Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume V – Arco 14

Capítulo 141: Impuro

Uma parte dos Senshis foi dividida pelo desnível criado. No terreno que foi erguido junto à Mansão dos Lírios, Yukirama puxava Tsuneo antes que a altura ficasse grande demais para ser fatal. Os dois desabaram no chão exaustos.

— O que está acontecendo? — questionou Tsuneo — Eles guardaram tudo isso para o final?

— Estamos acima da cidade — disse Kazuya, olhando da beirada — Os comandantes se espalharam.

— Tá dizendo que a gente tá sozinho? — Tsuneo se erguia — Quantos de nós sobraram?

— Alguns Senshis, a gente e… — Yukirama se erguia.

— Temos que ir — ordenou Kazuya, tomando Tsuneo do chão — Companhia inimiga.

Quando escutou o som de turbulência, Yukirama viu nos muros rachados pela separação da terra pretorianos de ar sobrevoando o terreno. O trio correu para dentro do antigo lar dos anciãos. O ataque simultâneo dos homens de Hidetaka balançou o lugar, seguido de tremores de aterrissagem. Eles estavam ali, andando até o lugar para caçar seus alvos.

— E agora? — Tsuneo levava as mãos a cabeça — Cadê o professor Tomio? 

— Temos que nos reagrupar com os Senshis — disse Kazuya, andando pela casa abrindo portas — Ou vamos morrer.

“Esse tremor com certeza afetou os túneis. Cadê você, Masori?”, pensou Yukirama olhando para a porta.

Fugindo da luta que havia começado com o pretoriano invasor, os anciões penetraram ainda mais na galeria de túneis sob a reverberação dos gritos de ordem, dor e luta dos Senshis que ficaram para lutar. 

— Você vai deixá-los morrer sem mais nem menos?! — perguntava Makoto, segurando a mão de Naohito que apoiava a bengala.

— Se ficarmos vamos só atrapalhar. A luta deles é importante.

— Por causa de uma droga de urna?! — cresceu o tom de voz. 

— Contenha-se! A urna representa todo nosso esforço de nos reunirmos até agora nesta cidade, abandoná-la seria tornar tudo em vão. 

— Eles vão perder e daí perdemos a urna de qualquer jeito. Quer mesmo fazer outra votação depois de tudo que provocou aqui? — insistiu Makoto. 

— O envio de soldados incompetentes que não podem lidar com o inimigo não foi de minha autoria — respondeu Naohito seguindo em frente. 

Makoto se virou para direção contrária, tirando uma espada de sua bainha: 

— Eu não sou incompetente.

— Espera — Naohito tentou acertá-lo com a bengala, mas foi lento demais — Volte já aqui!

Makoto seguiu na direção contrária. Naohito, porém, não pôde deixar de sorrir ainda que brevemente da situação, antes de continuar seu caminho com os outros idosos. 

Seguindo pelo túnel em direção aos gritos, Makoto já pressentia seus companheiros próximos quando se deparou com dezenas de Senshis por dívida cercando o Pretoriano. Os mais afastados andavam de um lado para o outro, sacudindo suas espadas como gravetos sem saber o que fazer. 

No centro do círculo formado pelo grupo, Yanaho saltou pelas costas do oponente que antecipou desviando dele apenas para cair nos braços de outros dois Senshis.

— Não! Esperem! — tentou alertar Yanaho enquanto descia — Não ataquem agora! 

O pretoriano saltou, trazendo os dois homens presos em cada braço e jogou o primeiro no chão. O segundo tentou atacá-lo com a espada, mas foi desarmado e também atirado para baixo. Por fim, o Kuro aterrissou batendo aço com aço contra o mirim que o aguardava. 

— Muita ousadia para uma criança impura.

— Para de nos chamar de impuros! 

— Pois bem, assim que matá-lo, só chamarei de cadáver! — tentou uma ofensiva pelo flanco, defendido novamente pela lâmina de Yanaho. 

O pretoriano sentiu fraqueza no punho do mirim e girou sua espada para baixo, arrastando as lâminas consigo para o chão. Reconhecendo-se vulnerável, Yanaho largou a mão direita da espada e cerrou os punhos brilhando em vermelho para se defender. Iro contra metal, o impacto afastou os dois, deixando um corte profundo entre os dedos do mirim. No entanto, seu inimigo também não havia saído ileso. Sua perna escorria sangue, o mesmo na espada de Yanaho. Mais ainda, a urna havia saído das mãos do pretoriano.

“O soco foi apenas uma distração”, concluiu o pretoriano rangendo os dentes.

— E eu lá preciso vencer com as duas pernas? — provocou ele, largado a espada e girando os braços — Posso mandar vocês pelos ares sem me mover.

Com uma saraivada de socos no ar, Yanaho e os Senshis foram jogados contra as paredes e castigados. 

“Muito… forte”, Yanaho unia as mãos, contrapondo o ataque com um kazedamu.

Sua técnica cancelou o ataque em um pequeno raio, mas os outros Senshis não tiveram a mesma sorte. As outras paredes haviam sido coloridas com o sangue deles. Makoto assistiu a tudo da entrada para a sala em que duelavam contra o pretoriano.

— Essa são os Senshis? Superados por uma criança? — olhava para os cadáveres ao redor.

Yanaho se reerguia, enquanto Makoto se aproximava dele.

— Ele matou todos eles! Você tem que sair daqui.

— Ainda tem sobreviventes — percebia uma ferida aberta no seu antebraço — eles só precisam de tempo. 

— Todos estão no chão — procurava Makoto. 

— Eles não estão aqui — sussurrou Yanaho — sinta

Imediatamente Makoto usou de seu sangue Aka para localizar três energias seguindo por um túnel atrás do Pretoriano, que vasculhava o chão.

— Cadê ela — levantava os corpos em busca da urna.

— Você é mais do que parece, Yanaho Aka — disse Makoto. 

— Os outros ainda tem que levar a urna para um lugar seguro — sussurrou, antes de se voltar ao seu oponente — Ei, vai ficar aí me ignorando?

— Você, eu cuido depois — um barulho vindo do corredor atrás dele interrompeu sua fala.

Os três Senshis por dívida cambaleavam pelo corredor reverberando suas vozes:

— Levanta e vamos depressa! 

— Droga — Yanaho disparou atrás do pretoriano.

Makoto seguiu logo atrás do aprendiz de Onochi, que usou seu kazedamu para se atirar no Kuro patinando pelo chão carregado por uma brisa que o erguia levemente do chão. Em seus saltos longos, Yanaho atingiu o pretoriano em cheio, os dois bateram pelas paredes até se chocarem com o trio de endividados em fuga. Makoto vinha logo atrás.

— Ninguém vai fugir de mim! 

— Afastem-se — gritou Yanaho, se colocando entre Senshis e o pretoriano — Me dêem uma arma. 

O pretoriano avançou sobre eles, porém Ren arremessou sua arma para Yanaho que riscou ela com a sua própria espada, gerando uma faísca que logo se transformou em uma enorme labareda. As chamas o envolveram diretamente. 

O ar concentrado implodiu o jato de fogo por dentro, dissipando o ataque de Yanaho. Seu corpo havia sofrido danos superficiais quando arrancou as roupas queimadas. Por sua vez, mirim tinha suas palmas queimadas. A dor o colocou de joelhos. 

— Um Aka com domínio rudimentar do fogo? — questionou Makoto.

— Eu andei treinando, sabia? — gemia de dor, deixando as espadas caírem — O resultado já foi pior.

— E ainda se diz melhor que eu. O que aprendeu na academia?

O pretoriano saltou da fumaça jogando Yanaho contra a parede. Os Senshis por dívida tentaram interferir. O primeiro terminou empalado numa espada que seu inimigo recolheu do chão. Ren recuou ao ver o segundo ser elevado pelas vestes, provocando Makoto a riscar sua espada no chão, formando um anel entre ele e o Kuro.

— É isso que chama de saber manipular fogo? — Yanaho se erguia.

— Não consigo crescer as chamas sem ferir os dois! Agora é com você.

Saltando no meio do fogo, Yanaho pegou a última espada no chão, mas o pretoriano mirou um disparo de vento bem nas suas pernas. O mirim caiu na direção de um chute. Makoto subiu as labaredas ao redor de seu inimigo, porém era tarde demais para impedi-lo de partir o pescoço do segundo Senshi por dívida. 

— Onde pensa que vai?! — Makoto via Yanaho se lançando para o fogareu que envolvia o pretoriano — Está ferido! 

— Deixa comigo! — gritou Yanaho, engolindo o choro. 

Com um pisão, o pretoriano gerou um vórtice que apagou as chamas e arremessou Makoto e Yanaho ao chão. Ren começou a correr com a urna nas mãos sozinho pelos túneis. Com pequenos saltos com seu kazedamu Yanaho acompanhou o Kuro que perseguia o Senshi por dívida, trocando ataques de vento até finalmente o mirim alcançá-lo, assim que atingiram uma câmara dentro dos túneis.

Aproveitando o espaço maior, Yanaho lançou-se com mais força usando o kazedamu, ao mesmo tempo que o pretoriano atirou não contra o mirim mas contra o Ren, que carregava a urna. Ambos colidiram com o mais novo caindo por cima de seu oponente, pressionando a espada contra sua garganta. O Senshi por dívida caiu no chão, soltando a urna no meio das tábuas.

Eles estavam em uma plataforma de madeira sustentada por contrapesos em quatro pontas. Só pela queda dos dois lutadores e de Ren chão estremeceu. Era possível ouvir uma pequena corrente de água passar por ali.

— São os esgotos da fortaleza — Makoto reconhecia, chegando por último — Yanaho nos afastamos da saída!

— Isso dá mais tempo — media forças com o pretoriano pela espada — para os velhos fugirem!

Apesar da disputa inicial, o pretoriano livrou uma das mãos atirando em um dos contrapesos atrás de Yanaho. A plataforma balançou, desequilibrando o mirim que foi chutado de cima pelo homem. Makoto correu para impedir que a urna caísse esgoto abaixo.

— Vou te jogar no esgoto junto com as outras imundices daqui — voltou a ficar de pé — Nasci tarde demais para matar um Shiro, mas você é próximo o bastante para me fazer gostar disso! 

“É melhor isso funcionar”, pensou Yanaho unindo as mãos. “Lá vai…”

De repente as mãos de Yanaho brilhavam numa intensidade maior que sua aura branca ocasional. O pretoriano congelou com aquela luz cegante, que rapidamente se aderiu ao ar da sala.

Kaze…yari — sussurrou Yanaho, apontando as palmas juntas para o inimigo.

Das suas mãos um fluxo concentrado e extremamente fino de ar viajou em alta velocidade. O alvo era o corpo inimigo, mas o recuo do verdadeiro tiro de energia, subiu os braços de Yanaho, fazendo o ataque acertar em cheio o rosto do pretoriano.

Ele levou as mãos a face desesperadamente, agonizando de dor: 

— Meu olho! 

Enquanto isso, Makoto erguia Ren do chão:

— Levante-se! É nossa chance! 

— A de vocês — avisou Yanaho, sacando sua espada — Alguém tem que ficar.

— Eu tô bem — disse Ren — Pode me deixar ir e ficar com ele.

Makoto ameaçou concordar, quando Ren vacilou na passada. Sua boca estava suja de sangue. Deitando ele nas tábuas, Makoto retirou seu colete revelando uma ferida em seu peito:

— Você disse que estava bem! 

— A-acho que na adrenalina não notei — tossiu mais sangue.

— Como espera correr por sua vida se tem um pulmão perfurado? — analisava Makoto.

— Dá para consertar?

— Levaria tempo, coisa que não temos — olhou para o lado, vendo Yanaho se digladiando com o pretoriano.

O lugar balançou de novo com um kazedamu de Yanaho que arremessou o oponente para dentro dos túneis. O mirim foi até os dois para ver o motivo de não terem partido:

— Veja bem, Yanaho Aka — protestou Makoto — Nós três vamos morrer tentando salvar um mero endividado.

— Eu já deixei outras pessoas decidirem a vida de seus companheiros no meu lugar — socou a parede ao lado — não vou deixar de novo. Quer saber, conseguiria conviver sabendo que deixou um companheiro para trás? 

O filho de Ryoma imediatamente deixou a urna de lado, tirando uma bolsa de acessórios de seu cinto.

— Se o inimigo vier até nós — pressionou a ferida de Ren — ele morrerá de qualquer jeito.

— Ele terá que passar por mim — respondeu Yanaho seguindo em direção contrária — Se você salvá-lo a tempo de fugir, não espere por mim. 

— Acho que não é hora de bancar o herói. 

— Lutar é mais trabalho de mirim — ativou sua aura, correndo em frente — do que puxar o saco de um velho inútil.

Quando Yanaho voltou, o pretoriano já estava de pé. 

— Sua existência realça ainda mais o motivo de purificação. Um Aka usando técnicas de uma raça morta — esmagava algo em sua mão gerando sangue — quanta mania de grandeza.

— Meu mestre está bem vivo. 

— Então acabar com você, vou cobrar olho por olho do Shiro insolente que te ensinou isso! 

Dessa vez o pretoriano avançou sobre ele, socando o vento para acertar as tábuas no chão. Yanaho desviou dos buracos, sendo levado diretamente para perto do alcance da lâmina inimiga. Antes que pudesse ser atacado, o mirim balançou sua espada, mas foi desviado. O contra-golpe veio nas costas do garoto.

— Rápido — Yanaho uniu as mãos.

Um pequeno kazedamu o fez girar rapidamente para se defender. O impulso do golpe ainda transformou a defesa em ataque, atordoando o pretoriano que revidou com outro soco à distância. Dessa vez errando o alvo.

“Sem o olho, ele não mira como antes”, concluiu Yanaho. “Eu só tenho que tomar cuidado com os contrapesos, ou todo mundo aqui vai cair”.

Saltando para trás, Yanaho atraiu mais tiros de vento mau-sucedidos. Ele se posicionou paralelo a Makoto, se certificando de que o recuo não iria atingi-lo e uniu as mãos de novo. Prevendo o movimento, o Pretoriano esperou e bateu o pé nas tábuas, gerando outro vórtice que desequilibrou o ataque de Yanaho. O mirim desfez seu kazeyari antes de atingir um contrapeso, porém destroços começaram a cair do teto. 

— Essa técnica é tudo o que você tem? — disse o pretoriano.

Não houve resposta do mirim em palavras. Yanaho fez sinal para outro kazeyari, de modo que o pretoriano tentou responder com outro ataque rasteiro. Dessa vez, o mirim fez um kazedamu o lançando para o alto, zigue-zagueando os ataques do inimigo.

Ricocheteando da parede pelo lado esquerdo, do olho cego de seu inimigo, Yanaho foi ao encontro do homem como se disparado de um canhão. Sua espada perfurou o ombro do Kuro enquanto o arrastava pelas tábuas até arremessá-lo na parede onde abriu uma pequena cratera.

Mas o pretoriano voltou ao combate logo depois, se atirando contra Yanaho batendo espadas, tirando uma das mãos da empunhadura para socá-lo, o puxou pelos cabelos e o esmurrou contra a parede. 

Para finalizar, empurrou a espada contra seu pescoço, Yanaho defendeu com sua própria. O riscar dos metais fez o garoto propositalmente gerar uma faísca que incendiou os lutadores. O pretoriano recuou, Yanaho controlou as chamas para fora do corpo, embora seu braço tenha sido tomado novamente pelo fogo.

Para além das palmas, seu antebraço também havia sido consumido. Na medida em que se recuperava, o Kuro disparava ventos para extinguir as queimaduras, criando instabilidade pelo lugar, derrubando um segundo contrapeso.

— Yanaho! Você! Isso tudo vai desmoronar se continuar assim, precisa se apressar!

— Já consertou ele para saírem daqui? — Yanaho enrolava a própria capa no braço queimado.

— Escolheu a pior hora para bancar o herói — balbuciou Ren — Você já fez o bastante, cara.

Respirar estava difícil para o garoto. Com as próprias mãos ele reposicionou seu nariz partido com a batida na parede, mas ainda havia cortes na cintura onde sequer havia tomado golpes e nos braços as feridas não saravam.

“Essas feridas só podem ser… Desculpa, mestre…”, percebia entre o sangue escorrendo. “Eu perdi o controle das técnicas Shiro. Será que se eu ganhar do meu jeito, você vai ter orgulho de mim?”.

Makoto ameaçou tomar Ren nos ombros. Até que o membro do time aéreo da tropa de Hidetaka se apresentou novamente diante deles.

— Para onde pensam que vão?

Yanaho caminhou grogue tomando a espada de Ren, que pretoriano deixou cair depois do último ataque.

— Isso mesmo, você me deu mais trabalho do que devia, fedelho — mancou em direção a ele — se você será minha última contribuição ao ato purificador, que assim seja. Vamos lutar até a morte! 

Antes de chegar no meio do caminho, mais um soco de ar veio na sua direção, que errou o alvo por alguns centímetros. O pretoriano praguejou quando o mirim entrou na distância de acerto das suas espadas. 

O primeiro corte, mirando o lado cego do pretoriano, foi desviado. Ele o perseguiu com o outro braço, o queimado, mas não foi rápido o bastante para pegá-lo.

Seu estômago foi punido com uma joelhada, depois era a vez da sua garganta receber uma cotovelada. Yanaho ordenou que seus braços subissem num corte de baixo para cima. Ainda lento, o pretoriano driblou com um mero passo para trás e girou o ombro. 

“Droga, dessa distância ele não vai errar”, cruzou as espadas para receber o impacto.

Dessa vez, uma delas se partiu com a pancada a queima roupa. O aprendiz de Onochi continuou mesmo com uma das armas quebradas, embora seu oponente estivesse caminhando na direção de seus dois companheiros.

— Sai de perto deles — investiu com os ombros contra ele, seguido de um ataque com as duas espadas.

Segurando cada lâmina com uma mão, o pretoriano conteve o ataque. Como revide, ele cabeceou o mirim, o desarmou numa das mãos. Os dois bateram espadas.

— Eu mandei vocês irem, droga! — gritou Yanaho aos outros dois.

O pretoriano lançou dos braços outro ataque, mirando os dois fugitivos. Errou o alvo mais uma vez. 

— Eu não vou te deixar aqui — gritou Makoto.

Rompendo o impasse entre os dois, Yanaho deslizou a espada para o lado e perfurou o braço do pretoriano que empunhava sua lâmina. O contragolpe veio na forma de outro torpedo de ar com o outro braço. O garoto cuspiu sangue, encontrando forças apenas para saltar para o lado esquerdo da visão de seu oponente.

Sem conseguir acompanhar o mirim se movendo no seu pior ângulo, o homem deu outro disparo errado, acertando o terceiro contrapeso. Quando Yanaho finalmente chegou nas suas costas, ele tinha a espada para perfurá-lo, mas escolheu cair sobre o pretoriano. 

Dessa vez nada segurou a plataforma onde estavam de cair. Makoto tomou Ren nos braços para correr.

“Assim não vai dar para eles fugirem”, Yanaho entrelaçou seus braços no pescoço do homem que se debatia.

Yanaho tentava sufocá-lo, porém uma última sucessão de disparos do pretoriano acertou o quarto e último contrapeso.

A escuridão engoliu os quatro. Até se acostumar com a pouca iluminação, tudo que Yanaho tinha era um filete de luz daquela noite que vinha por uma fenda aberta na terra. Ele ouviu movimentos na escuridão, passos na água rasa do esgoto fétido.

— S-Seu pirralho impuro — o pretoriano cambaleava até a luz.

— Acabou, você já perdeu— Yanaho encostou na parede.

— Não se eu…

— Yanaho! — uma voz chamou por ele na escuridão — Yanaho você tá aí? 

Tudo que o mirim viu naquela luz foi o sorriso perverso do pretoriano. Ele catou a primeira espada que viu no chão e correu. Entretanto, em vez de atacar seu amigo, o manipulador de ar se virou, a luz da noite refletida na outra espada em mãos.

“Droga, foi um blefe”, Yanaho atrasava a passada, subindo a guarda. 

Espadas se cruzaram. De repente Makoto pulou da escuridão sobre o pretoriano, que o bateu contra a parede. Yanaho aproveitou a brecha entrando com sua espada entre as costelas do pretoriano, pelo lado esquerdo, ainda que somente alguns centímetros.

— Seu imbecil — arrancou a espada do corpo, dando outro bofetão no garoto — para de lutar!

Eles trocaram socos, porém o corpo do garoto era menor. O lugar estreito, Yanaho foi jogado contra a parede oposta. Seu rival aproveitou para pegar a espada que usou do chão para finalizar Makoto, que havia agarrado seu tornozelo.

Sem armas, sem iro, o mirim recorreu aos pedaços de terra e tijolos caídos do desabamento. Arremessou um nas costas, o segundo no pescoço. Já o terceiro na cabeça, este último o enfureceu ao ponto de virar.

— Chega — girou o braço. 

Antes que Yanaho pudesse se erguer, ele foi pregado com o vento condensado. Ele arrastou seu corpo para a escuridão, pelo lado esquerdo. O pretoriano errou o segundo disparo. Um tijolo viajou até a cabeça do Kuro por aquele lado, acertando sua cabeça. 

— É tudo que pode… — a provocação foi interrompida por Yanaho saltando da escuridão.

Yanaho chutou seu peito, caindo sobre ele. O garoto socava seu crânio contra o chão até a capa que cobria um de seus braços rasgar.  O subordinado de Hidetaka procurava sem enxergar algo que pudesse dar-lhe vantagem até sentir a empunhadura de uma espada entre os dedos. 

Você querendo ou não é uma inspiração para mim aqui dentro”, as palavras de Katsuo ecoaram na sua cabeça, “Tenho certeza que outras pessoas sentem o mesmo.” 

O pretoriano alcançou a espada e foi para cortar a garganta do mirim. Yanaho a segurou com as mãos, abrindo a palma da sua mão na disputa pela lâmina.

Comigo foi o mesmo, todos ocupados com conflitos, alianças, rivalidades, famílias, dívidas, miséria. Mas quando chegava na hora da morte era sempre alguém como eu, nunca alguém como Koji”, agora era Suzaki na sua mente. “Não vai ser diferente com você

— Eu vou te matar, pirralho! — gritou o pretoriano cuspindo sangue — Depois eu vou arregaçar esse outro moleque — olhou para as suas costas onde Makoto rastejava no chão, sangrando.

— Para — balbuciou Yanaho, fazendo força contrária.

“Uma vez me perguntou porque Onochi te escolheu. Ele viu algo diferente em você”, dizia Imichi. “Se quer ser como os outros, nada vai mudar.”

— Aí então eu vou subir lá e acabar com todos vocês! Vamos avançar sobre a sua casa, a sua família. Vou fazê-los morrer da pior forma possível! Mostrarei pros seus pais que o pior do que terem reproduzido essa cor impura foi ter tido um pirralho inútil que nem você!

— Cala a boca… — Yanaho virava a ponta contra o pretoriano.

— Tá achando que isso vai me assustar? Eu vou… — ele continuou falando e falando, salpicando o rosto de Yanaho com seu sangue a cada fala.

— Por favor…

A lâmina tremia com a pressão dos dois lados disputando pela força. A mente de Yanaho divagava novamente.

Não terá nem eu, nem mesmo Suzaki ou algum Shiro para te salvar. Então… Não retenha sua espada.

— … Purificarei o corpo de sua mãe com minhas próprias mãos! Aquela vagabunda impura saberá o que é um homem de verda… 

O Pretoriano só parou assim que a espada de Yanaho foi enterrada bem em seu coração, os olhos dele perdiam vida e seu corpo ficava completamente flácido. O último suspiro do sujeito, foi acompanhado de mais sangue saiu de sua boca. 

E então quem é cruel agora? Nós? Os Kiiro? Os Kuro do passado? Isso nunca vai ter fim!

— Você tá bem? — Makoto rastejou até ele, encostando no seu braço ainda sobre a lâmina.

Rapidamente Yanaho recolheu-se do consolo do rapaz mais velho. Suas mãos trêmulas vacilaram para fora da lâmina. Agora eram lágrimas caindo sobre o rosto sem vida do Kuro

— Ren está mais à frente — Makoto estendeu a mão para erguê-lo — Vamos procurar por uma saída.

Chega de pensar que existem heróis neste mundo. Aqueles que querem ser um herói, se tornam o pior dos vilões.

— Pai, mãe, mestre… — ele sussurrava entre os soluços — m-me desculpem.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

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