Nitro: As Pegadas do Herói Brasileira

Autor(a): Lucas Aguiar Ferreira


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 1: Heróis que desceram do céu!

Era uma noite tempestuosa.

Acima de um arranha-céu castigado pelo temporal, havia um homem.

— Alguém como eu não sou um herói.

Tinha cabelos ruivos e olhos vermelhos memoráveis.

— Era tanto para proteger os outros… Não sobrou nada da minha alegria.

Suas mãos estavam sujas de sangue. A chuva forte se misturava às lágrimas que desciam do rosto. O casaco encharcado pesava como a alma.

Os raios iluminavam os céus e a poça abaixa foi tingida pelo vermelho-sangue.

— Renasço sujo, um vingador. Renasço… para apagar os que corroem a luz.

Em meio aos balbucios hostis, um último trovão estourou dos céus, cegante e iluminando a forma de um homem dominado pelas sombras.

 

                                                              (...)

 

Treze anos se passaram.

Atrasados para a escola, dois jovens corriam pelas ruas para pegar o metrô na estação.

— Mais rápido, Dingo!

— Não tem como ir mais rápido! Não vê que minhas pernas são curtas?!

Os terráqueos, depois de quase serem extintos por monstros que vieram do espaço, cederam o planeta para extraterrestres conviverem com eles, com o objetivo de escapar da sua extinção eminente, graças ao aquecimento global.

O jovem ruivo, de olhos vermelhos, corria cambaleando de pressa enquanto ao lado estava o marciano de meio metro, pele verde e lóbulos auriculares enormes, o acompanhando.

A maioria dos marcianos fora, executados, graças a sua ambição de dominar o universo, e para serem extintos, os poucos que restaram se refugiaram na terra.

Quando finalmente chegaram na estação, seus corações estavam à beira de sair pela boca e o uniforme escolar ficou tão encharcado de suor que pareciam ter banhado de roupa e tudo.

— Meu Deus, como vou conquistar as gatinhas desse jeito? — falou Dingo. — Tô parecendo um rato-de-esgoto!

— Tá preocupado com isso?! Espera chegar atrasado, vai ver é o demônio em forma de mulher!

O metrô chegou. O marciano se apressou para entrar, mas foi surpreendido por uma dúzia de valentões, de moicano rosa, vestidos com roupas de couro preta.

— Ei! “Garotinho verde”, que tal você me dar a sua carteira?

— Não tenho carteira, cara. Levo o dinheiro no bolso da calça.

— Então ficamos com sua calça! — falou um deles, então o grupo riu.

Com medo do que aconteceria, o marciano virou para o amigo… Ao menos os encrenqueiros estavam distraídos com a piada.

— Dante, meu velho amigo, me ajuda, pelo amor de Deus!

— Hmm… Certo.

De repente, os malandros sentiram um arrepio e deram um passo assustado para trás. Dante, que segurava a mochila com a mão direita, se aproximou.

— Qual o problema, irmãos? Querem ser chutados na cara ou no traseiro?

A aura ofensiva que brotava do corpo de Dante fez os malandros se angustiarem. Um deles, quando olhou pra Dante, começou a tremer. Era um olhar único e intenso que jamais confundiria.

— O que foi, cara? — perguntou o comparsa.

— Esse cara é o ruivo que vem espancando os valentões do bairro! Os manos que ele bateu perderam todos os dentes da boca e alguns tão até andando de muletas!

Eles suaram frio, fecharam o rosto e suas pernas tornaram-se bambas. Para não ficarem iguais aos espancados, eles se ajoelharam com uma sincronia fascinante.

— Foi mal, “chefe”! A gente só queria ajudar o “tampinha verde”!

Pelos bandidos terem medo do seu amigo, Dingo inflou o peito e aproveitou para zoar com a cara deles:

— Nossa, como são bonzinhos! Depois trago um agrado pra vocês!

Os estalos decepcionados deles ressoaram juntos às encaradas irritadiças.

— Quando o nosso amiguinho verde estiver sozinho na estação — disse um — tome cuidado pra não ser jogado nos trilhos do metrô.

Dingo, devido à ameaça, fez um sorriso falso de comerciante para evitar futuros problemas.

— Mas, vocês são meus heróis! Se alguém tentar me jogar no trilho, tenho certeza de que vão me proteger! Afinal… não querem ser visitados pelo cabeça de fogo depois, não é? — A última frase soou pesada a eles, os companheiros engessados no hospital os deram a certeza de não quererem problemas.

Em todo caso, Dante, que já estava dentro do metrô, bradou:

— Olho esbugalhado, se continuar conversando, vai é perder o metrô!

— Ah! É mesmo!

Dingo, sem pensar duas vezes, se jogou para dentro do metrô. Livres, houve uma cascata de suspiros dos delinquentes com orgulho ferido… Se era que tinham algum.

Assim, a viagem da dupla continuou. Seguiram para o centro da cidade.

 

                                                            [...]

 

O metrô chegou.

Os jovens desceram e seguiram para a escola. Passaram por uma rua de mansões que tinham jardins cheios de flores rosas e árvores frutíferas como pinheiros e magnólias.

— Dante, tu nunca que ia morar num lugar como esse!

— E por que não?

— Porque você é muito vulgar! As pessoas que moram aqui são refinadas! — Empinou o nariz. — Escute~

— Hahaha! Não foi essa “vulgaridade” que salvou teu rabo mais cedo? Bom, é verdade que não me interesso muito por esses lugares.

Na ponta da calçada, logo à frente, havia uma jovem de cabelos brancos, olhos vermelhos e pele cinzenta, verificando sua bolsa antes de seguir… Ao se deparar com os dois amigos, sua expressão se coloriu, radiante.

Os Lunarianos foram extintos, e a jovem é a última da sua espécie. Ninguém sabe ao certo qual teria sido o motivo, mas, como o corpo dos lunarianos é rico em proteínas, suposições afirmam que eles foram devorados por monstros.

— Dante, há quanto tempo! — Quase saltou de alegria. — Como você tá?!

— Há quanto tempo, Luna. Tô óoootimo! — Um tom brilhante.

Os dois se entreolharam… demais, amistosos demais. Dingo, incomodado, cutucou o braço da Luna.

— Também tô aqui!

— Ah… Como vai, anão verde? — Luna murchou em desprezo, tornou-se outra pessoa.

— Vou muito bem, zumbi da lua!

O marciano e a garota Lunariana não tinham um histórico agradável juntos, pois ambos brigavam pela amizade do Dante. Uma intriga que ia desde tempos primordiais para todos os que conheciam.

— Vamos, parem com isso. — O rapaz se colocou entre ambos.

Os dois ficaram emburrados, mas aceitaram — no momento, ao menos.

O sinal da escola tocou.

Sem exceção, os três sentiram um frio na espinha. Sabiam o aconteceria quando chegassem na sala de aula atrasados. Era um destino terrível. Por isso, ks três correram, novos maratonistas.

Para a sobrevivência.

                                                               (...)

 

O Colégio Galácticos onde Dante e seus amigos estudavam era enorme. Sua fachada foi decorada com imagens espaciais projetadas da tecnologia que refletia a luz do sol. O Colégio tinha alunos de vários planetas e era uma lei fundamental para que todos fossem tratados como iguais e houvesse coexistência. Tanto nas oportunidades, quanto nas punições.

Uma dessas regras era estar na sala de aula antes de tocar o sino.

Em frente a porta, havia uma mulher negra de cabelo curto, vestida com um uniforme militar esperando os seus maravilhosos alunos chegarem. Batia o pé direito no chão com a cara de poucos amigos.

Ao olhar para o relógio, a professora decidiu fechar a porta; de repente a porta voltou-se contra ela, lhe achatando na parede.

Dante, Dingo e Luna, estavam à beira de um infarto, e com as mãos nos joelhos, tentaram recuperar o fôlego. Com uma entrada espalhafatosa, invadiram a sala.

— Ufa! Chegamos a tempo! — disse Dingo, não entendendo o perigo que atiçou.

Ao empurrar a porta, a professora se revelou aos jovens com a cara alterada que só faltava cuspir fogo.

Após um bom sermão…

Dante, Luna e Dingo se sentaram nas carteiras da frente, para evitar outro puxão de orelha da professora, abatidos pela terrível conversa.

— Sejam bem-vindos ao segundo ano, seus pivetes mimados! Mais uma vez, eu, professora Spartane, estou encarregada de pôr um pouco de conhecimento na cabeça de vocês. Vou logo avisando que quem não quiser aprender, vai aprender à força!

E se foi o longo dia.

                                                                (...)

 

No final da aula, Dingo e Dante se despediram de Luna e seguiram de volta para casa.

— Até logo Dante! Não se mistura muito com esse marciano por que ele é um mau-caráter!

— Vai te embora, invejosa!

— Puxa, até na hora de ir embora vocês ficam brigando? Vai pra casa, Luna! E você Anão! Vamos, se não perderemos o metrô!

Luna segue o seu caminho e os dois vão andando pela mesma rua que passaram mais cedo e foram surpreendidos pela multidão reunida na calçada ao lado. Murmúrios, muitos deles soavam. Também havia viaturas da polícia estacionadas por perto.

Curiosos, os garotos se aproximaram para ver o que tinha acontecido, mas a multidão não os deixaram ver nada.

— Parecem um bando de urubus em cima da carniça! — falou Dingo.

— Aconteceu algo ruim logo na nossa rota.

Um dos policiais percebeu os garotos interessados em ver a cena, mas não era apropriado.

— Vão embora daqui! Isso lá é lugar para crianças!

Dingo foi intimidado com as palavras do homem, mas Dante avançou de repente e conseguiu ter um relance dos corpos até ser puxado de volta pela policial e tomar uma bronca.

Ponderou a visão: alienígenas com rosto de peixe e corpo de gorila foram empilhados no chão.

— Poxa! Erraram o endereço do cemitério!

— O que foi Dante? O que viu?

Ao receber a descrição do amigo, fez uma expressão de nojo.

A multidão começou a reparar no céu, uma sombra extensa cobriu a região e a abalou com um barulho cada vez mais próximo.

O vento balançava os cabelos das pessoas. Dante olhou fixamente para a grande presença que abalou o ambiente desde cima, os figurões que não esperava aparecer em um dia tão corriqueiro. Todos contemplaram o dirigível de envelope preto com a sigla “PP” destacada.

— Como pode?... — disse Dante. — Não posso acreditar que tô vendo o dirigível, ao vivo e em cores, de Piece Patrol do mesmo jeito que na TV!

— Queria que minha irmãzinha estivesse aqui — comentou Dingo. — Ela ia adorar ver os heróis da organização e daria todo o papo de serem os responsáveis por manterem a ordem no universo!

Todos se afastaram e a nave aterrissou na rua. Dante, Dingo e a multidão aguardaram a saída dos oficiais. Com o tempo, dois deles saíram.

Vestido com um moletom preto, e por cima um casaco de couro longo, o de cabelo laranja, tinha olhos marrons, pele alva, e usava piercing na boca e na sobrancelha direita. Em suas orelhas haviam brincos de ouro no formato de sol,

Já o outro tinha cabelos pretos compridos, e usava uma maquiagem de palhaço no rosto. Ele se vestia com um moletom preto, com a Sigla PP, no lado esquerdo do tórax.

— O quê?! — Dingo se destacou. — Miramos nos agentes de Piece Patrol e vieram foi o pica-pau e o urubu!

Com uma velocidade assustadora, o homem de moicano apareceu na frente do Dingo.

— Temos um engraçadinho aqui. Se sou um urubu, significa que posso comer sua carniça, não é, criança?

Espantado até os ossos, Dingo olhou para Dante.

— Me ajuda!

— Tô fora! — gesticulou.

O oficial teve um calafrio terrível quando focou no jovem ruivo, foi imediato o efeito da semelhança dele com alguém que conhecia.

Hipnotizado pela estranha sensação, o policial invocou uma espécie de espada de água Para cortar a cabeça dele. A velocidade foi assustadora ao ponto do Dante só poder visualizar a lâmina indo ao seu pescoço enquanto a pressão da morte se intensificava sufocante.

— Calma, novato! São apenas crianças!

O oficial de cabelo laranja se moveu em um piscar de olhos e apareceu do lado do colega, segurando-o pelo braço. Ao perceber o erro que ia cometer, o oficial se ajoelhou.

— Uh?... Ah! Perdão, mestre! Me precipitei! Não sei o que aconteceu para eu…

Com o clima estranho, o subordinado se desculpou aos jovens — ainda incrédulos.

Tendo sido tudo bem resolvido ou não, era necessário prosseguir com o trabalho. Após dar algumas tossidas para ganhar a atenção da população e diminuir os murmúrios incrédulos da quase tentativa de homicídio, o oficial de cabelo laranja fez seu discurso:

— Olá, cidadãos da pacata Cidade Central! Eu sou um oficial de Piece Patrol, Fenícios Flame; e este é o meu assistente, Kyros, que foi recentemente promovido para sua posição atual. A partir de agora seremos responsáveis por investigar o ocorrido, peço encarecidamente que se retirem do local e me desculpo pessoalmente pelo vexame causado pela inexperiência deste pupilo talentoso.

Sem questionar, os civis obedeceram e saíram.

— E vocês, pivetes? — disse Kyros, frustrado com a situação. — Não ouviram o comandante?

Independente da ordem ou da quantidade de policiais ao redor, Dante manteve-se à frente e numa postura reta de braços cruzados. Sua expressão estava séria como o presságio de um grande caçador de problemas.

— Você quase me matou, seu patife! Um símbolo da justiça universal faz isso e depois é só isso o que tem a dizer?! Sua vergonha!

— Ei… ei! Dante!— Mesmo que Dingo entendesse a reação do amigo, ficou nervoso por saber com quem ele mexia.

— Huh!? Seu…! — Kyros fez uma cara feia, desacreditado e irritado ao ponto das veias incharem.

O oficial Fenícios se aproximou com um sorriso humorado.

— Então aquilo não basta, pois o que mais você quer?

— Mostrem sinceridade!!

Com a voz ensurdecedora, Dante marcou em definitivo sua presença na memória dos dois membros do Piece Patrol. Era apenas o começo do seu envolvimento no caos desse longínquo e perigoso universo.

 

 

 

 

 

 



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