O Anjo da Porta ao Lado Me Mima Demais Japonesa

Tradução: DelValle

Revisão: Jeff, Mon, Kurayami


Vol 10

Capítulo 4: Natal Passado com Todos

   Embora esperado, os alunos não tiveram folga, mesmo depois de terminarem os exames.

   Na escola de Amane, as aulas continuaram normalmente até o dia 24, e a vida continuou como sempre. A agenda lotada parecia adequada para a correria de dezembro, já que a escola havia começado a se preparar para o vestibular com calma. Mesmo que Amane estivesse preparado para isso, a intensidade crescente das aulas ainda era desafiadora. No entanto, saber que uma longa pausa estava próxima tornava as coisas mais suportáveis.

“Argh, não entendo. Ter aula até na véspera de Natal literalmente não faz sentido.”

   Era 24 de dezembro — véspera de Natal.

   As aulas continuavam como em qualquer outro dia. Os alunos estavam desanimados, reclamando por terem aula justamente na véspera de Natal, mas os professores, obrigados a seguir o currículo, não deram atenção às suas reclamações.

   Mesmo assim, talvez como uma pequena concessão da escola, as aulas de hoje terminaram ao meio-dia. Na sessão de aula seguinte, os alunos receberam longos lembretes sobre a segurança nos feriados e a mentalidade que deveriam adotar como futuros candidatos. Para Chitose, em vez de se sentir aliviada, a exaustão pareceu atingi-la primeiro.

   Todos os alunos ao redor estavam animados com as férias de inverno, mas alguns estavam bastante desanimados ao pensar no que os aguardava.

“Bem, pelo menos não temos mais aulas até o ano que vem. É o que é.” disse Amane.

“Eles poderiam ter começado as férias hoje... Estou tão cansada...”

“É, eles sempre enfiam um monte de assuntos nas nossas aulas. O ritmo aqui é bem acelerado.”

“Eles deveriam ir no tempo certo!”

“Sem chance, sem chance.”

“Você deveria ter desistido quando se matriculou aqui. Enfim, as aulas acabaram agora, então podemos ir para casa. Sem reclamações.”

   Muitos alunos foram rapidamente para casa depois de serem dispensados. Aliás, Ayaka correu animada para a sala de Souji. Quanto a Amane e seu grupo, eles tinham planos de se reunir e depois ir para a casa de Amane — embora, para ele, fosse simplesmente uma questão de voltar para casa. Então, permaneceram na sala de aula por mais um tempo.

“Oh, minhas queridas férias de inverno... durem bastante...”

“Desculpem-me por decepcionar, mas voltamos às aulas no dia 6. Isso nos dá doze dias.”

“Férias de verão, volteeem!” Lamentou Chitose.

[Moon: Eu e Chitose totalmente alinhadas]

   Mahiru deu uma risadinha. “Parece que todos nós também teremos aulas extras durante as férias de verão.”

   Chitose soltou uma voz meio trêmula: “Mahirun, eu não preciso de um segundo choque de realidade...” enquanto Mahiru desferia o golpe final com um sorriso. Em resposta, Mahiru continuou sorrindo docemente.

“Desculpe. Mas é exatamente por isso que precisamos aproveitar o momento, não concorda? Afinal, é véspera de Natal.”

   Imaginar os desafios que viriam só estragaria a diversão, então Mahiru não entrou em detalhes. Em vez disso, pegou a mão de Chitose, que subitamente se animava, e a ajudou a se levantar da cadeira. Segundos antes, Chitose estava curvada, mas ao perceber que era véspera de Natal, animou-se mais do que nunca. Correu até o armário atrás de si, pegando sua muda de roupa e seu casaco.

   Amane vislumbrou o que parecia ser uma pilha de livros didáticos amontoados lá dentro, mas se convenceu de que era apenas sua mente pregando peças nele.

“Tudo bem, vamos pegar o frango que reservamos! Uhuu! Hoje é um banquete de frango frito!” Chitose comemorou.

“Provavelmente estará lotado, mesmo com a nossa reserva.”

“Nossa, é um encontro duplo de Natal, não é?”

   Enquanto Chitose vestia o casaco ansiosamente e erguia o punho em entusiasmo, uma voz chamou todos eles. Duas colegas de classe, ainda presentes na sala de aula, aproximaram-se deles.

“Isso. Vamos ter um encontro duplo bem aconchegante dentro de casa.”

“Nossa, até vocês vão ter um encontro em casa, Chitose-chan? Achei que vocês iam passar por aqui na volta.”

“É mesmo assim que a gente se parece?” Itsuki interrompeu. “Mas é, é mesmo. Provavelmente nos perderíamos na multidão se saíssemos para algum lugar. Além disso, aposto que o Amane não gostaria de ser visto em um encontro, né?”

“Cala a boca.”

“Vocês são todos bons amigos, não é?” Uma das garotas comentou com um sorriso.

   Ela não estava tentando provocá-los. Seu tom era compreensivo, soando divertido e um pouco atordoado. Para os colegas de classe, os quatro eram praticamente um grupo estabelecido, então Amane não sabia se ria ou se sentia incomodado. Isso não incomodava Mahiru, então não havia nada de errado, deixando-o com sentimentos confusos.

“E você? Vai sair para algum lugar?” perguntou Itsuki.

“Ahh! Akazawa-kun, que maldade sua perguntar isso quando nem temos namorados!”

“Ops, desculpa!” Itsuki se desculpou rapidamente.

“Aha ha, brincadeira. Vamos a um café que reservamos. Queremos experimentar o cardápio de Natal. Então, sim, temos planos!”

“Não precisavam me dar uma bronca então!” Itsuki brincou.

“Heh heh, eu só tive que entrar na brincadeira. Bem, Risa, vamos?”

“Mhm,” respondeu Risa.

   Itsuki e Chitose eram os animadores da turma, então se davam bem com quase todos os colegas. Trocas casuais como essa eram naturais para eles. Em contraste, Amane só conseguia admirar como eles faziam isso. Felizmente, ele também havia sido aceito pelos colegas e conseguia manter uma conversa razoável. Ainda assim, brincadeiras como as que acabara de ver não lhe eram naturais. Provavelmente dependiam da pessoa.

   Enquanto Amane refletia mais uma vez sobre as impressionantes habilidades sociais de Itsuki, ele percebeu que também era hora de eles irem embora. Ele acenou levemente para as duas garotas, dizendo: “Cuidem-se, Konishi, Hibiya. Vejo vocês depois das férias de inverno.” Mas, por algum motivo, as duas ficaram paralisadas.

   Amane não pôde deixar de se sentir constrangido, imaginando se elas ainda duvidavam de que ele se lembrasse de seus nomes. Com um suspiro silencioso, ele gentilmente pegou a mão de Mahiru. Ela hesitou por um momento e seus cílios se abaixaram antes de apertar a mão dele de volta.



✧ ₊ ✦ ₊ ✧



“Ah, agora sim é Natal! Você até ganhou uma árvore!”

   Chitose, empolgada como sempre, correu para a sala de estar e comemorou enquanto Amane e Mahiru trocavam olhares e sorriam antes de segui-la um pouco mais tarde. A pessoa mais animada para dar uma festa de Natal em casa era, na verdade, Mahiru.

   Eles decoraram a sala de estar principalmente em vermelho, verde e dourado para criar uma atmosfera natalina clara e festiva. O que mais se destacou foi a linda árvore, um pouco menor que Mahiru. Os enfeites estavam perfeitamente dispostos, fazendo com que qualquer um que os visse sentisse o espírito natalino.

“Todos foram gentis o suficiente para fazer decorações deslumbrantes para o meu aniversário, então, desta vez, foi a minha vez de fazer o mesmo,” disse Mahiru.

“Minha mãe enviou algo de repente, mas eu nunca imaginei que fosse uma árvore,” acrescentou Amane.

   Shihoko havia contatado Amane alguns dias antes, instruindo-o a se preparar para receber um pacote que ela havia enviado. Pego de surpresa pelo aviso repentino, a entrega chegou rapidamente, deixando-o perplexo.

[Kura: Isso sim é uma mãe de ordem.]

   Dois itens chegaram. Um deles era uma caixa grande contendo a árvore de Natal desmontada que havia sido usada na casa de seus pais por anos. Ele ainda se lembrava vividamente da alegria fofa e silenciosa que Mahiru soltou ao vê-la. A outra caixa ainda não havia sido aberta na frente de Mahiru, pois Amane planejava mostrar o conteúdo mais tarde.

“...T-Talvez tenha sido porque eu mencionei que nunca decorei uma árvore em casa antes... Me desculpe,” disse Mahiru baixinho.

[Kura: Ela toda empolgada kkk]

“Por que você está pedindo desculpas? Não tenho nada contra a árvore em si; é só que a minha mãe a enviou do nada. Ela poderia pelo menos ter me avisado um pouco antes,” respondeu Amane, um pouco exasperado.

   Quando Amane viu a árvore, soube imediatamente que seus pais deviam ter descoberto que Mahiru nunca havia decorado uma e a enviaram por consideração. Ele ficou grato pela consideração deles. Mahiru decorou a árvore com cerca de 130% de entusiasmo. Ela estava absolutamente adorável. Amane capturou toda a cena em vídeo e enviou para Shihoko e Shuuto como um sinal de sua gratidão.

   Na verdade, Mahiru estava tão animada que seu entusiasmo se refletiu perfeitamente na própria árvore. Os enfeites lindamente dispostos encantaram todos na sala.

“Ei, ei — você só é doce com a sua namorada, hmm?” Itsuki brincou.

“E por que eu deveria ser doce com você?”

“Você poderia pelo menos melhorar um pouco as palavras, não acha?”

“De jeito nenhum.” Amane descartou a ideia.

“Ikkun, Ikkun. Pensando bem, o Amane é um cara super doce. Ele sempre mantém as coisas super secas quando está falando com alguém em quem não está interessado. É por causa do amor.”

[Moon: *insert Careless Whisper* / Kura: O amor derreteu a parede kkk]

“Chitose...”

“Mahiruuun, eu também ajudarei a preparar as coisas! Devo preparar todas as nossas xícaras?”

   Quando Amane desviou o olhar, Chitose já havia corrido para a cozinha para preparar os talheres ao lado de Mahiru. Ela o deixou sem ter como expressar sua irritação — tudo o que ele pôde fazer foi lançar-lhe um olhar penetrante. É claro que Chitose fingiu não notar enquanto Mahiru lhe dava instruções alegremente. Como resultado, a leve irritação de Amane rapidamente se acalmou. Itsuki riu histericamente da cena, levando Amane a pisar levemente em seu pé enquanto calçava os chinelos. Suspirando baixinho, ele começou a arrumar seus materiais de estudo habituais deixados na mesa baixa.



✧ ₊ ✦ ₊ ✧



“E com isso, Feliz Natal!”

   A festa foi organizada rapidamente, graças às mãos surpreendentemente rápidas de Mahiru e Chitose. Não foi nada extravagante, já que havia um limite para o que os alunos do ensino médio podiam preparar. A mesa estava posta com frango frito e batatas fritas de uma certa rede internacional de fast food, além de salada e copos cheios de suco — essas eram as primeiras coisas que lhes vinham à cabeça quando pensavam no Natal.

[Kura: MC? | Del: Pelo frango frito, deve ser o KFC (que pesquisando, sim, é tão popular no Japão que se tornou tradição natalina)]

   Eles haviam considerado pedir peru assado como prato principal, mas, no fim das contas, optaram por frango frito a pedido de Mahiru, que nunca havia experimentado o frango frito da famosa rede antes.

   Todos ergueram um copo cheio de suas bebidas preferidas, e um som claro ecoou enquanto os brindavam. Normalmente, aquele som complexo e agudo não seria algo a que Amane prestasse muita atenção, mas hoje, parecia estranhamente agradável e reconfortante.

“Sinceramente, não há muito o que fazer no Natal, não é?” Chitose murmurou casualmente, tendo acabado de comer um pedaço de suas batatas fritas.

   Amane sentia o mesmo. Para ele, só porque era Natal não significava que houvesse algo especial para fazer. Quando criança, o Natal sempre foi um evento divertido. Ele ansiava por presentes, e seus pais o levavam a lugares diferentes a cada ano. Mas, à medida que crescia, tornou-se apenas mais um dia, um dia não muito diferente dos demais. Claro, ainda era um dia especial, repleto de boas lembranças, mas a sensação de precisar fazer algo só porque era Natal havia desaparecido gradualmente à medida que ele amadurecia.

“Se fôssemos adultos, poderíamos ir a um bom restaurante e apreciar as luzes, e ainda teríamos tempo para outras coisas. Mas se ficássemos fora até tão tarde, seríamos pegos pela polícia,” suspirou Chitose.

“Seus pais não começariam a ficar desesperados muito antes disso?” 

“Você é a filha adorável e amada deles, afinal,” refletiu Mahiru.

“Certo, então, se os alunos do ensino médio querem fazer algo no Natal, eles geralmente vão ao cinema ou ao karaokê, mas estão sempre lotados, então prefiro não ir. Sempre acabamos relaxando na sua casa, Amane, então parece certo, sabe?” explicou Chitose.

“É, você devia entender como isso é estranho,” brincou Amane.

   Tinha se tornado tão rotineiro que Amane quase se esqueceu da frequência com que acontecia. Não que ele se importasse, no entanto — eles eram sempre bem-vindos. Ele só queria que seus amigos ao menos reconhecessem o quanto seu lugar havia se tornado o ponto de encontro deles. Ele sabia que era um lugar conveniente para todos se reunirem, então não faria alarde sobre isso. Mas havia momentos em que eles apareciam sem avisar, e isso era algo que ele esperava que refletissem um pouco.

“É que assim, se formos para a sua casa, a Mahirun também estará aqui. É uma vantagem dupla.”

“Você está atrás da Mahiru, não é?”

“Ah, fui pega?” Admitiu Chitose com um sorriso brincalhão.

“Hehe, estou feliz de estar com você, Chitose-san.”

“Mahirun...!” Chitose sorriu radiante, com os olhos brilhando.

“Ei, não me olhe como se tivesse vencido,” resmungou Amane, franzindo a testa levemente. Ele não era tão inseguro a ponto de sentir ciúmes de outra garota, mas ver Chitose exibir sua cara presunçosa tão descaradamente estava começando a irritá-lo. A expressão triunfante dela se intensificou em resposta à sua rispidez, fazendo Amane considerar seriamente afastar Mahiru.

“Não se preocupe, Amane-kun, você está em uma categoria completamente diferente, okay?”

“Eu sei disso,” respondeu Amane.

“Olha quem está com ciúmes~!”

“Como se eu estivesse com ciúmes.”

“Oh-ho, então você está com inveja!”

“Mahiru, faça.”

“Positivo!”

   Mahiru entendeu perfeitamente as intenções de Amane. Ela gentilmente jogou algumas sobras de batatas fritas na boca de Chitose, silenciando-a efetivamente antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa desnecessária. Embora a abordagem de Mahiru tenha sido muito mais educada do que quando Itsuki normalmente silenciava Chitose, parecia que Chitose estava mais focada no fato de que Mahiru a havia alimentado, pois ela aceitou alegremente o gesto e se acalmou.

[Kura: Oloco meu, treinaram a Mahiru.]

   Enquanto Chitose mastigava as batatas fritas com um olhar satisfeito, Itsuki riu baixinho.

“A Shiina-san está sendo influenciada por você, Amane, hein?” Embora estivesse com uma expressão estranha, ele não tentou impedi-las, claramente apenas apreciando a cena que se desenrolava diante dele.

“É incrível como nos aproximamos tanto desde o ano passado. É difícil de acreditar.”

“É. Naquela época, a Mahiru e Chitose nem se conheciam,” respondeu Amane.

   No primeiro ano, Mahiru ainda mantinha sua personalidade de “Anjo” e nunca havia falado com Chitose ou Itsuki. Eles só a conheciam de ver, sem nenhuma interação. Agora, apenas um ano depois, as coisas haviam mudado completamente. Mostrava como a vida podia ser imprevisível.

“Foi por volta dessa época no ano passado que descobrimos sobre você e a Shiina-san.” disse Itsuki, relembrando.

“Achei que meu coração fosse parar naquela época,” admitiu Amane com um suspiro.

   Ele mantinha sua conexão com Mahiru escondida, sabendo que sua vida escolar pacífica ruiria se outros descobrissem. Mesmo com amigos próximos, era crucial mantê-la em segredo. Mas então, por puro acidente, Itsuki a pegou parada na sacada naquele dia. Naquele momento, Amane sentiu como se tivesse cometido um erro grave. Seu estômago se revirou. No entanto, graças à boa índole de Itsuki e Chitose, o segredo deles nunca vazou e, no final, o incidente permitiu que se aproximassem.

“Quer dizer, quem imaginaria que o Anjo e o Amane, logo eles, acabariam assim? A Mahirun também sempre mantinha os caras à distância,” acrescentou Chitose.

“...P-Por favor, esqueça isso!”

“E olhe só para você agora. Você é uma fã incondicional do Amane.”

“Chitose-san!”

“Mwahahaha...!” Chitose riu maliciosamente, claramente se divertindo.

   Com o rosto levemente corado de vergonha, Mahiru encarou Chitose. Infelizmente, Chitose não se abalou nem um pouco — era como se nem tivesse notado. Mahiru não estava realmente chateada com o que Chitose havia dito; ela estava apenas levemente irritada por ter sido provocada. Afinal, ela não negava o que Chitose havia dito.

   Como alvo da afeição de Mahiru, Amane sentia-se feliz e envergonhado ao mesmo tempo. Uma estranha sensação de cócegas repuxou os cantos de sua boca. No entanto, ele fez o possível para contrair a expressão e evitar que qualquer sinal de sorriso escapasse. Se deixasse transparecer, não apenas Chitose, mas até Itsuki se juntaria à provocação.

“Vocês mudaram, mas nós não, né?” comentou Itsuki.

“Não. Somos os mesmos de sempre,” concordou Chitose.

“Sério? Eu diria que vocês estão mais tranquilos e relaxados do que antes,” observou Amane.

“O quê? Você está tentando dizer que não temos nada acontecendo!?”

“Por que você sempre leva as coisas tão mal? Só estou dizendo que vocês parecem mais confortáveis ​​do que antes,” esclareceu Amane.

“...Parecemos espinhosos para você?” perguntou Itsuki, parecendo genuinamente surpreso.

“Não, espinhosos não. Às vezes, eu tinha a sensação de que vocês estavam flertando meio intencionalmente e meio involuntariamente. Como se estivessem usando isso como uma ferramenta para manter os outros afastados... não, para evitar que suspeitassem de algo errado?”

   Embora fossem frequentemente chamados de “casal idiota,” Amane sentia que nem todo o flerte deles acontecia naturalmente. Parecia que eles, pelo menos de certa forma, planejavam a situação na maior parte do tempo, como se se apresentassem intencionalmente como um casal feliz e despreocupado, sem obstáculos. Embora fosse verdade que eles eram felizes e harmoniosos, o mesmo não podia ser dito para despreocupados.

   Como Amane sabia das dificuldades deles, percebeu que não eram apenas carinhosos um com o outro sem motivo. Mesmo assim, o fato de estarem sempre se aconchegando ainda os tornava um “casal de idiotas”. Comparados ao ano passado, agora estavam mais à vontade e não pisavam mais em ovos.

   Se isso era bom ou ruim, dependia de como você encarava.

“Nossa, esse cara, hein...”

“Por que você está me insultando agora!?”

“Não estou, não estou! Na verdade, é um elogio!”

“É, tá...”

“Acredite ou não, isso é um elogio vindo do Ikkun.”

“Você deveria aprender a dar um elogio de verdade...” disse Amane com um suspiro.

“Eu poderia dizer a mesma coisa para você,” Itsuki retrucou.

“O que foi isso?”

   Contanto que não estivessem brincando com ele, Amane sempre tentava ser honesto com seus pensamentos. Na verdade, ele acreditava que se expressava de forma bastante direta. Como eles conseguiam interpretar de outra forma estava além da sua compreensão.

“Amane-kun, você sempre age friamente com o Akazawa-san quando percebe que ele está te elogiando. Estou com um pouco de ciúmes.”

Por quê!?” exclamou Amane, perplexo.

“Você só age assim com ele. Isso significa que o Akazawa-san é especial,” explicou Mahiru gentilmente.

“Amane, eu não acredito em você...”

“Mahiru, há coisas que você deveria e não deveria dizer.”

“Ah, eu não deveria ter dito isso?” Com um sorriso inegavelmente encantador, Mahiru inclinou a cabeça ligeiramente. Diante disso, Amane não conseguiu mais dizer nada e simplesmente apertou os lábios em uma linha fina.

“Então nem o mega tsundere Amane é páreo para a poderosa Mahirun, huh?” provocou Chitose.

“Quem você está chamando de mega tsundere?” brincou Amane.

“Tudo bem, então vamos apenas dizer que você é um deredere.”

“Como eu disse, quem!?”

“Você.”

“Você, Amane.”

“Definitivamente você, Amane-kun.”

[Del: Slk, tomo um combo na cara. | Moon: Até a Mahiru akakak 300% de dano | Kura: Depois de uma dessas, o boss foi derrotado kkkk]

   Com os três concordando, Amane rapidamente percebeu que não tinha um único aliado para chamar de seu agora. Agora em menor número, ele se calou, aceitando a derrota.

“Por favor, não fique de mau humor, okay?” Mahiru sussurrou com uma voz gentil e reconfortante, tentando consolar Amane ao reconhecer sua expressão mal-humorada como de desânimo.

   Apesar da doçura com que falava, Amane não tinha intenção de se deixar levar por seus encantos. Ele havia perdido a vontade de discutir, ou, mais precisamente, percebeu que fazê-lo naquele momento seria inútil.

“...Vai ter volta por isso depois.”

“Nós vamos? Ou você quer dizer para a Shiina-san?”

“Para todos vocês!”

“Meu Deus.”

“Calma, calma...”

[Kura: Olha a faca kkk]

   Eles sabiam que a atitude fria de Amane era resultado direto das provocações constantes, mas nenhum deles fez qualquer esforço para mudar de atitude. Amane gostaria que já tivessem percebido que era exatamente por isso que ele respondia com uma atitude tão ríspida.



✧ ₊ ✦ ₊ ✧



“...As férias de inverno começam amanhã, mas vocês dois vão continuar como sempre?”

   Depois de terminarem a refeição, eles não tinham planos específicos em mente. Decidiram passar o tempo assistindo a um clássico de Natal. No entanto, como todos já o tinham visto antes, ninguém estava prestando muita atenção, e uma conversa fiada naturalmente surgiu.

“Não é como se algo grande estivesse acontecendo, então vamos continuar como sempre — estudar em casa e depois ir trabalhar.”

   Na TV, estava passando o clássico filme sobre uma criança sozinha em casa no Natal. Nele, o garoto usava armadilhas inteligentes para se defender de ladrões de forma cômica, acompanhados pelos gritos dramáticos de um homem preso em uma delas. Enquanto assistia à cena, Amane refletiu distraidamente sobre a pergunta de Itsuki.

[Del: Suponho que não haja necessidade de dizer qual é o filme né? | Moon: É quase como se eu conseguisse ver ele passando na TV agora… | Kura: Não sei se é esse, mas me passou na mente.]

   Muitos alunos aguardavam ansiosamente as férias de inverno, mas, honestamente, não parecia diferente só por ser época de festas. Claro, não ter que ir à escola era uma mudança significativa, mas ele ainda estudava tanto quanto antes. Para Amane, a única diferença real era que ele teria mais horas de trabalho do que o normal.

“Estou no mesmo barco que o Amane-kun,” disse Mahiru, “mas, como não tenho emprego, vou passar mais tempo estudando.”

“Argh, vocês dois estão tão dedicados como sempre. Se eu tivesse que estudar tanto, provavelmente implodiria.”

“Eu faço pausas regulares, sabe? Até eu me canso se estudo meio dia seguido, e começo a me sentir sobrecarregada. Para combater isso, misturo coisas que não têm nada a ver com estudos, como tarefas domésticas, exercícios ou hobbies. Isso ajuda a repor a minha mente.”

[Del: Se a Mahiru estuda um Mahiru de tempo, ela se cansa. Tendi, faz sentido. | Moon: akakakak tu não meteu essa!!!]

“Mahirun, você é tão esforçada que a simples diferença entre nós me dá vontade de chorar.”

“Eu gosto de estudar, sabe? É um dos meus hobbies.”

“Eu nem consigo começar a entender isso!”

   Mahiru adorava aprender coisas novas e adquirir novas habilidades. Ela buscava constantemente expandir seus conhecimentos e habilidades, e estudar era o principal exemplo dessa paixão. Era algo que ela realmente gostava.

   No passado, Mahiru era movida por uma necessidade constante, quase obsessiva, de ser a “pessoa ideal”. Mas agora, ela estudava puramente para o seu futuro e para saciar sua curiosidade, e era por isso que não se sentia sobrecarregada. Embora Amane também gostasse de aprender coisas novas, ele não era tão dedicado quanto Mahiru, e não pôde deixar de ficar impressionado com sua busca incansável por crescimento. Para Chitose, porém, provavelmente parecia um pouco extremo.

“A propósito, Amane, você não vai para casa nas férias de inverno este ano?”

“Bem, com mais provas chegando e o fato de eu já ter visto minha mãe quando ela veio para as reuniões, decidimos pular desta vez, considerando o quão curtas as férias são. Não é que eu não queira voltar, mas forçar uma visita com uma agenda apertada não é a melhor ideia. Além disso, meu maior motivo é...”

“Qual?”

“...Se eu voltar com a Mahiru agora, terei que apresentá-la a todos os meus parentes.”

   Shihoko tinha o hábito de não deixar pedra sobre pedra para garantir o sucesso de seus planos. Amane podia facilmente imaginá-la desfilando com Mahiru por aí, exibindo sua futura nora para todos. Não era difícil imaginá-la mostrando Mahiru animadamente para todos os parentes.

   A família deles dificilmente se reunia para todos os eventos. Costumavam passar os feriados como bem entendiam e só se reuniam quando a situação exigia. Portanto, mesmo sendo fim de ano, não era garantido que todos os seus parentes se encontrariam. No entanto, se Amane trouxesse Mahiru para casa, era quase certo que todos se reuniriam, com Shihoko a apresentando a todos com entusiasmo, como se fosse algum tipo de grande evento.

   Amane sabia que isso poderia sobrecarregar Mahiru naquele momento, então decidiu pular a ida para casa. Tais apresentações sempre poderiam acontecer em outra ocasião.

Ahh...” Itsuki lançou-lhe um sorriso cúmplice, entendendo claramente a situação que Amane tentava evitar.

   Amane simplesmente deu de ombros. “E você, Itsuki?”

“Ah, eu? Como sempre, pretendo ser arrastado para cumprimentar todos os meus parentes e ser bombardeado com perguntas.”

“Você considera ser bombardeado parte dos seus planos?”

“Sim, meu irmão vai herdar a família, não eu. Então, não vejo por que eles sentem necessidade de me pressionar também. Não faltam parentes chatos na minha família, deixa eu te contar. É um saco,” disse Itsuki sem rodeios, revelando seus verdadeiros sentimentos.

   A preocupação piscou nos olhos de Chitose por um breve momento, mas seu sorriso radiante retornou rapidamente. “Minha família será a mesma de sempre,” disse ela. “Todo ano, nós apenas relaxamos assistindo a shows de música no Ano Novo.”

“...Só não esqueçam suas tarefas. Há muita coisa para fazer.”

“Não me lembra! Estou tentando desesperadamente esquecer!”

[Kura: Não estraga a felicidade!]

   Não querendo se aprofundar muito, Amane optou por uma provocação inofensiva. Chitose soltou um grunhido brincalhão em protesto, o que fez Amane sorrir com um alívio silencioso. Ele ficou feliz em vê-la de volta ao normal, superando rapidamente o breve lampejo de ansiedade de antes.

 

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