O Anjo da Porta ao Lado Me Mima Demais Japonesa

Tradução: DelValle

Revisão: Mon, Kurayami


Vol 10

Capítulo 10: Um Dia Cheio de Emoções Termina com Uma Única Conclusão

   O Dia dos Namorados havia chegado. Como esperado, a escola inteira fervilhava de animação, mesmo nas primeiras horas da manhã. Amane observou um fluxo de meninas entrando na sala de aula, uma após a outra, cada uma entregando um presente para Yuuta.

     Será que temos tanta gente assim na nossa turma?

   Yuuta veio direto para a escola esta manhã, já que não tinha treino da manhã. Quando entrou na sala de aula, suas mãos já estavam ocupadas. Amane observou a cena se desenrolar com o ar distante de um espectador. Ah, então que os jogos comecem, ele refletiu. Mas foi só quando uma enxurrada de meninas, ao saber da chegada de Yuuta, invadiu a sala depois que ele se sentou, que Amane percebeu que o verdadeiro caos estava apenas começando.

“Isso é difícil de assistir. O cara ainda tem que sobreviver ao recreio e depois da aula também...”

   Não parecia que a multidão de meninas entregando seus presentes logo de manhã fosse diminuir tão cedo. Como estava cercado, nem Amane nem Itsuki conseguiam se aproximar de Yuuta, muito menos oferecer-lhe ajuda, então tudo o que podiam fazer era desejar-lhe o melhor à distância.

     Isso é muito trabalhoso. Talvez fosse melhor chamar o segurança ou algo assim neste momento.

“Cara, tem gente literalmente apostando em quantos ele vai pegar.”

[Kura: 100 no mínimo, a escola deles é grandinha.]

“Cada vez que a pilha aumenta, todo mundo fica com mais ciúmes... ou pelo menos é o que você pensa, mas agora todo mundo sente pena dele.”

“É, quando está tão ruim assim, passa direto do ciúme para… ‘Nossa, isso deve ser difícil.’”

   Yuuta lidou com o fluxo interminável de garotas com um sorriso, lembrando-se dos nomes de todas e agradecendo-as devidamente. Vendo isso, ficou claro que a maioria dos outros caras não o invejava mais. A exaustão de lidar perfeitamente com todas as garotas que se aproximavam dele superava qualquer ciúme.

“Será que ele consegue levar tudo aquilo para casa? Estou começando a ficar preocupado. Quer dizer, duvido que caiba tudo no armário dele. Sem chance.”

“O Yuu-chan pode acabar pegando um táxi,” disse Chitose. “Tenho certeza de que ele já planejou tudo.”

   Imperturbável com sua aparição repentina, Amane cumprimentou Chitose com um casual “Bom dia”. Ela retribuiu o cumprimento com um sorriso alegre.

“Ah, Amane, pegue isso. É o seu chocolate. Expresse sua gratidão!”

   Chitose tinha vindo só para isso, entregando a Amane uma caixa embrulhada em papel quente em tons pastéis — bem no estilo de Chitose. A embalagem era chique e cuidadosamente projetada, o tipo de presente que qualquer um ficaria feliz em receber. No entanto, sabendo o que havia dentro, Amane não conseguia demonstrar nenhuma empolgação genuína.

“Bem, sabe, você tem meus agradecimentos... mas deixe-me perguntar uma coisa primeiro: quão ruim está?”

“...Hãm, pior do que no ano passado?”

“Por que você se esforçou para piorar as coisas...”

   O chocolate do ano passado já tinha sido uma arma de aroma doce que causou estragos tanto em suas papilas gustativas quanto em seu estômago. Ouvir que agora estava ainda “pior” causou um arrepio na espinha de Amane.

“Ah, você vai ficar bem. A Mahirun experimentou um pouco sem problemas, e até o Ikkun engoliu um pouco.”

“As reações deles são tão diferentes…” murmurou Amane.

“Não vai te dar dor de estômago; posso garantir. Eu meio que recomendaria tomar um pouco de iogurte ou leite primeiro, só por precaução.”

“Sério, é um mau sinal você ter que me avisar... Mas mesmo assim, obrigado, eu acho.”

     Pelo menos ela teve a decência de me avisar.

   Com um suspiro, Amane agradeceu enquanto tentava se lembrar se ainda tinha iogurte na geladeira.

   Uma sensação crescente de pavor o atingiu. Não havia dúvida de que Chitose havia guardado algo potente dentro. Ainda assim, imaginando que Mahiru tivesse intervindo como anjo da guarda, ele tinha esperança de que suas papilas gustativas não sofressem um ataque em massa. A julgar pelo tamanho da caixa, parecia provável que pelo menos alguns chocolates fossem normais. Ele só podia rezar para que eles equilibrassem as coisas.

“Você vai ficar bem. Você me ajudou muitas vezes, então eu guardei com muito amor. Ah, só como amiga, é claro. Amor de amizade.”

“Eu não me importaria nem um pouco se você guardasse todo esse amor no Itsuki’s.”

“Não me traia assim, cara! Já comi mais do que o suficiente, obrigado!”

“Tenho mais para você, Ikkun!”

Aah!” (grito)

“Ei, cuidado,” disse Amane. “Você vai fazer o Itsuki entrar em pânico.”

“Vocês não estão sendo um pouco duros demais?” retrucou Chitose.

“Não, se você tivesse feito todos os chocolates normais, o Itsuki estaria pulando de alegria.”

“Mas não há nenhuma emoção em fazer isso.”

“Para ser sincero, não encontramos esta emoção na dor física...”

   Seria ótimo se a novidade estivesse na aparência ou na forma como eram comidos, mas quando o único objetivo era sobrecarregar as papilas gustativas da vítima, era inevitável que a situação atingisse algumas pessoas como uma tonelada de tijolos.

   Chitose, claramente curtindo a cena, sorriu para Itsuki e então proclamou algo bastante cruel. “Espero ansiosamente!” Sentindo um pouco de pena dele, Amane silenciosamente orou pelo corpo de Itsuki, especialmente sua barriga, enquanto pegava o chocolate e se afastava.

[Moon: Coitado…]

   Guardar os chocolates dela no armário até a hora de ir para casa era a melhor decisão. Mesmo que ele tivesse trazido uma sacola, carregá-la e sacudir a comida dentro não era o ideal. Com isso em mente, Amane foi em direção aos armários no fundo da sala de aula.

   Assim que o fez, alguém o chamou.

“Fujimiya-kun!”

   Quando se virou, viu uma de suas colegas de classe parada ali.

   Amane se lembrou de que ela havia falado com ele na véspera de Natal do ano passado ano, mas não conseguia pensar em nenhum motivo para ela se aproximar agora. Soltando um casual “Hmm?” em resposta, ele a observou sorrir alegremente e se aproximar, com um saco na mão.

“Isto é para você. Feliz Dia dos Namorados!”

[Kura: O Q U E E U T I N H A F A L A D O ? Que o Amane receberia chocolate extra kakakaka | Moon: É sempre nessas horas que a namorada aparece, ai já imagino a Mahiru na porta como: ?!?!]

   Antes que Amane pudesse processar completamente a situação, a garota... Hibiya lhe entregou um pequeno pacote de wafers de chocolate em um pacote vermelho brilhante com um sorriso alegre.

“...Desculpe, o quê?”

“Ah, não se preocupe, este é apenas o chocolate obrigatório comum. Estou distribuindo para todos da nossa turma. É cem por cento obrigatório. Tenho um monte aqui.”

[Moon: Mas será que não virá um amoroso???]

   Considerando os muitos pacotes enormes enfiados em sua bolsa, ela devia ter comprado vários pacotes de chocolate para a família para a ocasião.

   Amane não conseguia sentir nenhum sentimento especial vindo dela. Mesmo para aqueles ao redor, não passava de um presente obrigatório. Para piorar, o pacote nem tinha o tema do Dia dos Namorados, mas sim um para desejar sucesso nas provas. Amane acreditava que só queria distribuí-los a todos.

   Olhando ao redor, Amane notou outros colegas, homens e mulheres, segurando os mesmos biscoitos de chocolate. Ela realmente os havia entregue para toda a turma.

“O-Obrigado.”

“Agora, não se esqueça de tranquilizar a Shiina-san,” disse a colega. “Ela está nos encarando há um tempo.”

[Kura: É… Estava errado… Mas acho que a Mahiru ainda está com minha ideia. | Moon: EU SABIA!!!]

“Mahiru...” Olhando para Mahiru, Amane percebeu que, embora ela não parecesse chateada, estava olhando diretamente para ele.

“Não, não é nada disso! Não estou tentando roubá-lo nem nada.” Hibiya acenou energicamente com a mão e riu despreocupadamente, deixando evidente que não gostava dele romanticamente. Eles podiam ser amigos de classe, mas não havia absolutamente nada com que Mahiru se preocupar.

“É, eu também acho que não.”

   Amane disse isso seriamente, não apenas porque achava que ninguém tinha motivos para gostar dele, mas também para sutilmente tranquilizar Mahiru para que não se preocupasse.

   Surpresa, Hibiya arregalou os olhos antes de encará-lo atentamente. “Fujimiya-kun...”

“Oi?”

“O quanto você ama a Shiina-san?” Amane quase tossiu de surpresa.

   Ele não esperava uma pergunta tão direta de uma colega de classe. Ele congelou por um momento e encarou Hibiya. Ela, no entanto, encontrou seu olhar com olhos curiosos, quase inquisitivos, como se tentasse confirmar algo.

“Bem, isso veio do nada. Por que você pergunta? Honestamente, ter que responder isso me deixa meio envergonhado.”

“Vamos ser honestos, é bem óbvio que você está perdidamente apaixonado por ela. Sua atitude e seu jeito de agir entregam isso.”

“É tão óbvio assim?”

“Sim, bem óbvio assim. Você até suavizou a expressão.”

   Amane não sentiu nenhuma mudança em sua expressão. No entanto, comparado a quando costumava afastar as pessoas, seu rosto talvez tivesse se suavizado um pouco. Ele tocou as bochechas, imaginando se era verdade, mas elas ainda pareciam tão finas e firmes como sempre — nada como a maciez das de Mahiru.

   Perceber que até seus colegas o viam daquele jeito fez Amane querer morrer de vergonha alheia, mas reclamar disso só chamaria mais atenção.

   Ele engoliu os pensamentos e fez o possível para manter a calma.

“Aha ha, você está bem por enquanto. A Shiina-san não está perto de você, então você parece bastante sério,” disse Hibiya.

“Sério ou não, ainda bem que não fiquei com cara de sentimental. Teria sido muito constrangedor.”

“Você devia mesmo ver como fica com a Shiina-san. Quer que eu tire uma foto da próxima vez que vocês estiverem juntos?”

“Bem, acho que vou deixar essa passar.”

“Aww,” Hibiya fez beicinho. “Que pena.” Ou foi o que ela disse, mas não havia nenhum traço de decepção real em sua voz. Ela não estava provocando-o nem sendo sarcástica. Hibiya manteve a conversa leve e casual, o que deixou Amane à vontade.

“De qualquer forma, está claro que você ama muito a Shiina-san... Ela é a única para você, não é?”

“Claro.” Amane assentiu, confiante de que poderia dizer o mesmo a qualquer um que perguntasse.

   Nunca Amane amou Mahiru pela metade — não havia como outra pessoa tomar o lugar dela. Ele sabia que seus sentimentos eram pesados, mas tinha que ser a Mahiru. Ele não conseguia imaginar outra pessoa em sua vida. Por causa dela, ele havia se tornado quem era agora, e a ideia de voltar seu olhar para outra pessoa era simplesmente impossível.

   Hibiya pareceu ligeiramente surpresa, impressionada com sua resposta imediata.

“Uau, uma resposta instantânea. Mas sim, eu também concordo. De verdade, mas...” 

“Mas?”

“Hmm... Não é algo que eu possa fazer algo a respeito...” disse Hibiya solenemente.

   Antes que Amane pudesse entender completamente o que ela queria dizer, Hibiya abriu o mesmo sorriso encantador de antes e acenou levemente com a mão.

“Deixa pra lá, não é nada. Só quero dizer que as coisas devem estar difíceis para a Shiina-san.”

“Para a Mahiru? O que você quer dizer com...?”

“Ela deve estar preocupada que algumas garotas tentem dar em cima do namorado dela.”

“Eu que não deveria me preocupar que isso aconteça com ela...?”

“Bem, quem pode dizer?” respondeu Hibiya.

   Amane tentou entender o que o sorrisinho de Hibiya poderia sugerir, mas não conseguiu ler nada em sua expressão. Só conseguiu inclinar a cabeça, confuso.



✧ ₊ ✦ ₊ ✧



“Fujimiya-kun, aqui está!”

   Quando chegou a hora do almoço, Ayaka apareceu com Souji a reboque, indo direto para Amane. Como Ayaka estava na mesma turma, porém, era mais correto dizer que Souji era o único visitante. Nas mãos de Ayaka havia uma caixa comprida e cuidadosamente embrulhada.

   À medida que o círculo social de Amane se expandia este ano, ele recebia alguns chocolates das meninas de sua turma. Naturalmente, cada uma vinha com a garantia de que eram puramente obrigatórios. Depois de ser abordado e receber doces ao longo do dia, Amane desenvolveu um talento especial para sentir quando outro se aproximava.

   E agora, Amane estava até recebendo chocolates de Ayaka, outra de suas amigas. Ela colocou a caixa firmemente em suas mãos com um sorriso brilhante e alegre.

“Uma barra de pro—?”

“Não é uma barra de proteína, não se preocupe. O que você acha que eu sou?”

“Uma moça do sistema de distribuição de barras de proteína.”

   Ayaka tinha o hábito de recomendar ou distribuir constantemente produtos proteicos, tanto que sempre que distribuía comida, o primeiro pensamento de Amane era: Ah, mais proteína. Ela havia cimentado essa imagem firmemente em sua mente.

   Amane presumiu que aquela seria mais uma extensão de seus hábitos proteicos habituais, mas parecia que desta vez era uma exceção.

   Ayaka fez beicinho. “É mesmo isso que você pensa de mim?” Resmungou.

“Você colhe o que planta, Ayaka...,” disse Souji. “Veja só o que você me deu até agora.”

“Uuuuh...”

“Tudo bem, a culpa foi minha,” desculpou-se Amane. “É, duvido que você traga proteína hoje, né, Kido?”

“Não, eu também tenho barras de chocolate proteicas!”

“Então você tem algumas...”

   Apesar de suas preocupações com sua imagem, Ayaka ainda tirou algumas barras de proteína como prova, o que tornou difícil levar suas reclamações a sério. Souji, claramente familiarizado com a rotina, lançou-lhe um olhar que parecia dizer: “Lá vamos nós de novo”. Isso fez Amane se perguntar se algum deles percebia que estavam apenas reforçando a ideia de que Ayaka é igual a proteína.

“Quer dizer, sério... elas são gostosas!”

“Eu sei. Eu como uma de vez em quando.”

“Vejo que você finalmente acordou para a verdade, Fujimiya-kun,” exclamou Ayaka com um sorriso.

“Eu não.”

“Ah, qual é!”

“Por que você está pressionando tanto eles...?”

“Viu, seria ótimo se o Sou-chan tivesse um novo companheiro de treino, e a Shiina-san também ficaria feliz. É um ganho para todos!”

“Kayano, vamos deixar a conversa sobre treino para quando estivermos no trabalho,” brincou Amane.

“É, boa ideia.”

“Vocês são tão cruéis! Estão só querendo me deixar de fora!” Ayaka protestou dramaticamente.

   Mencionar qualquer coisa sobre malhar perto de Ayaka só a deixaria desnecessariamente animada, então Amane e Souji, sabiamente, escolheram guardar essas conversas para um momento privado. Em resposta, Ayaka estufou as bochechas.

“Agora que chegamos a esse ponto, eu preciso recrutar a Shiina-san... Mas não precisa se preocupar; ela tem muito potencial...”

“Não contagie os outros com sua esquisitice.” Souji deu um leve toque na testa dela com o dedo.

Aff!” Ayaka deu um passo para trás, percebendo que tinha se empolgado demais.

   Tipicamente, Ayaka era quem cuidava de Souji, mas sempre que ela ficava muito agitada, Souji intervinha para mantê-la sob controle. Com um beicinho dramático, seus ombros caíram para mostrar o quanto estava decepcionada.

“...Músculos à parte, obrigado,” disse Amane. “Eu agradeço.”

“Não, não, você me ajudou muito, Fujimiya-kun.”

“Mas não me lembro de ter feito muita coisa.”

“Bem, sabe, você tem se dado bem com o Sou-chan e tudo mais.”

“Você é minha mãe ou algo assim?” retrucou Souji.

“Não, eu sou sua adorável namorada!”

“...Mesmo que seja, existem maneiras muito melhores de fazer as coisas.”

     Ah, ele está envergonhado.

   Amane e Ayaka perceberam isso imediatamente. Com um sorriso presunçoso, ela respondeu: “Kaaay,” num tom suave e cantante, com um olhar satisfeito.

“Valeu pelo presente.”

   Ao ouvir Amane dizer isso, Souji usou seus músculos faciais tensos para lançar a Ayaka um olhar significativo. Observando o casal com um sorriso caloroso, Amane não pôde deixar de pensar que Souji era um cara de sorte. No entanto, quando o olhar penetrante de Souji se voltou para ele, Amane percebeu que talvez estivesse encarando por tempo demais. Ele se afastou silenciosamente, deixando o casal feliz para trás como se nada tivesse acontecido.

[Kura: Me pergunto como o Souji é. | Moon: Ele é muito diferente do que você imagina, mas é fofinho… OPA SPOILERS??]



✧ ₊ ✦ ₊ ✧



   De certa forma, o Dia dos Namorados só começava de verdade depois da escola.

   Sabendo que sua presença poderia causar problemas para o resto do time de atletismo, o treinador de Yuuta o instruiu a ficar de fora hoje. Como esperado, os alunos imediatamente o cercaram assim que as aulas acabaram.

   A visão das meninas esperando ansiosamente o fim das aulas antes de bombardeá-lo com presentes foi nada menos que notável. A julgar pelos seus tênis de fora, elas eram de diferentes anos, e toda a cena parecia uma lenda escolar em formação.

   Amane assistia à cena de longe. Mas não confunda sua inação com crueldade — se ele interviesse agora, quase certamente, senão definitivamente, atrairia a ira daquelas meninas e correria o risco de complicar sua vida escolar. Além disso, os sentimentos delas eram sinceros e ele não tinha o direito de interferir. Tudo o que ele e seus amigos podiam fazer era esperar pacientemente que a multidão se acalmasse.

“Você se saiu bem hoje.”

   Depois de quase uma hora, a onda de pessoas finalmente diminuiu, deixando para trás uma pilha — ou uma montanha — de presentes embrulhados com entusiasmo meticuloso. Com a multidão dispersa, Yuuta não precisava mais manter as aparências, e seu cansaço era evidente. Embora tivesse sido um pouco menos caótico do que o frenesi matinal, o grande número de pessoas entrando e saindo o superou em muito. Sua popularidade avassaladora deixou até Itsuki, que o conhecia há anos, perplexo.

“...Ah, vocês me esperaram.”

“Bem, não que tivéssemos muita escolha. Você estava meio... ocupado.”

“Vocês parecem estar se esvaindo. Sério, ótimo trabalho em sobreviver a isto.”

“Obrigado a todos... Vocês nem tentaram se aproximar de mim hoje, né?”

   Yuuta olhou para eles com olhos ligeiramente sombrios, aos quais eles apenas trocaram olhares.

“Bem, quero dizer, é...”

“De jeito nenhum,” respondeu Chitose. “Eu não queria ser esfaqueada. Aqueles olhares, sério — se olhares pudessem matar...”

[Kura: Chitose resumindo o pensamento de todos kakakakaka.]

“Desculpe. Eu não queria atrapalhar os sentimentos delas.”

“Dizem que você leva um coice de cavalo caso se intrometer na vida amorosa de alguém. Além disso, eu definitivamente não tive coragem de atravessar aquela parede de pessoas. Desculpe.”

“Não se desculpe por isso...”

   Todos balançaram a cabeça. Yuuta recostou-se na cadeira com uma expressão cansada, suspirando de exaustão.

   A montanha de presentes das meninas estava empilhada de forma tão precária sobre sua mesa que parecia que poderia desabar ao menor solavanco. Além disso, o armário de Yuuta ainda estava abarrotado com as consequências do caos matinal. Ele tinha muito mais do que conseguia carregar sozinho.

“Você consegue carregar tudo isso para casa, Kadowaki-san?” perguntou Mahiru.

“...Espero.”

“Você tem um plano de como levar tudo, certo?”

“S-Sim. Pelo menos trouxe sacolas comigo. Mas não tenho certeza se terei espaço suficiente nos braços para segurar tudo.”

   Depois da provação do ano passado, Yuuta veio preparado com equipamentos para carregar tudo para casa desta vez. No entanto, embora tivesse sacolas suficientes para guardar todos os presentes, não tinha braços suficientes para carregá-los. Mais uma vez, seu planejamento fora otimista demais — embora, realisticamente, não houvesse muito mais que ele pudesse ter feito.

   A propósito, Chitose e Itsuki frequentaram a mesma escola que Yuuta, e suas casas eram relativamente próximas, então planejaram ajudá-lo a carregar tudo de volta. Por isso, esperaram pacientemente que o caos ao redor de Yuuta se acalmasse antes de intervir.

   De acordo com Itsuki, eles deixaram Yuuta se virar sozinho no ano passado, o que o deixou de mau humor.

“Ainda não consigo acreditar que existam tantos... Sério, me perdoe, Yuu-chan. Estou prestes a adicionar mais um a esta montanha.”

   Apesar de comentar sobre a quantidade impressionante de presentes, Chitose até preparou o seu próprio. Ela colocou seu presente de Dia dos Namorados no último espaço livre na mesa de Yuuta. Yuuta sentiu-se genuinamente feliz por receber chocolates de uma amiga próxima, e um sorriso suave surgiu em seu belo rosto.

   Se alguma das garotas de antes visse sua expressão agora, provavelmente ficaria de queixo caído instantaneamente, pensou Amane. No entanto, esse pensamento desapareceu rapidamente quando Amane voltou sua atenção para a caixa que Chitose colocou sobre a mesa. A embalagem era diferente da que ele havia recebido, mas e a interior?

“Uau. Obrigada, Shirakawa-san.”

“Chitose, não me diga que você...”

“Não se preocupe! Ao contrário de vocês, o Yuu-chan ganha chocolates comuns.”

“Eu também ficaria nas nuvens se os meus fossem apenas chocolates comuns!”

   O chocolate que Yuuta recebeu era uma versão especial de sua receita, sem todos os ingredientes especiais. Amane não conseguia decidir se devia ficar grato pelo estômago do amigo ter sido poupado ou se lamentava por ser um dos poucos a receber esse tratamento especial estranho e indesejado.

“Ah, vai ficar envergonhado de nooovo, né? Oh, você!”

“Não, estou queimando de estresse,” desabafou Amane. “Só de pensar nisso já me dá palpitações.”

“Não se preocupe. Não é tão ruim assim, eu juro. Pense nele como um item raro.”

“Tudo bem, vou acreditar no que você diz...”

“Hã, o que ela colocou...?”

   Como Yuuta não estava lá quando discutiram os ingredientes, ele felizmente não tinha a mínima ideia de quão perigosamente perto a ideia brincalhona de Chitose havia levado as coisas ao limite.

“Fique tranquilo, Yuu-chan! O seu está ótimo!”

“É, mas o Fujimiya não parece que vai ficar nada bem...”

“Então você é o único que realmente se importa comigo, hein, Kadowaki...”

   Chitose seguiu em frente com uma atitude despreocupada de “Você vai ficar bem!” enquanto Itsuki estava tipo: “Se a gente cair, cairemos juntos.” Mahiru, a única pessoa com quem Amane podia contar para controlar Chitose, fez o possível para evitar que as coisas saíssem do controle, mas respeitava a natureza livre de Chitose. Ela nunca chegou a impedir Chitose de fazer o chocolate por completo.

   Apesar de estar completamente alheio à situação, Yuuta lançou um olhar preocupado na direção de Amane. Sentindo-se tocado, Amane resolveu oferecer um suco a Yuuta mais tarde, como um pequeno gesto de gratidão pelo apoio dele neste dia.

   Quanto a Mahiru, agora que o caos de Yuuta havia se acalmado, ela silenciosamente retirou da bolsa duas caixas cuidadosamente embrulhadas em cores suaves — uma para Yuuta e outra para Itsuki.

“Também tenho algo para o Kadowaki-san e o Akazawa-san. Queria esperar até que a multidão diminuísse o máximo possível, então estou um pouco atrasada para entregá-las.”

“Ahh... Sim, senão os outros ficariam com muita inveja.”

   Como era de conhecimento geral que Mahiru estava namorando Amane, havia pouco espaço para mal-entendidos. No entanto, isso não mudava o fato de que receber até mesmo chocolate da amizade de Mahiru era o suficiente para deixar seus colegas de escola com ciúmes. Na mente dos outros garotos, os chocolates de Mahiru, mesmo que dados por cortesia, eram algo duplamente invejável.

“Você vai me dar um?” perguntou Yuuta, surpreso.

“Sou sempre grata pela sua ajuda, então esta é a minha maneira de agradecer. E, além disso, você sempre dá uma mãozinha para o Amane-kun também.”

“...Você é como a mãe dele ou—”

“Espere, Ikkun, não diga mais nada. Se fizer isso, o Amane vai ficar bravo e envergonhado, e até a Mahirun vai ficar um pouco atordoada.”

“Oh, sim.”

“Não vou perguntar o que você ia dizer, mas não me provoque.”

   Amane tinha uma vaga ideia do que Itsuki ia dizer, mas já sabia que admitir só geraria uma enxurrada interminável de provocações sobre como ele sabia que era verdade.

“Mas é só o que parece...”

[Kura: Um pouco, um pouco; Amane antes: “você por acaso é a minha mãe?”]

   Enquanto Itsuki dizia isso, os cantos de sua boca se contraíam inconfundivelmente. Ele estava se divertindo. Depois de soltar um suspiro dramático, Amane pegou sua bolsa, sabendo que provocar Itsuki só o faria dizer algo que não devia.

“Huh? Por que você está de mau humor?”

“Não estou. Só vou pegar um suco. E algo para refrescar nosso Kadowaki exausto enquanto estou aqui.”

“Sério? Depois eu quero um suco de laranja!” disse Chitose.

“Vou querer uma cidra,” acrescentou Itsuki.

“Vocês não podem estar falando sério...” Amane estreitou os olhos para os dois.

   Apesar de ele dizer que ia comprar algo para Yuuta, Itsuki e Chitose tentaram casualmente convencê-lo a pagar as bebidas deles também. “Nós te pagamos de volta, prometemos!” imploraram, deixando-o sem escolha a não ser concordar. Aceitando relutantemente, Amane então olhou para os outros dois.

“O que vocês gostariam, Kadowaki, Mahiru?”

“Hm? Tem certeza?”

“Certeza, certeza. Então, qual é a sua escolha?”

“Vou tomar um café, então. Valeu, cara.”

     Todas as personalidades deles transparecem na bebida escolhida.

   Enquanto Amane pensava nisso, virou-se para Mahiru, que ainda não havia expressado sua preferência. Sua expressão era um pouco preocupada.

“E você, Mahiru?”

“Então, chá preto, por favor... Ah, posso ir com você? Você terá muitas bebidas para carregar.”

“Estou com minha bolsa, então ficarei bem. Além disso...”

“Além disso?”

“...Vai ser um incômodo enfiar tudo isso nas bolsas do Kadowaki, então talvez seja melhor você ficar para ajudar também.”

   “Isso” se referia à montanha de doces afetos concedidos a Yuuta. Era muito — não, demais mesmo — para alguém lidar sozinho. Considerando que ainda havia mais em seu armário, eles poderiam ficar lá até o pôr do sol se não começassem a arrumar as coisas logo.

   Embora não pudessem simplesmente começar a lidar com os presentes de outra pessoa sem permissão, Yuuta já havia se conformado com o fato de que não conseguiria lidar com isso sozinho. Ele olhou para o horizonte, tentando escapar da dura realidade que o encarava.

“Desculpe, mas qualquer ajuda seria apreciada, sim. Eu não sou exatamente bom em organizar esse tipo de coisa...”

“C-Certo, a quantidade é... incrível, para dizer o mínimo,” concordou Mahiru.

“Você sabe que a coisa é séria quando até a Mahirun fica chocada.”

   Amane riu baixinho depois que Mahiru se viu atordoada pela popularidade avassaladora de Yuuta. Sem mais delongas, ele saiu silenciosamente da sala de aula e foi até as máquinas de venda automática para pegar seus pedidos. Mesmo que as aulas tivessem terminado há mais de uma hora, alguns alunos ainda estavam por ali, provavelmente porque era Dia dos Namorados. Apesar de não haver treino de atletismo hoje, outros clubes ainda retomaram suas atividades. O som distante de alunos chamando uns aos outros ecoava suavemente ao fundo.

   Ao passar por uma sala de aula, Amane avistou dois alunos desconhecidos — um menino e uma menina — parados bem próximos um do outro e se aproximando. Ele rapidamente desviou o olhar e apressou o passo, caminhando silenciosamente em direção à máquina de venda automática.

#

“Fujimiya-kun.”

   No caminho, alguém o chamou.

   Era uma voz familiar, mas também uma com quem ele não havia falado muito antes.

   Amane parou e se virou na direção da voz. Encontrou uma de suas colegas, uma garota, parada ali em silêncio. “Ah, Konishi. Você ainda está aqui?”

   Amane havia memorizado os rostos, nomes e vozes de todos os seus colegas.

   Embora não interagisse muito com a garota, rapidamente a reconheceu como Konishi, alguém frequentemente vista conversando com Hibiya, a garota que lhe dera chocolate “100% obrigatório” naquela manhã. Relaxando um pouco a guarda, viu Konishi lhe lançar o mesmo sorriso gentil que costumava usar na aula.

[Kura: Acho que é agora…]

   Amane não tinha ideia do motivo pelo qual ela o abordara. Um ponto de interrogação praticamente apareceu acima de sua cabeça. Após perceber sua confusão, o sorriso gentil de Konishi vacilou ligeiramente, tornando-se  de constrangimento

“Desculpe por interrompê-lo tão repentinamente. É que preciso fazer uma coisa.”

“Comigo?”

“Mhm. Por você.”

   Amane ficou ainda mais intrigado com o motivo de ela tê-lo impedido.

   Embora não estivesse claro se ela notou sua confusão ou não, Konishi estendeu para ele um pequeno saco de papel que carregava no braço.

“Eu queria... te dar isso.”

   A escola fervilhara com a animação de Valentine o dia todo, e com seu crescente círculo social, Amane recebera sua cota de chocolates obrigatórios. Então, ele não fazia a mínima ideia do que o saco à sua frente provavelmente continha. A verdadeira questão era por que estava sendo dado a ele — e por que agora?

“Hum, obrigado. Mas por que eu?”

    Ao aceitar educadamente o saco, Amane ainda não conseguia deixar de se perguntar.

   Como colegas de classe, eles trocavam cumprimentos casuais e trabalharam juntos em projetos em grupo, mas ele nunca tivera uma conexão pessoal com Konishi. Se ela quisesse dar um presente a ele da mesma forma improvisada que Hibiya, tivera muitas chances mais cedo naquele dia. Poderia até ter entregado o presente ao mesmo tempo que Hibiya, já que eram amigas. Em vez disso, Konishi se esforçou para abordá-lo, deixando Amane perplexo com o timing.

   Ao ouvir a pergunta de Amane, as bochechas de Konishi coraram levemente, sentindo-se envergonhada.

“Você me ajudou uma vez, então esta é a minha maneira de agradecer.”

“Eu te ajudei?”

“Ummh, você ainda se lembra daquela vez, lá na aula de culinária, quando alguém derramou sopa em todo lugar?”

“Ahh. Sim, eu ainda me lembro.”

[Moon: Eu lembro dessa cena, é muito fofinha, ele defendendo ela e a Mahiru dos brincalhões que derramaram sopa quente para todo lado.]

   Claro, Amane se lembrava daquela aula de culinária de pouco menos de um ano atrás. Não foi só porque ele e seu grupo habitual de quatro amigos planejaram e prepararam uma refeição juntos — também foi um dia inesquecível por causa da comoção causada por alguns garotos brincando, o que levou a uma grande panela de sopa derramar e quase espirrar em Mahiru.

“Naquele dia, fui eu quem levou um empurrão e derrubei a sopa.”

   Naquele momento, a mente de Amane estava totalmente focada em proteger Mahiru, então ele não prestou atenção ao panorama geral ao seu redor. No fim das contas, Konishi era a garota que segurava a panela de sopa quando o acidente aconteceu.

“Como você se moveu para proteger a Shiina-san, ela não se queimou, e você até ficou bravo com os garotos que causaram o acidente. Eu não consegui nem dizer nada... Eu simplesmente congelei no lugar, incapaz de fazer qualquer coisa. Então, obrigada pelo que você fez naquele dia.”

   Konishi não tinha culpa nenhuma — a culpa era inteiramente dos garotos que estavam zoando. A própria Konishi fora uma das vítimas naquele dia e, ao que parecia, vinha se preocupando com o incidente desde então. Amane acreditava que ele não tinha feito nada por ela e não via motivo para agradecê-lo, mas, claramente, Konishi pensava diferente.

“Não, eu realmente não fiz nada de especial. No fim das contas, foi nossa professora quem os disciplinou.”

“Mesmo assim, achei incrível como você não hesitou em intervir e dizer o que precisava ser dito.”

“Obrigado. Mas, pensando bem, eu provavelmente deveria ter lidado com tudo com mais calma e delicadeza. Repreendê-los como fiz só os irritou ainda mais.”

   Embora Amane os tivesse repreendido com calma, mas firmeza, ele foi recebido com alguns olhares hostis dos garotos depois. Mesmo assim, não se arrependia de ter se manifestado. Em retrospectiva, ele percebeu que suavizar as palavras para evitar criar mais tensão poderia ter sido melhor, principalmente ao pensar em como poderia interagir com eles no futuro. Ainda assim, se a mesma situação surgisse novamente, ele sabia que não hesitaria em repreendê-los com a mesma veemência.

“Você não se queimou naquela época, não é?” perguntou Amane.

“Não, não me queimei.”

“Bem, isso é bom. Eu me sentiria péssimo se você tivesse se machucado ou algo assim.”

   Amane se sentiu um pouco culpado. Ele percebeu que, em sua preocupação com Mahiru, havia se esquecido de verificar Konishi naquele momento. Mesmo assim, ficou aliviado ao saber que ela não havia sofrido nenhuma queimadura ou ferimento.

   Como Konishi realmente apreciava o que ele havia feito naquela época, Amane sentiu que ignorar a gratidão dela não seria certo. Ele aceitou o presente graciosamente, sacudindo o saco de papel suavemente enquanto dizia: “Obrigado novamente.” Konishi então parou por alguns instantes, olhando para o chão. Então, ela lentamente levantou a cabeça mais uma vez.

“Fujimiya-kun...”

“Hm?”

“Você já... amava a Shiina-san naquela época?”

   Embora Amane soubesse exatamente a que momento ela se referia pelo contexto, ele ainda se sentia envergonhado de dizer a resposta em voz alta.

“...Preciso mesmo dizer?”

“Hehe, sua reação já entrega,” Konishi riu.

   As bochechas de Amane coraram com a risada divertida de Konishi, mas não parecia que ela estava tentando provocá-lo. Em vez disso, parecia mais uma admiração genuína.

“Você realmente ama muito a Shiina-san, não é, Fujimiya-kun?”

“Todo mundo fica me perguntando isso ultimamente.”

   Naquela manhã, Hibiya também lhe perguntara algo semelhante.

   Será que as outras pessoas realmente acham isso tão fascinante? Pensou ele.

“Claro que sim. Ela é minha namorada. Para mim, ela é a pessoa mais importante do mundo.”

   Embora fosse um pouco constrangedor declarar isso tão abertamente na frente de outra pessoa, Amane não podia negar só para salvar a cara. Mentir sobre seus sentimentos não era uma opção. Para ele, Mahiru era insubstituível — a pessoa mais importante em sua vida. Ela era a mulher que ele queria proteger, estimar com ternura como nenhuma outra e, acima de tudo, aquela com quem ele pretendia caminhar pela vida como sua companheira mais próxima, que o entendia melhor do que ninguém.

   O vínculo deles não foi construído apenas com sentimentos doces e ternos. Amane tinha uma confiança profunda e inabalável de que, independentemente dos desafios que os aguardassem, eles os enfrentariam juntos. Mahiru era alguém em quem ele confiava inteiramente, alguém que estaria ao seu lado e alguém com quem ele verdadeiramente imaginava compartilhar o resto de sua vida.

   Amane estava tão perdidamente apaixonado por ela que podia dizer isso com absoluta certeza: se eles se separassem, ele nunca encontraria alguém que pudesse despertar os mesmos sentimentos e paixão dentro dele novamente.

   Nem preciso dizer que Amane nunca a deixaria ir.

“Entendo...”

   Konishi respondeu à declaração sincera, porém sucinta, de Amane com um sorriso suave, quase melancólico. Parecia gentil e um pouco solitário.

“Sabe, Fujmiya-kun...”

“Hm?” Amane questionou de volta, olhando para ela.

     Eu ouvi direito? O tom dela soou estranho...

   Ele notou suas pequenas mãos apertando nervosamente a barra da saia.

 

“Eu... gostava de você.”

 

   O tempo congelou.

   Os pensamentos de Amane pararam de repente. As palavras de Konishi, tão distantes de qualquer coisa que ele pudesse ter previsto, fizeram-no sentir como se o próprio tempo tivesse se estilhaçado.

[Kura: Buum!! | Moon: Eu ouvindo Iris no metrô, voltando pra casa e lendo isso… Mas só consigo lembrar de “I love you, I’m sorry!”]

   Ele se perguntou se a teria ouvido mal por um instante e instintivamente fixou seu olhar nela. No entanto, Konishi o encarou calmamente. Seu sorriso sereno não revelava nervosismo, embora transmitisse um sutil arrependimento.

   Seus olhos não demonstravam paixão ardente, mas uma emoção tênue e frágil parecia pairar logo abaixo da superfície. A confusão de Amane só aumentou. Até aquele exato momento, ele estivera completamente alheio aos sentimentos dela.

   Embora não fossem particularmente próximos, Amane descobrira nos últimos dez meses que Konishi não era do tipo que brincava com algo assim, o que o deixava tão perplexo. Suas interações limitadas o deixavam incapaz de imaginar qualquer motivo para que ela pudesse gostar dele — tanto que ele quase queria rir de si mesmo. Além disso, ela nunca demonstrara qualquer sinal de nutrir tais sentimentos por ele.

   Seria fácil atribuir isso à ignorância de Amane, mas a realidade era que ele não fazia a mínima ideia de que ela se sentia assim.

“Ah, eu sei que você ama a Shiina-san, e eu jamais consideraria tentar separar vocês dois... Eu sabia que, se eu dissesse alguma coisa, só tornaria as coisas estranhas.”

“Me... desculpe.”

“Não, eu é que deveria me desculpar. Estou atrapalhando, não estou?”

“Eu não diria isso, mas... eu nunca serei capaz de retribuir seus sentimentos.”

   Por mais inesperada que fosse a confissão, Amane tinha apenas uma resposta, e ela jamais mudaria.

   Amane tinha Mahiru, e ele não conseguia se imaginar com outra pessoa ou compartilhando sua vida com outra pessoa além dela.

   Para Amane, sua única e exclusiva pessoa era, e sempre seria, Mahiru.

   A única coisa que Amane pôde fazer foi reconhecer gentilmente os sentimentos de Konishi e responder com carinho e respeito, deixando claro que não podia aceitá-los. Mesmo que isso significasse causar-lhe dor, seu amor por Mahiru era algo que ele jamais poderia comprometer.

“É, eu não saberia o que fazer se você retribuísse meus sentimentos. Você tem a Shiina-san, afinal.”

   Dominado pela culpa, Amane a rejeitou o mais gentilmente possível.

   Konishi respondeu com nada mais do que um aceno de cabeça e um leve sorriso.

   Sua aceitação rápida e fácil não aliviou Amane; apenas aprofundou sua confusão. Perguntas giravam em sua mente, levando sua incerteza ao ápice.

   Sua expressão não demonstrava nenhum sinal de decepção, falsidade ou raiva. Ela falava sério, o que só fazia os pensamentos de Amane girarem ainda mais.

   Tum, tum.

   Seu coração batia forte no peito — não de excitação ou alegria, mas de ansiedade e confusão. No entanto, mesmo sabendo disso, não foi mais fácil se recompor.

“Sinto muito. Parece que te usei para encontrar um encerramento. Sinto muito mesmo.” Percebendo que Amane estava paralisado com um olhar de desculpas e confusão, a expressão de Konishi mudou para uma de preocupação.

   Respirando lenta e profundamente, Amane tentou se recompor. Ele se acalmou cuidadosamente enquanto falava com a voz ligeiramente trêmula.

“Por que... eu?”

   Essa era a parte que ele simplesmente não conseguia entender.

   Amane sabia que o amor podia florescer nos lugares mais inesperados, mas ainda não conseguia entender por que ela desenvolveria sentimentos por ele. Na verdade, ele nunca havia compartilhado uma conexão profunda com Konishi. Suas interações não eram diferentes das típicas trocas entre colegas de classe, e ele não havia feito nada que pudesse se destacar o suficiente para fazê-la gostar dele.

   Embora Amane apreciasse seus sentimentos por ele, ele estava completamente perplexo sobre como eles haviam se desenvolvido. O incidente da aula de culinária era a única conexão em que ele conseguia pensar, mas não conseguia imaginar como isso por si só poderia inspirar sentimentos românticos tão inconfundíveis.

   Konishi pareceu entender sua confusão perfeitamente e até achou graça, pois riu baixinho.

“...Tudo começou com aquela aula de culinária. Fujimiya-kun, você geralmente... bem, você parece bem frio à primeira vista, certo?”

“Certo. Eu mesmo sei disso.”

   Amane tinha plena consciência da aura fria e inacessível que ele emanava e que sua natureza reservada frequentemente o fazia parecer alguém que guardava seus pensamentos para si mesmo. Embora isso tivesse começado a mudar recentemente, para aqueles que não o conheciam bem, ele provavelmente ainda parecia um cara taciturno e reservado à primeira vista. Mas Amane não se importava — na verdade, ele estava inclinado a concordar. Ele se orgulhava de sua personalidade naturalmente reservada e de sua relutância em deixar os outros entrarem seu espaço pessoal. No entanto, de alguma forma, Konishi havia enxergado além da superfície, para algo mais profundo.

“Mas, Fujimiya-kun, eu sei que você é realmente uma pessoa muito gentil. Contanto que isso não lhe cause problemas, você sempre ajuda as pessoas quando elas estão em apuros, não é? Seja carregando algo pesado, ensinando alguém com dificuldades na aula ou intervindo para proteger alguém do perigo. Você nunca hesita em me dar uma mãozinha.”

“Você está me dando crédito demais,” respondeu Amane. “Eu não sou tão gentil assim.”

“Mas você é sim, né?” Konishi inclinou a cabeça, totalmente confiante de que estava certa.

   Amane não conseguiu negar. Em vez disso, apertou os lábios e permaneceu em silêncio.

“É estranho dizer isso por conta própria, mas, hum... eu sempre tive dificuldade em me defender. Quando as pessoas me forçam a fazer coisas, eu simplesmente... sigo em frente até não precisar mais. Não sou uma pessoa gentil. Só faço o que for conveniente. Mas você é diferente, Fujimiya-kun. Você ajuda as pessoas ativamente sem esperar nada em troca. Você nem parece se incomodar com isso. Você é gentil e presta muita atenção às pessoas ao seu redor.”

   Antes que Amane pudesse sequer pensar em negar, Konishi continuou com um sorriso gentil.

“Você tem uma mente forte e nunca abre mão do que realmente importa para você. Você trabalha incansavelmente para atingir seus objetivos. Sem pensar em ganho pessoal, você oferece ajuda quando acredita que é a coisa certa a fazer. E... você se concentra de todo o coração em apenas uma garota. É isso que o torna tão maravilhoso.

“Konishi...”

“Mesmo assim, nunca pensei em tentar arrancar você da Shiina-san, nem acho que conseguiria... Estar ao lado dela moldou você na pessoa que você é agora. Não seria certo eu ficar no lugar dela.”

   A voz levemente trêmula de Konishi carregava consigo um sussurro de tristeza, mas sua forte determinação a mantinha firme. Suas mãos tremiam enquanto ela as apertava, mas nenhuma lágrima caiu. Em vez disso, ela encontrou o olhar de Amane de frente, e seu olhar inabalável o perfurou até o âmago.

“Então, o chocolate que eu dei não foi exatamente uma prova do meu amor, mas sim uma maneira de resolver meus sentimentos. É também um agradecimento por me salvar naquela época. Desculpe por ser egoísta e tornar as coisas estranhas…”

“Não... Obrigado por gostar de mim. Desculpa, mas não posso retribuir seus sentimentos, Konishi... Sinto muito mesmo.”

   Por entender a determinação e os sentimentos de Konishi, Amane respondeu à sua confissão pura e sincera com a mesma honestidade direta.

   Mesmo que parecesse frio da parte dele, Amane a rejeitou diretamente. Ele acreditava que era a única maneira de realmente honrar a sinceridade que ela demonstrava. Ela pareceu magoada por um momento, mas então, estranhamente, seus lábios se curvaram em um sorriso, quase como se estivesse aliviada.

“Por que você está se desculpando, Fujimiya-kun? Nossa. Sou eu quem está te causando problemas aqui.”

“Mas eu realmente sinto muito. Eu não consigo aceitar seus sentimentos.”

“Não se preocupe. Eu me apaixonei por você porque você é assim. Eu sempre soube que você só daria valor a uma pessoa.”

   Konishi vinha observando Amane com mais atenção do que imaginava. Ela sabia o tempo todo que a lealdade dele jamais vacilaria, e tinha certeza disso desde o início.

“É uma pena que eu não possa ser sua pessoa especial... mas sei que você é quem é agora por causa da Shiina-san, e só ela. Ela foi a razão pela qual você mudou, certo? Então, está tudo bem.”

     Ah... Ela realmente esteve me observando de perto, se importando comigo e respeitando meus sentimentos o tempo todo, não é?

   Essa percepção o atingiu em cheio. Konishi deveria estar à beira das lágrimas, mas foi Amane quem sentiu uma dor aguda e funda no peito ao rejeitá-la.

“Vamos, você deveria ir agora. Tem gente te esperando, certo? Então, vá. Não se preocupe comigo.”

   Mesmo que ela devesse ter se sentido magoada — magoada pela rejeição de Amane e pela dor que ele causou — ela ainda conseguiu sorrir corajosamente e acenar em despedida.

   As palmas das mãos, que haviam sido cerradas momentos antes, estavam agora vermelhas. Marcas tênues de suas unhas podiam ser vistas em sua pele. Amane sabia que apontar isso não adiantaria de nada. Engolindo todas as palavras que queria dizer, ele retribuiu o gesto com um aceno gentil, exibindo a expressão calma e serena que Konishi desejava ver.

“...Sim. Te vejo... amanhã.”

“Mhm. Te vejo.”

   O sorriso e a atitude de Konishi não vacilaram. Enquanto gratidão e culpa se chocavam em seu peito, Amane mordeu o lábio e se afastou dela. Mesmo quando um soluço fraco chegou aos seus ouvidos, ele não olhou para trás. Não podia — não se quisesse se convencer de que não o ouvira.

   O peso amargo de saber que a havia machucado pressionava seu peito. Parado ao lado da máquina de venda automática, com o maxilar cerrado, Amane lutava para conter a culpa que lhe corroía o coração. Logo depois, o som de passos se aproximando por trás interrompeu seus pensamentos.

“...Amane-kun.”

   Era a voz suave, clara e gentil que ele ouvia todos os dias, uma voz agradável e suave ao ouvido. Ele não precisava se virar para saber quem era.

   Amane vislumbrou sua expressão tensa refletida na superfície de acrílico da máquina de venda automática. Sabendo que não podia deixar Mahiru vê-lo daquele jeito, respirou fundo e se virou, demonstrando a maior calma possível. Mas, no momento em que seus olhos encontraram os de Mahiru, percebeu que era inútil — não havia como continuar fingindo.

“Desculpe. Você estava demorando, então vim ver como você estava...”

“Sim. Eu entendo.”

   Ela estava dizendo a verdade — não havia dúvida. Ir até a máquina de venda automática não deveria ter demorado tanto, então fazia sentido que os outros se questionassem sobre a demora. Naturalmente, como namorada de Amane, Mahiru seria quem viria procurá-lo, provavelmente apenas para dar uma mãozinha. Mas, ao fazer isso, ela tropeçou em algo que não queria ver. Não parecia magoada; em vez disso, parecia levemente preocupada. Sua expressão era de compreensão e até mesmo culpa. Seus olhos baixos refletiam essa culpa, como se ela tivesse se fixado pesadamente em suas sobrancelhas.

“...Hum, Mahiru...”

“Você não precisa me contar todos os detalhes. É um assunto particular entre você e ela. Não é algo que eu deva interferir.”

   Amane sentiu a necessidade de compartilhar o que havia sido dito, sabendo que esconder isso de Mahiru poderia fazê-la se sentir traída. Assim que ele começou a falar, no entanto, ela o interrompeu gentilmente.

   Mahiru balançou a cabeça, seus longos cabelos esvoaçando enquanto ela o lembrava suavemente: “Você não deve.” O conflito em seus olhos era inconfundível, mas ela se conteve, respeitando a privacidade da conversa entre Amane e Konishi.

“...Tem certeza?”

“Eu sei que você nunca vai me deixar, Amane-kun. Eu confio completamente em você.”

“Sim. Eu juro, não fiz nada para se envergonhar.”

“Sim, eu acredito em você.”

   Amane não sabia o quanto Mahiru tinha ouvido ou quando estava ouvindo, mas escolheu confiar nele sem fazer perguntas. Embora devesse ter suas preocupações e incertezas, ela ainda recuou para demonstrar sua fé nele.

   Os olhos de Amane se aquecem diante da profundidade de sua confiança e respeito. Gentilmente, ele segurou os dedos delicados e incertos de Mahiru, que se remexeram no ar, na esperança de tranquilizá-la.



✧ ₊ ✦ ₊ ✧



“Sinceramente, eu achei que já estava na hora,” murmurou Mahiru.

   Depois de pegar todas as bebidas, Amane e Mahiru se separaram de Itsuki, Chitose e Yuuta, que carregavam um grande número de sacolas cada. Eles então voltaram para casa.

“Quê?”

“...Algo assim acontecendo.”

   Amane percebeu que suas palavras vagas — “algo assim” — eram intencionais.

“...Eu entendo que você esteve preocupada esse tempo todo, Mahiru, mas eu não percebi que você achava que isso poderia realmente acontecer.”

“Claro. Deixando meus sentimentos de lado, eu senti que todos estavam começando a perceber o quão maravilhoso você é... Você não esperava que alguém pudesse se sentir atraída por você, especialmente porque elas podem ver o quanto você trabalha duro?”

“Honestamente, quase nada. Quer dizer, eu entendi o que você e Chitose estavam dizendo em teoria, mas... é difícil ver as coisas objetivamente quando se trata de si mesmo.”

   Amane entendia — e até sentia — que havia se tornado mais positivo e estava caminhando em uma direção melhor do que um ano atrás. No entanto, ele não conseguia imaginar como isso poderia torná-lo alvo da afeição de outras Agora que havia deixado de lado seus dias de insegurança e se concentrado apenas no futuro, não se preocupava mais com a opinião dos outros. Com Mahiru sendo uma presença constante em sua vida, ele inconscientemente descartara a ideia de que alguém pudesse se sentir atraída por ele.

“Você não se considera nem um pouco importante, não é? ...Acho que é parte do que atrai as pessoas a você — sua autodisciplina.”

“Você acha?”

“Sim... Acho que é uma das suas características maravilhosas. Embora, ser obtuso não esteja exatamente entre elas.”

“D-Desculpe... Eu só tenho olhos para você, Mahiru, então nunca realmente considerei isso.”

“Lá vem você de novo. É exatamente isso que eu quero dizer.”

   Era uma frase que Mahiru costumava usar para repreender Amane, mas ultimamente ele começara a notar uma mudança em seu tom. Por trás da descrença familiar, havia admiração e respeito. Por fim, ele entendeu o verdadeiro significado por trás das palavras dela.

   Mahiru desviou o olhar timidamente, dando algumas leves e brincalhonas pancadas no braço, envergonhada. Amane estendeu a mão em silêncio, segurando-a delicadamente entre as suas. Assustada com o gesto inesperado, Mahiru olhou para ele surpresa, encontrando seu olhar calmo e firme.

“Olha... eu vou te valorizar mais do que a qualquer outra pessoa, e nunca vou tirar os olhos de você. Você é a única mulher que eu amo, e não acredito que isso vá mudar.”

“Você não vai dizer isso com certeza?”

“Claro, no meu coração, tenho absoluta certeza de que isso nunca vai mudar, e eu até juraria. Mas a verdade é que eu te deixei ansiosa hoje, e eu entendo se você tiver dúvidas. Então, continuarei me esforçando ao máximo para ganhar sua confiança. Vou demonstrar isso por meio de minhas ações, então, por favor, aceite isso como uma promessa do meu compromisso com você.”

“...Certo.”

   O fato era que Amane havia perturbado o coração de Mahiru. Ela confiava profundamente nele e, mesmo quando as dúvidas surgiam, ela as deixava de lado, acreditando nele. Ele não podia continuar se apoiando em sua paciência inabalável. Cabia a ele provar sua determinação por meio de ações.

“Você é a única que eu amo, Mahiru.”

“Eu sei. Eu sei muito bem disso.”

   Mahiru olhou para baixo, balançando a cabeça lentamente. Seus lábios se entreabriram ligeiramente. Ela queria dizer algo, mas as palavras não saíam. Percebendo sua hesitação, Amane apertou sua mão com delicadeza, tranquilizando-a silenciosamente de que estava pronto para ouvir. Seu polegar traçou círculos suaves sobre seus dedos pequenos e trêmulos e, como se seu toque lhe desse a coragem necessária, Mahiru finalmente quebrou o silêncio após uma breve pausa.

“Posso ser franca com você?” Perguntou ela.

“Claro.”

   Mesmo que ela acabasse o culpando, Amane não reclamaria.

   Enquanto Amane esperava pacientemente, deixando-a saber que podia ir com calma, Mahiru continuou hesitante.

“Tenho absoluta confiança de que você nunca será influenciado por mais ninguém, Amane-kun — que seu coração sempre pertencerá a mim. Eu sei, por completo, o quanto você me ama. Você me demonstra um amor tão avassalador e me permite senti-lo com cada parte de mim. Não tenho dúvidas sobre você — nem uma única.”

“Sim.”

“Amane-kun. O que realmente me preocupou mais... foi a ideia de você se machucar.”

“...Eu?”

   Amane se preparou para ser culpado, mas a razão inesperada dela o pegou completamente desprevenido, deixando-o estranhamente confuso.

   Mahiru era quem havia sido machucada, então por que ela era a única a se preocupar com ele? Não importava o que ele pensasse sobre isso, era ela quem deveria ter sido dominada por emoções desagradáveis ​​— não ele.

“Você é uma pessoa muito mais gentil do que imagina, afinal.”

   Sem entender completamente aonde ela queria chegar, Amane esperou que ela continuasse.

   Mahiru soltou um suspiro suave, seu sorriso gentil tingido com uma pitada de amargura. “Se outra garota se apaixonasse por você de todo o coração, eu sabia que você se sentiria culpado por rejeitá-la e que acabaria se machucando no processo. Você é o tipo de pessoa que acredita que, se machucar alguém, é justo que você se sinta magoado também.”

   Ele estava começando a entender o que ela queria dizer. Mahiru devia ter visto a expressão em seu rosto naquele momento — a expressão que revelava a dor que sentira ao rejeitar Konishi.

“É por isso que eu não queria que outras garotas se aproximassem de você. Mais do que o medo de você ser levado, eu não suportava a ideia de você se machucar... e até mesmo a ideia de você pensar em outra pessoa, mesmo que por um momento, me incomodava.”

    A voz de Mahiru tremeu.

“Eu fechei os olhos para como a outra garota poderia se sentir e pensei apenas na sua dor. Sou uma pessoa terrível. Sei que estou sendo autoritária, e é horrível da minha parte pensar assim... Eu só não queria que você se decepcionasse comigo.”

   A voz de Mahiru falhou enquanto ela forçava as palavras a saírem, expondo as emoções que guardava no fundo do coração. Em resposta, Amane gentilmente soltou sua mão. Ela se encolheu, e seus olhos seguiram a mão dele com um lampejo de medo, mas ela não estendeu a mão para ele.

   Sem dizer uma palavra, Amane a abraçou. “Mahiru, nunca a vi como uma santa perfeita, sem pensamentos egoístas ou sentimentos ruins.”

   Mahiru temia decepcioná-lo, mas se ela realmente acreditava que isso era o suficiente para diminuir o amor dele por ela, ela subestimou severamente a profundidade de seus sentimentos.

   Desde o início, Amane nunca pensou em Mahiru como apenas uma garota inocente e bonita. Sua reputação a retratava como inteligente, compassiva e gentil — tudo isso era verdade. Mahiru personificava essas qualidades, e Amane as reconhecia plenamente. Mas isso não era tudo o que ela era. Era apenas uma faceta sua, e como a pessoa mais próxima dela, Amane sabia disso com absoluta certeza.

“Sabe, Mahiru, você fica surpreendentemente agitada e um pouco infantil quando algo te irrita.”

“...Huh?”

“E você fica surpreendentemente ciumenta — o que, sim, eu sei que é culpa minha — mas você também pode ser ríspida com pessoas sem boas maneiras básicas, e não tem medo de falar sem pensar. Há também o fato de você erguer um muro entre você e as pessoas de quem não gosta. E sempre que alguém fala mal de mim, você rapidamente crava suas garras nelas.”

“Espera, hum...”

“E eu sei como, porque você se importa tanto comigo, às vezes se esforça demais, cava a própria cova e depois se sente mal por isso.”

   No fim das contas, era porque ela o amava. Porque a preocupação dela com ele superava todo o resto. Não que ela ignorasse os sentimentos dos outros; seu amor por Amane era mais forte. Não havia como ele se decepcionar com Mahiru quando ela se importava tanto com ele.

“O que estou tentando dizer é que eu amo tudo em você, Mahiru. E se você acha que está sendo ‘autoritária’, quero que saiba que sou o tipo de cara que acha o peso dos seus sentimentos reconfortante.”

   Mahiru podia achar isso indesejável, mas para Amane, era nada menos que bem-vindo.

“Eu também amo essas coisas em você, Mahiru... Mesmo que seja algo que você não goste em si mesma, eu ainda te amo.”



“Então, por favor, não pareça que vai chorar,” sussurrou Amane, dando um beijo suave em sua testa. O rosto de Mahiru se contraiu, mas mesmo essa expressão era dolorosamente cativante para ele.

[Moon: Estou ouvindo Belong Together…

     Como ela poderia imaginar que eu poderia estar decepcionado com ela?

“Sério, por que duvidar de si mesma desse jeito?”

“Você é a última pessoa de quem eu quero ouvir isso, Amane-kun. E certamente você entende como é não querer decepcionar a pessoa que você mais ama.”

“Eu entendo... Mas se alguma vez eu me sentisse decepcionado, bem... provavelmente seria se você terminasse comigo. Eu ficaria decepcionado comigo mesmo e com minhas deficiências.”

   Se alguma vez chegasse um momento em que sua sincera, séria e devotada Mahiru escolhesse outra pessoa — se ela o rejeitasse, dizendo que não queria mais ficar com ele — Amane sabia que ele aceitaria em silêncio. Para Mahiru chegar a esse ponto, ele estava confiante de que a culpa seria inteiramente dele e de suas deficiências, levando-a a desistir dele.

   Qualquer dúvida ou decepção seria direcionada exclusivamente a ele. Nunca, em hipótese alguma, seria direcionada a Mahiru.

“...Então, parece que isso nunca vai acontecer,” disse Mahiru.

“Ótimo, estamos ambos bem então.”

   Amane tinha plena consciência do quanto Mahiru o amava — tanto que a ideia de ela escolher outra pessoa jamais lhe passou pela cabeça. Ele havia jurado nunca fazer nada que pudesse machucá-la, física ou emocionalmente, e acreditava que tal futuro jamais chegaria. Acima de tudo, estava determinado a fazer todos os esforços para garantir que isso não acontecesse.

   Ele sabia que não dar valor ao amor dela poderia facilmente destruir a confiança que haviam construído.

     Esforçar-se não apenas para ser amado, mas para amar em troca, é muito importante.

   Amane não tinha intenção de ser tão tolo, e a ideia de perder Mahiru era algo que ele não suportava.

   Ela se mexeu levemente em seu abraço enquanto ele segurava o corpo macio e delicado de sua querida com força.

“...Amane-kun.”

“Hum?”

“...Uhm, tudo bem se o jantar e meus chocolates de Dia dos Namorados... esperassem só mais um pouquinho?”

   Mahiru sussurrou timidamente um pedido modesto, quase tímido, de dentro de seus braços, e Amane respondeu com uma resposta gentil, de três letras. Querendo arrancar um desejo ainda mais egoísta daqueles lábios cativantes que haviam proferido um apelo tão querido, ele se inclinou, capturando-os com um beijo doce.



-DelValle: Otonari realmente me pegou desprevenido, eu não esperava por isso. Não pela Komochi (desculpa), mas pela razão do desconforto da Mahiru, é diferente do “Você é meu.” do final do volume 7. Parece que o amor da Mahiru amadureceu desde então. Enquanto isso, a natureza do Amane nos é ainda mais evidente. Com essa provação dos 2, parece que pegou toda a profundidade do sentimento deles e cavou ainda mais fundo, seus corações estão ainda mais alinhados do que antes. 

Enfim leitores, escrevi isso logo depois de terminar, esse foi o foi o final do Volume 10, um verdadeiro prazer traduzir isto a vocês. Nos vemos na próxima!

 

-Kurayami: Eu concordo com você Del, mas também acredito que essa obra é mágica. O poder e perspectiva que ela nós dá nesse capítulo é algo que acontece no dia a dia, mas que não sabemos como funciona. Eu realmente amo isso porque faz meu coração aquecer kkk.

Otonari é o melhor, e esse casal é insano!

 

-Moonlakgil: Só posso dizer que concordo com ambos… A forma como essa obra desenvolve o que os leitores desejam e se aprofunda em temas cotidianos me deixa aquecida… Sempre surto lendo e recomendo muito, se você conseguir, ler com músicas românticas… 

Foi isso leitorada, foi um prazer participar de mais um volume!!! Até o próximo;)



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