Volume V – Arco 15
Capítulo 156: APÊNDICE.III (A Profecia)
DIA 2, NOVO CAMINHO
NOITE DAS SOMBRAS (19h57)
No coração de uma antiga academia Shiro, bem onde os jovens treinavam suas habilidades para o deleite de seus professores, Imichi se via diante do homem que batalhou os últimos dias para encontrar. O Cônsul Kuro estava acompanhado como sempre de seus tenentes, o mascarado Nobura e o feiticeiro mestiço Seth, que fechava o portal que mostrava Yanaho correndo.
— Como você descobriu o Templo de Adamu?
— Aquela não foi minha última incursão aos Shiro. Graças à Nobura, minha presença lá não passava de uma memória esquecida para as testemunhas. Aprendi muito sobre sua história, seus costumes até encontrar aquele mural colorido.
— Conhecer a profecia ou não significa poder mudá-la — afirmou Imichi — Decidir o futuro recai sobre os dois garotos, não você.
— Você se engana ao pensar que compartilho de suas mesmas crenças, Shiro — Itoshi dizia, assistindo o mirim pelo portal — Eu acredito nesta profecia tanto quanto creio em seu conto de fadas de harmonia entre as cores.
— Então por que agir como se ela fosse real?
— Porque sua civilização foi fundada debaixo disso. A fé das pessoas torna isso real o bastante para existir, acreditam que não precisam ver para crer — erguia os dois braços — e por isso não é inevitável o suficiente para me impedir, já que não precisam ver o que faço, só acreditar.
— Não é por que as pessoas acreditam que se tornou realidade, é o contrário — apontou com o dedo — você acabou de dizer que nossa civilização foi fundada a partir disso, isso só prova que a profecia é real.
— Eu tenho uma história sobre profecias. Veja, com o passar dos anos diferente do seu povo, os Kuro nunca se unificaram em uma religião oficial. Pelo contrário, cada sacerdote ignorante criava a sua própria interpretação estapafúrdia dos eventos que nos colocaram na sarjeta da história. A fundadora Ibu podia ser bem cruel.
— Ibu não responde pelos erros de seus sucessores.
— Se a responsabilidade não cai na pessoa pelo qual eles cometem essas atrocidades, sobre quem recai? Sermões dos sacerdotes pregavam sobre o castigo que vivíamos pelo desvio do caminho de meu povo, e tudo isso em nome de Ibu. Esse era o jeito da Ordem nos botar na linha, como um pai que corrige seu filho.
— Seus sacerdotes estavam errados. A opinião deles não me interessa.
— Vai interessá-lo em breve. A promessa de minha congregação era que se nos rendessemos e aceitássemos nosso fardo, haveria um futuro para as próximas gerações. Mas nós que estamos aqui, já estávamos condenados. Isso não lhe parece conveniente?
— E então seu grande plano é terminar de condenar o mundo inteiro?
— Errado. Ele prometeu uma calamidade no presente — bateu no peito — E eu a trouxe! Os Kuro vão sofrer? Que seja na guerra. Não existe profecia, não existe salvação, nem Ordem. Existem pessoas agindo conforme acreditam, inventando justificativas para quando as coisas não vão como querem. Tudo que eu fiz foi me tornar o que as expectativas delas precisavam que fosse para combinar com as narrativas delas.
— E como isso se aplica ao mural dos fundadores? Yanaho e Suzaki são bem reais. Suas histórias batem com as pinturas precisamente, até suas cores. Espere… então por isso transformou Suzaki em um súdito? Quer se apropriar dos garotos para moldar o futuro.
— Você é tão cínico, Shiro — Itoshi riu de deboche — Acho que isso vem do seu povo. Os meninos são inúteis, um capricho. Mas você está omitindo um detalhe do mural. Nossos escolhidos precisam de um instrumento para criar esse futuro, ou devo dizer “iluminar a estrada para harmonia”. O Prisma.
— Todas essas visitas aos Shiro para falhar em uma interpretação tão básica. O Prisma foi um instrumento usado e descartado da Antiguidade, feito para gerar as cores primordiais a partir das divinas. Sua representação no mural simboliza apenas que a caridade dos fundadores gerou as cores que permitiram Yanaho e Suzaki existir.
— Errado. Estamos lutando em cima das terras que seu povo habitou para construir uma fortaleza para o Prisma. Mais que uma fortaleza, eu diria, uma cripta. Sua laia ocultou suas técnicas para manter esse instrumento inacessível.
— Isso é ridículo. Nem todos estão prontos para a sabedoria Shiro, porém isso nunca significou isolamento. Os meninos são a prova de que escolhemos sucessores fora dos nossos.
— Eles podem ter suas técnicas, mas nunca serão um de vocês. Como nós seus irmãos os Kuro nunca fomos — retirava um livro de um dos bolsos — mas ainda assim temos nossa glória passada.
O livro sujo evidenciava um desenho triangular em dourado em sua capa dura, ao tempo que Itoshi concluiu:
— Tudo vai acabar quando eu puser as mãos no tesouro do seu povo. O Prisma está aqui e quero provar do limite do poder que fundou a Era das Cores Primordiais.
— Eu saberia se ele estivesse… — engoliu suas próprias palavras — com o Prisma existindo ou não, a profecia ainda permanece intacta. Novamente só está dando mais indícios de que este destino é o único e real.
— Então eu serei o destino. Sobrou algum clichê de pé para me entreter, Shiro? — fez sinal para o feiticeiro — Ou podemos pular para o desfecho final?
Seth não escondia a satisfação no pedido de abrir um novo portal. Com uma mão por cima do olho, ele já sabia o que estava prestes a revelar. Os olhos de Imichi cresceram ao olhar pela fenda recém-aberta: Suzaki em uma cratera diante de Yanaho no topo dos entulhos.
A pequena presença do antigo amigo fazia o coração de Yanaho martelar seu peito. Seu alvo estava ali, parado, esperando pelo próximo passo. As nuvens sumiam junto a chuva que caia. Ainda havia chamas remanescentes do ataque dos Senshis, espalhados pelo ambiente.
“Eu ainda não sei o quanto as minhas técnicas Shiro me machucam. Pode ter sido só naquela luta em Doa”, uniu as mãos por um momento saltando para trás dos destroços. “Vou saber meus limites e os dele nesse primeiro ataque”.
O ar vibrou entre as cavidades da cratera, saltitando os pedaços de telhado, colunas e paredes ao redor do buraco.
— Kazedamu.
O pequeno empurrão do ar jogou os restos do templo ladeira abaixo, a gravidade fez o resto, lançando tudo ao mesmo tempo contra Suzaki. A técnica arranhou a pele de Yanaho superficialmente. O mirim arregaçou as mangas para ver, porém tão rápido a dor surgiu, seu corpo cobriu os machucados.
— Você veio aqui por que se lembra? — gritou ao oponente logo abaixo.
Uma avalanche vinha na direção do príncipe renegado. Usando sua espada como impulso, ele saltou por cima da primeira onda. Arremessando sua arma ele se puxou pelas cordas de energia gerada em seus dedos, escapando da segunda onda. Finalmente, quando o topo estava ao alcance, ele saltou sobre os destroços no ar um após o outro, planando sobre um Yanaho boquiaberto.
Mal deu tempo para o mirim puxar sua espada e defender seu pescoço do corte descendente de seu oponente. Agora nivelados, os dois colidiram suas lâminas uma primeira vez. A eletricidade de Suzaki trazia aquele formigamento nos dedos de Yanaho.
Uma dor subia pelos braços, anestesiando os músculos, deixando seus movimentos mais devagar. Sua aura vermelha lutava contra qualquer ferimento ermitindo uma segunda, terceira e até quarta defesa. Mesmo assim, cada uma estava um segundo mais lenta, enquanto a velocidade de Suzaki crescia com a frieza de um predador.
Com um breve recuo, Yanaho preparou um contra-ataque. Suzaki mordia a isca, o perseguindo.
— Vai ficar nesse silêncio? — provocou Yanaho, acertando a defesa imediata de Suzaki — Eu te fiz uma pergunta, não está ouvindo?!
O primeiro golpe bateu na direita de Suzaki. Yanaho preparou um segundo na esquerda, mas seu braço foi puxado por algo no ar. Era sua espada, sendo atraída para perto da lâmina inimiga de duas pontas.
O aprendiz de Onochi mudou o peso da sua passada para absorver o impacto entre as armas. Depois ele sentiu aquela mesma força puxá-lo pela fivela do seu cinto. Ele então uniu as mãos para lançar outro kazedamu.
“Droga. De perto essa força dele não me deixa fazer nada. Quer saber, tenho que partir para outra coisa”, olhou para os pequenos incêndios ao redor. “Ainda não domino o fogo como queria, mas talvez isso funcione!”
Suzaki vinha caminhando na direção de Yanaho, quando os ventos do kazedamu do mirim circularam pelos focos de incêndio ao redor da terra arrasada pelo combate. A corrente de ar direcionava o fogo para as mãos do jovem Aka. Duas bolas de fogo, contidas pelo vento. Seu rival, por outro lado, havia parado de andar.
Com o primeiro arremesso do ataque, uma corrente de água subiu das rachaduras do chão. As chamas se extinguiram no contato. Yanaho se moveu para o lado, buscando uma abertura mas as águas o seguiram.
“Como assim ele consegue usar água de repente?”, desviava das pequenas ondas que vinham na sua direção.
Yanaho reuniu mais do fogo com seus ventos, gerando uma parede de fogo de encontro a onda. O impacto evaporou parte da água, que por sua vez extinguiu completamente as chamas. A névoa temporária era reunida por Suzaki, criando uma nuvem suspensa algumas centenas de metros acima dele. Yanaho apareceu à sua esquerda da névoa, carregando um fio de fogo com seu vento, como uma linha.
— Pensa que só você aprendeu coisas novas?
Liberando a contenção de vento ao redor do fogo com um movimento do braço, Yanaho incendiou tudo que estava na sua frente. Mesmo assim, tudo que sobrou na frente dele era vapor. Ainda havia água para proteger Suzaki, cuja nuvem bem acima já cobria a lua que dava as caras no céu após a nevasca.
— Voltou por que se sente culpado? Não precisa. Eu sou a única punição que você vai precisar. E a última. Isso acaba hoje, me ouviu bem?
Por sua vez, Yanaho arregaçou as mangas mais uma vez. Sua palma queimava com o calor do último ataque e as feridas do kazedamu levaram um segundo a mais para se fechar.
“Preciso achar uma brecha para o kazeyari para acabar com isso. Quanto mais essa luta durar…”, um pequeno relâmpago piscou na nuvem próxima. “Lá vem ele”
O raio desceu na direção do mirim que desviou facilmente. O disparo não foi contínuo, perdendo força no instante que tocou o chão. Mesmo assim, a nuvem o seguiu, precipitando uma cordilheira de pequenos raios que o obrigou a correr.
Mesmo em fuga, o mirim não tirava os olhos de Suzaki. Quando a nuvem passou por cima da cabeça de Yanaho, chegando na sua retaguarda, o súdito arremessou sua espada. Yanaho rolou, pelo chão, vendo a espada se perder nas nuvens.
Desarmado, com sua mão ainda emanando os fios que o conectavam à sua arma, o Suzaki avançou com um chute. Yanaho segurou seu pé, enquanto deslizou sua lâmina em um corte horizontal com o braço livre. Antes que pudesse fazer contato com seu oponente, a lâmina do súdito voltava a ele cintilando em azul.
O impacto entre as armas trouxe de volta um formigamento mais forte. A lâmina de Suzaki brilhava com mais intensidade. No segundo golpe, seus músculos travaram, forçando seu braço a desistir da perna do inimigo. No terceiro ataque, Yanaho foi lançado pelo chão rolando. Olhando para sua espada, encontrou rachaduras nela.
“Em Nokyokai, a arma dele não ficava carregada assim. Aquele arremesso não foi na minha direção… ele jogou ela na nuvem pra isso?”, suspirava fundo. “Mesmo que eu aguente, a minha espada já não tá inteira”
Olhando para trás, ele reparou na nuvem mudando de direção para ficar bem acima dele, em vez de na retaguarda. Sua aura lutava para neutralizar a corrente elétrica em seus músculos, o colocando de pé novamente.
— Eu já entendi o seu jogo — guardou a espada — depois de tanto me enganar, não vou cair mais nessa!
Respirando fundo, ele uniu as mãos à outra vez. O súdito ficou a espera do ataque, mas o mirim apontou o braço para o céu:
— Kazeyari.
A lança de ar cortou a nuvem em dois, revelando de novo para a lua no céu. Suzaki ergueu a vista por um instante para ver a luz vazando por entre as nuvens, antes de avançar contra seu oponente, que já iniciou sua fuga para os portões de um de santuário atrás dele.
Escancarando as portas, ele defendia os arremessos da espada de Suzaki, depois os chutes e outro golpe assim que a lâmina voltava para as mãos do súdito. A sucessão de golpes mandou o mirim para os fundos do altar. Ele se levantava aos poucos para avaliar a sala bem iluminada pelas grandes janelas em cada lado.
Uma vidraça atrás dele reluzia a luz no céu noturno, mas logo estava sendo coberta pelas nuvens que circulavam o prédio. Suzaki andava na direção de Yanaho bem no meio entre as duas fileiras de bancos.
Sua aura azul revelava os ornamentos dourados do púlpito, bem acima do mirim estavam as esculturas na parede que indicavam um homem e uma mulher lado a lado, com um cristal no meio deles. O olhar curioso do mirim logo foi quebrado pela dor que sentia ao ficar de pé. Era seu antebraço, dessa vez sua aura não tinha mais forças para fechar a ferida.
“O kazeyari me custou muito, mas ainda tenho mais de onde veio esse… vou até o fim!”
De repente, um relâmpago rompeu a janela mais próxima do altar. Yanaho buscou refúgio na mesa atrás de si. A chuva agressiva penetrava pelas janelas, os trovões estremeciam o lugar, que antes era iluminado pela aura dos lutadores, passou a clarear somente nos lampejos dos relâmpagos do céu.
Ouvindo os passos de Suzaki mais fortes, Yanaho saltou por cima da sua cobertura para atacá-lo, mas logo sentiu o puxão na sua espada. Seu oponente ficou parado, enquanto sua aura azulada mudou de forma como uma bolha arrastando tudo que era de metal na sua direção.
Correntes se desprendem das paredes, até o púlpito e todo o altar parecia se mover ao controle de Suzaki. Yanaho lutava contra o puxão, mas até a peça que prendia sua a capa soltou, separando-a de seu dono. Seu cinto era o próximo item na fila, quando decidiu apenas lançar mão de sua espada.
A lâmina voou até Suzaki, que desviou com a cabeça. Yanaho veio logo em seguida com uma rasteira da qual seu adversário saltou por cima. No breve instante em que um ficou de frente para o outro, o príncipe viu o mirim unir as mãos. Ele não teve escolha a não ser repetir o gesto.
— Kazedamu — disseram em uníssono.
Os ventos terminaram de destruir as janelas. A técnica combinada de ambos gerou um pequeno redemoinho que varreu os bancos. No meio do caos, Yanaho pode ver o súdito recuando com a mão no braço. Os dois trocaram olhares, só que dessa vez Suzaki escolheu lançar os metais ainda sob seu controle.
— Forte o bastante para controlar tempestades, mas fraco demais para lançar um sopro — provocou Yanaho, desviando do púlpito — diferente de você, não preciso de uma arma para vencer!
Uma linha de energia ligava o objeto que passava por cima de Yanaho às mãos de Suzaki. Olhando para trás, o garoto viu a espada de duas pontas fincada no púlpito. O súdito se puxou na direção do alvo como um estilingue, pegando sua arma no meio do ar e descendo com um golpe.
O mirim esquivou, carregando um soco no lado exposto, que foi respondido com um chute alto no rosto. O golpe trocado mandou Yanaho girando para um lado e Suzaki se apoiando na sua espada para o outro.
Sem tempo a perder, Suzaki voltou ao ataque com corte lateral, mirando no pescoço de seu inimigo. Yanaho ergueu os braços, aparando com as abraçadeiras de seu uniforme. O impacto o jogou contra uma das paredes, seguido de mais um golpe alto, também defendido pelos braços, mas agora o mirim estava prensado. Girando o corpo, ele esquivou do movimento completo do golpe, que arrancou um largo pedaço da parede.
Enquanto recuava, Yanaho buscava a espada que havia perdido pelo chão. A chuva alagou as extremidades do templo, alguns objetos boiavam, mas nenhum se parecia com sua arma. Até que um trovão anunciou o próximo movimento de Suzaki. Com um salto para a estátua do homem no fundo do altar, Yanaho escapou da eletrocução.
“Ele não responde a nada que falo, nem mesmo sua expressão muda… A intenção de seus ataques é a mesma que a minha.”
Com uma vista melhor da sala, Yanaho encontrou sua espada do lado esquerdo do altar.
— Pode tirar essa cara de convencido — provocou — você não é o único que veio sabendo que dessa vez não haveria dois vencedores.
Com um gesto da mão, Suzaki enviou mais um relâmpago. Yanaho saltou da estátua, caindo em rolamento até se aproximar da espada, mas o súdito do caos atacou antes. Pela sombra da lâmina fria de Suzaki descendo contra ele, o mirim puxou um castiçal de bronze do chão, no meio dos metais atraídos por seu inimigo há pouco tempo.
O instrumento da igreja foi suficiente para absorver o impacto do golpe, criando abertura para preparar um soco com o punho brilhando em vermelho. Com um giro da outra ponta, Suzaki absorveu o golpe antes de girá-la numa hélice que despedaçou o castiçal. Yanaho fez sua guarda estendendo punho Rubi para o restante de seu braço esquerdo, empurrando o oponente suportando o contato com sua arma. A distração com seu antebraço, deu a brecha para puxar uma faca de seu bolso.
Suzaki deixou que Yanaho o empurrasse só para tomar impulso e afastá-lo com um chute em seu estômago que o lançou contra os bancos que sobraram na capela.
A espada saiu de seu alcance, porém sua capa que havia escapado no começo da luta estava ali, ao alcance da mão. Mesmo assim, algo mais chamou sua atenção, as nuvens penetravam pelas janelas. Suzaki preparou um lançamento de sua espada, quando Yanaho se levantou armando outro kazedamu:
— Você não vai fazer isso de novo!
Yanaho gemeu lançando um vendaval imenso. As linhas de energia que ligavam a lâmina de duas pontas ao seu dono foram desmanchadas num instante, na medida que ele era lançado para o alto. Um pedaço do telhado do templo cedeu com a força do ataque também. Mesmo assim, a espada de fulgur do príncipe renegado foi atirada pela janela, se perdendo na escuridão da noite.
Enquanto isso, Suzaki trouxe para perto a água da chuva, criando uma bolha para amortecer sua queda após ser lançado pela ventania.
— Sua arma não pode te proteger para sempre, nem suas mentiras — ergueu os punhos — você traiu tudo o que prometeu, e vai pagar por isso!
A bolha se dissipou numa onda de água que afastou o mirim, ao mesmo tempo que o Súdito chamou outro raio do céu. Yanaho se apressou juntando as mãos percebendo o gesto inimigo. Suzaki antecipou o kazedamu evasivo, se projetando para frente. O relâmpago descia do céu no mesmo instante que o mirim apontou suas mãos para seu rival como uma lança:
— Kazeyari!
Um fluxo concentrado de ar acertou em cheio o peito do alvo, que se espatifou na estátua da mulher. O raio por sua vez errou o alvo por pouco, mas a descarga elétrica se espalhou pela água, lançando Yanaho com os músculos torcidos ao chão gemendo.
Os dois ficaram no chão, mas era o mirim que tinha uma poça de sangue sob seus cotovelos. As feridas das técnicas Shiro foram escancaradas pelo segundo kazeyari. Mesmo assim, ele se arrastou para recuperar sua espada, aproveitando a recuperação de seu oponente.
Quando Suzaki ficou de pé, sua camisa havia rasgado graças ao ataque sofrido. Um arranhão extenso cobria seu peito exposto. Ainda assim, sua expressão não indicava dor ou raiva. Ele apenas voltou a andar na direção de um Yanaho em guerra com seu corpo dormente.
“Sem mais kazeyari, a menos que eu queira abrir meus pulsos”, levantava sua espada suja do sangue que escorria por seu braço. “Droga, pensa em alguma solução, qualquer uma….”
Encontrando-se no meio da capela, os dois pararam a metros um do outro se enxergando por suas auras.
— Você matou sua família, inocentes e até mesmo meus companheiros. Era isso que tinha em mente quando falávamos sobre como as cores poderiam conviver juntas? Fazer uma pilha de cadáveres de cada uma delas?! — gritou correndo para uma ofensiva — Por isso vou garantir que hoje tirou sua última vida!
A espada de Yanaho parecia grudar em uma bolha invisível ao redor do inimigo. O mirim soltava a arma que pairou no ar, dando tempo para Suzaki entrar com uma joelhada, mas também concedendo ao mirim a chance de pegá-lo pelo pescoço:
— Acha que é digno de confiança depois de tudo? Que você não é próximo o da fila da morte dos Kuro quando tudo isso acabar? Ninguém confia em você! Vai ficar aí sem falar nada?!
Quando pegou sua faca no bolso de novo, Suzaki tomou o braço que o prendia com as duas mãos. Sua força sobrepujou a fragilidade do jovem Aka, o arremessando com tudo em um alicerce.
O aprendiz de Onochi tossiu sangue com o impacto. Ainda no chão pôde ver a mão estendida do príncipe renegado para o alto. As nuvens reagiam com raios, enquanto que os metais novamente ficavam sensíveis.
Pela segunda vez durante toda luta, Suzaki soltava sua voz em um gemido de esforço sua aura crescia como uma luminosa estrela no altar. As linhas de energia surgiam ao redor de seus dedos, chamando sua espada de algum lugar do lado de fora.
Com pressa, Yanaho se empurrou contra o chão para ficar de pé uma vez mais. Ele desviou do primeiro raio, que acertou no alicerce em suas costas. A falta do sustento fez desmoronar aquela ala do templo que engoliu o rapaz em seus destroços.
Sem um de seus pilares, o lugar começou a desmoronar, mas Suzaki ainda não tinha contato com sua arma. Ele saltou pela janela, correndo na direção que suas linhas apontavam, quando avistou algo ser cuspido para fora do templo como uma bala de canhão.
O príncipe renegado olhou para trás, de um lado para o outro, mas não encontrava Yanaho, continuando sua busca pela espada enquanto o procurava. Finalmente, descendo para o pátio externo logo na saída dos fundos do santuário, ele sentiu uma leveza em sua aura, sua arma finalmente estava a caminho.
“Esse foi meu último Kazedamu, e esse será meu último golpe”, pensava Yanaho descendo do céu com os punhos cerrados.
Com a mão livre, ele protegia os olhos da queda livre, mas com destino certo. Seu sangue Aka preenchia seus dedos de energia. O frio nas nuvens fazia casca nas suas feridas, ao mesmo tempo que sua velocidade arranhava sua pele com o calor. A única questão era se chegaria a tempo, antes que a espada de duas pontas voltasse ao seu dono.
“Se eu falhar aqui, não vou ter mais nada. Em todas minhas lutas até agora, eu me segurei, só que dessa vez não posso deixar nada na mesa. Sem arrependimentos!”, sua aura se misturou com a incandescência de sua queda. ”Essa é a minha chance, esse é o meu tudo!”
A velocidade da descida esmigalhava o corpo de Yanaho, que nos últimos momentos começava a gritar. Suzaki em último momento escutou algo cortando o ar do céu, ao olhar via o projétil vermelho como uma estrela cadente descendo em direção a seus olhos:
— Adeus, Suzaki!
Como um meteoro, o impacto do golpe afundou a terra soando e brilhante como uma explosão. O pequeno terremoto levou o pátio para as profundezas da Cidadela, junto com o templo em ruínas. Na superfície restou apenas um aglomerado de terra e escombros sem qualquer luz ou sinal de vida.
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