Nitro: As Pegadas do Herói Brasileira

Autor(a): Lucas Aguiar Ferreira


Volume 1 – Arco 1

capitulo 5:  Quando o Orgulho Colide!

 

 

 

Dante correu desviando da rota até o metrô e levou Dingo até um beco.

Saltando pelo lóbulo da orelha, Dante deixou o amigo cair no chão. O ruivo estava com uma expressão eufórica, a face quase incandescente.

Irritado por cair no chão, Dingo se levantou batendo na camisa e na calça.

— Tá de sacanagem, Dante? Minha mãe lavou minha farda ontem!

— Cala a boca, anão do espaço. Eu quero te mostrar uma coisa!

Dingo, com seus olhos pretos e grandes, encarou o amigo, levando a mão ao queixo, desconfiado.

— O que tu vai me mostrar?

O semblante de Dante se fechou. Seu olhar ficou sombrio. Ele ergueu o punho, e Dingo estufou os olhos de medo, cobrindo o rosto com os antebraços, esperando a pancada.

Nada aconteceu.

Ao afastar os braços, ele viu Dante envolto por uma energia vermelha pulsante, sorrindo de um jeito quase perturbador, como se o rosto fosse rasgar.

Dingo o observou em silêncio. Seus olhos estavam abertos, mas vazios — como se aquilo não fosse nada demais.

Com os olhos brilhando como faróis de uma viatura, Dante perguntou:

— E aí? O que tu achou?

— Legal.

Um “legal” fraco. Morto.

A energia ao redor de Dante se dissipou. Ele franziu a testa, claramente frustrado.

— Oxi… não achou legal?

Dingo revirou os olhos.

— Achei sim. Mas arriscar chegar atrasado na antessala do inferno por causa disso me deixa nervoso. Eu não gosto de apanhar da minha mãe por chegar atrasado na escola.

— E você tem razão. A professora Spartane vai matar a gente se chegar atrasado de novo. A menos que…

Ao perceber o olhar cínico do amigo, Dingo adivinhou na hora.

— Olha, ruivo, me teletransportar pra tão longe me deixa exausto. Exausto a ponto de morrer.

Dante pousou a mão no ombro esquerdo de Dingo e sorriu de forma sádica.

— Relaxa, verdinho. Eu te carrego.

Dingo suspirou e assentiu com a cabeça.

Num piscar de olhos, os dois desapareceram.

Surgiram ao lado da escola. Dingo caiu de joelhos no chão, língua para fora, a expressão caída, como se estivesse à beira da morte.

Dante o colocou nas costas e saiu correndo, subindo as escadas em disparada.

Quando entraram na sala, a professora ainda não havia chegado. Apenas Luna estava sentada, cabeça baixa. Eles eram seus únicos amigos, e ela já esperava que chegassem atrasados, como sempre.

Ao erguer o olhar e vê-los tão cedo, Luna arregalou os olhos.

— Como vocês chegaram tão cedo hoje?

Ela franziu a testa ao notar Dingo, mole e pálido nas costas de Dante.

— O que aconteceu com o vermezinho verde? Parece que sugaram toda a energia vital dele.

Com a língua travada, Dingo tentou responder:

— Pelo menus… eu non tenhu… exa sua cara de velha!

Dante o largou na cadeira antes que falasse mais besteira.

— Ele ficou assim porque correu demais. Você sabe que o Dingo é sedentário.

Espalhado na cadeira, sem conseguir mover os braços, Dingo murmurou:

— Ruivo maldito…

A porta da sala se abriu.

A professora Spartane entrou usando camiseta preta e calça camuflada. Em segundos, os alunos que ainda estavam do lado de fora invadiram a sala e se sentaram às pressas, como se o simples atraso pudesse custar suas vidas.

Ela bateu a mão no birô. O som ecoou pela sala.

— Atenção. Hoje vocês vão receber uma nova colega de classe. Pode entrar, Jade.

Uma garota de corpo atlético entrou. Tinha cabelos verdes, olhos rosados e vestia a camiseta branca e a saia preta da farda.

Apesar de ser baixa, algo nela chamava atenção de forma quase incômoda.

Dingo, que parecia morto segundos antes, recuperou a vitalidade num estalo. Seus olhos chegaram a brilhar.

Dante a encarou fixamente. Tinha a estranha sensação de já ter visto aquele rosto em algum lugar.

Caminhando até a frente da sala, Jade colocou as mãos na cintura e falou com arrogância escancarada:

— Olá, bando de bobocas. Eu sou Jade Kross, tenho treze anos e serei a heroína número um no lugar do fracassado herói, Esvanecer.

Aquelas palavras atravessaram Dante como uma lança. Seu olhar incendiou. Os punhos se fecharam, tremendo, enquanto ele lutava contra a vontade de acertar a cara dela.

Jade observou a sala e seguiu até uma cadeira vazia na primeira fileira, posicionada de frente para a professora e diretamente à frente de Dante. Caminhava devagar, exibindo sua confiança como se fosse luz do sol.

Os alunos a encaravam com olhos brilhantes e sorrisos largos — como se estivessem diante de alguém famoso.

Dante olhou para Dingo e se assustou. O amigo estava com uma expressão abobalhada, quase transcendental, como se estivesse prestes a morrer e um anjo tivesse vindo buscá-lo.

Ao olhar em volta, Dante sentiu um arrepio.

Toda a sala tinha o mesmo semblante.

— O que deu nesse povo…?

Será que essa garota é uma bruxa?

Ou algo muito pior?

De frente para a classe, a professora assumiu uma postura rígida, quase militar.

— Atenção! Começaremos a aula agora!

Ao som de sua voz autoritária, todos que sonhavam de olhos abertos despertaram do transe, sentindo um frio na espinha — um presságio semelhante ao agouro da morte.

Com os olhos bem abertos, encararam a professora, que os observava de volta com um olhar quase assassino.

Sentada em sua carteira, Jade lançou um sorriso curto. Por dentro, porém, estava genuinamente admirada com a presença intimidadora da professora.

Satisfeita ao ver a atenção absoluta da turma, Spartane caminhou até a lousa e escreveu uma única palavra:

HISTÓRIA

— Abram seus livros no primeiro capítulo.

Dante abriu a mochila e retirou um livro bege, cuja capa trazia a imagem do planeta Terra. Ao folheá-lo, parou no primeiro capítulo, intitulado “O Encontro dos Mundos”.

A ilustração mostrava um ser alienígena de aparência camaleônica, em um corpo humanoide, vestindo uma jaqueta prateada, apertando a mão de um homem magro, de bigode grosso e cabelos pretos.

Spartane pegou o próprio livro, repousado sobre o birô, e abriu no mesmo capítulo.

— A Terra, atualmente, é habitada por centenas de raças alienígenas racionais — começou ela. — Algumas mais fortes que os seres humanos, outras mais fracas. Algumas mais inteligentes, outras com inteligência limitada. Há espécies semelhantes a animais, outras a insetos.

Ela fez uma breve pausa.

— No entanto, nem sempre o nosso mundo foi assim.

A sala permaneceu em absoluto silêncio.

— Houve um tempo em que os humanos eram os únicos seres racionais que dominavam o planeta. A existência de vida inteligente fora da Terra era apenas uma teoria. Isso mudou com um fenômeno chamado Convergência Absoluta.

Spartane deslizou o dedo pela página.

— O livro descreve com precisão o momento em que tudo mudou. Acompanhem a leitura.

Ela leu em voz alta:

“Em um dia comum como qualquer outro, sob um céu azul sem nuvens, o sol iluminava a humanidade tranquilamente. De repente, o firmamento tornou-se amarelo. Raios vermelhos rasgaram os céus, partindo prédios ao meio. Ventos sinistros formaram furacões que devastaram cidades inteiras.

Um som semelhante ao de uma trombeta ecoou por todo o planeta. Desde recém-nascidos até idosos, todos os humanos perderam a consciência.

Quando despertaram, o céu estava azul novamente, e o sol brilhava como ao meio-dia. À primeira vista, parecia que tudo havia sido apenas um sonho — mas os rastros de destruição espalhados pelo mundo provavam o contrário.”

Spartane virou a página.

“Investigações espaciais foram conduzidas em escala global, mas nenhuma causa foi descoberta. Contudo, algo inesperado alarmou os astrólogos do mundo inteiro: a distância entre as galáxias havia diminuído.

Jornadas que antes levariam anos-luz passaram a durar poucos anos.

Logo, espécies extraterrestres chegaram à Terra — algumas de forma pacífica, outras com intenções de conquista.

Foi então que surgiu a Piece Patrol, organização criada para manter o equilíbrio entre os mundos. Seus comandantes foram honrados com o título de heróis por todo o universo.

Isso aconteceu há exatamente quarenta e cinco anos.”

Spartane fechou o livro com firmeza.

— Atualmente, a Piece Patrol não é apenas uma organização de mediação. Ela é a própria lei universal. Todas as espécies possuem representantes, mas todos estão sujeitos às regras da organização.

Ela percorreu a sala com o olhar.

— Hoje, entrar para a Piece Patrol é uma das tarefas mais difíceis do universo. A concorrência é absoluta. Não basta ser forte. É preciso ser um gênio.

Um riso curto e debochado ecoou.

Jade cruzou os braços.

— Se o ex-herói Esvanecer conseguiu entrar, então eu entro facilmente. Tenho muito mais talento do que ele.

Dante sentiu como se espinhos atravessassem sua cabeça. O sangue ferveu. Incapaz de se conter, rebateu:

— Tá legal… como um pinscher de pelo verde como você pretende entrar na Piece Patrol e ainda se comparar ao herói mais foda que existe? Só pode ser louca.

Um silêncio pesado caiu sobre a sala.

Os alunos ficaram imóveis, olhos arregalados, como se estivessem paralisados.

Jade virou o rosto lentamente na direção de Dante. Seu olhar era puro ódio.

— Eu não pedi sua opinião. E só pra deixar claro: mesmo sendo baixinha, posso te esmagar como um inseto.

Dante sustentou o olhar, ardendo de raiva.

— Se acha que consegue, tenta. Mas eu não vou pegar leve.

A tensão era palpável. Parecia que alguém havia enchido a sala de pólvora, e qualquer faísca faria tudo explodir.

Dingo roía as unhas freneticamente, suando como uma cachoeira.

— Meu Deus… o ruivo tá cutucando a onça com vara curta. O que eu faço agora? Tenho que estar pronto pra encomendar a alma dele pra Deus…

De repente, BAM!

Spartane desferiu um soco no birô.

A sala inteira gelou.

— Nada de brigas na minha aula! — rugiu ela. — E você, Jade, meça suas palavras ao se referir aos oficiais da Piece Patrol.

O olhar da professora se estreitou.

— Hoje é seu primeiro dia, então vou deixar passar. Mas na próxima vez, enviarei uma notificação direta ao seu pai.

Dante e Jade desviaram o olhar ao mesmo tempo.

Spartane voltou-se para a lousa.

— Agora, continuando a aula…

Mas o clima na sala jamais seria o mesmo.

O som quase ensurdecedor de um sino ecoou pela escola, obrigando a professora a tampar os ouvidos com força.

Em contraste, os alunos abriram sorrisos radiantes — como presidiários recebendo a liberdade após cem anos de prisão.

Num instante, todos correram para fora da sala como loucos. Uns trombavam nos outros, alguns caíam, outros eram pisoteados. Uma verdadeira cena de desespero coletivo.

Com expressão irritada, Spartane afastou as mãos dos ouvidos e resmungou, sentando-se no birô.

— Qualquer dia desses eu destruo esse sino com um soco.

Seu olhar percorreu a sala vazia até parar em duas figuras que ainda permaneciam ali.

Jade sorria tranquilamente enquanto tirava da bolsa uma lancheira rosa, estampada com pôneis. Logo atrás dela, Dante observava de braços cruzados, com um olhar sombrio — o olhar clássico de quem estava prestes a aprontar alguma coisa.

Spartane estreitou os olhos.

— Meus instintos dizem que esse capetinha de cabelo vermelho está tramando algo. E se a capetinha de cabelo verde estiver envolvida… ele pode se dar muito mal.

Ela suspirou.

— Talvez seja melhor eu intervir, se necessário.

Jade saiu da sala de cabeça erguida, esbanjando confiança. Dante a seguiu logo atrás, braços cruzados, acompanhando cada passo da garota como uma sombra.

Mal largou a chupeta e já quer bancar a superior… — pensou ele. Vou ensinar essa garotinha a deixar de ser metida.

Na quadra, cujo gramado verde lembrava a cor de seus cabelos, Jade sentou-se em um banco de alvenaria pintado de azul e colocou a lancheira ao lado.

Ela a abriu com os olhos brilhando, como se estivesse diante de um baú do tesouro, e tirou de dentro um X-burguer enorme, deixando a caixinha de suco de manga guardada.

Quando abriu a boca para dar uma mordida monumental, Dante parou bem à sua frente, braços cruzados, olhar irritado.

— O que você quer? — disparou Jade. — Essa sua catinga de pobre tá tirando meu apetite.

— Eu não gostei do que você falou do Esvanecer. O que uma anã bombada como você acha que pode fazer pra se comparar a um herói da Piece Patrol?

Jade revirou os olhos.

— Olha aqui, seu nerd que vive no mundo da fantasia… agora eu vou comer. Pode ficar com esse papinho doente de herói que não me interessa nem um pouco.

— Nerd…?

Uma veia quase saltou da testa do ruivo. Seus olhos se arregalaram, tomados por fúria.

Num movimento rápido, Dante desferiu um chute certeiro nas mãos de Jade. O X-burguer voou para o alto.

Os dois acompanharam a trajetória do lanche em silêncio.

Ele perdeu o impulso, começou a cair… e aterrissou direto dentro da lixeira.

— Cesta! — Dante ironizou. — Como no basquete.

Estalando os dedos e mordendo o lábio, ele completou:

— É a primeira vez na minha vida que me chamam de nerd. Geralmente me chamam de valentão.

Jade se levantou lentamente.

Seu olhar mudou.

Era o olhar de um predador.

Os punhos se fecharam com tanta força que parecia que a pele ia rasgar.

— Daqui a pouco vão te chamar de defunto, seu merda.

Por um instante, Dante sentiu um arrepio percorrer a espinha. Ele deu um salto para trás.

Por fora, manteve o sorriso provocante.

Por dentro, estava em choque.

Nunca havia sentido uma presença tão ameaçadora — nem mesmo dos bandidos que costumava espancar no seu bairro.

E, pela primeira vez, Dante percebeu que talvez tivesse cutucado algo muito maior do que imaginava.

 

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