Volume V – Arco 14
Capítulo 142: Dança da Morte Pt.1
O cheiro de sangue, esgoto e terra penetravam nas narinas de Yanaho. Na medida que as lágrimas desciam do seu rosto, sua aura diminuía de tamanho, se deixando engolir pela escuridão do corredor. Apesar disso, foram as memórias do passado que assombraram sua mente, mais especificamente uma frase, dita com o punho cerrado e o braço estendido no meio de outros três que uma vez considerou seus amigos:
“Eu prometo que vou continuar lutando para que as cores possam conviver em paz!”
Ao levar as mãos para secar as lágrimas, Yanaho hesitou ao sentir o sangue na ponta dos dedos. A náusea terminou seu trabalho, fazendo com que o mirim colocasse tudo para fora pela boca. Finalmente, seus ouvidos voltaram a escutar.
— Está me ouvindo por acaso! — Makoto o pegou pelos ombros — Ren está mais a frente, temos que ir e encontrar os anciões! Você venceu, Yanaho.
— Eu… o matei.
— Você preferia que ele nos matasse? Por favor, poupe suas lágrimas — balançou o garoto — Se não agirmos, Ren pode piorar e tudo terá sido em vão. Apresse-se, já peguei a urna.
— Mas e a família dele? Seus pais, filhos, o que pensariam de…
— Acorda — deu um tapa no garoto, o puxando pelo braço — este homem fez a escolha dele, você fez a sua e três pessoas sobreviveram por isso. Quando não há espaço para o diálogo, um Senshi deve tomar essa decisão.
— Ninguém deveria ter o direito de decidir quando alguém deve ou não morrer — saiu de cima do cadáver.
— E mesmo assim você está aqui no campo de batalha — segurou o garoto cambaleante — Como justifica isso?
— Salvar vidas… Fazer… algo… importante.
— Às vezes isso significa dançar com a morte. Nessa coreografia, não é só nossa vida que está em jogo, entende? — entregava um pano para Yanaho se limpar — se decidimos morrer pelos nossos, também temos que decidir matar por eles.
— E onde há justiça nisso? — perguntou Yanaho — Se eu fosse mais forte poderia vencer sem matar.
— Um mirim superar uma guarda de elite inimiga sem fatalidade? De todas as fantasias que você falou, essa foi a mais idiota.
— Temos que tentar. Acreditar em algo melhor, até o fim…
A conversa cessou abruptamente quando encontraram Ren, apoiado inconsciente nas paredes. Yanaho e Makoto o pegaram juntos, prosseguindo pelas catacumbas frias, os dois passavam pelos corpos dos aliados que caíram junto com eles, flutuando pela água rasa:
— No último ano da Guerra do Sangue, o Reino Aka tinha uma esperança de uma trégua ou rendição por parte dos inimigos. Mas todos foram surpreendidos com o que foi até hoje a maior investida do Império Ao. Era uma cidade próxima da Floresta Negra, estradas com acesso ao nosso próprio reino. Derrota significava o começo de uma invasão. Isso dividiria nossas forças, que lutavam em território Midori.
— Eu estudei sobre isso, “A Grande Surpresa” né? Ouvi dizer que um pequeno grupo de Senshis atrasou a emboscada, ao custo das suas vidas. Três sobreviveram, né?
— Os detalhes daquele dia são um segredo para muitos até hoje, mas os sobreviventes você conhece muito bem. Oda Yamamoto, Ryoma Shiranui e Chaul Takahashi.
— Deve ser bom para você ser filho de alguém tão importante como o Supremo — Yanaho chutou a água na passada.
Makoto ficou em silêncio por alguns instantes quando voltou a falar:
— Apesar de terem sobrevivido, eles não foram os heróis daquele dia. Para proteger as duas frentes, o exército se dividiu. Enquanto os três defenderam a posição dentro dos Midori, um homem chamado Hokuto liderou a defesa da estrada que levava aos Aka com apenas um terço dos homens. Relatos dizem que para cada um Senshi, havia cinco da guarda imperial Heishi.
— É uma situação diferente…
— Claro que não — Makoto levantou a voz — Como estava dizendo, Hokuto fez o impossível, garantindo que os Aka defendessem seu território sem perder seu domínio no campo de batalha principal que eram os Midori. Os rumores dizem que Ryoma e Chaul ofereceram ajuda, mas ele negou com uma condição.
— Como você sabe de tanto?
— Porque antes de partir, Hokuto pediu a Ryoma que caso não voltasse para casa, ele desposaria sua esposa grávida de seu primeiro e único filho.
Yanaho parou de andar.
— Espera, você não é filho do Senshi Supremo?
— Ryoma é meu pai de criação, era grande amigo de Hokuto. Por uma estratégia de contenção equivocada, a guarnição do meu pai ficou cercada em menor número em um dos bloqueios nas fronteiras que davam acesso ao território Aka.
— E não mandaram reforços? Seu pa… Quer dizer, o Supremo não fez nada?
— Aqueles três homens tiveram sua própria grande batalha para travar. E na ocasião eram meros Senshis, as ordens vinham de cima, mais especificamente de Naohito. No caso de Hokuto, a ordem era de retirada, mas pela proximidade com um vilarejo local, se aquele bloqueio fosse furado, inocentes morreriam e a guerra se alastraria pelo nosso território.
— Então seu pai biológico — Yanaho abaixou a cabeça — deu a vida para que a guerra não perdurasse. Por isso o Supremo te criou? Para compensar o sacrifício do seu pai.
— Depois daquele dia, as vidas daqueles três homens nunca mais foram as mesmas. Meu pai se sentiu responsável pela morte de Hokuto, queria ter sido mais forte para ter resistido em seu fronte e voltado a tempo para salvá-lo. Mais ainda, ele queria que o governo Aka sentisse aquela responsabilidade também. Desde então ele e Naohito travaram uma luta nas Câmaras que deu a ele e Chaul o governo dos Aka.
— Foi por isso que o Supremo te deixou do lado de Naohito? Fazer as pazes dessa época?
— Você não entendeu nada? No final, todos têm cem vezes mais sangue nas mãos que você. O que pensa deles? Tenho certeza em meu coração que meu pai preferia ter a vida de mais um Heishi pesando na sua consciência do que a de Hokuto que não pôde salvar.
— Sinto muito por isso.
— Quando Ren acordar, vai dizer a ele que cogitou trocar a vida dele pela do pretoriano?
Yanaho não respondeu a pergunta. Makoto riscava um metal em sua espada, criando fogo, no qual controlou para acender a tocha revelando uma passagem em meio ao túnel:
— A morte de Hokuto, me ensinou que: Há justiça na morte quando ela é sobre salvar quem deve ser salvo, são sacrifícios necessários. Você se conteve até mais do que podia com aquele Pretoriano, mas no fim sacrificou um príncipio seu para nos salvar. Tem mais que meus agradecimentos, você tem meu respeito por isso, Yanaho Aka.
O agradecimento encheu os olhos do mirim, que escondeu seu rosto inchado das luzes do túnel. Outra lembrança lhe percorreu a mente:
“Você me disse que não devemos derramar sangue em hipótese alguma. Só que como vou fazer isso sendo um Senshi? Isso vai ser necessário uma hora.
Onochi descansava na sombra de uma árvore, quando decidiu ir para perto do seu aluno sentado na grama debaixo de um sol quente:
“Independente do cargo que tenhamos o mais importante é conservar princípios e valores. Estou te dando as ferramentas para buscar sempre alternativas para manter eles.”
“Mas o que eu faço se não tiver outra alternativa?”
“Tenho confiança em você para fazer a coisa certa se o momento pedir. E se faltar alguma coisa, sempre temos mais a aprender afinal.”
Ao estender a mão para levantar seu aluno do chão, Onochi o levou para sombra onde deu-lhe o que comer. Da mesma forma que Yanaho lembrava-se de seu mestre, ele também tinha o jovem nos pensamentos quando chegou às margens do lago ao redor de doa.
O mestre de Yanaho se colocava no topo de uma das maiores árvores da região, observando a terra que elevou a cidade. Descendo com sua aura brilhando, encontrava dois garotos de vestes verdes, coordenados por homem de capa branca.
— Você disse que os Heishis foram enviados aqui — relatou Onochi — Devem ter colocado os moinhos de volta para trabalhar.
— Como conseguem confiar nos azuis? — questionou Dai — isso é furada.
— Eles cumpriram o papel deles — Imichi retirava uma adaga do bolso — e agora vamos cumprir o nosso.
— Mas… e eu? — dizia Mitensai olhando de um lado para o outro.
— Fique aqui e observe — respondeu Imichi, entregando a ele seu chapéu, sumindo logo depois.
— Odeio quando faz isso — comentou Dai se virando para Onochi — E você, veio para observar também?
— Alguém precisa ficar de olho em Mitensai. Pode deixar que vou protegê-los de longe. Meu irmão precisa de cobertura, vá ajudá-lo — ordenou Onochi, levitando — e não se esqueça do plano.
— Pode deixar comigo — correu em direção ao lago.
Sacando de uma pequena bolsa algumas sementes, Dai as arremessou na água envolvidas em seu iro. Em poucos segundos aguapés, flores de lótus e outra plantas fizeram plataformas largas para o Midori fazer seu caminho em direção à Doa. Imichi zigue-zagueava na água com sua velocidade, um pouco mais a frente do rapaz, quando cinco pretorianos desceram do alto apoiados pela terra que se movia pela ordem deles.
— Mais um impuro por aqui! — gritou um deles.
— Deve estar com aquela coisa no lago — juntou as mãos um deles.
Dois deles ergueram as mãos e o solo obedeceu, gerando paredes para amassar Dai.
— Impuro? — segurava as paredes com as mãos — É assim que vai ser?
A plataforma verde em que Dai se apoiava modificou-se, projetando vinhas que alçaram o rapaz para cima das paredes de terra. A planta não parou de crescer, criando galhos pelos quais ele fez seu caminho se balançando no alto até arremessar outras sementes na água por onde a dupla de pretorianos vinham ao seu encontro.
De repente as sementes cresceram, entrelaçando suas vinhas nas calcanhares dos Pretorianos, até os deixarem inertes boiando na água. Dai desceu dos galhos direto em uma planta que se projetou bem na sua aterrissagem na água para olhar os pretorianos.
— Mesmo sendo puros, mal conseguem ser páreo para mim. Mas calma, isso não vai matar vocês. Só vai doer mesmo!
Ao cerrar os punhos, espinhos cresceram entre as folhas. Amordaçados pelas plantas, tudo que os pretorianos podiam fazer era se debaterem inutilmente. Os outros três da guarda de elite de Hidetaka tinham suas mãos cheias com o Shiro veloz.
Eles faziam largas ondas na água, obrigando Imichi saltar sobre elas, diminuindo a velocidade. No ar, o mestre de Mitensai era presa fácil para outro grupo de pretorianos de terra que atiravam pedaços da formação que erguia Doa sobre eles. Mesmo assim, com sua faca seu corte dividia até mesmo um rochedo do tamanho de uma casa em dois pedaços que sacudiram a água no impacto.
Dai precisou erguer os pretorianos e a si mesmo acima da onda gerada pela queda dos projéteis.
— Presta atenção — reclamou Dai — Quer matar a gente?
Quando as águas se acalmaram, não havia sinais do homem de capa branca.
— Onde é que aquela coisa foi?!
Imichi disparou da superfície da água como um torpedo. Um dos homens de Hidetaka nas suas mãos, segurado pela camisa:
— Agora entendi, vocês não são como a Guarda Pacificadora. Controlam elementos em grupo, deixa eu ver água, terra… Cadê os outros? Lá em cima?
O inimigo nas suas mãos foi arremessado contra seu parceiro. O terceiro que sobrou fez subir um gêiser de água onde Imichi estava no ar, porém o Shiro desceu traçando uma espiral pela superfície com seus passos.
Os pretorianos de terra no alto viram o último de seus colegas do time aquático subir em outro gêiser. Sem entender quem havia saído vitorioso, embora reconhecendo a aura branca ao redor do oponente em comum:
— Aquilo era um… — seus parceiros eras arremessados na água — O que é isso?
— Sim, eu sou um Shiro — surgia de trás deles, colocando sua adaga no pescoço de um — Não deviam causar confusão na porta da casa dos outros.
— Imichi! — Dai chamou por ele — anda logo!
— Quem mandou vocês aqui? O que vocês querem tentando conquistar uma terra inabitada há quase vinte anos?
— Tentando? — o homem riu — Vocês não fazem ideia.
A rocha onde ambos estavam apoiados foi arrancada da torre de terra que erguia Doa. De repente, o pretoriano foi arrancado de Imichi indo parar na órbita de seu irmão, que flutuava para perto dele. Abaixo, os pretorianos de água surgiram da superfície aos protestos:
— Seu traidor, nós não vamos nos render a vocês nunca mais!
Do alto, os dois irmãos viram a água se tornar branca e o clima esfriar. Seus inimigos desavisados foram engolidos por uma camada de gelo. A cama translúcida cobriu parcialmente as águas. Dai, que tinha seus adversários presos pelas plantas, precisou voltar para a terra firme para não ser envolvido.
— Você tá vendo isso, Imichi? — gritou Dai, apontando para um bando de cavaleiros que entrava na área.
Onochi e Imichi desceram para encontrá-los. Os Midori reconheceram os estandartes azuis, decidindo acompanhar de longe.
— Vocês avançaram cedo demais, nosso plano era para… Eu conheço você — Uchida desceu do cavalo, apontando para Onochi — Agora você… — se virou para Imichi.
— São as tropas do acordo. Agradeço pelo trabalho da drenagem do lago, mas como pode ver ainda tinha trabalho a ser feito. O lugar era protegido por uma guarda de elite, não esperava que vocês pudessem avançar sobre eles mesmo.
— Para sua informação, encontramos um homem com essa insígnia — olhou para o pretoriano congelado debaixo dos seus pés — Ele controlava o fogo e não foi trabalho para nosso prodígio.
Keiko surgia no meio dos Heishis. A imagem do garoto trouxe um frio na espinha dos Midori que acompanhavam à distância.
— Uma criança? — se surprendeu Onochi.
— É uma habilidade e tanto — disse Imichi sorrindo para o garoto, pisando no gelo — Mas desfaça ela, quero esses homens vivos.
— São inimigos — retrucou Keiko, se colocando à frente.
— São prisioneiros.
Com a insistência de Imichi a aura de Keiko cresceu, desfazendo o gelo, formando água líquida novamente em um piscar de olhos, Dai engolia seco com tal poder e Mitensai se encantava, enquanto Imichi sorria, batendo nas costas do prodígio:
— Valeu garotinho, o restante se encarregue dos corpos por favor.
— Você gosta muito de mandar, mas não é o único que tem esse direito por aqui — cruzou os braços Uchida.
— Eu vim para resolver isso tudo, e estou com pressa. Espero que não se importe se descermos a cidade agora.
— Descer? A cidade? — se impressionou Uchida.
— Dai, Mitensai — acenou para os garotos — Podem vir aqui?
Os garotos passaram pelos Heishis debaixo de olhares suspeitos. Imichi tomou a frente do grupo indo parar na beira do lago. Unindo as mãos, um tufão dividiu o lago. O irmão mais velho dos Shiro então disparou, correndo em círculos ao redor de Doa para separar a água da terra que a erguia.
— Ele pode fazer isso também? — Mitensai perguntou.
Onochi deu de ombros, levitando a si mesmo os garotos para perto do turbilhão. Na medida em que raízes grossas brotaram do chão desnudo pelas águas, puxando a estrutura para baixo, a terra era repelida para os lados, para encaixar a cidade de volta no lugar. A plataforma, no entanto, desceu apenas metade de toda a sua altura com a força das raízes que já estavam prestes a romper.
— Eu só consigo vir até aqui — disse Dai, segurando a respiração — O resto é com você, gordão.
Onochi desceu as mãos lentamente, posicionando a cidade de volta ao nível original com suavidade. Os Heishis testemunharam tudo boquiabertos. O impacto rachou o gelo onde estavam, porém sem quebrar. Um leve tremor sacudiu as árvores e a água voltou a rodear a região.
— Aberrações — Uchida sussurrou ao ver os dois irmãos retornando a eles.
— O caminho está livre — Imichi anunciou — Nós vamos na frente. Podemos dar carona a um de vocês.
— Eu vou — Keiko tomou a frente de Uchida.
O prodígio de Uchida foi alçado ao ar junto com Onochi e Dai. Mitensai subiu nas costas do seu professor, que disparou na frente.
No interior da muralha onde o ataque pretoriano eclodiu, Masori e Umi tomaram cobertura em um corredor congestionado. Senshis e a Guarda Pacificadora se digladiavam ao som da artilharia pressionando contra as paredes de pedra e trepidando o piso de madeira.
— Tá vendo isso Masori — Umi espiava pela abertura para arqueiros — Como assim a Câmara tá mais alta do que nós?
— Licença — tomou espaço da companheira e disparou sua flecha — Parece que subiram o interior, que nem fizeram com a região antes. Abaixa!
Um vendaval forte castigou os ladrilhos. O sopro passou pela fresta por onde as garotas espiavam, arrancando a porta de madeira atrás dela de suas dobradiças.
— Depois que eles tiraram as artilharias, sair daqui fica difícil — Umi se voltou para os Senshis na retaguarda — Ninguém vai fazer nada com eles?!
A resposta para a pergunta da jovem veio ao ver dois homens lutando em uma das colunas de terra erguidas no terreno. Pelo tamanho do lutador de aura vermelha dava para identificá-lo como Masaki.
Com os braços, o Senshi Principal absorvia as marteladas do líder pretoriano, abrindo espaço para um corte no seu lado mais fraco com a espada que Hidetaka tinha na sua outra mão. Masaki se deixou acertar, deixando a espada presa levemente ao seu lado. Com os dois braços ele puxou seu oponente pelo cabo das armas, colidindo sua testa com a dele.
Hidetaka recuou. Com um pisão, o Principal ergueu a terra debaixo dos pés projetando o pretoriano no ar, sem chão para driblar o soco que vinha, exceto que uma brisa o atirou para trás. Depois uma parede de terra brotou nas costas de Masaki, seguida por outra brisa dessa vez contra ele, o pressionando contra a estrutura.
— Bela tentativa, se fosse contra um de meus homens — Hidetaka fez sinal negativo com a espada — Eu não sou um deles.
A barreira de terra que apoiava Masaki passou a engoli-lo, prendendo seus braços e pernas.
— Veja, seu exército aqui está disperso — apontou para a muralha — e lá está cercado. Sem você por perto, são frágeis. E sem seu martelo, você está exposto.
Forçando seu pescoço para olhar, o Principal do martelo viu um pretoriano de ar flutuar pela janela sala aberta pelo ataque anterior na muralha, depositando um pequeno tornado lá dentro. A sala foi revirada, as paredes cederam e os barris ali dentro foram cuspidos para o corredor. As tábuas sob seus pés saltaram no chão com a ventania. De uma vez, todo aquele grupo caiu para os andares inferiores.
As meninas foram soterradas junto com os Senshis. Até mesmo as paredes de pedra da muralha cederam. Pretorianos de fogo terminavam de incinerar a resistência que sobrou. A mirim atiradora se refugiava atrás de um barril, quando sua parceira se arrastou debaixo de uma tábua larga, revelando uma estaca de madeira enterrada na sua coxa anterior:
— Masori, sai daí…
O barril de madeira estava vazando um rastro de pólvora. Os pretorianos de fogo estavam perto. Masori olhou para trás e os de vento sobrevoavam a saída pelo buraco aberto da muralha. Ainda que ela ficasse ali e esperasse, as chamas do incêndio rastejavam lentamente na direção delas.
— Desculpa — Masori sussurrou, botando seu arco de lado.
As duas esperaram pela destruição certa, enquanto Hidetaka colocou sua espada no pescoço de Masaki.
— Você é um soldado, homem do martelo. Se seu exército tivesse metade do seu talento poderiam ter alguma chance. Nem mesmo os azuis se mostraram para te defender.
Chuva começou a cair. O rastro de pólvora molhou, arrancando um suspiro de alívio de Masori.
— As ordens foram de tempo seco — olhou ao redor vendo as chamas do incêndio provocado se extinguir — Meus homens sequer estão…
— Num lugar cercado por água como essa terra, ainda mais perto das nuvens — Masaki respondia — achou mesmo que um exército formado nas montanhas não saberia como fazer?
Heishis invadiram Doa por todos os cantos, atacando pela retaguarda da Guarda Pacificadora. Os pretorianos dispersaram para dar atenção ao reforço inimigo.
— Pouco importa — Hidetaka preparou o golpe final — Sem você, isso não passa de um contratempo.
De repente, Masaki se deixou afundar pela prisão de terra. Tomando controle do barro, a estrutura se dividiu em três estatuetas de si mesmo.
— Como se isso fosse funcionar — girou sua larga espada partindo as réplicas em dois pela cintura, mas não havia nada dentro.
Cinco outra brotaram ao redor do líder pretoriano. Ele bateu o martelo estilhaçando todas. Depois que brotaram mais sete, Hidetaka acumulou a chuva ao seu redor e dispersou a bolha formada derretendo a terra com sua intensidade. Um dos clones tinha a terra escorrida por ele, embora se mantivesse sólido. O Kuro preparou o golpe para desmanchar a réplica, quando de dentro dela brotou Masaki o agarrando pelo pescoço.
Hidetaka foi batido contra o chão até virar uma cratera. Depois com o joelho, o Principal dobrou seu braço do avesso, obrigando seus dedos a soltarem seu martelo. Apesar da dor, seu oponente não protestou. Da cratera brotaram espinhos, forçando Masaki a se afastar.
— Eu sou um pouco mais que a minha arma — Masaki sentia o peso da sua arma como se fosse a primeira vez — Mas é difícil esquecer velhos hábitos, sabe? O tempo do aluguel expirou.
— Entendo — a cratera se fechava lançando Hidetaka a ficar de pé novamente — Pensei que a terra o tivesse engolido naquele dia. Foi uma dessas suas estátuas — chutou o barro nos seus pés.
— Eu lhe disse que enquanto estivesse vivo, sua investida seria um fracasso — apontou o martelo.
— Mas eu também estou de pé ainda — colocava o braço deslocado no lugar, sem expressar dor — vamos continuar até que...
Subitamente, o lugar estremeceu. Ventos fortes cruzaram pela fortaleza seguidos de uma descida abrupta sentida pelos dois combatentes. As muralhas também cederam com a força da aparente queda livre, assim como rachaduras se abriram nas estruturas da Mansão dos Lírios e da Casa Central.
— Desceram — Hidetaka dizia a si mesmo, com um grunhido raivoso.
— Desceram? — Masaki abriu um sorriso discreto.
Abaixo deles, na muralha rompida, os pretorianos eram afastados pelo exército azul. Erguendo o olhar, pôde ver Doku disputando com as chamas de outro membro do esquadrão de Hidetaka. Masori colocou Umi nos ombros quando ouviu um chamado vindo nas costas delas:
— Vocês duas, mais algum sobrevivente?
— Professor Tomio — Masori entregava Umi para as mãos de um Senshi — Devem ter alguns soterrados pela queda, eu não se eles… Cadê o Yukirama?
— O grupo dele ficou preso na Mansão dos Lírios. Quando acabarmos aqui, vamos dar apoio — se voltou para o comandante ao seu lado — Kenichi, precisamos avançar. Os Heishis cuidam daqui.
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios