Volume V – Arco 15
Capítulo 153: OPERAÇÃO ECO.6.2 (Primeiro Abate)
O ar na academia abandonada era pesado. Qualquer passo, respiração ou movimento ecoava pela arena ocupada por quatro homens. A batalha que rugia na ilha ao lado estremecia as janelas.
— Cônsul Itoshi, certo? — Imichi abaixou levemente a cabeça, reparando na presença de Seth e Nobura — Vejo que trouxe seus homens de confiança, ainda que nunca tenha sido minha intenção ameaçar a sua integridade física.
— Isso será decidido ao final da nossa pequena conversa — respondeu Itoshi se inclinando para frente em seu trono — Foi para isso que me convidou, certo? Conversar?
— Quando estendi o convite, pensei que seria para evitar o conflito. Não necessariamente me tirar dele como fez agora.
— Perdoe-me, quer voltar para lá? — Itoshi ofereceu, mas Imichi não fez nenhum gesto em favor ou contra — Vai me ter em gratidão por ter ficado aqui, Shiro. Afinal, quantas pessoas têm o privilégio de ver o Cônsul Pontifício em pessoa, quanto mais ter uma audiência com ele?
— Eu queria poder enxergá-lo com os mesmos olhos, Cônsul, mas para mim essa audiência não é motivo de alegria, nem traz qualquer sentimento de privilégio. Estou aqui por urgência. Algo me diz que o senhor perdeu a noção do perigo ao começar esta guerra.
— Acusa-me de ignorância? Ou arrogância? Por acaso, um principiante teria tantas conquistas em poucos meses? Até mesmo minha última derrota tinha o propósito de facilitar a vitória de hoje.
— No começo toda nova força causa impacto. Só que uma guerra é uma maratona, não uma corrida rasa. E o esforço combinado dos exércitos aliados é demais até mesmo para seus súditos.
— Ousa lecionar sobre guerra para mim? — Itoshi riu — Por acaso viu a totalidade das nossas forças? O limite dos nossos súditos e pretorianos? Quem é o ignorante aqui? Se vai sair daqui com alguma certeza, quero que seja a de que temos poder de fogo para levar esse conflito por quanto tempo for necessário.
— Mas se a sua fala para a Matriarca for verdade, estamos falando de exterminar toda a população do continente!
— Isso é o que meus ancestrais foram covardes para fazer — Itoshi se levantou — Eles pensaram que paz e barriga cheia os satisfaria. Mas o último século deixou claro, vocês animais impuros preferem viver na lama, rolando no sangue um do outro à viver na prosperidade. São vermes, incapazes da vida civilizacional.
— Se o seu problema é com sangue, já derramamos demais dele nas Guerras Separatistas. Precisamos voltar a esse episódio da nossa história?
— Pois eu digo que derramamos de menos. Muito nosso, pouco de vocês.
— Por isso mesmo. Passou anos reconstruindo os Kuro para botar tudo a perder nessa guerra. Em caso de derrota, as consequências serão ainda piores que no passado. Se viesse à público negando as atitudes dos assassinos de Osíris e cooperando conosco, eu mesmo teria advogado em favor do seu…
— Seu auxílio político nunca foi requisitado. Não preciso dele, muito menos o desejo — Itoshi voltou a sentar, cruzando as pernas — Responda-me, como você imagina que era a vida dentro das muralhas? Antes de eu assumir os Kuro.
— Imagino que tenha sido terrível. Queria poder ajudar — olhou de canto para Seth.
— Novamente, simpatia não requisitada. Deixe-me ser claro, forasteiro, já que você tem dificuldade de compreender, de você não quero nada. Por mim, seu corpo estaria na neve apodrecendo junto com os seus, porém, infelizmente — olhou de canto para Nobura — concessões precisam ser feitas. E bem, como você desconhece a história do meu povo, e por consequência da sua própria raça, vejo em você o potencial de aprender com os seus erros do passado. Quem sabe, ao final, você entregue sua vida de bom grado.
— Então por que não me conta como chegamos até aqui? — questionou Imichi.
A provocação do homem da capa branca arrancou um suspiro suave de Itoshi antes de abrir seus olhos lentamente, lembrando-se do passado:
— Após as Guerras Separatistas, a população dos Kuro diminuiu significativamente. A população das cores primordiais, outrora mantida sob controle pelo governo universal, foi permitida a reprodução irrestrita por cortesia de seus libertadores: os Shiro. Nós os Kuro éramos uma sujeira no continente, que deveria ser varrida para debaixo do tapete.
“Desde criança ouvi histórias de quando a muralha foi erguida. De geração em geração, dos meus avós até o meu pai, aquele monte de argamassa e tijolos se tornou maior do que realmente era, como se nossa raça estivesse de castigo. Afinal, as nações foram bem claras: o exército Kuro não poderia passar de algumas dezenas de milhares. Nenhuma forja ativa, armas deveriam ser importadas e fiscalizadas. Nem mesmo a própria população poderia portar uma espada para se defender.”
Um homem saía de uma extensa fila que dobrava o quarteirão com sua mulher e quatro filhos. A menor criança estava no colo da esposa, duas se agarravam no seu vestido e o jovem mais velho era a sombra do pai. Com a mão livre, cada um trazia consigo uma tigela de comida, fazendo seu caminho de volta para casa quando foram interceptados na esquina.
Três homens desnutridos, com um andar cambaleante, suas colunas arqueadas e unhas grandes e tortas. Eles tinham pedaços de metais retorcidos, os balançavam como se fossem armas.
O filho mais velho reparou nas mãos do pai puxando um cutelo, enfiado entre as fivelas do cinto descascado. Seu brilho reluzente era algo inédito para os filhos. Num piscar de olhos, um dos assaltantes com seu peito jorrando sangue. A cena assustou não só os assaltantes como os membros da família, o alvoroço chamou atenção de guardas que correram na direção deles:
— Vão embora. Eles estão vindo.
— Mas e você pai? — perguntou o mais velho — De onde tirou isso?
— Sem conversa, Itoshi! Cuide de sua mãe e irmãos!
Itoshi obedeceu prontamente, a família fez sua corrida sem nem ao menos olhar para trás naquele dia.
“Eu, minha mãe e irmãos passamos dois dias sem suprimentos, desesperados e trancados em casa, esperando que o pior pudesse ter acontecido com meu pai. Mas ele reapareceu, dando aos mesmos homens de armadura tudo o que nos restava”.
Ele se lembrava do retorno de seu pai, destituído de seu cutelo, coberto de hematomas da cabeça aos pés. Entregando os móveis que restavam da casa.
“Aquela imagem me trouxe uma reflexão: Uma população em guerra consigo mesma podia ser a última coisa que o Rei queria, mas era o que ele mais manuseava. Caos interno significava a manutenção dos tratados, um ambiente perfeito para manter o controle.”
— Yushi! — gritava Itoshi pegando sua irmãzinha definhando numa nevasca.
Sua pele estava trincando como se estivesse congelada, seus olhos perdiam vida. Para o irmão mais velho só restou carregar a menina pelos ombros, enquanto derramava lágrimas solidificaram antes mesmo de escorrerem.
“Mas esse controle significava a miséria que levou meus irmãozinhos um a um, seja por arruaceiros, fome, doenças, eu via o mesmo olhar de desespero do meu pai daquele dia. Porém desde lá, sempre me questionei de onde ele teria tirado aquela arma, ele nunca mais retirou um cutelo de suas vestes para nos proteger, até o dia de sua morte, nos meus braços com o mesmo olhar de sempre.”
Choro era despejado por uma criança e sua mãe, enquanto o jovem Itoshi jogava a terra que havia cavado no túmulo de seu pai, ao lado de outros dois. Quando os três foram abordados por sujeitos de vestes longas e amarronzadas. Se encaminhando até eles, o filho mais velho se colocou na frente dos dois quando um cutelo idêntico a o que seu pai usava foi oferecido a ele por um dos membros do bando:
“Depois de falarem que não eram inimigos, me explicaram sobre o que realmente meu pai participava: Um bando de traficantes, que trocavam armas por serviços pequenos. Fui direto, em vez de pedir migalhas, exigi que me mostrassem a fonte de sua riqueza. Eu não tinha mais nada a perder, era jovem demais para sustentar a pobreza de minha mãe e irmã, só me restou ver o mundo que o Rei e os monges tanto queriam esconder de mim.
Deixei meu único irmão vivo para cuidar da minha mãe naquela noite, precisávamos ir e voltar naquela mesma noite, sem atrasos. As fronteiras das outras nações apesar de não terem muralhas, eram tão bem guardadas quanto a nossa. Porém uma delas era flexível e aberta mundo afora, pela sua política flexível.
Foi quando cheguei na cidade que visitamos nos Shiro, que meus olhos brilharam inicialmente, com a dança entre a natureza e as estruturas. Sem tempo para admirar, avançamos disfarçados com as túnicas e uma máscara de pano que o chefe nos deu. Era uma tarefa simples: comida nas bolsas, armas nos baús e dar o fora.
Tudo era ao contrário dos Kuro. Nossos olhos eram escuros, os deles brilhavam. Os mercadores gritavam para comprarem sua comida, em vez de nós imploramos para o guarda nos conceder mais um prato. Abundância, prosperidade e felicidade. Palavras que para mim eram tão abstratas ganharam vida na minha frente, e então o brilho na minha mente, aos poucos foram se transformando em ódio.”
O grupo se juntou rapidamente a uma caravana de pessoas vestidas iguais a eles. O destino era o maior prédio na cidade, um templo cercado por quatro pilastras em cada canto. Os quatro bandidos desceram para as catacumbas sozinhos, liderados por um mapa. O homem deslizava a parede em busca de algum mecanismo, até afundar um tijolo na parede e uma abertura aparecer.
— Costumamos demorar mais para despistar os outros sacerdotes — tirou uma bolsa de pano dos bolsos — Hoje tivemos sorte que ninguém fez mais perguntas.
— Isso tudo parece para algum tipo de cerimônia — Itoshi analisava a sala — Por que teria um arsenal num templo?
— Os Aka estão de visita, aqueles vermelhos não saem de casa sem trazer briga com eles — abriu as travessas e colocava toda a comida dentro da bolsa — Os sacerdotes não gostam então pedem que os visitantes deixem suas armas em um cofre para recolher depois.
— Parece com os Kuro.
— De onde você acha que nosso amado rei tirou essa ideia horrível? O problema dele é achar que o que funciona aqui na riqueza, funciona lá, na miséria.
Quando as bolsas estavam cheias, o grupo se pôs a correr, porém as cargas vazaram farelos entre os corredores. Quando chegaram no arsenal, um rastro do seu crime anterior levou alguém a persegui-los. Enquanto estavam reunindo as armas na sala de velas apagadas, uma voz os chamou na porta:
— Irmãos. Algum problema?
Os disfarçados faziam movimentos cautelosos para o intruso, que tinha vestes que cobriam seu corpo todo.
— Estamos só preparando a devolução das armas — um deles respondeu, agindo naturalmente.
— Eu vou ajudá-los — o visitante inesperado ficou pensativo — termine de empacotar as coisas que vou trazê-lo para a saída.
O grupo teve pressa para juntar as armas. Quando tinham dois baús cheios, eles foram conduzidos pelo sacerdote para os fundos do templo. Do lado de fora, ele removeu a máscara de pano, se revelando um homem calvo, cabelos brancos e olhos brilhantes.
— Deixem tudo aqui, os Senshis virão pegar.
— É que gostaríamos de levar nós mesmos, pode ser? — insistiu um dos criminosos.
— Senhores, por favor — o sacerdote assumiu uma expressão séria — Eu vi a câmara cerimonial.
— Não sabemos do que está falando — recuou um deles.
— O que levam nas bolsas? — reparava no rastro de farelo vindo da escada de onde subiram — Nunca vi uma dessas por aqui.
Nenhum dos Kuro moveu um músculo.
— Me entristece vê-los tomarem da nossa comida, não pela fome, mas porque nunca teria os negado. Oferecemos refúgio a todos.
— Nós não somos do tipo que recebe refúgio — um dos assaltantes ameaçou abrir o báu de armas — Faz essa vista grossa pelo menos uma vez e deixa a gente passar.
— Vocês são boas pessoas. Se deixarem as armas, podem levar a comida. Nosso povo não entretém conflitos.
— E diz isso com uma cara lavada — questionou Itoshi, tirando um cutelo do baú, seus pares olharam para ele assustados — Então onde vocês estavam?! Que miséria é essa que vivemos há décadas por causa do conflito que vocês começaram? É muito fácil nos mandar deixar as armas de lado depois que nos destroem e fingem conhecer a nossa circunstância.
— Eu gostaria de conhecer mais sobre vocês, se quiserem.
— Tá pensando que a gente é um bando de esfomeado te roubando por necessidade? Olha para isso aqui — tirou a máscara, apontando para seus olhos negros — sabe o que é isso aqui? Quem eu sou?
A revelação de Itoshi derrubou o sacerdote no chão em choque. Seus parceiros o seguraram aos gritos:
— Ficou maluco. Bota essa máscara logo!
— Não — o sacerdote se mantinha no chão — irmãos, se acalmem, vocês… são bem vindos a… — dizia se arrastando para porta de saída
Antes de completar a frase, Itoshi se soltou das mãos dos outros criminosos e enterrou seu cutelo nas mãos no peito do sacerdote que agonizou de dor até seus olhos perderem vida.
— O que é que pensa que fez?! — puxou Itoshi ameaçando um soco.
— O problema não era ele saber que estávamos aqui? — apontou para o corpo ensaguentado — eu resolvi!
A discussão deles foi interrompida por um som de descida de escadas, os criminosos pegaram tudo o que pôde e partiram dos corredores do templo.
“A fuga que era simples se tornou um esquema que durou a noite toda, mesmo assim conseguimos sair dos Shiro sem sermos pegos. A má notícia é que os guardas de nosso próprio povo já estavam apostos nos portões para nos prender, o sangue em minhas vestes denunciava um crime ainda pior, que acarretou em minha mãe e irmão presos e minha execução marcada.”
Diante de uma praça o jovem Itoshi tinha seu pescoço amarrado por uma corda prestes a ser esticada pela forca. Sua expressão de raiva era visível por todos da multidão que estava ao redor, que tinham apenas cenas como essa, como o entretenimento do dia dia.
— Tão novo, o que pode ter feito para isso? — dizia uma mulher da plateia.
— Ouvi dizer que não só atravessou os muros, como voltou com sangue nas vestes — cochichou um homem, surpreendendo a todos.
O carrasco preparou a forca em meu pescoço, mas antes do monge da Ordem pediu silêncio para a plateia:
— Diga garoto, quais suas últimas palavras para esse mundo?
— Nós fomos roubados, e eu matei um de nossos assaltantes — revelou Itoshi assustando a todos — matei um dos Shiro que deixou nosso povo apodrecer de filas em filas só para ter tudo roubado por alguém igualmente esfomeado, igualmente desesperado. A culpa não está aqui, não entendem?! Vocês não sabem… não sabem como é o mundo lá fora! Senão teriam certeza que o custo da nossa miséria é a riqueza de quem está lá fora.
— Eu acho que já chega — o monge fez sinal para amordaçar Itoshi, porém o guarda não correspondeu seu pedido.
— Lembrem-se do que nossos ancestrais viveram! De geração em geração passaram para nós, quantos de vocês trocariam aquilo pelo que vivem hoje? Ouvimos as nossas vidas inteiras que devíamos trocar nossa felicidade pelos outros. Nos fechar aqui para eles terem tudo que nós tínhamos. Tudo que era nosso! Enquanto isso, matamos, roubamos e amaldiçoamos a nossa própria gente. Olhem para seus filhos e tenham a coragem de dizer que a vida deles vale menos que a de um desconhecido que você nunca viu na vida!
— É um assassino! — o monge gritou para platéia que se comovia — Ele acabou de admitir que matou um inocente!
— Inocente?! O que eu fiz foi um grito por liberdade. Eu fiz porque pensei em minha mãe e meu irmão sem mim, fiz para protegê-los. Vocês pensam nisso todo dia que voltam para casa. Sim, vocês só precisam de alguém que faça isso por vocês! Vocês dizem que é errado querer um pedaço daquilo que nos tiraram. Eu digo que o errado é não querer tomar tudo que nos roubaram! Errado é aceitar viver na merda enquanto aqueles que nos condenaram vivem no luxo! Nosso luxo!
O monge se enfureceu, pegando a mordaça da mão do guarda, amordaçando Itoshi que se debatia. A população ficou inflamada com o discurso, fazendo força contra a barricada até finalmente ceder.
Alguns guardas tentaram segurar a multidão e puxar alavanca para matar Itoshi, porém outros se juntaram à população que foi implacável. A corda nunca se esticou, foi cortada e Itoshi salvo e aclamado pela multidão que fizeram aqueles que se opõem de reféns.
“Eu não havia entendido na época, mas hoje vejo que a morte daquele ancião foi o primeiro abate de uma guerra, minha guerra. Escapar da morte foi o jeito dos Kuro de me elegerem seu novo salvador. Apesar desse gatilho iniciar uma verdadeira guerra civil, que levou a vida do que restou da minha família, só restou os corpos de minha mãe e irmão no cárcere.”
Itoshi observava mais dois tûmulos sendo cavados por agora seus homens, se juntando a seu pai e irmãos bem ao lado de sua antiga casa, no qual ele mesmo ordenou que ateassem fogo. Seus olhos obcecados pelas chamas foi a última lembrança do líder Cônsul naquela tarde.
— Observando as chamas, eu pude ver que o meu passado não me importava mais, assim como o estado de miséria que meu povo passava. Só o novo futuro importava. Eu não fui o único a aderir isso, fui apenas o primeiro. Pouco a pouco meus números cresceram, até mesmo alguns dos homens do Rei escolheram meu lado.”
— Eu tinha razão — Imichi cerrava os punhos, vermelho de raiva — Essa guerra é só sua. Desde o seu primeiro abate, você mata inocentes que nunca te fizeram mal algum.
— Pude fazer novas visitas aos Shiro ao longo dos anos. Com o tempo, pude entender o grande plano de seu povo: o nosso extermínio através da reprodução sucessiva com os impuros.
— Não há grande plano nenhum, nem sequer puros ou impuros, a morte é uma realidade da vida de todos nós. Só porque uma cor deixa de existir, não significa que seus ideais morrem. Os Shiro também não resistiam ao cruzamento com as cores primordiais e tudo bem. É assim que as coisas são.
— Mentiroso. Afinal, vocês ainda viviam com os seus.
— Porque eles ainda não estavam prontos. O legado Shiro vai além de nossa cor, nossas cidades, esta academia, e até mesmo nossa gente — suspirou fundo — ele está em nossos ensinamentos. Se eles permanecerem, nós viveremos através deles.
— E quais são os legados do meu povo? O que sobrou de nós depois que nos retalharam?
— Podemos encontrar esse caminho juntos agora.
— Errado de novo. Vocês já imputaram um legado em nós, nos reservaram o papel de conquistadores. Queriam um vilão em nós, agora vocês terão. Nunca mais vamos pedir permissão para existir. Para nós vivermos, seu povo, e o legado dele, deve morrer.
— Eu perdi meu povo. Mesmo assim, encontrei nas nações que os Shiro ajudaram a fundar, um caminho. Eu vou lutar por esse amanhã com todas as minhas forças custe o que custar.
— “Esse Amanhã”, né? — Itoshi se levantou do trono — Quando era menor as denominações da Ordem de Ibu não parava de falar sobre o Dia do Acerto de Contas. O dia em que o futuro seria definido em um grande conflito, na minha terra costumavam colocar medo nas crianças a respeito disso. Pensei que era blefe até que eu e Nobura encontramos um templo numa ilha longínqua. Imagine o meu choque ao ver duas espadas cruzadas nas paredes.
— Não é possível — Imichi arregalou os olhos.
— Duas espadas se cruzam, o passado não se arrepende, o presente é constante — dizia Nobura — Todavia, o futuro desvenda a realidade, acorrentada aos desejos e escolhas que, por sua vez, são escravas do destino. Este é o início e o fim. A história irá acabar quando esses dois nomes se encontrarem.
— Yanaho e Suzaki — concluía Itoshi.
Seth abriu um portal, com visão panorâmica de um acampamento na Cidadela. Ampliando a visibilidade, era possível ver Yanaho entre os guardas da aliança.
— Já que seu povo roubou o futuro do meu, nada mais justo que eu tomar sua promessa de paraíso do seu — disse Itoshi — para construir o novo futuro dos Kuro.
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