Volume 1 – Arco 1
Capitulo 10: Quando a Formiga Ataca!
Dingo afundou na cadeira da última fileira, os braços cruzados sobre a mesa, enquanto encarava o vazio. Sua perna balançava inquieta, refletindo a tempestade de pensamentos que rodopiavam em sua cabeça.
Como é que ele ia falar com Dante depois de um dia inteiro sem trocar uma palavra?
Murmurou a primeira tentativa, quase sem perceber:
— Dante, meu brother! Quanto tempo! Tá mais bonito hoje!
Assim que as palavras saíram, ele travou. Sua própria cara se contorceu em uma expressão de nojo, e ele sacudiu a cabeça.
— Ai, dento! Parece até que eu tô dando em cima dele!
Passou as mãos pelo rosto, respirou fundo e tentou de novo:
— E aí, ruivo! Quem te deu autorização pra vir pra escola sem mim?
O pensamento bateu forte. Dingo sentiu um arrepio subir pela espinha, e seus olhos se arregalaram.
— Não, não! Assim ele vai me dar um soco!
Frustrado, jogou as costas contra a cadeira e cobriu o rosto com as mãos. Quando afastou os dedos, seu olhar caiu sobre o braço da carteira. Ele ficou ali, encarando o nada, enquanto um desespero crescente tomava conta dele.
— Meu Deus… o que eu vou falar pro rei da ignorância?
Um aroma cítrico invadiu o ar, doce e fresco, como as rosas do jardim das mansões no caminho da escola. Dingo inspirou fundo, fechando os olhos devagar.
De repente, ele não estava mais ali.
Em sua mente, corria por um imenso jardim de rosas, o vento suave balançando as pétalas ao seu redor. No fim do caminho, uma donzela de vestido azul cintilante o esperava. Seus cabelos verdes dançavam com a brisa, e o coração de Dingo disparava à medida que se aproximava.
Então, tudo se desfez.
Quando voltou a si, estava de joelhos no meio da sala. Bem à sua frente, a jovem novata de cabelos verdes o encarava, olhos arregalados, completamente chocada.
Dingo piscou, a ficha caindo como um trovão. Seu peito subia e descia rapidamente, e ele sentiu um nó se formar em sua garganta.
— Ja... Ja... Ja... Jade Kross... — a voz falhou, e ele engoliu em seco, lutando para continuar. — Na... Na... Na minha escola?
Ele passou a mão pelo rosto, como se precisasse se beliscar.
— O que tá acontecendo? Se esse for um sonho... — olhou para cima, quase implorando. — Eu não quero mais acordar, meu Deus!
Franzindo a testa e olhando Dingo com desprezo, a jovem cerrou os punhos. Seu instinto era socar a cara dele até não conseguir mais vê-la, mas, em seus pensamentos, se questionava: um gesto de violência contra um nanico como ele só mostraria o quanto ela era infantil.
Jade franziu a testa, os olhos se estreitando enquanto encarava Dingo com um misto de desprezo e incredulidade. Seu maxilar travou, e os dedos se fecharam com força ao lado do corpo.
Seu punho direito coçava para se mover; a vontade de socar aquele nanico era quase irresistível. Só precisava de um único golpe bem dado para apagar aquela cara esbugalhada da sua vista.
Mas então, um pensamento a fez hesitar.
Suspirou, irritada. Agredir um baixinho daquele tamanho só provaria o quão infantil ela ainda era.
— Menino, o que você está fazendo? Parece que nunca viu uma menina na vida! — Jade cruzou os braços, olhando para Dingo como se ele fosse a coisa mais absurda que já tinha visto.
Antes que ele conseguisse responder, uma risada baixa cortou o ar.
Dante, encostado na carteira, abriu um sorriso maldoso e lançou a provocação:
— Do mesmo tamanho que ele? Acho que é a primeira vez!
O tempo fechou.
Jade virou a cabeça lentamente na direção de Dante, os olhos faiscando. O ar ao redor pareceu pesar, e até Dingo, ainda no chão, sentiu um arrepio subir pela espinha.
Jade arqueou uma sobrancelha, virando-se completamente para Dante. Seu olhar percorreu os cabelos e olhos vermelhos do colega e então —
Um flash.
A imagem turva de um homem de cabelos vermelhos surgiu em sua mente, tão rápida quanto uma lâmina atravessando o ar. Seu peito se contraiu por um instante.
Ela piscou, fechando e abrindo os olhos com força. Não. Não ia comparar os dois só pela aparência.
Soltou o ar lentamente e deixou seu olhar descer até o corpo franzino de Dante. Então, um sorriso debochado surgiu em seus lábios, seguido de uma risada curta e carregada de desdém.
— Cala a boca, NPC. Você nem protagonista da própria vida é, então fica na sua antes que eu te faça desaparecer do cenário.
As palavras de Jade cortaram Dante como uma lâmina afiada, atravessando seu peito e atingindo algo profundo. Seu coração deu um salto doloroso e, por um instante, tudo ao seu redor sumiu.
Luna.
A memória veio como um golpe, pesada e implacável. O fracasso, a culpa, o peso de não ter conseguido salvá-la.
Seus olhos se arregalaram, um brilho furioso queimando neles. Os punhos se fecharam com tanta força que seus dedos ficaram brancos. O corpo se moveu por instinto, as pernas prontas para levantá-lo da carteira.
Mas antes que pudesse reagir, uma mão firme pousou em seu ombro.
— Ya basta. — O professor avançou rapidamente, posicionando-se entre os três com uma expressão severa. Seu olhar passou de um para o outro antes de soltar, com um sotaque carregado:
— Esta discusión... ahm, esta discussão termina aqui! Señorita Jade, busca una cadeira y sienta-te. Pequeno marciano, volta para su asiento... ah, assento! Y tú, ruivo, nem pense em se levantar dessa carteira, para su próprio bien.
Dante franziu a testa. O jeito que o professor disse aquilo parecia mais uma ameaça do que uma ordem.
O professor, por outro lado, soltou um longo suspiro, visivelmente aliviado. Balançou a cabeça e resmungou:
— Garotinho ruivo... yo te vejo sendo espancado por essa selvagem! Mejor fica sentadito, niño... talvez ella se esqueça que tú existes, La campeona invicta del torneo de artes marciales, Jade La Diosa.
Por ironia do destino, o único assento que restou foi ao lado de Dante, onde geralmente Dingo sentava.
Ignorando Dante, Jade colocou seu material na carteira e se sentou sem sequer olhar para ele.
O ruivo, por outro lado, com um olhar flamejante, continuou a encarar a menina. Cerrando os punhos, decidiu que resolveria suas diferenças com ela no final da aula.
No canto mais afastado da sala, do lado oposto de Dingo, uma jovem de longos cabelos brancos estava debruçada sobre o braço da carteira. Pressionando o rosto contra a madeira, lágrimas deslizavam por seu rosto lunariano enquanto ela observava tudo em silêncio.
Em sua mente, imaginava um cenário diferente: nele, ela se aproximava do ruivo, que estava com uma expressão triste, sorrateiramente, e o surpreendia com sua presença. Ele pulava de alegria enquanto a abraçava, e ela, com um sorriso largo, sentia-se satisfeita.
Cerrou os punhos, lançando a Jade um olhar carregado de ódio, como se quisesse destruí-la.
O sino tocou.
O professor enxugou o suor que descia de sua testa com um pano, sua expressão era de puro alívio.
Jade abriu sua mochila rosa e tirou uma lancheira combinando, estampada com um unicórnio.
— Enfim, hora de repor os carboidratos — disse Jade, com um sorriso largo.
Dante, por outro lado, mantinha uma expressão sombria, e seus olhos vermelhos lembravam um eclipse lunar. Estava de braços e pernas cruzados, esperando a pequena Jade sair.
Luna observava Dante ainda dentro da sala, assustada com a expressão sombria do amigo. Nunca se lembrava de tê-lo visto assim antes.
Naquele olhar repleto de ódio, enxergou o reflexo dos olhos sombrios de seu guardião.
Apertou o peito, tomada pelo medo. Temeu que o futuro de seu amigo fosse coberto de sombras, assim como o de seu guardião.
Enxugando as lágrimas, tomou uma decisão em silêncio.
— Eu sei que meu tio é um homem triste porque ninguém o impediu de entrar na escuridão! Não vou deixar que o Dante siga o mesmo caminho. Tomei minha decisão: preciso ficar forte para impedir meu amigo de cair nas trevas.
Por fim, Jade saiu. Com a cabeça erguida e segurando sua lancheira, passou por Dante sem ao menos olhá-lo, como se ele fosse apenas uma parede.
Dante, com as costas escoradas na parede, seguiu a jovem de cabelos verdes, caminhando lentamente, de braços cruzados.
Luna saiu da sala e, escondendo-se atrás das colunas do colégio, seguiu seu amigo.
Jade caminhou até a quadra de futsal do colégio, uma estrutura verde de concreto.
Sentada nos degraus da arquibancada de alvenaria, abriu a lancheira com os olhos brilhando de alegria e tirou um hambúrguer recheado de carne e verduras.
— Eu esperei muito tempo por isso... Obrigado, Senhor, pela comida!
Antes que Jade pudesse dar a primeira mordida, um chute atingiu suas mãos, lançando seu hambúrguer para o alto.
O hambúrguer despencou do céu como um granizo.
Jade acompanhou a queda de seu precioso lanche com os olhos. Quando ele caiu exatamente na lixeira, ela ficou sem reação por alguns segundos.
Dante, de braços cruzados e um sorriso malicioso, zombou de Jade:
— Acho que aquele hambúrguer era grande demais para uma formiguinha como vo—
Um soco acertou a boca do ruivo, interrompendo sua fala e lançando-o como uma bala para o meio da quadra.
Dante rolou pela quadra de concreto como um pneu desgovernado. Tentou parar, mas a força do soco parecia o impacto de uma explosão.
Depois de rolar dez vezes no chão, o ruivo enfim conseguiu parar. De bruços, com a farda suja e os braços arranhados, tentou se recompor.
Jade saltou do lugar onde estava e aterrissou no meio da quadra, próxima de Dante. No impacto, pequenas rachaduras se formaram no chão.
Levantando-se do chão, o ruivo sacudiu a poeira da farda, tentando disfarçar o choque ao ver a baixinha saltar cinquenta metros antes de aterrissar no meio da quadra.
Os olhos violetas de Jade brilhavam como os de uma fera. Seus músculos se expandiram, e veias sinistras saltaram em seu rosto e braços.
Apontando para Dante, a pequena jovem de cabelos verdes falou com a voz pesada:
— Desde o começo, eu me segurei para não bater em um figurante inútil como você. Mas agora que jogou fora meu carboidrato e estragou minha dieta... Vou te mostrar quem é a verdadeira formiga aqui!
Dante alinhou os antebraços rente ao rosto, flexionando as pernas. O ruivo estava em alerta com a demonstração de força da baixinha e, mesmo assim, não deu o braço a torcer.
— Pensa que eu fiquei com medo depois que você me lançou a cinquenta metros de distância com um único soco? Isso porque você nunca viu um monstro na sua frente!
Dando um sorriso de deboche e saltitando levemente para se aquecer, Jade respondeu:
— Eu convivo com um monstro de cabelos vermelhos desde que era recém-nascida.
Dante avançou contra Jade, desferindo um soco com o braço direito. A menina aparou o golpe com extrema facilidade usando a mão esquerda e contra-atacou, acertando a palma da mão direita contra o tórax dele.
O impacto do golpe fez Dante recuar cerca de um metro. Mesmo assim, o ruivo conseguiu se equilibrar rapidamente, mostrando sua resiliência, e voltou a posicionar os antebraços em defesa.
Jade abriu um sorriso, e sua expressão mudou de ódio para empolgação.
— Nada mal, cabeça de tomate! A maioria das pessoas que eu enfrentei não resistiu nem ao primeiro golpe!
Dante flexionou as pernas, levando o antebraço direito à altura da cintura.
— Vai precisar de mais de cem golpes como esse para me derrubar!
Ele investiu contra a baixinha com mais velocidade, iniciando uma sequência de socos rápidos, tão velozes que pareciam formar dezenas de braços.
Jade, por sua vez, desviou de cada golpe como se estivessem em câmera lenta, demonstrando sua experiência em batalhas.
Dante percebeu que não conseguiria acertá-la com aquele ritmo e reduziu a intensidade dos ataques, criando uma brecha. Jade aproveitou a abertura e desferiu um chute lateral com a perna direita.
O ruivo conseguiu erguer o braço esquerdo rente ao rim para se proteger, mas, ainda assim, foi arremessado ao chão a cerca de dois metros de distância.
Com as mãos na cintura e um sorriso debochado, Jade provocou:
— Você realmente não consegue ficar de pé... precisa tomar mais cálcio!
Caído de costas no chão, Dante segurou o braço esquerdo com a mão direita, sentindo uma dor latejante.
— Caramba... essa menina tem a força de um gorila, quase quebrou o meu braço...
Num salto ágil, quase como um mortal, o ruivo se ergueu e voltou a avançar contra Jade. Quando chegou perto, jogou as palmas das mãos ao chão, sustentando-se sobre os braços, e começou a girar com as pernas abertas, formando um minitornado.
Jade cruzou os braços, esperando a investida. Não pretendia se esquivar.
O minitornado desapareceu no instante em que a perna direita de Dante atingiu o braço esquerdo de Jade. A força daquele golpe não foi suficiente nem para tirá-la do lugar.
Dante rolou para trás e se levantou rapidamente. Já estava ofegante e, com o orgulho ferido, correu novamente na direção de Jade, concentrando toda a sua força nos dois punhos.
Seus socos eram tão rápidos que pareciam centenas de braços atacando ao mesmo tempo.
Jade, no entanto, bloqueava cada um dos golpes com um movimento circular dos braços, como se os visse em câmera lenta.
Então, deixou um dos socos acertar seu rosto de propósito, criando uma abertura. No mesmo instante, ela contra-atacou, desferindo um soco com o punho esquerdo diretamente no estômago de Dante.
O ruivo sentiu o impacto atravessar seu corpo como se tivesse sido perfurado. Seu rosto empalideceu, e ele caiu de joelhos, apoiando as mãos no chão antes de vomitar.
Jade permaneceu firme, com apenas um pequeno arranhão no rosto.
— Acho que agora você aprendeu a lição: interfira na dieta de uma garota e terá que enfrentar o gorila adormecido dentro dela.
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