Nitro: As Pegadas do Herói Brasileira

Autor(a): Lucas Aguiar Ferreira


Volume 1 – Arco 1

Capitulo 2: A Chama Ruiva!

 

As palavras do jovem de cabelo ruivo ecoaram como um trovão, deixando a tropa da polícia quase em choque diante da audácia com que ele havia respondido a um oficial.

O clima pesou. Os policiais, aterrorizados, sentiam como se suas vidas fossem desaparecer a qualquer instante.

O oficial de cabelo laranja percebeu que todos estavam paralisados de medo — todos, exceto o garoto, que o encarava com um olhar penetrante e ardente, como labaredas vivas.

Ele sorriu.

E, soltando uma gargalhada forte, quebrou o clima de angústia e aliviou a tensão dos guardas.

— Você é um garoto corajoso, Ruivinho! — disse o oficial, mãos na cintura.

O jovem cruzou os braços, sério:

— O meu nome é Dante… não Ruivinho.

Um dos policiais, com os olhos arregalados, correu até ele e agarrou seu braço.

— Menino, você precisa sair daqui agora!

Mas Dante não se moveu nem um milímetro. Era como tentar arrancar um poste do chão. O policial puxava com desespero, o rosto coberto de suor, mas o garoto permanecia imóvel, fixo no comandante.

Dante então afastou a mão do policial com facilidade — como se afastasse uma criança — e relaxou os braços:

— Tá bom… eu vou embora. Tenho treino de futebol à tarde.

Dingo, que até então estava tremendo igual vara verde, segurou o braço do amigo e, gaguejando, acenou:

— A conversa tá boa, mas eu e meu amigo vamos indo… tchau!

O pequeno marciano e o ruivo desapareceram num flash de luz verde.

Os policiais ficaram estáticos, tentando processar o que tinham acabado de ver, até que o homem de cabelo laranja ergueu a voz:

— Caros amigos, me desculpem pela minha indelicadeza… mas não precisamos mais da presença de vocês. Retirem-se imediatamente e deixem que eu e meu colega cuidemos do restante.

 

Os guardas se colocaram em posição de sentido, apavorados.

— Sim, senhor! Faremos o que pediu! — respondeu um deles.

Eles correram para as viaturas e deixaram o local em alta velocidade.

O semblante simpático do comandante desapareceu. Seu rosto endureceu, e seus olhos ganharam um brilho congelante. Aquela chama nos olhos de Dante… ainda queimava em sua mente.

Seu colega — o homem de maquiagem de palhaço e cabelos longos — estava agachado, examinando os corpos.  Em cada um deles havia um buraco minúsculo, do tamanho de um botão de camisa, atravessando o corpo por completo.

Ele bateu de leve na pele de uma daquelas criaturas e sentiu a resistência. Dura demais para qualquer bala. Dura demais para qualquer lâmina.

Levantou-se e falou com gravidade:

— Senhor… tudo indica que foram perfurados por algo extremamente pontiagudo. Mas não há pólvora. E com a pele desses monstros… não existe chance de ter sido uma arma branca.

O comandante colocou as mãos nos bolsos e sorriu de lado, com deboche:

— O lobo pode até perder os dentes… mas nunca perde o instinto de matar.

Vamos limpar essa bagunça.

Essas criaturas… apenas cruzaram com a morte pelo caminho.

 

Enquanto isso

Dante estava sentado nas cadeiras vermelhas do metrô, braços cruzados e o rosto tão fechado que parecia prestes a cuspir fogo.

Dingo, incomodado com o silêncio pesado, cutucou o braço dele.

Dante virou o rosto na hora, com uma expressão de puro ódio.

— Tá ficando maluco, seu anão verde?!

Metade do vagão pulou da cadeira, achando que ia começar uma briga.

Dingo abriu um sorriso amarelo.

— Foi mal, meu povo! É só estresse!

Ele se virou de novo para Dante.

— Serião… o que deu em você? Desde que vimos aqueles oficiais da Piece Patrol, você tá com essa cara de quem quer explodir o planeta. Somos estudantes, cara! Nem existimos pra eles!

A raiva nos olhos de Dante apagou um pouco, dando lugar a um olhar frio.

— Eles não são heróis. Podem ser fortes, mas tão longe de serem como o Esvanecer.

— O herói número um? Ah, para! Aquilo é história pra criança.

Dante deu um cascudo tão forte que os olhos de Dingo quase pularam.

— Ele é real! As revistas não são historinhas; são relatórios dos comandantes! Eu tenho todas as do Esvanecer!

Ele se inclinou para frente, animado.

— Ele era ruivo como eu, baixinho e mal-humorado. Gostava de lutar, e quando os valentões encaravam ele, só faltavam botar ovos de tanto medo. Ele é tão forte que derrubou um gigante de pedra com um único soco — e nunca perdeu uma batalha.

— Tá legal, tá legal, já entendi que ele é forte… mas você não chega nem perto dele — rebateu Dingo.

— Eu ainda tô só começando.

Dante ergueu o dedo, lembrando de algo.

— Ah! E tem o Zephyr — loiro, alto, bom de briga. Amigo de infância do Esvanecer. Os dois eram a dupla imbatível. Mas faz treze anos que não sai nada deles. Nem em dupla, nem solo.

— Muito menos eu sei o motivo — murmurou Dingo, incrédulo.

O metrô parou na estação do bairro deles. As portas se abriram e todos saíram, inclusive os dois amigos.

Enquanto andavam pela rua, Dante continuava falando dos heróis, e Dingo fingia ouvir, já exausto.

Do outro lado da avenida, um homem de bigode handlebar e chapéu de palha assava espetinhos numa churrasqueira preta, em frente a um prédio abandonado, cheio de infiltrações e mofo espalhado pelas paredes. Vestia um hanfu verde estilo colete, calça larga e sapatilhas pretas — um chinês tropicalizado, montado numa calçada de alvenaria improvisada.

 

— Olha o espetinho, olha o espertinho… tá gostoso demais, venha logo, seus otários! — anunciava ele, sorrindo.

 

Foi então que quatro homens surgiram atravessando a rua com olhares gélidos de assassinos, empunhando barras de ferro e porretes.

Um tinha uma cicatriz abaixo do olho e brincos nas orelhas.

O segundo era careca e estava sem camisa, o peito cheio de tatuagens malfeitas.

Os outros dois usavam toucas pretas; um vestia camiseta vermelha, o outro azul.

— Ei, velho imbecil — rosnou o careca, franzindo a testa. — Repete o que tu falou.

O Espeto Man abriu um sorriso despreocupado.

— Quantos espetinhos vocês vão querer, jovens?

O homem da cicatriz respondeu:

— A gente quer fazer espetinho de você.

O Espeto Man deu um suspiro teatral.

— Me perdoem, mas eu não costumo entregar minha carne pra homens.

O da camiseta vermelha ergueu o porrete.

— Vamos ver se continua engraçadinho com a cabeça quebrada.

O homem ajustou o chapéu.

— Eu não faria isso se fosse você. Ou então vai descobrir onde eu vou enfiar esse porrete.

O clima pesou. A tensão ficou tão forte que parecia vibrar no ar. Os malandros deram um passo pra frente —

Até que uma voz cortou o ambiente:

— Ei, seu bando de covardes! Que tal voltarem pra casa sem os dentes da boca?!

Dante estava de braços cruzados, expressão séria.

Dingo, ao lado dele, já estava com os olhos esbugalhados, imaginando a desgraça que o amigo ia arrumar.

Todos os criminosos viraram-se em direção ao ruivo com uma expressão possuída pelo ódio, caminhando enquanto erguiam as armas.

O homem do espeto, preocupado, ergueu a voz para Dante:

— Garotinho, não precisa se preocupar comigo, eu sei me virar!

Descruzando os braços e cerrando os punhos, o ruivo deu um sorriso e respondeu ao homem do espetinho:

— Os meus pais me ensinaram a ajudar os idosos!

Uma nuvem escura surgiu em cima da cabeça do homem do espeto, e sua expressão serena sumiu, dando lugar a uma expressão de ódio, cheia de veias espalhadas pelo rosto e olhos esbugalhados quase saindo das órbitas.

— Garotinho safado! Eu só tenho 32 anos, sabia?! — pensou ele, cerrando o punho direito com muita força.

Dante, com a expressão séria e o olhar ardente, aguardava os criminosos que se aproximavam lentamente. Todos vinham com sorrisos demoníacos, passos pesados e olhares de assassinos.

O careca apontou o dedo para o ruivo e, fazendo um gesto de reprovação com o polegar virado para baixo, rosnou:

— Sua vida termina agora, garoto!

Ele ergueu a barra de ferro num golpe vertical rápido, tentando esmagar a cabeça do jovem.

Mas Dante bloqueou o ataque com a mão direita. O impacto ecoou por toda a rua.

 

O careca arregalou os olhos, chocado por ver seu golpe parar naquele punho fechado, como se fosse nada.

 

Dante firmou os pés no chão, cerrou o punho direito e concentrou força. Seu bíceps cresceu alguns centímetros.

Ele avançou como um tiro e retrucou:

 

— Acho que é a vida de vocês que chegou ao fim!

 

O soco afundou o rosto do grandalhão e o lançou dois metros para trás. Ele caiu imóvel, sem reagir.

 

O homem do espeto ficou de boca aberta, sem acreditar que o ruivo derrubou um sujeito duas vezes maior com um único golpe.

 

Os outros criminosos avançaram com raiva, assumindo postura defensiva. O homem com a cicatriz abaixo do olho tentou disfarçar o medo ao ordenar:

 

— Não tenham medo! Foi só um golpe de sorte!

 

Dante riu. Olhou para ele com desprezo e fez um gesto com a mão, chamando-o.

 

— Pode vir. Eu te mostro se foi sorte.

 

O cicatrizado avançou como uma besta selvagem, balançando o porrete em várias direções com velocidade impressionante.

Mas Dante desviava com facilidade, como se estivesse vendo tudo em câmera lenta.

Os golpes eram tão fortes que cortavam o ar, fazendo estalos, mas nenhum acertou o ruivo.

O criminoso começou a perder o fôlego.

 

Dante aproveitou a abertura. Girou o corpo e acertou um chute no estômago dele.

O impacto lançou o homem para trás, colidindo com o corpo do careca que já estava apagado.

 

Os dois criminosos de touca avançaram ao mesmo tempo com barras de ferro erguidas.

Mas Dante se adiantou — dois socos secos no estômago, um para cada — e ambos largaram as armas, caindo de joelhos antes de desmaiar.

 

O homem do espeto continuava boquiaberto, admirado com a habilidade do garoto. Até esqueceu que, minutos antes, o havia chamado de velho.

 

Dingo, que estava encolhido no chão em posição fetal, finalmente se levantou. Ele agarrou o braço do amigo e puxou com força:

 

— Vamos cair fora daqui antes que você arranje mais confusão!

 

Dante cruzou os braços.

 

— Eu não podia permitir que esses malditos batessem naquele velhinho… ou então nunca poderia ser chamado de Herói.

 

— Então vamos sair logo daqui, herói!

 

Dante permitiu ser arrastado por Dingo.

 

Paralisado, o homem do espeto estava perdido em seus pensamentos, e nem piscar ele piscava.

De repente, o chão começou a tremer. Um homem enorme, coberto de músculos e tatuagens de palhaço, se aproximou do homem do espeto.

O grandalhão usava uma focinheira de cão e estava sem camisa, apenas com uma calça larga preta.

 

Ele ergueu a voz grossa e perguntou:

 

— Ei, quem foi que bateu nos meus subordinados? Diga, pois eu quero esmagar ele com minhas próprias mãos!

 

O mestre permaneceu calado, como se estivesse perdido no mundo da imaginação.

O grandalhão ficou furioso e gritou:

 

— Por acaso você é surdo, velho?!

 

O mestre, ainda de costas, desferiu um soco para trás e acertou o estômago do grandão.

O som do impacto parecia o disparo de um canhão.

 

O grandalhão caiu de joelhos, olhos revirados. Ele cuspiu sangue e tombou no chão inconsciente.

 

Tirando o chapéu e revelando seus cabelos loiros, o homem abriu um sorriso e disse para si mesmo:

 

— Parece que eu encontrei uma joia que vale a pena lapidar! Ver aquele garoto me fez lembrar do passado, quando eu não tinha a obrigação de trazer o sustento da família.

 

O homem do espeto guardou suas carnes num depósito e carregou a churrasqueira no braço direito.

Andando pela calçada de alvenaria cheia de infiltrações, ele parou diante de um prédio que parecia um templo chinês completamente deteriorado, como se estivesse abandonado.

Nele havia uma placa escrita em mandarim: 叶师傅的道场 — Yè shīfu de dàochǎng — Dojo do Mestre Ye.

 

Colocando as mãos na cintura, o homem respirou fundo e disse com um olhar esperançoso:

 

— Lapidar aquele jovem rapaz pode me ajudar a recuperar o meu dojo. Ele já tem uma técnica muito boa e é muito forte para alguém da sua idade. Dando as instruções certas, ele pode se transformar em um grande lutador. Mal posso esperar para revê-lo outra vez, meu jovem.

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