Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume V – Arco 15

Capítulo 148: OPERAÇÃO ECO.1 (Novo Caminho)

DIA 2, CASTELO DO REI CHAUL, CAPITAL AKA KAGUTSUCHI — MANHÃ NUBLADA.

 

Naohito era o primeiro a retornar à sala do trono de Chaul, carregando duas pastas debaixo do braço. Pela janela, ele viu Ryoma consultando os guardas no portão. Eles trocaram olhares por um instante, quando o rei apareceu, encontrando sua parede enfeitada com novas informações. O território Shiro tinha novas setas apontando para seu interior.

— A infiltração em Novo Caminho foi bem sucedida — afirmou Chaul — Ainda bem.

— Eles encontraram resistência — balançou a segunda pasta na frente de Chaul — Lembra muito do que vocês relataram no deserto.

— Homens e mulheres fracos com auras instáveis — Ryoma abria a pasta — Imichi nos avisou sobre os segredos de Novo Caminho, mas isso aqui… Como eles saberiam reativar a rede elétrica?

— É isso que eu quero saber, alteza — comentou Naohito, olhando para Chaul — Quero saber a versão de vocês.

Dai entrou pela porta, vestindo as mesmas roupas do dia anterior: 

— Alguma evidência dos portais do Seth, como no deserto? 

— Fico feliz que tenha ficado conosco — afirmou Ryoma.

— Só até encontrarem ele — olhou o mapa de Novo Caminho — Todo esse avanço e nenhum súdito?

— Negativo — afirmou Naohito — Você ainda não respondeu meu questionamento, alteza.

— Desde o começo dessa guerra está claro que os Kuro têm conhecimento privilegiado — Chaul deu as costas para o ancião — A capital do velho mundo nunca escondeu suas maravilhas, elas só se perderam no tempo.

— Meu povo passou a guerra do sangue toda sendo visitado pelos Shiro, alguns até visitaram o país — afirmou Dai — Seth poderia saber dessa cidade.

— Esses Súditos do Caos são compostos por membros de várias cores — disse Ryoma — Mesmo décadas depois do isolamento, é possível que saibam.

— Vocês perdem o todo pelos detalhes. Membros de outras cores, é disso que se trata.

— Impossível que um dos nossos esteja trabalhando para o inimigo — Chaul levantou a voz.

— Pergunte a Oda — disse Naohito — Isso se ele não estivesse perdendo tempo com o deserto. E por falar nisso, e o reforço?

— Date deve chegar hoje em Novo Caminho para auxiliar Tomoe.

— Pensei que havia mais um Principal aqui, fora a Bela Espadachim.

— Honda está na Cidadela. Ele será necessário para cuidar dos feridos em caso de recuada.

— Cauteloso como sempre. Por isso vamos perder.

— Perder? Esse é o astral por aqui? — Yasukasa entrava pela porta aberta deixada por Dai — Riki fez questão de partir na noite passada, pra isso? Vejo que talvez tenha me equivocado de enviar apenas meu cavalheiro.

— Nossa reunião aqui é o maior esforço para a verdadeira vitória — declarou Ryoma — e não se esqueça do sucesso na operação na reserva. 

— Como pretendem vencer se nem sabe o conhecimento do inimigo — Dai cruzou os braços — Além disso, esses tais súditos, só vão aparecer quando…

De repente, o alarme soou nos muros do castelo real. Ryoma disparou para os portões sem se despedir, ao passo que Naohito continuou a acompanhar o que se passava da janela, junto da Matriarca e o Chefão dos Midori. Quando o portão desceu, a carruagem que entrou na casa de Chaul abriu para um par de Heishis, seguidos por um homem de alta estatura, faltando um braço, porém com uma coroa na cabeça, revestido de uma capa vermelho sangue.

— Imperador… Satoru? — Ryoma reconhecia seu rosto.

— Eu te conheço?

“Ele não se lembra de mim”, percebeu o Supremo concluindo: 

— Claro, peço desculpas — curvou a cabeça — sou Ryoma Shiranui, Senshi Supremo do Reino — abaixou a cabeça — Posso saber o motivo desta visita surpresa?

— Todas as forças inimigas em um único lugar, e você ainda me pergunta? Onde está o Rei Chaul? Eu vim vê-lo.

Os Senshis buscaram em Ryoma qual seria a melhor decisão. Com um breve aceno, o Supremo pediu que abrissem as portas da casa do rei. Apesar de ter sido acompanhado por seus subordinados pelos corredores internos, o imperador fez questão de entrar na sala do trono sozinho.

— É quem estou pensando que é? — Dai olhou para Chaul.

— Ele não foi convidado — afirmou Ryoma, abrindo caminho para seu convidado inesperado — O Imperador Satoru veio por conta própria.

— Depois de sempre conversarmos por intermediários, é bom vê-lo pessoalmente ao menos uma vez, imperador — disse Yasukasa.

— Saudações — disse Satoru, andando até o mapa na parede — nós já nos vimos há muito tempo, matriarca, apenas não se lembra.

— Não espero que entenda isso tudo — Naohito se levantou da cadeira em que sentava — Só saiba que a batalha está sob controle, não precisamos de gente da sua laia aqui. 

— Vocês Aka presumem tanto sobre nós. Antes de meu irmão obter sucesso no Rito de Passagem, foi a mim que meu pai treinou para sucedê-lo. Tenho treinamento formal militar como vocês.

— Posso ver isso muito bem — Naohito desceu o olhar para seu braço ausente.

— Igualmente — Satoru olhou de canto para sua bengala — Vocês devem querer saber do motivo da minha vinda. Um gesto de boa vontade. Afinal, essa é a batalha mais importante desta guerra até então. Emprestar meus homens é o mínimo.

— Depois do que aconteceu no deserto — retrucou Yasukasa — Não sei se sua ajuda é tão útil.

— Fala das armas experimentais que forneci? As mesmas que meus representantes avisaram sobre o risco da exposição ao Sol, que seus homens subestimaram pela valência do controle de calor? 

— Você sabia disso, matriarca? — perguntou Chaul, ainda sentado em seu trono.

— O uso indevido poderia causar inúmeras mortes, dos dois lados — explicou Satoru — O que aconteceu no deserto? Eu soube que foi uma derrota catastrófica, porém nunca me contaram sobre os detalhes.

— As mortes foram na casa dos milhares — disse Naohito — Principalmente dos nossos homens.

— Eu conheci seu avô uma vez, Matriarca. Ele era um homem cauteloso, poderia aprender com ele.

— Ora, seu…

— Muito conveniente — Dai a interrompeu, se aproximando do imperador — Vêm aqui, nega tudo que dizem sobre você e acusa os outros sem assumir responsabilidade de nada. É fácil assim ser Imperador?

— Eu pensei que seria melhor colocar nossas relações em panos limpos. Precisamos um do outro.

— E eu precisava que você saísse do território Midori.

— Mais uma mentira. As incursões foram antes de assumir a coroa, tanto que logo após minha entrada, os Heishis abandonaram aquelas terras. 

— Sempre uma resposta. Então aqui está a minha — Dai foi em direção a porta — Enquanto este sujeito estiver aqui, eu não estarei.

— Certa vez, o último homem que sentou na cadeira de Chaul liberou um demônio na forma de homem para estraçalhar os Heishis num campo de batalha onde nós já havíamos nos rendido — disse Satoru — E mesmo assim, aqui estou, sem ressentimentos. Vocês têm medo de mim graças ao passado, porém vocês não são muito diferentes. Eu sou o único proibido de estar aqui?

Os outros líderes fizeram silêncio, exceto por Ryoma:

— Não há proibição para nenhum de nós estarmos aqui.

Naohito escondeu a risada com a mão. Chaul apenas abaixou a cabeça, soltando um pesado suspiro. Já Dai, balançava a cabeça de um lado para o outro:

— Desde que entrei aqui, percebo uma coisa. Esse velhote, você e o Rei Chaul, não me vêem como um de vocês. E depois de hoje, nem quero ser!

A batida da porta desferida pelo Dai, estremeceu as janelas e paredes antes de realçar o silêncio dos governantes serenos, enquanto apenas Satoru segurava seu sorriso cínico. 

DIA 1, ARREDORES DE NOVO CAMINHO, TERRITÓRIO SHIRO — NOITE NEVADA.

Os Heishis tomavam refúgio em uma pequena caverna, aguardando a chegada dos reforços. Além do forte vento, outra coisa assobiava em seus ouvidos: uma cacofonia insuportável vindo do norte. Uma mistura de gritos e metais colidindo, como se um exército marchasse na sua direção. Os homens ali não sabiam se estavam se escondendo da tempestade ou desse inimigo invisível, exceto por um garoto, do lado de fora, recebendo o abraço daquela nevasca como se fosse uma velha amiga.

— Ei, garoto — um Heishi gritou por ele da caverna — bem que poderia amenizar esse frio para acendermos uma fogueira. 

— Eu quero saber onde está o Comandante Doku — respondeu Keiko, erigindo uma pequena torre de neve na sua frente.

— Deslocado para outro fronte.  Ele nos encarregou de apresentar você aos Senshis que estão chegando. Sabemos que climas assim são o seu ponto forte e tudo mais, só que dá para aliviar um pouco para gente?

— Eu só posso controlar o frio — esculpiu com as mãos um rosto no boneco de neve — Não posso enfraquecê-lo como pensa.

— Pirralho inútil — o Heishi saiu chutando a neve.

— Se acalma — um parceiro dentro da caverna via o incômodo do homem — Pelo menos a gente não vai puxar a dianteira. Depois do que aconteceu com Uchida, é bom os Senshis correrem esse risco para variar. Além do que o garoto tá conosco.

— Se dependesse dele a gente congelava até morrer — sua voz ecoou pelas paredes da caverna.

A voz alta captou atenção dos Heishis, que imediatamente olharam com reprovação para o responsável. A raiva logo se materializou em medo, mas Keiko, ainda que na entrada da caverna, estava tão imerso na escultura que fazia que ignorou completamente o protesto.

— Que coisa — o Heishi continuou seu protesto — um bando de marmanjo sendo cuidado por uma criança que nem tem um fio de barba. 

Quando os Senshis chegaram, os azuis logo desfizeram seu acampamento improvisado. Keiko deixou sua escultura ali, sem desmanchá-la. Assim que a nevasca diminuiu, eles vagaram pela floresta até que puderam ver o muro decomposto, porém coberto de branco de Novo Caminho. Foi então que uma brilho reluzente branco, deslizou pela neve até aparecer onde a aliança estava em questão de segundos.

— Vocês demoraram demais. Assim não vai dar tempo! — disse Imichi — Qual é o comandante desta operação?

— Sabe, para alguém rápido como você soa até irônico que esteja com pressa — uma mulher saía do meio dos Senshis — Senshi Principal Tomoe Hikari, ao seu dispor.

Os Heishis deram uma boa olhada na Principal. Era branca de cabelos negros curto e liso na altura de seu pescoço. Estava vestindo mais agasalhos do que armaduras e apesar de estar numa guerra, tinha brincos de prata pendurados nas orelhas, cuja distância não deixava-os discernir qual era a forma do enfeite.

— Saudações Imichi, sou o enviado do Supremo — cumprimentou um dos comandantes — Sou Yato, primeiro capitão desta operação, nos vimos no deserto mas não fomos devidamente apresentados.

— Você é o único Aka que sobreviveu ao Sol Reluzente — lembrou Imichi. 

— Eu pensei que uma mudança de ares fosse bom. Mas agora já sinto falta do calor do deserto.

— Pelo menos dá para derreter a neve. Agora aquela areia toda entrando na roupa, não sei como suportaram isso — um outro rapaz mais jovem colocou a mão no ombro de Yato — Tsuyuki, segundo capitão no comando.

— Yato e Tsuyuki responderão a mim nesta batalha — continuou Tomoe — Fora da minha presença, a fala deles será a minha fala.

— Esses são todos os homens? — Imichi olhava para as filas atrás de Tomoe — Precisamos entrar agora. Eles já chegaram na cidade. 

— Podemos nos orientar com o radar Aka nesta nevasca. Além do mais esse é o maior pelotão de núcleos que enviamos até agora. Três quartos da nossa força domina a energia Shiro. O único problema são os Heishis — comentou Tsuyuki afiando sua espada — qual a sua decisão comandante?

— Avançamos — confirmou Tomoe — Mantenham os Heishis próximos da formação e eles não vão se perder. Estranho, as tropas daquele Uchida foram mortas quando chegaram aqui. Apesar de todo esse som não há nenhum exército à vista.

— A ocupação de Novo Caminho está menor do que os sons fazem parecer também — afirmou Imichi.

Um ribombar contínuo lembrava tambores de marcha esmagando o chão.

Assobios agudos cortavam a brisa que parecia soprar os ecos de desespero, gritos por socorro e urros de dor.  

— Houve algum intervalo desde que foi descoberto o fenômeno? — perguntou Tomoe.

— Não, ele não para. O som vem da capital certamente — explicou Imichi — e ele só silencia na medida que você se afasta, daqui em diante ele só fica mais alto e intenso.

— Tem algum palpite do que possa ser? — Tsuyuki perguntou.

— É um poder anômalo, fora do que pensamos como manipulação elemental básica. Isso significa que a partida veio de um Súdito do Caos — colocou a mão no queixo — um diferente dos que já enfrentamos. 

— E Date só vai mostrar as caras amanhã — disse Tomoe, dando meia volta para todos que já reuniam os suprimentos retirados dos veículos — Já estou acostumada a fazer tudo sozinha mesmo. 

A Comandante das tropas tomou um dos  baús esvaziados, subindo nele para projetar sua voz ao longo das filas de Senshis e Heishis. Ela deu ordens sobre a infiltração, orientou os Heishis a ficarem de perto, além de dar instruções de evitação de conflitos em caso de súditos. 

Os Senshis se colocaram ao trabalho assim que o silêncio se instaurou, mas os Heishis ficaram desgostosos com o chamado. A maior parte sequer se mobilizou para o discurso. Os mirins, por outro lado, ficaram paralisados com o tamanho da pessoa que acabaram de testemunhar.

— Eu nunca imaginei que veria Tomoe Hikari de tão perto — disse Masori.

— Eu também não — bocejou Emi — nem sei quem é. 

— Está brincando? — se surpreendeu Masori — ela é uma Senshi Principal, mais do que isso, ela é filha mais nova de Eiji Hikari, o general linha dura da Guerra do Sangue. Mesmo sendo a mais nova, superou os irmãos dela, se tornando a única Senshi de primeira classe da família. 

— Erro dela. Devia ter ficado em casa — Emi cruzou os braços — Quanto deve ter sido a multa dela para servir?

— Caríssima, principalmente porque ela também recusou a maternidade — adicionou Yukirama — Mas não posso dizer que deu errado. Ela é a mulher mais forte de nosso reino. 

— Meu irmão está com ela — Tsuneo olhava Tsuyuki no meio dos Heishis, depois abaixou a cabeça — Acho que ele nem sabe que tô aqui.

— Enquanto seu irmão está no topo você tá aqui cheirando a chulé — brincou Emi. 

— Cala a boca — Tsuneo empurrou ela. 

— Dois capitães, um comandante dos Senshis Principals e o embaixador Shiro — Usagi comentava com a mão acima dos olhos — Isso aqui é coisa séria. Ainda tem a Reserva e a Cidadela. Nunca vi uma mobilização assim, nem mesmo no deserto. 

— O que te levou a vir de última hora? Achei que ficaria com Aiko — perguntou Masori. 

— E iria, mas minha presença foi requisitada nesse fronte. Olha pelo lado bom, Umi ficou com a Aiko na Cidadela. Se tudo der certo, a batalha não vai chegar até elas.

— Deve ser o mesmo caso do Yanaho, pelos ferimentos — indagou Yukirama. 

— Yato me contou que não — explicou Usagi — Yanaho foi punido por desacato a um ancião. 

— O quê? — Yukirama parou o que estava fazendo — Por que ele faria isso?

— Você não estava lá. Ele ouviu algo que não gostou, depois de quase morrer e ver tantos mortos. Eu nunca vi ele daquele jeito.

— Não tinha como ele saber sobre os Shiro agora, tinha? — acrescentou Masori.

De repente entre os mirins, surgiu duas das figuras que estavam com a Senshi Principal, Yato era o que tomava a frente enquanto Tsuyuki foi em direção ao seu irmão onde os dois se reservaram por um momento. Enquanto o Comandante do deserto fez sua solicitação:

— Você, é o jovem que nos ajudou no deserto — apontou para Usagi — venha comigo, irei colocá-lo junto aos Senshis, já pode se considerar um.

Usagi apenas seguiu a ordem se afastando dos demais, Yukirama acompanhou a passada dos dois para longe cerrando os punhos até que sentiu uma mão alcançar seu ombro. 

— Não adianta se enciumar a conquista de um companheiro — dizia Kento, encapuzado. 

— Não é isso, mas tudo que passei no Império parece que não serviu de nada. 

— Pode até ser, porém tudo que é feito precisa ser visto — explicou Kento — Infelizmente é como funciona, quem ficou aqui aparece mais. 

Yukirama permaneceu parado, notando a risada de Masori e Emi logo depois da fala de Kento que se assentava próximo de alguns equipamentos. Quando o olhar do jovem que seguia Usagi com a autoridade pode notar outra figura ilustre. Os Heishis apresentavam uma criança a Imichi que respondia a requisição deles:

— Uma criança? Essa é uma luta séria! 

— Ele não é uma criança qualquer — dizia o Heishi — esse garoto pode controlar o ar e o gelo. A nevasca vai fortalecê-lo! Ele tem que ir conosco, é o nosso melhor. 

— Requisitaram a aprovação da comandante?

— Aquela ali? — um dos Heishis olhou ela da cabeça aos pés. 

— Permissão para falar — uma voz surgiu como um urro entre eles. 

— Você? — Imichi reconheceu Yukirama — Por que veio?.

— Keiko realmente não é uma criança normal, suas habilidades nos salvaram em batalhas no império, até mesmo em Doa. Vamos precisar dele para a operação.

— Ele tem razão — Tomoe se aproximou ao ouvir a conversa — Deixa eles, Imichi. Pode ser meio patético que as esperanças de homens feitos estejam em alguém tão pequeno, porém todos os Senshis que o viram em Doa disseram a mesma coisa.

— Crianças como ele ainda têm muito a aprender.

— E você? Sabe de tudo também? — protestou o Heishi — Espera e verá.

O grupo partiu de imediato, debaixo de sussurros etéreos e risos sem origem, uma trilha pela floresta amaldiçoada. O coração de Tsuneo martelava seu peito a cada passo, até que um braço entrelaçou sob seu pescoço: 

— Pronto para outra, irmãozinho?

— Bom eu não, quer dizer eu…

— Conta outra — apoiou a ponta de sua espada no solo — aquele seu amigo, Etsuko, né? Ele morreu no deserto, você deve vingar ele. Digo… isso deveria te dar mais vontade de lutar.

— M-Mas eu tenho!

— Com essa espada guardada? — cobrou do irmão.

Tsuneo tirou a arma da bainha, arrancando um sorriso caloroso de satisfação de Tsuyuki:

— É isso aí. 

Chegando ao fim da floresta, um campo aberto com flores plantadas ao redor de um riacho se apresentava aos recém-chegados. Daquela distância, o muro principal já se esticava até o céu. Subitamente o som que atormentava seus ouvidos parou. 

— Estamos em Novo Caminho. Os inimigos estão perto. Comandante — Imichi chamou por Tomoe — Eu sinto que tenho a solução para os Heishis.

— Guardou ela para quando estamos nas portas de um confronto? 

— Por aqui corre um tubo de gás — apontou para o riacho — a cidade de Novo Caminho era além de seu tempo, utilizando recursos naturais para fornecer recursos interessantes. Um dos meus favoritos quando criança era um sistema de iluminação a gás conectados via tubos em postes por toda a cidade. 

— Considerando que os postes são fortes o bastante para resistir à neve e às décadas de abandono, como vamos acender?

— O Shiro comum sabia manipulação elemental básica. Cada um podia acender com seu próprio fogo. A cidade é divida em três ilhas, conectadas por pontes hidráulicas, podemos ativá-las quando chegar a hora.

— Então não temos tempo a perder. Ouviram essa, garotos? — Tomoe gritou aos Senshis atrás — Vamos acender esse lugar. Obedeçam ao Shiro, ele vai levá-los aos tubos.

Os Senshis tomaram os primeiros bairros de Novo Caminho, sem sinal do inimigo. Tomoe observava seus homens subindo em escadas localizadas ao lado dos prédios, além de postes que ela mesmo acendia. Os Heishis se acumularam ao redor das ruas acesas, mas não importa o quanto a cidade era colorida de laranja, o exército Kuro não apareceu. 

A ponte já estava abaixada quando chegaram. Os Heishis não perderam tempo em avançar, mesmo que a próxima ilha estivesse escura. Contudo, no meio do trajeto, os ecos voltaram.

— Lá embaixo — um Heishi apontou para o rio — O que é aquilo?

Eram inúmeras pessoas, rastejando para fora do rio. Imichi saltou sobre eles, pegando um com sua velocidade:

— Onde estão os outros? A quem vocês respondem?! 

O sujeito estava completamente anestesiado. Com a boca babando e os olhos negros, ele apenas estendeu suas mãos ossudas para Imichi, emitindo cargas elétricas de seus dedos. Naquele mesmo instante, Imichi soltou o homem no meio do rio, subindo de volta para a superfície.

Imichi observou de cima, dezenas de homens desprovidos de roupas, com uma aura azulada, rastejando em direção a ponte que começou a se mover:

— Saiam da ponte! 

O berro do Shiro foi tarde, a ponte foi erguida. As suas pontas no meio subiam para o alto, dividindo os Heishis. Keiko, que estava bem no centro, ajustou sua queda fazendo uma ponte de gelo para voltar para perto de Tomoe.

— Quem ativou a ponte? — perguntou Tomoe se aproximando. 

— Eles ativaram a ponte levadiça, usando cargas elétricas mesmo não sendo habilidades Kuro — Imichi passava por eles — não são do exército inimigo. Eles não têm armaduras ou armas.

— Vimos algo parecido no deserto — alertou Yato — Foi um ataque noturno também, pessoas instáveis. Temos que tirar os Heishis do outro lado.

— Pensei que somente os Shiro conheciam dos mecanismos da cidade — provocava Tomoe — é cedo para falar que subestimou eles? 

— Mesmo que seja o caso, os experimentos agiam de forma desordenada no deserto, esse ataque agora me pareceu bem… consciente — comentou Yato. 

Mais uma descarga foi desferida, a ponte levadiça novamente se moveu dessa vez para baixo. Nenhum Heishi dos dois lados ousou atravessá-la. Brotando no meio dela estava uma silhueta de um homem alto coberto de preto. Quando a nevasca se assentou, viram a máscara em seu rosto. 

— Aquele cara… — reconheceu Yato — é o mascarado do deserto. 

— Nobura! 

Tão rápido tirou sua conclusão, Imichi disparou contra o líder dos súditos. Prestes a atingi-lo no rosto com sua adaga um portal esverdeado o sugou para dentro. Com o sumiço do Shiro, Nobura apenas apontou adiante para seus homens avançarem.  

— Droga, recuem imediatamente! — gritou Tomoe.

Do outro lado do portal, Imichi se espatifava entre paredes. Limpando sangue do nariz ele se reergueu:

“Então o Seth também está aqui, como fui cair nessa de novo!”, percebia o breu ao redor, ameaçando acender sua aura branca para iluminar, mas parou assim que sentiu o cheiro de gás evidente. “Um vazamento de gás? Esses são túneis subterrâneos, o quão longe estou da primeira ilha? Como anteciparam isso tudo?!”

Outro portal, tão pequeno quanto uma fechadura de porta iluminou a escuridão, deixando uma minúscula fagulha entrar nas catacumbas. A armadilha montada foi concluída em uma grande explosão subterrânea, os postes acesos pela aliança explodiram um a um. Após a sequência de estouros, a escuridão havia retornado a Novo Caminho.

Em uma das quatro torres cercando o templo central de Novo Caminho, Itoshi assistia ao começo do conflito, com seus braços para trás, recebendo o ar agitado da explosão como um abraço. Abaixo dele, Nobura estava sentado na beirada do pico:

— Ele ainda está vivo.

— Sua análise perde o todo pelos detalhes — disse Pandora, vindo de trás — O alvo nunca foi o Shiro veloz. Agora, sua ausência cria a janela perfeita para minha primeira surpresa.

— Eu não entendo o motivo da sua inquietude, Nobura — provocou Itoshi — Este garoto sempre foi a sua responsabilidade.

— Ele teme que sua volta venha a atrapalhar o procedimento de hoje — respondeu Pandora — Porém minhas novas criações estão mais estáveis que no deserto, isso eu lhe asseguro.

— O elemento dos escravos é relâmpago — Nobura esticava a mão na direção da batalha longe dali — Como adquiriu esta praticidade?

— Estudei as tecnologias ocultas de Novo Caminho por anos. A cidade toda é um tesouro muito bem trancado. Por sorte, você trouxe a chave para este baú há dois anos atrás.

— Seus experimentos são só para somar números Bruxa ímpura — respondia Itoshi — o príncipal é os Súditos espalhados pelas regiões, será ótimo para medir suas capacidades, apesar do moleque azul ter ficado sozinho na cidadela. 

Um portal verde surgiu de trás das duas autoridades masculinas, Seth brotava trazendo o recado:

— Delta e Digama estão em posição. Devo?

— Apenas a Delta por enquanto — respondeu Nobura.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

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