Volume V – Arco 15
Capítulo 151: OPERAÇÃO ECO.4 (Tudo ou Nada)
DIA 2, CAPITAL NOVO CAMINHO — METADE DO DIA.
Na ilha central de Novo Caminho não havia mais ruas. As calçadas e estradas de ladrilhos foram engolidas pelos túneis abaixo, e finalmente enterradas debaixo do concreto das casas que as rodeavam acima. Com um garoto nos braços, Usagi vagava por um verdadeiro circuito de obstáculos que rememorava seus melhores dias como mirim. A diferença é que um passo em falso, ou uma coluna que caiu tarde demais, quem sabe uma explosão inesperada e o rapaz se juntaria aos inúmeros corpos que avistou pelo caminho.
Yato e o Shiro estavam nas suas costas, a luta deles martelando em seu peito a cada impacto. Usagi não podia olhar para trás, estava perto demais da ponte, só mais um pouco e já podia sonhar com a vista de seus amigos mirins. Contudo, sua primeira companhia no caminho não seria a vista de um rosto amigo, mas o suspiro desesperado de Keiko, que acabara de despertar.
— Solte-me! — o garoto esperneava — Não me toque.
O mirim mais alto e mais forte que o pobre menino tentou conter seu rude despertar, mas seus músculos sentiram uma dormência forte. Gelo cobria seu braço e abdômen, descendo para a cintura. Rapidamente, ele soltou Keiko, que logo derreteu seu ataque.
— Está tudo bem, você só desmaiou. Para que fazer isso?
— Não me recordo de ter dado permissão de ser carregado, ainda mais um por um… — o menino se segurou — Por um… outro soldado aliado… De outra nação.
— Eu sei o que quis dizer — pegou no braço de Keiko — O problema é que eu preciso te levar daqui, anda.
— Escuto batalha — olhou na direção de Yato — Por que estamos fugindo?
— Olha para você — apontou para o corte suturado com gelo no pescoço de Keiko — Quer voltar para morrer?
— A pessoa que procuro pode estar lá. Alguém sabe onde ela está — Keiko andou na direção oposta — Isso não tem nada a ver com você.
— Facilita, cara — Usagi se colocou no caminho de Keiko.
— Está falando sério?
De repente, Usagi escutou o som de uma marcha. Internamente, seu radar confirmava que não era o inimigo. Ele esboçou um sorriso:
— São eles!
Virando a esquina uma tropa de Senshis foi avistada. Usagi disparou até eles, acenando com o braço. Por sua vez, o prodígio do gelo olhou para onde queria ir, depois para os recém-chegados, e decidiu acompanhar o mirim na recepção das novas tropas.
— Vice-comandante, Tsuyuki — chamava Usagi — O reforço chegou?
— É o que parece — Tsuyuki reparava em Keiko vindo logo atrás — Sobraram apenas vocês? Isso é uma recuada?
— Encontramos uma súdita no subterrâneo. Sobrevivemos, mas ele não tem mais condições de…
— Eu estou em condições de contribuir — interrompeu Keiko.
— Por favor, senhor, ele estava desmaiado há menos de dez minutos. Yato nos pediu para recuar enquanto ele ajuda o Shiro com uma outra súdita.
— Eu sinto muito, rapaz, já recuamos uma vez, não podemos fazer de novo — Tsuyuki descansou a mão no ombro de Usagi, enquanto olhava para Keiko — Você vem conosco, por que agora é tudo ou nada.
— Eu imaginei que ele pudesse ser útil para proteger os feridos em caso de derrota.
— Mas ainda temos chance. Volte para seus companheiros mirins e prepare-se — o mirim abaixou a cabeça, pedindo dispensa — E Usagi, obrigado por trazê-lo até aqui.
Com um breve tapa nas costas do vice-comandante, o rapaz voltou para o fundo da formação onde foi reconhecido pelos mirins. Tsuneo logo correu ao seu encontro, dando-lhe um forte abraço:
— A gente viu a explosão! Achei que você tava morto.
— Você tá um caco — Kento chegou mais perto, reparando nos ferimentos — Como você sobreviveu?
— A gente tava embaixo quando tudo aconteceu. Eu só sei que quem tava com a gente ficou vivo, graças ao… — hesitou, apontando vagamente para Keiko — Vocês sabem quem.
— Algum sinal dos outros? — questionou Yukirama — As garotas ficaram com a comandante Tomoe, não foi?
— No caminho para cá só vi corpos. Queria poder ser mais otimista.
— Entendo — cerrou o punho — Temos que vencer isso.
— Nem me fala — comentou Tsuneo — Imagina se eles entrarem em território Aka?
— Ei, uma coisa de cada vez — Usagi cortou o assunto — Mesmo que tudo dê errado aqui, ainda tem a Cidadela.
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As duas chicotadas de Shunara lançaram uma onda que arremessou a tropa contra as casas arrasadas. Tomoe foi a única que não foi atirada pelo golpe, o absorvendo com sua espada e caindo de joelhos com o impacto.
“Ninguém suporta um ataque desses”, Shunara apressou seus passos na direção dos inimigos. “Ela só pode ser um daqueles!”
A tropa logo se reagrupou, porém antes que Tomoe pudesse dar ordens, a súdita a chamou:
— Você é a comandante! É você, tem que ser!
Com apenas um aceno de cabeça dela, todos recuaram a cinco passos de Tomoe.
— Não precisa fingir, odeio quando se fazem de desentendidos — esticava o chicote nas mãos — Que benção não ter que procurar vocês mais.
— Para mim você tá mais para uma maldição.
— Ah é? — Shunara fez uma careta — Já que é assim… — assumia a voz masculina — eu vos amaldiçoo!
Tomoe começou a se mover muito antes das próximas chicotadas de Shunara. Atraída pela Principal que escalava os escombros, ela estralou a arma na sua mão direita para destruir a montanha de entulho.
Enquanto a estrutura colapsava, Tomoe deu uma cambalhota, passando acima da cabeça da súdita que não resistiu a uma boa gargalhada. Seu riso bombardeou os ouvidos de todos ali, principalmente da comandante, que aterrissou cambaleante. O segundo chicote procurou seu pescoço, mas ela colocou sua espada na direção entrelaçando sua lâmina.
Com o braço livre, Tomoe puxou sua oponente para perto através do chicote. A força repentina chegou a tirar Shunara aos gritos do chão. Canalizando a onda de sua voz nas mãos, ela preparou um contra golpe estendendo a mão, porém a Principal girou o braço que puxava o chicote, agora brilhando em vermelho. No reflexo, a súdita sorriu apenas gritando:
— Quase!
O grito sônico arremessou Tomoe para os ares. Tudo que as tropas recuadas viram foi a sombra de sua líder passando sobre eles.
— Você ouviu isso? — perguntou Emi! — Odeio gente barulhenta! E essa cachorra quase me matou.
— Vimos no deserto, mesmo um Principal precisa de vantagem numérica contra um desses anômalos. Ela vai precisar de ajuda, mas — segurou o braço enfaixado, olhando ao redor os Senshis e Heishis hesitavam em entrar na luta — de quem? Eu não sei o que fazer.
— Também estou com medo, mas droga… — Emi cerrava os punhos, costurando caminho para fora dos Senshis, passando por uma rua estreita — a raiva tá maior. Eu vou quebrar a cara dela.
— Calma — Masori a segurou — A gente tem que entender primeiro. Ela controla o som né? Você ouviu os gritos.
— É só a gente não fazer barulho. Foi o que ela disse — apontou para cima, como se Tomoe ainda estivesse sobrevoando elas — Por isso eu tô tentando ajudar. Vem comigo.
— Para onde você tá indo, garota? — a acompanhou até uma torre caída — O que você viu aí que… Nossa.
A rua adjacente tinha um pedaço de uma torre caída, seu pináculo mais especificamente. Descansando no meio dos escombros estava um enorme sino que, embora amassado, parecia inteiro.
— Você tá sem um braço, por que não chamou um Senshi com você? Tô falando que se a inimiga tocar nele estamos ferrados.
— A Principal Tomoe já tentou evitar os sons, não adianta quando a inimiga pode gerar com a própria voz. A menos que…
Mais um estalo foi ouvido pelas garotas, seguido de Senshis sendo atirados para longe, alguns aterrissando na rua onde elas estavam. A súdita na caça de suas presas chegou até próximo das duas que suavam frio, cantarolando:
— Cadê você? Nós quase nos matamos agora, foi tão caótico! Caótico! Caótico!
A última palavra desafinada ressoava sem cessar nos ouvidos, quando Tomoe veio de trás das garotas, retornando ao combate. Os Senshis combinaram riscar suas espadas em uma rajada de fogo. A principal embarcou no ataque, assumindo o elemento laranja para si com seu iro e o dispersando em várias direções como pétalas.
Shunara corria da chuva de fogo que caía sobre ela, pegando um Heishi caído e sem capacete do chão para tapar suas orelhas. Naquele mesmo instante, uma das pétalas de Tomoe atingiu a súdita nas costas. A palavra “caótica” parou de reverberar, No lugar dela, surgiu apenas um arranhar agudo, como unhas num quadro negro, que perfurou a cabeça da tropa como uma agulha sinfônica.
O som era tão afiado que cortou até mesmo as chamas que se espalharam por sua túnica negra. Por fim, o Heishi nas mãos de Shunara caía desacordado após soltar um grito de dor. Seus ouvidos escorriam sangue.
Os Heishis recuaram com aquela visão. A súdita continuou, jogando os braços para o alto, fazendo da brisa sua orquestra, com toques de piano regendo outros instrumentos que acompanhavam as notas agudas. Enquanto todos ainda processavam o que acontecia, a Principal se lançou contra a maestra.
— Esse barulho. Eu quero vomitar — Emi se escondia atrás do sino.
— É estranho. Ela segue um padrão engraçado — Masori espiava a luta das duas.
— Minha agonia é engraçada para você? — Emi limpava a sujeira da boca.
— Quando caçava com meus pais, eles sempre me diziam para manter meus ouvidos atentos: “sons graves são de feras e finos de presas” — dizia Masori.
— Era só o que faltava, está delirando de medo.
— Me escuta! Ela usa o chicote, a voz e outros artifícios finos para uma ofensiva agressiva. Mas quando teve que usar sons graves, ela só conseguiu perturbar e confundir — voltou seus olhos para o sino.
— Onde quer chegar?
— É um palpite, mas acho que quanto mais grave mais difícil é para ela machucar.
— Pode até ser, mas isso não é trabalho de mulher — botou a cabeça para fora da cobertura — Ei! Homens, digo… senhores vocês poderiam me ajudar a pegar esse sino grandão aqui?
Os Senshis olhavam confusos para a mirim, sem entender a razão do pedido. Enquanto isso a luta prosseguia, com cada chicotada de Shunara castigando a espada de Tomoe, como se fosse um ataque de outra arma. Com a fagulha dos impactos, a Principal criava suas pétalas de fogo atacando à distância. Mesmo atingida, Shunara apagava as chamas com sua voz:
— Lá, lá, lá, lá, lá. Você não vai me pegar!
“Como eu suspeitava, o som dela apaga o fogo. Continua, me mostra tudo que pode fazer”, Tomoe pensava, correndo para a ofensiva.
Recebendo outra chicotada na sua lâmina, Tomoe reuniu as faíscas, porém em vez de lançá-las na inimiga, ela fingiu um golpe. A súdita parou de atacar e prendeu a respiração, preparando o grito para o ataque que nunca veio. Aproveitando a abertura, a espadachim se aproximou com um chute no estômago. Shunara arrotou uma voz fraca, cujo som mirou as pernas da comandante que girou para o lado.
Com o chicote, a açoitadora tentou persegui-la, porém numa cambalhota por cima da tira de couro, Tomoe girou no ar com um chute direto no rosto. Ao cair, a Principal preparou uma estocada no peito quando viu sua oponente esticar o segundo chicote em proteção. Rapidamente mudando o movimento, a comandante desceu e depois subiu sua espada, partindo o chicote em dois.
“Agora só preciso fugir do outro chicote a esquerda e de sua boca, pelas costas!”, concluiu, correndo.
— Você é boa. Boa até demais — percebia Shunara levando as mãos ao longo cabelo — pois bem, isso está perdendo a graça.
Com as costas da adv
ersária aberta, Tomoe estava prestes a finalizar a luta quando sua adversária jogou seus cabelos para frente. Foi então que ela pode ver, pendurado nas orelhas:
— Brincos?
Apenas jogando a cabeça para trás, os brincos emitiram um ruído agudo, lançando cortes no rosto de Tomoe, que não sabia se cobria a face ou os ouvidos. Shunara girou com uma chicotada de cima para baixo, porém foi desviada com um salto para trás.
— Ainda consegue ver, que droga. Isso era para ter pego seus olhos — Shunara mexia nos brincos — Você deu sorte, sabia?
— Você é completamente maluca — se levantava desequilibrada.
— Sou maluco de amor — retornou com a voz masculina — Vocês serão a prova desse amor. Vou sacrificá-los para o grande plano do criador.
A música conjurada por Shunara voltou com força total, porém dessa vez seu som foi afogado pelas batidas do sino. Outrora os sons no ar eram como facas na mesa para a súdita pegar e escolher. O badalar do sino foi como se alguém tivesse virado a mesa bem na sua frente, derrubando os utensílios no chão.
A expressão eufórica da súdita sumiu naquele mesmo instante. No lugar, brotou uma raiva em seu rosto, mas não havia tempo de protestar uma vez que Tomoe reiniciou seu ataque. Sem perder tempo, Shunara pegou a espada do Heishi que havia derrubado e se defendeu. As pétalas de fogo ainda eram defendidas pela súdita de forma aleatoria, porém ela precisou quase quase quebrar o pescoço para desviar de uma estocada de Tomoe, rolando no chão para trás logo depois.
— Tá bom, vocês conseguiram me irritar — Shunara ergueu a espada.
Ela estocou a espada com tanta força que restou apenas a bainha de fora, o chão tremulou de repente abaixo de Tomoe que perdeu o equilíbrio na corrida, logo rachaduras se abriram formando uma mini fenda no solo que prendia a principal entre duas paredes, mesmo ela se segurando na beirada apenas pôde ver a súdita em direção ao soar do sino.
— Droga — Tomoe fazia força — Volta aqui!
Os Senshis se dividiram, enquanto uns seguravam o sino, outros se revezavam dando golpes nas suas paredes com o badalo partido. O terremoto os desequilibrou, derrubando o instrumento gigante.
— Estava dando certo! Não parem! — gritava Masori ainda no chão.
Masori percebia a súdita se aproximando, mas Emi estava de costas erguendo primeiro, pegando o badalo nas mãos para bater no sino:
— Toma sua vagabunda!
O bater do sino não perturbou Shunara, pelo contrário, ela assumiu controle das ondas, jogando a Emi no chão. Masori se arrastava no chão tentando alcançá-las, porém a batida do sino permanecia no ambiente, martelando seus ouvidos. Seu grito caía em ouvidos surdos:
— Emi!
A mirim deixava o badalo cair, se espernando no chão, quando Shunara a pegou pelo pé, de ponta cabeça. O sino parou de soar de repente. A visão da súdita de túnicas negras de ponta a cabeça empalideceu Emi. E a voz com que falou não era modulada, mas a raiva escorria pelas suas palavras ao ponto de arrepiar sua espinha:
— Pecadora! O custo da sua transgressão chegou!
— Droga — Masori alcançava o arco nas suas costas.
Com apenas um braço, Masori colocou o arco no chão, depois sacou a flecha e a colocou na boca. A visão estava turva, braços trêmulos. O primeiro tiro passou longe do alvo, Shunara sequer notou. Ela teve que botar o arco no chão para sacar a próxima flecha.
Nesse meio tempo, a súdita tomou impulso e bateu com o corpo de Emi contra o sino, como se ela fosse um badalo humano. O tremor daquele novo soar foi tão forte que Masori sequer conseguia manter a flecha que sacou nas mãos. Em vez de espernear como fazia antes da colisão, Emi estava imóvel.
— Que esta aqui sirva de lição — exibiu Emi como uma boneca de pano nas suas mãos — sintam a fúria divina!
Shunara preparou para bater com ela mais uma vez, quando Tomoe atingiu ela com um jato contínuo de fogo. A súdita tombou, largando mão de Emi e, antes que a Principal chegasse mais perto, ela impôs as mãos sobre o sino e o implodiu.
— Seu problema é comigo — disse Tomoe na frente de sua tropa.
— Não tenha pressa, líder dos infiéis. A hora do seu castigo se aproxima, assim como a garota vocês já estão condenados.
Apesar do frio, o ar ao redor deles esquentava. A neve em seus pés começou a derreter, quando Shunara com sua mão livre ameaçou estalar o chicote outra vez, mas uma mão brotou para impedi-la. Tomoe sorriu ao reconhecer o reforço.
— Tá pegando leve, meu anjo? — disse Date, puxando sua primeira espada — Se for assim deixa um homem de verdade resolver!
Shunara chacoalhou sua cabeça, os ruídos foram em direção a mão de Date, obrigando-o a soltá-la.
“Fiz tanto barulho que não ouvi ele chegar, além disso ele é rápido… outro comandante?”, se perguntou Shunara pulando para longe.
O calor escaldante sumiu, mas pouco depois um segundo homem chegou ao lado de Tomoe:
— Comandante Tomoe, dos Principais — Riki fazia uma leve mesura — Se me permite a intromissão, viemos resolver isso.
— Mais cordeiros para o sacrifício — Shunara estendeu as mãos — Não param de vir. É um banquete!
— O que aconteceu aqui? — Riki reparava em Masori, se arrastando para alcançar o corpo de Emi.
— É uma pirada — Date sacou sua segunda espada — Conheci muitas. Nada demais.
— Ela é mais forte do que parece. Atenção total. Ou nenhum de nós sai vivo daqui.
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Os Senshis ao redor do campo de batalha assistiram atônitos o surgimento do imenso urso verde. Seu rugido cuspia fogo pela área desolada do campo de batalha, perseguindo o borrão branco que era Imichi. Quando o sopro flamejante vinha na direção de um dos quatro times, eles tomavam cobertura, mas fora isso, tudo que podiam fazer era assistir.
— Senhor, o que é aquilo?
— Algo daquele feiticeiro, sem dúvida — respondeu Yato, espiando pelo paredão onde se escondia — Por Kagutsuchi, eu nunca vi nada parecido.
— Devemos reunir o grupo? Não temos condição de ajudar desse jeito.
O vice-comandante olhou para baixo pensativo, perturbado somente pela passada do animal projetado por Seth, que sacudia o chão. Colocando a cabeça para fora de novo, ele viu Imichi se afastando dos extremos, porém o animal não tinha interesse em persegui-lo. A fera escolhia um canto onde os Senshis habitavam e cuspia seu fogo, obrigando o Shiro a persegui-lo para chamar sua atenção.
— Seth quer dar um jeito na gente. O que significa que somos um problema para ele.
— Estamos aguardando o seu comando senhor. O que devemos fazer?
— Ainda temos cordas?
Enquanto isso, do outro lado, Imichi andava em círculos ao redor das patas do urso. O ar de seus pés fazia pequenos redemoinhos que erguiam todo aquele peso a alguns centímetros do chão. Apesar disso, sua boca continua aberta, liberando uma fornalha em quem estava na sua frente. Após erguê-lo, o corredor foi para baixo da sua barriga e uniu as mãos:
— Kazedamu!
Dessa vez o urso foi alçado alguns metros ao ar, caindo de barriga para cima de volta ao chão. Imichi correu primeiro para suas patas frontais, empilhando entulhos como algemas, depois foi para o par traseiro. Em questão de segundos, o animal estava se debatendo sem conseguir se virar até que de repente, um vento forte com origem no próprio construto de energia soprou os destroços de seus membros. O mesmo vendaval rodopiou o urso de volta a sua postura de barriga para baixo. Finalmente, seu rugido agora disparando ar em vez de fogo, tirou Imichi do chão, o lançando contra uma parede.
Na medida em que se colocava de pé novamente, o Shiro mais velho elevou os olhos para encarar o urso. Era uma mudança sutil, mas ele estava mais baixo. Ao correr na sua direção, o rugido atingiu Imichi como uma tempestade. Concentrando iro no ar que passava por suas canelas, ele correu no ar, como se subisse uma rampa, com destino no rosto do animal. Sacando sua faca ele girou o ombro. O corte separou a cabeça do pescoço de uma vez.
— Consegui! — ele celebrou, pairando no ar.
Exceto que tão rápido seu ataque destruiu, a energia que formava o animal reconstruiu seu pescoço de volta. Em queda livre, Imichi recebeu toda a extensão do rugido do animal que havia voltado a vida numa fração de segundo. Estabilizando a queda com um kazedamu, ele rolou no chão algumas vezes, até finalmente cair de pé.
— É a primeira vez que tentam matar algo feito de energia — disse Seth, aparecendo nas costas de Imichi.
— É a primeira vez que jogam um urso em mim também.
— Por favor, meu repertório sequer atingiu a metade.
— Qual o limite de energia dele? — perguntou sem se virar para o feiticeiro — Quantas trocas de elementos ele pode fazer?
Com uma risada sarcástica, Seth apenas sumiu dali. Imichi balançou a cabeça negativamente, enquanto o urso se aproximava. Foi então que os Senshis do leste saíram das suas tocas, lançando cordas com ganchos nas costas do animal gigante. A força coletiva dos homens de Yato tombou o criatura para trás, porém seu novo rugido soprou vento na direção contrária, atirando o animal de costas no meio dos Senshis.
Alguns que ainda seguravam as cordas foram levados juntos. Imichi disparou ao socorro deles, livrando um de cada vez das cordas, que ainda permaneceram presas na carcaça.
— Reúnam os outros Senshis — disse Imichi, retornando para Yato.
— Só estamos tentando ajudar.
— Eu sei, por isso preciso de todos vocês — correu de volta para o urso, até que retornou com outro pedido — E posicionem seus homens ali — apontou para as costas do urso.
O urso havia parado de deslizar pelo chão com seu sopro, passando agora a usar as patas para arrancar os ganchos em seu corpo. Havia quatro cordas agarradas se estendendo até o chão. Imichi passou por ele pegando duas, uma em cada mão e começou a circular suas patas traseiras. Ao mesmo tempo que traçava novas amarras pelo animal, o corredor reparou que a distância de um membro a outro estava menor. A fera revidou, movendo suas garras frontais, tentando atingir o Shiro como se fosse uma pulga, porém isso só lhe deu a oportunidade de pegar mais uma corda e enlaçar três das suas quatro patas. O animal já não conseguia se mover, precisando recorrer a novamente seu rugido.
Foi então que o corredor foi de encontro ao grupo de Senshis que havia ordenado se posicionar bem na retaguarda da besta verde:
— Ataque, com força total!
Seis Senshis riscaram suas espadas, incinerando o alvo que vinha de encontro a eles. Debaixo de todo aquele fogo, Imichi até pôde ver o urso se encolhendo até ficar menor do que o jato que o havia acertado. Contudo, em vez de apenas absorver o impacto, os Senshis sentiram uma força contrária. Brotando o véu laranja de fogo, uma pata gigante desceu sobre eles. O impacto soprou todos para longe. Imichi assim que se ergueu, tirou seus homens um a um do alcance do próximo ataque, mas nesse meio tempo Yato havia retornado com o restante da tropa espalhada. Juntos, eles voltaram a sufocar o urso com suas chamas.
De longe, era possível ver uma fina camada de ar, dispersando o fogaréu que vinha de encontro ao animal, permitindo que ele avance na direção que quiser. Ainda assim, em vez de se mover o urso parou, abaixou sua cabeça sob as chamas até que relâmpagos começaram a pipocar. A fera ficou de pé, tomando impulso para uma batida no chão levantou uma onda de choque que ergueu faíscas até o céu.
Os Senshis estavam muito perto da origem do ataque, sufocando o alvo. As chamas não o permitiram ver o contra golpe. Sem espaço para desviar, uma morte certa, porém Imichi assistiu a tudo e se pôs a trabalhar. Os raios trituravam tudo em seu caminho em questão de milésimos de segundos, logo o Shiro precisava ser mais rápido. Em uma volta, o corredor se colocava na frente de um grupo e atirava neles com um kazedamu para fora do alcance do golpe. Em dois segundos, todos os Senshis pairavam no ar, quando a tempestade de raios do urso atingiu seu pico. No terceiro segundo, estavam todos agrupados em solo.
— O que? Quem? Onde? — Yato olhava de um lado para o outro.
— Era uma armadilha — um Senshi apontou para o urso rodeado de relâmpagos — Imichi nos salvou.
— Estão enganados — Seth apareceu no meio deles por um breve momento — De fato, era uma armadilha, só não para vocês.
Imichi driblava os raios que se projetavam nas suas costas em tamanha velocidade que visualizar o que estava na frente dele se tornara impossível. Sua visão turva só o possibilitava guiar-se pelo puro instinto até que alguma coisa no chão prendeu seu pé. O impulso do seu movimento torceu seus pés com o passo em falso, desacelerando o corredor de maneira abrupta para o meio de vários destroços no ar prontos para cair sobre ele.
Saltando entre os objetos como plataformas, estava Nubi.
— Desculpa, acabei tropeçando no caminho — Imichi se levantava, firmando o pé torcido no chão — Acordou rápido, Nubi. Tem certeza que prefere fazer isso agora?
— A pessoa com esse nome morreu. E daqui a pouco você vai estar morto também.
— Pessoas como você deveriam ter outra vida. Você é só uma criança, quantos já matou?
Uma chuva de ataques desceu sobre Imichi, cujos piques estavam mais curtos, sempre esbarrando em algo ao desacelerar. Encurralado, ele precisou dispersar a miríade de projéteis com mais um kazedamu. Porém, não era só Nubi que estava em seu encalço, o urso também se aproximava.
O impasse foi interrompido por um grito de guerra, próximo dali. Yato olhou na direção da primeira ilha incrédulo, já Imichi deu um suspiro de alívio.
— Maldito seja, Tsuyuki. Você realmente veio — o vice-comandante dizia numa mistura de raiva e felicidade.
Centenas de homens apareceram no campo de batalha. Tsuyuki, no meio deles, brandiu sua espada:
— Eu esperei tempo suficiente pra perceber que precisavam de nós, vamos acabar com isso!
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