Volume 1 – Arco 1
Capitulo 3: Fragmentos da Verdade!
Dante e Dingo se despediram; o ruivo tinha treino de futebol, e Dingo não curtia nenhum tipo de esporte. Depois de baterem os punhos, caminharam para lados opostos.
Caminhando, Dante resolveu olhar as horas. Ao destravar o celular, tomou um susto e quase deixou o aparelho cair.
— Caramba… já é muito tarde! Vou levar uma bronca do treinador!
Ele acelerou o passo, desviando das pessoas na calçada. Irritado, saiu para a beira da pista e começou a correr. O suor já banhava seu rosto, e o cabelo voava ao vento enquanto ele passava por carros e motos como um atleta olímpico.
Finalmente chegou ao CT, que ocupava quase uma rua inteira. Pelas grades, dava para ver que já tinha gente treinando no campo.
Ofegante, com os olhos arregalados e a língua quase para fora, Dante parecia um pote de nervos. Entrou no CT com passos rápidos, desceu até o vestiário escuro, abriu seu armário azul e pegou o uniforme — camisa preta, short branco, meias pretas e chuteiras vermelhas.
Trocou de roupa às pressas, quase rasgando a farda da escola. Pronto, subiu as escadas correndo em direção ao campo.
Na área técnica, na lateral do gramado, um senhor de pele negra, bigode grosso e boné vermelho observava o treino com os braços cruzados. Blusa preta, calça esportiva vermelha, tênis branco. Um palito preso na boca. O olhar, fixo na bola.
Ao notar Dante chegando de fininho para se esconder no banco de reservas, a voz grave ecoou:
— Vem aqui, rapaz!
Aquele tom transformou Dante. A expressão durona e rabugenta sumiu, dando lugar a uma postura quase militar. Ele se colocou em sentido.
— Aqui estou, treinador! Desculpe pelo atraso… apareceram vários contratempos.
— Não me importam seus motivos — disse o treinador, engrossando a voz. — Mas nunca mais tente se esconder ou me enganar. Entendeu?
Dante se arrepiou inteiro.
— Sim, treinador!
— Então vá para o campo e tome sua posição!
A tarde estava nublada quando o sub-15 do Dão FC entrou no campo. A grama úmida refletia a luz fraca do sol, criando um brilho suave sob as chuteiras dos garotos. À frente de todos caminhava o Treinador. O olhar firme, a postura precisa, cada passo carregando uma autoridade silenciosa.
Muitos acreditavam que ele era apenas um técnico rígido. Ninguém imaginava o quanto acreditava naquela nova geração — nem que sua seriedade não nascia de ódio ou orgulho, mas de um amor paternal que ele tentava esconder.
Ele nunca revelara seu nome. Quando algum aluno perguntava, ele dizia com simplicidade:
— Podem me chamar de Treinador.
Eles começaram com as jogadas ensaiadas.
— Vamos, lentos demais! — gritou o Treinador enquanto os garotos faziam passes curtos. — Futebol é ritmo, é leitura, é decisão rápida!
Mateus, lateral direito, errava passes simples. A bola escapava dos pés dele toda hora. O Treinador se aproximou:
— Mateus, seu corpo tá torto. Se você passa de lado, a bola sai fraca e torta. Abre a base, vira o quadril e solta firme.
Mateus repetiu. Acertou.
— Aí sim — disse o Treinador, dando dois toques no ombro do garoto.
Luan, o camisa 9, tentava dominar bolas longas, mas a bola quicava demais.
— Luan! — chamou o Treinador. — Domínio não é força, é leitura. Espera a bola cair no ponto certo. Você tá indo com sede demais.
Luan tentou de novo. Dessa vez, matou a bola no peito e chutou rasteiro.
— Boa. Assim você vira atacante de verdade.
Dante observava tudo, atento. Ele sempre prestava atenção nos mínimos detalhes.
O Treinador puxou o apito e gritou:
— Transição! Time A contra Time B, dois toques, campo reduzido!O
O jogo começou frenético.
Dante corria como sempre: decidido, intenso, completamente focado. Mas, em um lance, se precipitou tentando driblar dois ao mesmo tempo.
O Treinador explodiu:
— Dante! Controle a ansiedade! Futebol não é corrida de 100 metros! Leia o espaço antes!
Dante respirou fundo e, no lance seguinte, fez exatamente o que ele pediu: recebeu, levantou a cabeça, achou Tiago livre e tocou rápido.
— Assim! — apontou o Treinador. — Você tem potencial. Use o cérebro junto com o corpo.
O jogo continuou. Lances para cá, lances para lá.
Erro de posicionamento, passe mal calculado, finalização precipitada… O Treinador corrigia tudo, jogador por jogador, sempre do jeito direto dele.
Depois do jogo reduzido, os garotos estavam exaustos.
— Agora, finalização. Ninguém vai embora até acertar três seguidas — decretou o Treinador.
Todos gemeram, mas obedeceram.
Mateus acertou a terceira com muito suor.
Luan demorou mais.
Tiago reclamou do cansaço.
Só Dante parecia ainda cheio de energia — algo nele vibrava estranho o dia inteiro, como se seu coração estivesse batendo em dois ritmos diferentes.
O Treinador percebeu. Ele sempre percebia.
Quando chegou a vez de Dante bater, o Treinador cruzou os braços:
— Quero força, técnica e calma. Não explode a bola. Controle a energia, garoto.
Dante tentou seguir as orientações.
O primeiro chute: bom.
O segundo: melhor.
O terceiro… estranho.
A bola saiu mais pesada do pé, quase como se estivesse carregada.
O Treinador estreitou os olhos. Ele sentiu uma fagulha vermelha no ar.
— Último lance, Dante — disse o Treinador, já atento. — Capricha.
Dante ajeitou a bola.
O vento pareceu parar por um instante.
Uma sensação quente correu pelo braço dele.
Depois pelo peito.
Algo se abriu dentro dele.
Ele correu.
O mundo ficou lento.
E no momento do chute…
FOOOOOOOSH!
A bola se transformou numa esfera envolta em energia vermelha.
O ar vibrou.
Faíscas escarlates cortaram o campo.
A grama queimou onde a energia passou.
A bola voou direto na direção do goleiro Tiago.
Dante arregalou os olhos.
E os fechou com força, esperando ouvir o impacto fatal.
Mas…
PÁ.
Um único som.
Tranquilo.
Simples.
Sem esforço.
Quando Dante abriu os olhos, viu a cena impossível:
O Treinador parado na frente do gol, segurando a bola com uma única mão.
Como se fosse uma bola comum.
Como se aquela energia destrutiva não significasse nada para ele.
A esfera ainda crepitava em vermelho… mas a cor desapareceu segundos depois, vencida pela mão pesada do Treinador.
Os outros jogadores não entenderam nada.
Mas Dante…
Dante sentiu o coração gelar.
— Treinador…? Como o senhor…?
O Treinador largou a bola no chão, ainda fumegante.
Olhou para Dante com um olhar sério — um olhar que escondia mil sentimentos.
— Você despertou algo que não deveria ser despertado tão cedo.
— Algo que pode ser uma bênção e, ao mesmo tempo, uma maldição.
Dante respirou rápido, assustado.
— O que foi isso? O que eu fiz?!
O Treinador virou o rosto, evitando responder.
Ele não podia explicar. Talvez por não saber descrever, talvez por não achar conveniente falar.
Então escolheu a única opção segura:
— Pesquise.
— Estude essa energia.
— Descubra sozinho o que é essa energia vermelha.
Ele colocou a mão firme no ombro de Dante.
— E, quando descobrir, quero olhar para os seus olhos puros mais uma vez.
O vento soprou forte.
Dante sentiu outra vibração vermelha no peito.
O Treinador completou, quase sussurrando:
— Seu verdadeiro treinamento começa agora… Dante.
O Treinador deu as costas, e Dante sentiu o coração vibrar. As palavras dele o encheram de confiança a ponto de sair correndo, descendo até o vestiário para pegar sua farda e mochila e correr para fora do CT.
Thiago, incomodado com a forma como Dante foi embora, caminhou até o Treinador.
— Treinador, o que deu no Dante? Saiu antes mesmo do senhor encerrar o treino!
O Treinador sorriu e colocou a mão na cabeça do garoto:
— Não foi nada demais! Ele apenas foi atrás da própria sorte. Agora vocês vão ter que correr atrás da sorte de vocês — e eu estou aqui para ajudar.
A cena muda para Dante andando por um bairro simples, com casas pintadas de diversas cores e construídas em formatos diferentes, como um arco-íris de figuras geométricas feitas de tijolos.
A calçada rachada denunciava a idade, e o asfalto seco já nem parecia asfalto, desbotado para um cinza opaco.
Dante estava pensativo, como se caminhasse por um longo corredor escuro, repleto de telas azuis que projetavam seus pensamentos.
Uma tela mostrava o momento em que ele chutou a bola cercada de energia vermelha.
— O que foi aquilo? — murmurou.
Outra tela mostrava o encontro com os agentes da Piece Patrol naquela manhã — e a energia azul que havia surgido quando o homem de máscara de palhaço o atacou.
Talvez os dois fenômenos estivessem ligados.
Dante parou no meio da calçada, levantando a cabeça como quem tenta conectar tudo.
Em sua mente, outra tela surgiu: suas revistas de heróis.
Uma luz se acendeu no fim do túnel.
— É claro! Nas revistas pode ter alguma pista sobre essa energia. Se aquilo que o palhaço usou para me atacar for importante, com certeza vai estar registrado nelas!
De repente, alguém tocou seu ombro. Dante se virou assustado e viu um senhor calvo, de olhos quase fechados.
— Meu jovem, você não pode ficar parado no meio da calçada. Está atrapalhando a passagem.
Dante levou a mão à cabeça e sorriu sem graça.
— Foi mal, senhor… acho que eu estava voando alto demais.
O senhor passou devagar. Dante retomou o caminho, agora empolgado.
Depois de dois quarteirões, parou diante de uma casa azul simples, com uma janela de vidro fumê e uma porta de madeira marrom.
Segurando a fechadura, abriu um largo sorriso, os olhos brilhando como chamas.
— Eu vou descobrir o que era aquela energia maluca… ou não me chamo Dante!
Ele abriu a porta e entrou em casa.
[...]
O sol já se punha, tingindo o céu de laranja queimado, quando vários homens de moletom cinza — as iniciais Piece Patrol estampadas no peito — desmembravam os monstros abatidos com serras elétricas. A cada corte, pedaços eram cuidadosamente organizados dentro de uma maleta preta gigante.
As máscaras pretas escondiam seus rostos. As luvas verdes de borracha brilhavam com o reflexo vermelho das lâminas. O silêncio era quase sepulcral, quebrado apenas pelo zumbido constante das serras.
Do outro lado da rua, o comandante Fenícios e seu assistente Kyros vigiavam o perímetro.
Fenícios mantinha a postura rígida, olhar clínico, mãos afundadas nos bolsos como quem calculava cada detalhe.
Kyros, em contraste absoluto, tamborilava os dedos com impaciência, os olhos brilhando como se estivesse faminto por algo.
De repente, o chão tremeu.
As serras pararam. Os agentes congelaram, tremendo como varas verdes.
Um rugido bestial rompeu o ar:
— GRROOOAAARRR!!!
O asfalto vibrou e começou a rachar em linhas irregulares. Uma névoa roxa escapava das fendas, serpenteando pelo chão e murchando as folhas das árvores ao redor.
Fenícios ergueu o olhar sem mover o resto do corpo.
Kyros abriu um sorriso insano — largo demais, afiado demais.
rachadura explodiu para fora quando um braço roxo emergiu, enorme e musculoso, a pele rígida como a couraça de um inseto. Garras compridas cintilaram.
O braço se apoiou no solo e puxou um corpo colossal. A criatura, com quase dois metros de altura e cabeça semelhante à de um tatu, soltou um estalo da carapaça ao endireitar a postura.
Outras três criaturas idênticas romperam o asfalto logo em seguida, formando uma linha ameaçadora.
Uma onda de energia roxa se espalhou em forma de nevoeiro, o ar ficando pesado, denso, quase corrosivo.
Os monstros rugiram em uníssono — grave, profundo e odioso.
Kyros avançou um passo, braços abertos, como quem dava boas-vindas ao inferno.
— Ei, seu bando de lixo… — disse, com um sorriso que quase rasgava o rosto — deixa eu mostrar o requisito principal pra se tornar um oficial da Piece Patrol.
Um brilho azul começou a pulsar ao redor dele, crescendo como um halo vivo. O ar ao seu redor vibrou, ondulando como água sob calor intenso.
Ele ergueu a mão direita, fechando o punho como se segurasse o cabo invisível de uma espada.
— Retalhe com a letalidade da água… Tentáculo da Morte!
Kyros disparou para a frente. No meio do salto, um cabo azul se materializou em sua mão, e quando ele cortou o ar, um chicote gigantesco de água surgiu, ondulando como um tentáculo vivo.
O golpe estalou, rápido e preciso.
Um único arco.
O braço direito do monstro voou, descrevendo um círculo grotesco antes de cair no chão.
Kyros aterrissou com perfeição — tão rápido que, quando o membro mutilado tocou o asfalto, ele já estava de joelhos, numa pose de herói.
O monstro rugiu de dor, segurando o coto ensanguentado, mas o sangue escorria entre seus dedos grossos.
Kyros ergueu a cabeça. Seus olhos estavam vermelhos, pulsando, as veias marcando o rosto como se um demônio observasse de dentro.
Ele bateu o chicote de água no chão, respingando gotas que evaporavam no ar azul brilhante.
Lambeu os lábios.
— O pesadelo de vocês… — disse, com a voz arranhada de prazer — apenas
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