Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume V – Arco 14

Capítulo 142: Dança da Morte Pt.2

Os mirins correram pelos corredores, enquanto no jardim, Takuma posicionou Senshis em cada extremidade do labirinto verde. Com uma ordem, seus homens acenderam suas espadas para em poucos segundos todo o trabalho de décadas dos anciãos arder em chamas. Os pretorianos foram atraídos como mariposas. 

No corredor que os mirins queimaram, desceram três Kuros. Apesar dos fortes ventos e da chuva, as chamas permaneciam, graças ao controle através da energia compartilhada dos Aka.

Jin usou de um pedregulho no chão para arremessar neles, mas não passou de um incômodo. Lançando-se neles como um torpedo, o pretoriano mirou o filho adotivo de Iori, porém Kazuya saltou no meio o agarrando no ar. 

Na disputa, o Kuro pegou Kazuya pelo rosto, o pressionando contra o canteiro de flores em chamas.

— Sai de perto — Yukirama balançou sua espada nas costas do pretoriano.

Chutando o ar, o pretoriano desequilibrou o mirim, concedendo-lhe tempo para pegá-lo com sua mão livre e jogá-lo em Jin. O deu passos na direção dos dois, quando foi surpreendido pelos flancos. Tsuneo o empurrou com toda força contra o chão, usando um escudo. 

O Kuro inimigo apenas de sua força física para empurrar o mirim para longe, com o escudo, mas o movimento de Tsuneo foi suficiente para abrir uma brecha perfeita para um dos Senshis acertar o inimigo ainda levantando do chão, com uma espada cravada em suas costas. 

O sucesso durou pouco, uma vez que os outros dois manipuladores de vento ergueram o Senshi do chão até lançá-lo para fora da fortaleza. Pegando um pouco do incêndio, os três mirins envolveram a dupla com as chamas, porém tão forte ela foi lançada da mesma forma que elas foram devolvidas pela barreira conjunta de ar.

Jin rolou no chão para apagar as chamas de si, enquanto Kazuya tirou suas roupas de cima. De todos eles, Yukirama foi o único capaz de desviar as chamas uma última vez para o alto, as dissipando.

Com um disparo de vento, o primeiro Kuro separou a espada do mirim. Já o segundo arremessou de costas no chão. Foi então que uma brisa passou por ele. Em uma piscada, Jin e Tsuneo haviam sumido. Os pretorianos olharam entre si sem entender. 

Um a um o avanço adversário sumia, permitindo a Takuma avançar. E por fim, caiu neve finalmente extinguindo as chamas do jardim. As plantas renasceram instantaneamente, tomadas por uma energia verde enrolando-se no pretoriano prestes a dar o golpe final no filho de Yuri.

Yukirama ergueu o olhar encontrando o prodígio do gelo e do seu lado um rapaz de cabelos e olhos verdes, envolvido nas plantas com a mesma cor de sua aura.

— Olá, garoto dos Aka — disse Keiko — De novo precisando de mim.

— O-obrigado, então aquele tremor — se levantava — como conseguiram descer o solo?

— Papo pra outra hora — disse Dai tomando à frente — Vai ficar só olhando ou vai ajudar também? Leve seus amigos daqui, a gente já vai pôr um fim nisso.

— Só vocês? Eu duvido muito que… — a brisa voltou a cruzar por eles.

Yukirama olhou para trás e viu o restante dos pretorianos forçando contra os homens de Takuma no chão. De pé no meio deles estava um homem esguio de capa branca. 

“Um Shiro?! Espera, ele não parece com aquele mestre do Yanaho”, refletia Yukirama.

— Essa batalha chegou ao fim, essa luta é minha, protejam-se e esperem — sinalizou Imichi.

A batalha entre o líder dos Pretorianos e o Principal do Martelo continuou. A chuva iniciada pelos Heishis havia se transformado em neve. Os telhados da Casa Central já estavam cobertos de branco com rastros deixados pelos passos, deslizes e golpes dos dois combatentes. 

Hidetaka bloqueou uma martelada de Masaki que o jogara na beirada da casa. Seu oponente partia para mais um golpe, quando o gelo derreteu sobre seus pés, fazendo-o patinar no telhado.

A água ganhou ainda mais vida seguindo o rastro da espada do Kuro que acertou a sua extensão líquida na defesa improvisada do Senshi, lutando para se manter de pé. Três golpes e a neve derretida se dispersou, cegando Masaki ao acertar em seus olhos.

— Não me importo se não conquistar a cidade, minha batalha terá sido um sucesso assim que matá-lo — levantou a espada.

— Você pensou a mesma coisa quando me tirou o martelo.

— Dessa vez será com minhas próprias mãos! — correu na direção do principal que estava às cegas.

Abaixando os ombros rapidamente, Masaki usou a própria cabeça antes do enorme metal do líder pretoriano atingi-lo. Acertando o queixo de Hidetaka com tudo, fazendo-o cambalear:

— A cabeça do martelo não é a única que eu sei usar. Você perdeu.

Por fim, Masaki girou com o martelo acertando o lado esquerdo de seu inimigo com tanta força que ele foi atirado contra uma das muralhas opostas à casa onde estavam. 

Cambaleando para fora, o general deu uma última olhada para o campo de batalha. Um raio branco cruzava todas as frentes, seus homens não tinham chance. Os Senshis estavam se reunindo e figuras desconhecidas com iros distintos vieram para ajudar também. 

Nem mesmo seus melhores homens resistiram tanta pressão dos dois lados. O general cospia sangue, mas se levantava novamente, encarando o homem com martelo, que se surpreendia: 

“A resistência desse cara, tenho certeza que quebrei uma das costelas dele, fora o braço… e ainda assim está de pé com a mesma expressão.”

Sua presença ainda com vida era uma zombaria contra Hidetaka, cuja aura negra se espalhava pela neve que penetrava o interior da muralha, enquanto mudou sua expressão para esboçar um sorriso irônico: 

— Perdi? 

Os flocos se transformaram em água, depois vapor quente até se concentrarem em uma corrente de ar que atirou Hidetaka de volta ao seu oponente como um estilingue. 

Masaki preparou seu martelo para acertá-lo, porém ao redor das pernas do general, subindo até a cintura, um pequeno tornado manobrava seu corpo pelo céu. Ele combinava a água e o vento, em uma rápida velocidade, como a de seu time aéreo, ele pegou nas costas de seu alvo, abrindo um corte largo em suas costas.

Ele se movia sem tocar no chão, deslizando pelo ar para outro lado, desferindo outro corte, e outro. Os ventos então circundaram Masaki, acumulando neve e gelo ao redor do seu corpo até outra bola d’água se formar na ponta da espada de Hidetaka, que desceu em um golpe que o arremessou até o chão, o nível inferior da casa.

O Senshi Principal ainda se recuperava da queda quando seu agressor voltou, o agarrando e atravessando as paredes com ele até arrastá-lo no concreto do pátio principal. 

— Eu não perco.

O ar esquentava ao redor de Hidetaka até que em um corte ele acendeu o ar em chamas como se riscasse um fósforo. O fogo envolveu Masaki, que se protegia com os próprios braços do ataque, andando vagarosamente através do ataque.  A cada passo, mais um corte no ar liberava outro jato de fogo, mas o Principal não recuou um centímetro. Assim que ficaram próximos o bastante, ambos levantaram suas armas.

Espada e martelo se chocarama, tremulando o redor como se um grande portão tivesse sido batido. Disputaram forças sem desviar o olhar um do outro, até que cada um agarrou a arma do outro, como se pensassem a mesma coisa, ambos recorreram à cabeçada, batendo testa com testa. 

Foi então que eles foram separados num piscar de olhos. Gelo começou a envolver Hidetaka, que se soltou mudando a direção dos ventos ao seu redor. 

Masaki caía de joelhos no chão, na medida em que Imichi desacelerava para perto dele. Ao mesmo tempo, Keiko, Dai e Uchida apareciam nas costas do pretoriano. Onochi flutuava logo acima dele com Mitensai ao seu lado.

— O comandante do melhor exército do continente, necessitando de reforços estrangeiros — Hidetaka balançava a cabeça — Pensa que tenho medo?

— Devia ter — respondeu Imichi — dando passos à frente. 

Os membros da tropa de Hidetaka remanescentes se reagruparam perto de seu general. Não passavam de cinquenta pretorianos.

— Meu trabalho aqui está acabado — declarou, encarando Imichi — Até breve.

Os pretorianos criaram uma grande barreira de terra, seguido por um tornado que envolveu a tropa, semelhante ao feito por Hidetaka, a partir de então correram até um portal verde brilhando que os esperavam. Onochi tentava se aproximar sobrevoando Doa, a perseguição durou alguns segundos até o mestre de Yanaho tentar atravessar a ventania até que tudo desapareceu. 

Onochi retornava, relatando a evacuação gerando um urro de vitória e alívio dos soldados presentes. Apesar de Masaki desabar no chão ao final, os Senshis permaneceram festejando, levantando a moral de cada um dos homens da aliança que puderam ouvir naquela fortaleza. 

— Onde está Yanaho? — perguntou Onochi, descendo.

— Ele não tava aqui? — insistiu Mitensai.

— Eles evacuaram com os anciãos — disse Masaki, nos braços de Imichi — Segue para a saída norte, deve encontrá-los lá esperando por resgate.

Onochi subitamente alçou voo com Mitensai com conjunto, ao tempo que Doku se aproximava do comandante Masaki que desabafava com Imichi, que o carregava pelo ombro:

— Aquele cara tinha o nível de um principal, mas nem ao menos era um súdito. 

— Você é um grande guerreiro — Doku se juntou a eles, pegando no outro ombro de Masaki — sem você aqui, tudo estaria perdido. 

Os dois carregaram o principal para dentro da fortaleza, onde em uma praça montaram uma enfermaria improvisada. Logo ao lado na Mansão dos Lírios, Tomio finalmente chegava com as mirins ao encontro das tropas de Takuma.

— Você ainda me deve explicações sobre esse “tio Masaki” — dizia Yukirama, erguendo Kazuya do chão.

— Não é nada importante — respondeu o mirim, antes de ser coletado por um Senshi — Só perguntar para ele.

— Yuki — uma voz chamou por ele.

Reconhecendo a voz o mirim que passou meses em Nokyokai, congelou por um momento, quando ameaçou se virar, recebeu um abraço apertado de Masori ainda de costas. 

— Você demorou o bastante para me deixar preocupado.

— Você não vai sair da minha vista de novo — soltava ele — seu cabeça dura. 

Umi, que vinha logo atrás, só pôde olhar através dos dois, para Tsuneo e Jin com um olhar desaprovador. Seu professor, por outro lado, foi na direção dos dois para ajudá-los. 

— Meninos, o que vocês estavam pensando se jogando nessa luta deste jeito?! — puxou Jin e Tsuneo pelo braço.

— Tínhamos que ajudar — disse Tsuneo, acenando para Jin — Vocês precisavam de todos. E… já tava na hora de mostrarmos tudo o que aprendemos no internato.

— É, a gente ainda tinha um pouco de energia. Deu tudo certo, né? Acabou?

— Estou orgulhoso de vocês — abraçou ambos — De todos vocês, na verdade. Arata teria orgulho também. Na verdade, por mim já os chamaria de Senshis

Todos trocaram olhares entre si de alívio, com sorrisos contagiando uns aos outros, até que Jin notou Umi se afastando dos demais, sem nem ao menos desfrutar do momento.

Emergindo da escuridão dos túneis, Naohito liderava o restante dos anciãos e Senshis para a superfície. O bosque que esperava eles porém estava coberto por uma tímida neve. O sol, que deveria estar visível no horizonte, havia sido engolido pelas nuvens.

— Como isso é possível? — Naohito estendia a mão — Parecia chover antes de partirmos.

— Senhor — um Senshi chamou — Devo fechar a passagem? 

O velho ancião hesitou por um instante. Assim que abriu a boca para responder, um eco pode ser ouvido da escuridão. Alguns minutos depois, uma mão emergiu. Era de Makoto, seguido por Yanaho carregando Ren nos braços.

— Conseguimos! — respirava fundo Makoto, carregando a urna em mãos.

— Yanaho! — gritou Usagi e Aiko indo de encontro ao garoto ensanguentado.

— Eu estou bem — suspirava fundo — ele que precisa de ajuda — repousou Ren no chão. 

— Os outros não tiveram a mesma sorte — Makoto dizia encarando Naohito— Mas está feito. 

— Todos os outros foram mortos? — reparou Naohito — Essa geração enfraqueceu. Com toda aquela gente, era apenas um homem, vocês poderiam ter feito mais.

— Senhor Naohito — Makoto se levantou — Agora não é mesmo a melhor hora pra…

Yanaho se levantou e foi na direção do ancião, com passos firmes ele ignorou os chamados de Usagi:

— Yanaho, o que você… espere!

Makoto tentou segurá-lo, pelo braço queimado porém o mirim se livrou apontando mão livre com sangue seco na cara do ancião que não expressou reação:

— Faz alguma ideia do que aconteceu lá embaixo?! O que tivemos que fazer para salvar essa droga de urna?!

— Fizeram o seu trabalho — o senhor levantou um sorriso de canto — Quer uma medalha por se sacrificar pelo seu reino? Vocês salvaram apenas um endividado e uma caixa de aço de um inimigo ferido, poderiam ter feito mais! — respondeu a altura. 

— Você é um velho ingrato — ameaçou colocar as mãos em Naohito — Da próxima vez que isso acontecer eu mesmo vou te jogar na frente daqueles malditos para ver se você descobre se é tão fácil.

— Chega, Yanaho — Makoto se colocou entre os dois, Usagi o puxou pelo braço.

— Nenhum Senshi por Dívida deveria ter que lutar numa guerra para proteger um idiota senil com o pé na cova como você! Acha que vai viver se aproveitando dos sacrifícios dos outros para sempre? 

Naohito que até então olhava de cima para o garoto de maneira desdenhosa, subiu a vista ao reconhecer algo vindo do céu. Os outros anciãos também avistaram boquiabertos o que vinha na direção deles. Onochi descia do céu com um par de carruagens, uma delas com Mitensai sentado no teto.

— Desculpa pelo atraso, pessoal — declarou Mitensai — Vamos levar vocês para casa, vamos entrando um de cada vez.

A melhor idade deu pouca importância para o garoto, entrando no carro sem responder aos avanços dele. Naohito por sua vez permaneceu imóvel, percebendo o garoto que o ameaçava mudando sua postura e foco repentinamente:

— Mestre? 

Yanaho seguiu em direção a Onochi que arregalou seus olhos ao estado do garoto. O mirim que tinha a capa vermelha ainda embrulhada em seu ferimento enorme no braço, fez sua última corrida, com o resto do seu fôlego abraçando fortemente seu mestre Shiro.

— Yanaho, olha só para você — agarrou seu aluno, notando seus soluços de choro — o que aconteceu? 

— Eu não aguento… as vilas desérticas, Suzaki, Katsuo e agora isso — chorava descontroladamente — eu só quero ir para casa. 

— Yanaho… você está… — Mitensai tapou a boca, incrédulo com o estado. 

— Senhor — Makoto insistiu — como estava dizendo sermões neste momento são inadequados.

— Haverá consequências para estas atitudes — disse Naohito nas costas do Shiro — O corpo militar dos Aka são para homens, não garotinhos indisciplinados.

— Eu sou mestre dele — dizia consolando o garoto — Se alguém pode falar com ele agora sou eu.

Na medida em que Makoto se afastou com os anciões, Yanaho tentava se acalmar, ele exibia sua mão vermelha de sangue, ao tempo que Onochi desatava a capa vermelha amarrada no braço do mirim. Sua pele queimada já estava de outra cor, revestida em bolhas, Mitensai desviou o olhar para o ferimento. 

— Mas o que fizeram com você? Precisa de um médico, agora! 

— Ele salvou a minha vida — disse Ren, acordando de repente nos braços de Usagi — um inimigo conseguiu acessar a rota de fuga, mesmo não tendo ninguém páreo para ele, Yanaho deu tudo de si.  

Onochi o deitava na grama, enfaixando seu braço lentamente na grama, ao tempo que descobria o que havia acontecido: 

— Você foi muito bem, não se preocupe com mais nada. 

— Mestre… eu… eu o matei — sussurrou, fazendo Onochi fechar os olhos por um momento. 

— Tenho certeza que fez o que pôde, agora descanse — terminava de enfaixar o braço. 

— Fiquem com ele, eu e Aiko iremos nos encarregar deste ferido — disse Usagi pegando Ren — é o mínimo que posso fazer. 

Os fugitivos lotaram os dois transportes. Com um breve aceno Makoto, se encarregou de providenciar um espaço para Ren ser colocado em uma das carruagens, acompanhado de Usagi e Aiko.

— Parabéns pelo trabalho — Naohito dizia com a urna em mãos — Sabia que ia conseguir, como esperado do filho de Hokuto. Vamos evitar todo esse drama indo logo para ca…

— Sugiro que vá sozinho para Kagutsuchi, senhor — Makoto o afastou — Ainda tenho assuntos a tratar aqui.

— Você cresceu garoto — Naohito abriu um sorriso, dessa vez mais largo — Tudo bem. Faça como quiser. Estarei esperando.

Com as carruagens partindo, Makoto retornava para próximo dos três que ficaram. Mitensai se aproximava de Yanaho que conseguiu adormecer:

“Desse jeito não tem nem como eu falar com eles sobre o que encontrei, preciso que ele vá comigo lá”, refletiu Mitensai, recuando logo que viu Makoto. 

— Por que ficou? — perguntou Onochi.

— Ele salvou a minha vida também. Ora, onde estão os meus modos. Me chamo Makoto Shiranui — estendeu a mão — Você deve ser um dos Shiro.

— Shiranui? — cumprimentou, mesmo sentado no chão com o aprendiz nos braços — entendo, sou Onochi é um prazer.

Aos poucos, as tropas aliadas expulsaram a Guarda Pacificadora de Doa. No portão de saída para o sul, em direção aos Shiro, os Senshis recolhiam os corpos tanto de inimigos quanto de aliados durante a maior parte da manhã. Foi então que Masaki, já parcialmente recuperado de sua luta, reuniu as lideranças do conflito nos  arredores da cidade.

— Isso é tudo que vai precisar — Uchida entregou o mapa — Eles fugiram por onde vieram: território Shiro. A luta de vocês está longe de acabar.

— É assim? — questionou Imichi — Vão só sair daqui?

— Esse era o trato, não era? — Uchida se voltou para Masaki — o que deu nele? 

— Devia perguntar isso para seu pupilo. Eu vi o que fizeram mais cedo, invasão não é justificativa para matar sem pensar duas vezes. 

— Eu te garanto que o outro lado sequer pensa uma única vez sobre isso — interviu Uchida — e afinal o que isso adiantou? Do que sobrou do exército inimigo que capturamos, todos tiraram a própria vida. Se pensa assim da própria terra, imagino o que faz com as estrangeiras.

— Diferente de você, eu faço distinções tão simplórias. 

— Em vez de apelar para sua misericórdia ao inimigo, prefiro apelar para um pragmatismo — Masaki afastou Imichi —  Uma invasão completa em território Shiro significa um risco que tira qualquer possibilidade do exército Aka assisti-los nas montanhas. Vocês não tem a capacidade de suportar um prolongado conflito doméstico sozinhos.

— Eu só acho engraçado como a discussão das vidas tomadas não era um problema para os irmãos há algumas décadas atrás — olhava de canto para Onochi e Imichi — Que seja, na guerra é matar ou morrer. 

— Eu não estava falando com você — Masaki olhou por cima dos ombros de Uchida.

— De acordo — Doku apareceu por trás do general — Ficamos.

— Como? — Uchida se virou — Esse tipo de ordem não deveria vim de você, garoto. O imperador nem mesmo…

Subitamente Senshis cercavam todos que ali estavam, com espadas apontadas na direção de Uchida que se encolhia com sua tropa.

— Mas o… o que está havendo?! — se colocou atrás de Keiko.

— Por quanto tempo achou que poderia esconder seus crimes de nós, Uchida? — Doku circulava o general — Infelizmente para você, descobrimos o que andou fazendo durante Nokyokai: minerando fulgur enquanto os Aka morriam para você.

— Isso é um absurdo. Que provas teriam para isso?

— Muitos dos nossos morreram por sua causa — Masaki tomou a dianteira, mostrando uma carta em mãos — seu próprio Imperador entregou você. 

— Espera aí! — apontou para Doku — realmente querem acreditar nesse moleque?! O acordo entre o Reino Aka e Império Ao, é apenas um devaneio — os Senshis não baixaram suas armas — a postos! 

O grito de Uchida ergueu os escudos dos Heishis que permaneceram ao seu lado. O único que ainda não havia se movido era Keiko.

— Com você comigo, as coisas estão no meu controle. Mostre para esse ingrato o caminho de volta para o buraco onde a mãe dele se enfiou, do qual ele nunca deveria ter saído.

Contudo, foram os braços de Uchida que foram envolvidos em gelo, junto com toda a guarda que o circundava. O garoto viu o rosto confiante do general se transformar em medo bem na sua frente.

— Errado, quem vai voltar para o buraco é você, usurpador. Eu já esperei até demais para te colocar no seu lugar.

— P-Por quê, criança? Pensei que tivesse voltado pela sua família.

— Você não é a minha família! É um mercenário promovido em cima da morte do meu pai, usando o nome dele como um título. Nunca mais. 

— Você tem um senso muito elevado de importância própria, general — complementou Doku — Keiko nunca foi seu para comandar.

— Todas aquelas ordens e falso senso de poder. Satoru estava certo, assim foi muito melhor — sussurrou Keiko, fazendo o gelo se expandir colocando Uchida de joelhos — Te ver fraco, implorando pela vida! 

— D-Doku, isso não se faz — Torigami falou, enquanto era envolvido por gelo até o pescoço.

— Sua aliança é para com o imperador ou com o general? — questionou o filho de Tadashi.

Torigami não respondeu, se deixando congelar completamente junto com os outros Heishis

— Espere — Imichi interrompeu — Mesmo eles podem ser úteis. Não os mate.

— Traição é coisa séria. Imagino que seu Imperador queira julgá-los — sugeriu Masaki.

— Desde antes desta incursão já tínhamos acordado com o imperador que a pena ficaria a cargo de vocês. Afinal, a parte mais lesada foram os Aka — respondeu Doku — Mesmo assim, eu insisto numa sugestão. Senhor Masaki, use esses prisioneiros para fazer um reconhecimento da zona de perigo dos Shiro.

— Espere — Onochi tomou a frente do irmão — o general pode ter cometido um absurdo em Nokyokai, mas ainda assim tem direito a um julgamento.

— Se os Aka negarem tomar parte da punição, vou apenas trazê-lo de volta para casa, onde será executado — deu de ombros Doku — Uchida usa o título de nobre sem nem ao menos ser um, fez isso para se aproximar do garoto. Vocês viram, ameaçou obrigar o garoto a lutar com todos aqui para livrar a pele dele. 

— Eu vou considerar a sua proposta, Doku — disse Masaki — obrigado.

— Poupe-os — Doku sussurrou para Keiko.

Insatisfeito, a criança descongelou os Heishis, deixando apenas os pés e as mãos presos por correntes cristalinas. Os Senshis pelas próximas horas recolheram homens de Uchida, além do próprio general. Já era noite quando partiram com eles, sob a vigia dos dois Midori e Imichi no alto de uma torre ainda intacta.

— Por quanto tempo mais precisamos ficar aqui? — Dai se inquietava na poltrona — Preciso voltar para casa. 

— A situação piorou — respondeu Imichi, se apoiando nas crenelas — Acho que para você essa pode ser uma boa oportunidade até. Chaul vai querer ajuda.

— Se ele precisa, imagina nós — retrucou Dai — Está sem favores para cobrar, Shiro. Eu não estou aqui por caridade.

— Os Kuro ainda estão por aí, mestre? — perguntou Mitensai ao lado da cama do mirim. 

— Pelo que vi nos mapas que o general nos entregou, Doa seria um posto avançado, feito para afastar os Aka do território Shiro. O relato de ecos que parece um exército enorme, indica que a invasão já pode ter começado.

— E o que vão fazer com aquele general agora? Confiam mesmo que isso foi tudo uma traição vinda de dentro? 

— Isso é com Masaki. Fizemos o possível para evitar uma execução, mas as provas são incontestáveis — cerrou os punhos — Nem mesmo meu irmão nega que houve sabotagem em Nokyokai.

— Desculpa se isso não é o que você quer ouvir, mas eles vão ter o que merecem. 

Imichi observava, o horizonte com estrelas sendo cercadas pelas núvens, quando de repente tirava um lírio recuperado da mansão de seu bolso, olhando para ele com seus olhos brilhantes. 


Pesquisa: https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSfgn0nbw5FrLSiNfDaPi0PSNK_yHfLGouR1fxeX1jJu88zF8Q/viewform

Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.




 

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