de outras mulheres. Na verdade, você é alheio.”

“É tão ruim assim...?”

“De fato. A ponto de eu poder dizer isso com confiança. Mas... já que é a prova de que sou a única em quem você está de olho, não posso exatamente reclamar.”

“Não é natural que você seja a única em quem eu esteja de olho?”

“...O jeito que você diz coisas assim com tanta naturalidade... Sério, não é justo.”

“Huh...?”

“E-eu sei que sou a única... Porque... você me ama tanto.”

“Exatamente. Fico feliz que você entenda isso bem,” respondeu Amane com um sorriso gentil.

   A voz de Mahiru sumiu timidamente enquanto ela se remexia, sua hesitação apenas a tornando mais cativante. Ele gentilmente a envolveu com o braço enquanto ela se inclinava delicadamente para ele. Ele colocou a mão suavemente em suas costas, abraçando-a com ternura.

   Agora, expressar o amor e se entregar mutuamente havia se tornado algo instintivo. Enquanto a abraçava, ele absorveu todas as emoções que ela lhe dirigia, tomando cuidado para não machucar seu corpo delicado. Ele a segurou gentilmente para absorver e dissolver as pequenas ansiedades e medos que ela carregava em seu corpo delicado.

   A leve tensão em seu corpo se dissipou enquanto Amane a acariciava suavemente com a palma da mão. Mahiru se aconchegou mais perto, demonstrando total confiança nele. Desejando sentir ainda mais a presença dela, Amane lentamente mudou de posição, deitando-se no sofá com Mahiru em cima dele. Não que ela tivesse subido nele — ele a guiou gentilmente até lá. Surpresa e envergonhada, Mahiru piscou rapidamente e tentou se levantar, mas, sem dizer uma palavra, Amane envolveu seus braços ao seu redor. Ele a abraçou forte e não a deixou se afastar.

“...Devo estar muito pesada.”

“Você não está pesada. Nem um pouco... Além disso, quero que você se apoie ainda mais em mim.” Enquanto seus cabelos balançavam e ela parecia ligeiramente perturbada, Amane sussurrou suavemente, buscando seu afeto e convidando-a a ser mimada. Em resposta, as bochechas pálidas de Mahiru lentamente coraram com um tom rosa suave.

“Se é isso que você está fazendo, então eu gostaria que você se apoiasse ainda mais em mim também, Amane-kun,” murmurou Mahiru docemente.

“Você teria preferido o contrário?”

Baka!” Mahiru exclamou, com o rosto ainda mais vermelho.

   Afobada, Mahiru atacou Amane diretamente, enterrando o rosto em seu peito. Amane não conseguiu conter o riso. Sentindo seu peito tremer de alegria, Mahiru levantou o rosto pela metade, revelando suas bochechas coradas e seus olhos adoravelmente penetrantes enquanto o encarava.

   Mesmo que Amane tentasse manter a compostura por fora, suas palavras e ações haviam sido razoavelmente ousadas. Para disfarçar, ele gentilmente colocou a mão em sua cabeça erguida, acariciando suavemente seus cabelos para que os finos fios não se embaraçassem. Só isso já fez a cabeça de Mahiru afundar novamente em seu peito.

*Pom, pom*

   Até os pequenos empurrões que ela lhe dava, quase como uma reclamação brincalhona, eram cativantes. Amane os aceitou com um sorriso, saboreando o calor, a maciez e até mesmo a forma como ela se inclinava carinhosamente para ele. Os dedos dele percorreram lentamente seus cabelos sedosos, bem cuidados e loiros.

“Amane-kun.”

“Sim?”

   Eles estavam aninhados em silêncio por um tempo quando a voz calma de Mahiru chamou suavemente, levando Amane a inclinar levemente a cabeça. Cheios de pura sinceridade, seus olhos encontraram os dele, sem mais demonstrar a agitação ou o constrangimento de antes.

“Eu... não acho que toda garota que quer expressar seus sentimentos seja assim... Pode haver uma garota por aí que não consiga conter seus sentimentos, que simplesmente precise expressá-los de uma forma ou de outra. Algum dia, uma garota que sinceramente diga que te ama pode aparecer. Quando isso acontecer, Amane-kun—”

“Eu vou recusar. Gentilmente... Eu vou ouvi-la, mas não vou aceitar seus sentimentos.”

   Amane entendeu o que Mahiru estava tentando dizer, mesmo sem ela terminar. Ele sabia que nem todo mundo que se confessava para alguém que já estava em um relacionamento tinha más intenções. Mesmo alguém como ele, inteiramente dedicado a Mahiru, conseguia perceber isso. Às vezes, as pessoas só precisavam expressar seus sentimentos antes que se tornassem insuportáveis ​​— era natural.

   Amane não queria condenar tais sentimentos como inerentemente errados, nem acreditava que alguém tivesse o direito de negar as emoções de outra pessoa. Afinal, ninguém podia controlar totalmente quando ou como os sentimentos afloravam. Às vezes, essas emoções se tornam insuportáveis ​​demais para suportar e acabam sendo direcionadas à pessoa em quem não conseguiam parar de pensar. No entanto, a verdade nua e crua permanecia: Amane não tinha intenção de aceitar esses sentimentos.

Você é quem eu amo, Mahiru. A única pessoa com quem planejo meu futuro é você. É por isso que nunca deixarei ninguém ocupar o espaço ao meu lado. A única pessoa que pertence a este lugar é você.”

   Mesmo que rejeitar alguém os magoasse, Amane não podia vacilar. Mahiru era a única pessoa que ele amava e jamais escolheria outra pessoa. Da mesma forma, Mahiru não conseguia se imaginar deixando Amane partir. Ambos entendiam isso profundamente e, para apaziguar quaisquer dúvidas remanescentes, continuaram compartilhando suas palavras, sentimentos e carinho, gentilmente intercalando-os.

“Então, não precisa se preocupar. Se eu tiver você, Mahiru, não preciso de mais ninguém.”

“...Certo.”

   Sentindo o corpo dela relaxar ainda mais contra o seu, aliviado, Amane estreitou os olhos, satisfeito. Gentilmente, apertou ainda mais o abraço que trazia em seus braços.

 

-DelValle: Ow, o Amane deu uma aula aqui hein. Falou bem. Falou bonito. O cara é bom, é uma inspiração pra mim, isto posso dizer.

-Moonlakgil: Amane Goat, Mahiru com um leve ciúme e com conflitos internos sobre o relacionamento é algo bem humano de se ver, faz eu me envolver ainda mais na história. Muito bom!

-Kutayami: Que cap, fazia tempo que não apreciava um desse. E ainda com essa emoção no final que só Otonari sabe fazer.

Ps: Amane, de uma preda de amolar para essa menina pelo amor de Deus. Não espere pelo casamento!



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