Nitro: As Pegadas do Herói Brasileira

Autor(a): Lucas Aguiar Ferreira


Volume 1 – Arco 1

Capitulo 2: A Bola Flamejante!

Fenícios abriu um sorriso, surpreso com a ousadia do jovem de cabelo ruivo.

— Nem sempre a realidade é descrita nos quadrinhos, meu jovem! E nem sempre os seus heróis são quem você pensa que são!

Era uma situação inusitada. Os policiais e a dupla do grupo de forças especiais reconhecidas pelo universo, todos parados da investigação por um pirralho. A discussão estranha.

— Não me interessa se eles não são o que eu penso, o que importa é que sou o que sou!

— Você é um jovem muito ousado! Qual é seu nome?

— Dante!

— “Dante”, Huh? Me lembrarei.

— O meu é Dingo, autoridade! — Esse já foi ignorado.

Os policiais, nervosos por meros garotos incomodarem os grandes figurões, logo se agruparam para expulsar os garotos e guiarem o oficial e seu assistente para a cena do crime.

Já havia sido um feito incrível por si só falar diretamente com alguém tão importante, uma oportunidade milagrosa para muitos, mas foi influenciada pela personalidade excêntrica do palhaço.

Enquanto empurrados pelos polícias, um barulho intenso de guitarra surgiu repentinamente e assustou qualquer um à volta.

— Calma, é o alarme do meu celular! — falou Dante. Havia aceitado, junto do Dingo, que não tinha mais o que fazer ao serem carregados para fora.

— Qualquer dia desses tu me mata de susto! — Dingo soltava lágrimas brilhantes por conta do perigo que passaram, finalmente largado pelo policial mal-encarado.

Os homens se distanciaram e ficaram de olho nos invasores; Dante tirou o smartphone vermelho do bolso e, quando viu a hora, seus olhos arregalaram.

— Meu Deus! Tô atrasado pro treino! O treinador vai me matar!

Dante agarrou o glóbulo auricular de Dingo e saiu correndo até o metrô com ele. Já havia esquecido da cena de antes, era peculiar.

Do outro lado, o oficial e seu assistente conversavam:

— Por que não disciplinou eles, comandante?

— Ora, são apenas garotos. Esqueça. O que mais me preocupa, agora, é o monstro que matou esses monstros. — Tocou o corpo. — Esse sim é uma ameaça para a cidade.

Não, para o mundo.

(...)

“É muito difícil sonhar quando a miséria aperta o seu cinto.”

O dojo chinês, Folha Assassina, é a construção mais antiga do bairro Fusha, localizado na cidade Prisão, que engloba outros sete bairros.

Antigamente, o estabelecimento era considerado patrimônio da cidade e seu design chinês era algo cativante para os visitantes, mas o dojo passava atualmente por uma situação difícil. O tempo chega a todos.

A maioria dos jovens passou para o mundo do crime e acreditavam ser um estilo de vida mais vantajoso. Deixaram de lado o desejo de ficarem mais fortes para colocarem a mão em armas brancas e de fogo. Abandonar os punhos, uma vergonha!

Havia uma exceção: Mei era a única discípula do antigo dojo. Tinha um cabelo preto, curto e seus olhos eram azuis. A jovem adorava treinar artes marciais, com roupas leggings de crossfit. Seu corpo era bem definido, resultado do foco no treinamento.

O dojo que tinha partes de madeira, outras de concreto, caia aos pedaços pela passagem do tempo. Como não havia discípulos, também não tinha dinheiro para reformas.

Mei treinava no salão de madeira — o único lugar da casa que seguia conservado — enquanto seu pai lhe observava da janela do escritório no segundo andar, em frente ao salão.

Tomando o seu chá de boldo, com os braços apoiados no parapeito, o mestre Ye — senhor loiro, de olhos azuis e bigode Handlebar — usava um chapéu de palha na cabeça e se abanava com um leque que tinha o desenho de um dragão verde, em sua folha.

Ele admirava o treinamento da filha, reparando no seu crescimento.

 O suor transbordava do rosto da Mei ao perceber que era observada pelo seu pai e mestre, então demonstrou mais esforço para impressionar.

— Ver o progresso dessa criança se tornou um hobby para mim — comentou ele, tranquilo ao apreciar o chá junto. — Ultimamente tenho tantos problemas… Parece até que carrego os pecados de um certo alguém. E a idade… Adquiri a mania de falar sozinho também, pelo jeito. Hmm… Que difícil, que difícil.

O velho refletia sobre o futuro da filha.

— Minha filha tá crescendo e já completou 15 anos… Fica cada vez mais parecida comigo, afinal se fosse parecer com a mãe!...

Ele sentiu uma presença hostil que arrepiou os seus cabelos loiros. Quando se virou pra trás, havia uma mulher chinesa com um penteado segurado por um palito, vestida com um hanfu vermelho. Se aproximava.

— Que comentário maldoso, meu marido! Sou uma mulher muito linda e a menina é igual a minha imagem na infância.

Com a mão no coração, o mestre brigou com a mulher.

— Yanling, eu já te pedi pra não andar furtivamente! Além disso, a aura que brota do seu corpo é assustadora por si só! Ah… Não quero que minha filha siga o mesmo caminho que escolheu.

— Marido, esqueça isso! Já faz muito tempo! Enquanto a minha aura, não posso fazer nada. Já devia era ter se acostumado, chato.

— Se eu não tivesse me acostumado, com certeza teria morrido. — Entortou a expressão.

— Por que não vai dar uma volta, Ye, para limpar sua mente cheia de pensamentos e “caçar”?

— Acho que vou seguir o seu conselho…

Ye desceu as escadas e saiu para fora do dojo. Vendo que seu pai saia, Mei se preparou para ir atrás dele.

— Mei, continue o treinamento!

— Mãe, só queria dizer que sozinha eu posso representar o nosso Dojo.

— Assim como uma escola não sobrevive com um só aluno, um dojo não funciona apenas com um discípulo. Principalmente se for depende de um duro como o seu pai! Deixe ele fazer isso sozinho.

— Certo…

Não havia o que discutir.

Saindo, o mestre olhou para frente do dojo e sentiu pena de si ao ver essa fachada de madeira toda apodrecida. Respondendo a sua reação patética, a placa do dojo caiu em cima do mestre e o derrubou no chão.

Era um dia de azar, um mau agouro?

Ao tirar a placa de cima de si, o mestre fez sua caminhada.

Hoje teve uma surpresa ao passar por um beco.

Cercado por vários malandros, rapazes mal-encarados e vestidos, havia um jovem ruivo. Eles tinham facas, porretes e o que mais servisse de arma na situação; o alvo deles possuía apenas os punhos.

— Quem é esse velho?

— Oh! Me notaram. — Não ficou preocupado, apesar de um dos delinquentes vir na sua direção armado.

— Pensam que são durões por ameaçar um velho? — Dante se irritou e ficou na frente do senhor para o proteger. — Acham mesmo que esses trambolhos vão impedir de eu chutar suas bundas? Nunca aprendem!

Ao olhar para o rosto do Dante, Ye ficou em estado de choque, pois sua semelhança era igual a alguém que conheceu no passado.

Um malandro alto e careca tentou acertar o jovem com o seu taco beisebol, mas Dante se abaixou e contra-atacou com um soco bem na boca dele, afundado a cara.

O marginal caiu no chão inconsciente.

— Próximo!

Outro malandro magro, de pele bronzeada e que usava uma toca cinza na cabeça, tentou perfurar o rapaz com um canivete.

Ele se esquivou e agarrou o braço que segurava a faca. Aproveitou a brecha para chutar o marginal no estômago e deixar a arma cair.

— Próximo!

Ye, sentado na calçada, observava atentamente as habilidades do garoto: por mais que os malandros fossem a maioria, eles que estavam em desvantagem contra o jovem, assim parecia.

— Esse garotinho luta muito bem! E a tranquilidade de como lida com os ataques armados, é fascinante!

Todos os malandros avançaram juntos contra Dante, apoiando a palma das suas mãos no chão, o ruivo desferiu um chute giratório, derrubando de um por um.

Com medo de apanhar mais, os malandros saíram tendo a certeza de que os rumores eram verdadeiros, carregando nos ombros os colegas desmaiados.

Dante virou-se para Ye, preocupado.

— O senhor tá bem?

Ye, quando olhou mais de perto o rosto do jovem, ficou paralisado. Realmente era parecido demais a um antigo conhecido.

— Sai pra lá, tio! — disse Dante. — Tá me estranhando?

Ye despertou depois da pergunta dele, mas ainda estava extasiado.

— Obrigado pela ajuda, meu jovem!

— O senhor não deve ficar andando por esses lugares abandonados! Velhos são sempre os alvos desses encrenqueiros!

Ofendido, Ye saiu do choque para a fúria, mas Dante correu sem dar a chance dele dizer nada.

— Mais que jovem cretino! Duvido que saiba quem sou! — Respirou fundo e suspirou. — Vou deixar essa passar, que bom que achei. É exatamente o que eu precisava: um milagre! Já passaram tantos anos… que havia esquecido que ele ainda existia.

Após ver o Dante, o mestre do dojo decidiu fazê-lo seu discípulo.

Enquanto isso…

Dante, andava tranquilamente pela calçada, a caminho do CT de futebol, onde jogava todos os dias depois da escola. O trânsito estava muito movimentado e o som das buzinas era ensurdecedor. Olhando para as horas no relógio, Dante se desesperou ao perceber o atraso para o treino.

Correndo pelas ruas — em desespero — o jovem desviava dos carros e das motos apesar do risco de ser atropelado.

— Cuidado, seu maluco! — falou um motoboy de capacete preto.

— Toma cuidado você! Pra não levar uma voadora na cabeça!

Finalmente chegou.

Na frente do lugar estava um senhor de baixa estatura, pardo, com cabelos ondulados e um bigode marcante. Ele se manteve pé com os braços cruzados e um semblante zangado.

— Onde se meteu aquele garoto?

Dante chegou no CT e sua fachada tinha a forma de uma nave espacial, já o portão era de ferro com o símbolo de uma águia.

O jovem chutou a porta. Entrou no vestiário com a luz apagada, tirou sua farda da escola e colocou o uniforme do time: era uma camisa preta com o símbolo da águia no peito e um calção vermelho acompanhado pelo par de meias e chuteiras pretas.

Correndo, Dante subiu as escadas, quase caiu, e finalmente chegou ao campo.

Era tarde.

Todos olharam para ele com muita raiva, mas era o olhar do treinador que o deixava desconcertado.

— Dante, venha já aqui! — falou o treinador, alterado.

O coração do jovem tremeu quando ouviu a voz dele e, sem perder mais tempo, correu ao seu encontro. Quem viu, reparou que o valentão na frente do treinador era apenas uma criança assustada.

— Aqui estou, treinador! — falou Dante, em posição de sentido.

O treinador desferiu um cascudo no Dante. Bem dolorido. O rapaz levantou as mãos na cabeça e se ajoelhou de dor.

— Você tá atrasado, garoto!

— Perdão, treinador! Tive um contratempo!

— Não quero ouvir desculpas! Se coloque na sua posição!

Dante estalou o pescoço e entrou em campo. E, com o soar do apito, o jogo começou.

Jogar bola era o passatempo preferido do jovem. Além de explorar o seu condicionamento, melhorava o raciocínio. Mas, hoje ele não estava muito inspirado… Foi desarmado facilmente e perdia chances claras de gol.

O treinador, no intervalo da partida, foi até Dante e colocou sua mão pesada sobre a cabeça dele.

— Foco, meu rapaz! Deixe seus problemas de fora para fora do campo! Se você não focar em seus objetivos, todos os esforços que fez serão em vão!

A partida recomeçou com a determinação mais forte.

Dante roubava a bola e dava chutes a gol. Ainda cometia um erro que tirava o treinador do sério. Segurava muito a bola e não tocava pra ninguém.

Eventualmente, era só ele e o goleiro.

Aplicando toda a força, desferiu um chute na bola — foi coberta por uma energia vermelha misteriosa — e partiu como um meteoro pra cima do goleiro, que sabendo que não poderia aparar, apenas se amedrontou com a intensidade e deixou passar.

Dante fechou os olhos, nervoso se conseguiu ou não.

— Belo chute, garoto! Mas, da próxima vez, mire na rede!

Do lado de fora, estava o treinador com a bola em mão. Se não estivesse alucinando, pensou ter visto vapor saindo do objeto, mas deveria estar exagerando sobre o quão forte pensou ter sido seu chute. Ainda mais, se tivesse sido verdade, o treinador era assustador por conseguir aparar.

As horas passaram.

O treinador dispensava seus alunos após a partida difícil. Foi o que foi. Iriam tentar melhor na próxima.

Num bom momento, o homem se aproximou do Dante e disse:

— Aconselho a tentar controlar aquela energia.

O jovem ficou surpreso, afinal que tinha sido coisa da sua cabeça.

— Huh?... Entendo. Realmente tenho um poder!

— Esse é o espírito! Que ele venha junto de grande responsabilidade, estamos entendidos?!

— Certo!

Era um universo repleto de habilidades misteriosas. Vilões e monstros usavam para destruir; os profissionais e heróis usavam para proteger e construir. Independente do que fosse, essa era a importante marca do seu início.

Herói.

 

 

 



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