Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume V – Arco 14

Capítulo 140: Se Provar

Nos arredores da Capital Kagutsuchi, Imichi deslizava pelo chão em alta velocidade até desacelerar na porta de um casarão numa colina bem acima de um lago. Mesmo na soleira da casa, podia ouvir o choro da criança, somado a uma outra voz familiar, clamando por socorro:

— Aiuchu?! Vai demorar mais? Eu não consigo acalmá-lo! 

— Já estou indo — gritava a mãe do andar de cima — tente fazer careta pra ele! 

— Certo — suspirou fundo — eu consigo.

O jovem de olhos verdes, segurava a criança de frente para seu rosto. Após fazer caretas, o bebê ameaçou parar o choro, mas logo depois deu um berro ainda mais alto se debatendo. Foi então que o visitante brotou na sala, deixando um rastro de portas sacudindo para frente e pra trás.

— Imichi — Mitensai entregava a criança barulhenta — Ajuda, ele não para de chorar não importa o que eu faça! 

— Onde está Aiuchu? 

A moradora chegava no quarto, secando seus cabelos na toalha sem pressa, até colocar o filho nos braços. A criança não emitiu mais nenhum som.

— Eu pedi para que Mitensai olhasse Yusuke enquanto eu tomava banho.

— Mas como pode? Ele não durou nem um minuto tranquilo comigo? 

— Seu treinamento não inclui crianças — bateu no ombro do aluno rindo — ainda.

— Mesmo assim eu agradeço — curvou a cabeça, indo em direção a porta — ele só está com fome, então se me dão licença… 

— Já estamos de saída — puxou Mitensai consigo, sorrindo.

— Até mais, branco — devolvia o sorriso. 

Durante a saída, Mitensai ainda encontrou Aiuchu na janela acenando para os dois com Yusuke ainda no colo. 

— Não sabia que ser mãe e pai era tão difícil — fitou os olhos com o céu — agora entendo por que Dai evita falar sobre ter uma família.

— Para quem já tem quase vinte irmãos adotivos. Difícil culpar a falta de pressa dele.

— É diferente, né? Hideki sempre colocou um teto na cabeça de todos eles, mas nunca foi tão preocupado.

— Os órfãos sabem se cuidar. E você em breve vai conseguir fazer mais que isso.

— Falando em Dai, ele ainda está com o Rei Chaul?

— Ainda — deu as costas para o garoto montar — e é para lá que vamos também, Supremo recebeu informações preocupantes, estou com pressa. Sem carruagem desta vez.

— Droga, isso de novo n… 

Os dois desapareciam de repente. Em poucos segundos, Imichi deixava seu novo pupilo desmontar recobrando sua consciência. Os dois já estavam no portão do castelo real.

— …Não! — completava a frase tardiamente, cambaleando — Ainda vou me acostumar com isso.

— Bem que você disse que seria rápido — comentou o Supremo, esperando por eles no portão  — entrem, Chaul os aguarda. 

Vagando pelo castelo, os olhos de Mitensai já se encheram com os estandartes e altas paredes de pedra. Mas foi chegando na sala do trono em que seu queixo caiu no chão.

— Cabem todos os órfãos só nesse lugar — balbuciou a si mesmo.

Até quando olhava para baixo, Mitensai admirava seu reflexo no granito escuro por baixo do tapete vermelho que levava ao trono de Chaul, um assento ricamente ornado em ouro, com grandes janelas atrás dele arqueadas até o topo iluminando o rei e sua coroa como uma auréola. Dai estava de pé revirando alguns papéis numa mesa no canto da sala.

— Algum problema? — indagou a Autoridade máxima. 

— Nada novo — tomou à frente Imichi — exceto que piorou. 

— Ainda naquela cidade? — se virou Dai — Os reforços perderam ou algo parecido?

— Na verdade, a missão dos Ao foi um sucesso — comentou Ryoma ponderando sua própria fala com uma mexida da cabeça — mesmo que parcial. O último moinho foi destruído, então a drenagem ao redor de Doa não será completa a tempo. A elevação da terra impossibilita que qualquer um entre ou saia da cidade. Fica difícil exigir mais de Uchida e seus homens.

— Não tem ninguém aqui que possa desfazer? — questionou Dai.

— Não começamos a travar guerras ontem, rapaz — respondeu Chaul — Nosso melhor homem para isso está lá. Esse não é um feito de uma pessoa só, Senshis precisariam abastecê-lo para realizar isso. E Masaki não consegue realizar esta tarefa…

— A menos que os inimigos dentro de Doa sejam derrotados — concluiu Ryoma — Fora que temos outro problema.

— O último moinho fica dentro do território Shiro… — concluiu Dai, lendo o que parecia um mapa nas suas mãos — Você disse que ele estava destruído. É o que eu tô pensando, Imichi?

— É possível que os Kuro tenham ocupado uma parte do antigo território Shiro — Imichi tomou a palavra. 

Chaul imediatamente levantou de seu trono. Mitensai e Dai trocaram olhares.

— Com todo respeito, eu não esperar a mobilização de seus reforços para agir, alteza — continuou Imichi — Na verdade, já tenho o reforço que preciso — olhou para Dai.

— Eu vou querer uma cooperação maior depois disso, não de você, Imichi — olhou para Chaul — mas dele. Devo ter alguma semente para dar um jeito na elevação da cidade. Vamos, Mitensai. 

— Se realizar esta tarefa, Chefão, nunca mais vai precisar de permissão para me visitar. Vá em frente, Imichi — respondeu Chaul — meus reforços estão a caminho.

Imichi novamente pegou Mitensai, dessa vez nos braços, enquanto Dai montava nas suas costas. Quando partiram, Chaul voltou para o seu trono: 

— Deixa eu adivinhar, está com um mal pressentimento.

—  Perdemos o controle — Ryoma se apoiou na mesa no canto da sala — Às  vezes eu penso se aquele homem está certo agora.

— Eu prefiro fazer o que posso enquanto ainda podemos dar ordens, do que lamentar o que poderia ter sido — respondeu Chaul — Chame os Principais, tenho certeza que Tomoe e Honda ainda estão aqui em Kagutsuchi.

— Já iria pedir sua permissão para isso. 

De volta a fortaleza principal de Doa, os mirins se preparavam para a batalha na entrada da Mansão dos Lírios, onde os anciãos eram reunidos para partir. Yanaho sentava-se no quintal da frente, amarrando suas botas, com a espada de lado no espaço que havia sobrado no banco, quando um grande sujeito fez uma sombra se projetar sobre ele:

— Você é o garoto que serve de núcleo. 

— Principal… digo, comandante Masaki?! — se espantou.

— Como você está? Me contaram sobre o que fez contra os Pretorianos, livrou aquela tropa de uma enrascada. 

— Foi só um susto — olhou para porta, onde anciãos eram acompanhados para fora — O que estão fazendo?

— Tem pessoas que se ficarem vão mais atrapalhar que ajudar — Masaki passou a espada para Yanaho — Preciso de alguém para tirá-las daqui.

— Eu? Quer que eu ajude na evacuação? Mas a luta é aq…

— Estou te colocando em outra luta. Os anciãos, alguns mirins e principalmente Senshis por dívida não tem condições para esta batalha. 

— Mas eu posso ficar para ajudar. 

— Com a cidade erguida, eu não posso garantir que vocês chegando do lado de fora estarão em segurança. Ao mesmo tempo, Takuma, Kenichi e Tomio precisam ficar aqui. Os Senshis dessa evacuação não dominam a energia Shiro.

— Você quer um núcleo para se os Kuro nos acharem — se viu no reflexo da espada — Por que está confiando em mim contra o que restar dos Pretorianos?

— Além do que me relataram sobre o que fez no bosque, Kusonoki também me contou sobre sua bravura no incidente das Vilas Desérticas — Masaki ficou de pé — Se vencermos, não vai chegar ao ponto de se expor, mas encare isso como sua chance de se provar.

Em silêncio, Yanaho ficou de pé e se curvou discretamente para Masaki em agradecimento. Saindo da Mansão dos Lírios, Makoto e Naohito logo tomaram conhecimento do Principal:

— Senhor Masaki — Makoto passava por eles — Estou no aguardo do núcleo que você designou.

— Está olhando para ele — o Principal apontou para o mirim.

— Ele? — Naohito apontou para Yanaho sem olhar para ele.

— Com todo respeito, senhor Masaki — Makoto começou a falar, mas foi interrompido.

— Algum problema comigo? — questionou Yanaho, se levantando do banco.

— Espera — Makoto afastou o mirim — Não há necessidade de conflitos. Eu apenas gostaria de uma explicação convincente. Há diversos Senshis experientes com a energia Shiro que podem contribuir tanto quanto este mirim.

— Yanaho dominava a energia Shiro antes mesmo de qualquer Senshi — justificou Masaki — ele foi o garoto enviado na missão da vila desértica. 

— Você é o aluno dos irmãos Shiro? — se surpreendeu Makoto.

— Mais uma das burradas de seu pai, pelo visto — encarou Makoto, voltando os olhos para Masaki — mas não temos mais tempo, vou confiar em seu julgamento caro aluno. 

Makoto ergueu uma espécie de baú coberto com um pano de cor vinho, reparando o garoto perguntou:

— O que é isso?

— Isso aqui — Naohito bateu com a bengala no objeto — Vale mais do que todos os velhotes descendo para aqueles túneis. Cuide bem dela.

— Ela guarda a votação dos Titulares hoje — respondeu Makoto — Ela ficará comigo durante o trajeto.

— Mais alguma coisa? — disse Masaki, os guiando para o prédio principal — melhor terem pressa ou então terão que lidar com inimigos no caminho. 

Deixados a sós para andar até a entrada dos túneis, Yanaho aproveitou para falar com Makoto:

— Você não era assim quando visitou a gente lá no bosque. É assim que você vai ser Senshi? Agindo que nem um fingido? Quem vai enganar da próxima vez?

— O que você pensa de mim não é problema meu, mirim — Makoto sussurrou — e é só isso o que você é. Pode se achar especial por ter ajuda dos Shiro, mas seu cargo não muda. Coloque-se no seu lugar. 

— Quer saber, você não é melhor que eu — se pôs a descer para o túnel — Só é mais velho.

O Principal coordenava as tropas, levantando barreiras, montando armadilhas simples e preparando os arqueiros, quando sua concentração interrompida por outro chamado.

— Principal Masaki — Yukirama puxava seu braço, enquanto segurava um envelope  — Isso é para você.

— Isso não seria alguma notícia ao Supremo, é? — rompia o lacre com as próprias mãos.

— Não, mas tem muita importância. Durante meu tempo nos azuis, conheci Doku e vimos algumas coisas que você e todo o corpo de Senshis devia saber sobre Nokyokai.

— Interessante — lia o conteúdo — Isso aqui confirma tudo.

— Tudo? Então já sabe de alguma coisa.

— Não importa agora — fechou o papel, colocando no bolso — Você segurou isso por quanto tempo?

— Queria falar com você só depois de tudo isso acabar. Mas posso não ter outra chance.

— Antes tarde do que nunca. Bom trabalho, Yukirama, correto? Pode ir para o portão, vamos precisar de você aqui hoje.

— Sim, senhor.

Enquanto o filho de Yuri se preparava para a batalha, dois mirins brigavam às portas do prédio onde Yanaho acabara de entrar. 

— Eu não acredito que você ainda insiste em ficar — Umi dizia — Até o Usagi vai com os anciãos! Isso não tem nada a ver com ser fraco.

— Ah é, então por que você não vai? — Jin empurrou sua meia-irmã — Você sabe muito bem porque o Usagi tá voltando.

— Tá falando da Aiko? Ela cuida de si mesma muito melhor que você. O que deu em você para querer permanecer em um campo de batalha, você nunca quis nada disso! — encarou Jin pegando em seus ombros.

— Eu só vou se você for.

— Por quê?

— Eu tô tentando te trazer de volta! — vermelho de vergonha ele recuou — sua mãe mandou você voltar, para você não sair por aí sozinha.

— Eu não preciso mais da ajuda dela, muito menos da sua — Umi se afastou com um leve empurrão — Quer ficar? Fica. 

A Guarda Pacificadora já havia tomado as ruas de Doa, liderados por Hidetaka e seus pretorianos. O time de vento tomou a dianteira, soprando contra as paredes da fortaleza como um aríete. Pelas frestas das torres e muralhas, os Senshis atiravam contra as aproximações por terra.

A entrada era uma subida por uma rampa, onde óleo fora derramado de modo que Kenichi e seus homens receberam a Guarda Pacificadora calorosamente incendiando o caminho.

Dois pares de bestas para cada lado do perímetro também mantinham os flancos seguros. Hidetaka, de pé em um dos telhados, viu um de seus pretorianos ser atingido numa dessas tentativas. Pouco depois um disparo veio na sua direção, porém com um gesto de sua mão o ar empurrou o projétil para as telhas, aterrissando aos seus pés.

— Estão em desvantagem de números e poder de fogo. — dizia a si mesmo, pegando o projétil nas mãos — Está artilharia não vai nos manter longe.

Tomando impulso, Hidetaka atirou o projétil de volta. Masori e Umi traziam mais um carregamento de flechas por dentro das muralhas para abastecer o atirador, quando a flecha o atingiu em cheio. A rajada de vento que impulsionou o ataque de Hidetaka foi tão intensa, que o disparo arremessou o atirador Senshi para fora do topo da muralha. 

— Para baixo — Masori se jogou em cima de Umi, se protegendo utilizando as ameias.

— Eu tô ouvindo batidas — a muralha sacudia com as pancadas do aríete de ar dos pretorianos — eles vão entrar — Umi olhou para o céu e viu nuvens se acumulando.

— Ei vocês — chamou o assistente da balista — Desçam. Essa posição já era daqui a pouco. Eles vão precisar de vocês para recebê-los na entrada.

O corpo do atirador caiu por cima dos estábulos, deslizando pelo telhado inclinado até cair numa carroça de feno. Os mirins viram os Senshis recolher o cadáver com o peito aberto pelo disparo, ao passo que um pedaço da porta foi atirado para fora com o impacto de mais um ataque de ar.

— Eu acho que é isso — Tsuneo olhava ao redor — Não esperava morrer assim.

— Ainda estamos aqui, podemos vencer — afirmou Yukirama, até que Kazuya passou por ele — Você também ficou?

— Tio Masaki me pediu para ir, mas eu quero ajudar — disse Kazuya.

— Tio?! — Yukirama e Tsuneo trocaram olhares.

— Como é que é? Você é sobrinho de um Principal e nunca nos contou esquisitão?! — se surpreendeu Tsuneo. 

— Eu não sou sobrinho dele — disse sem expressar nenhuma reação. 

— É, pelo visto é só um esquisitão mesmo. 

A discussão do trio cessou com o rompimento da entrada. Uma tempestade de vento carregou os pedaços, levantou as telhas e balançou os Senshis, anunciando a chegada do exército inimigo. A chuva caiu sobre Doa. Os mirins viram os pretorianos de ar planarem um de cada lado sobre a fortaleza até aterrissar nas balistas, eliminando os atiradores.

Eles se preparavam para um ataque no centro, quando, saindo de uma das entradas, Masaki saltou com a espada diretamente no peito de um.Os pretorianos imediatamente abandonaram o ataque para convergir no Principal. 

Um deles se atirou pelo ar, colidindo com o Senshi do martelo para longe das muralhas em direção ao telhado do prédio central da fortaleza, onde os mirins o perderam de vista. Do lado deles, o time de fogo dos pretorianos cortou pelo bloqueio Senshi, incendiando a entrada. A Guarda Pacificadora entrou logo depois, infestando o pátio principal.

No telhado, Masaki era arrastado e jogado de um lado para o outro até ser acertado para dentro do prédio. Seus oponentes o seguiram para dentro do breu, porém não o encontraram no lugar onde deveria ter aterrissado. O Principal então reapareceu quebrando uma das paredes com os dois braços e abraçando um dos pretorianos de volta para a escuridão. 

Orientados pelos gritos de seu companheiro, eles lançaram um mini tornado pelos cômodos, mas seu alvo já havia partido. Dessa vez, ele reapareceu acima deles, descendo sobre o primeiro. 

— Você de novo, seu imundo — a aura do último pretoriano crescia, na medida que recuava os braços para um ataque.

Antes de ser atingido, Masaki colocou o pretoriano em seus braços bem na frente do impacto. Ambos foram atirados do prédio central para a Câmara Carmesim, agora completamente deserta. O pretoriano o seguiu apenas para encontrar o Senshi se regenerando do impacto e seu companheiro no chão sem vida. 

— Achei que tivesse morto. Bom saber que vou poder te esfolar eu mesmo.

— Primeiro vai ter que me convencer que é melhor que os seus outros amigos — respondeu Masaki, chutando o cadáver aos seus pés — Cadê o seu chefe? Ele tem algo que me pertence.

— Se é tão poderoso quanto pensa — aterrissou na frente de Masaki — Pode usar apenas seu iro como arma.

Masaki chutou uma, duas e três cadeiras na direção de seu oponente, posicionado no palco elevado central. O Pretoriano as soprou para os lados, depois girando o braço desferiu um soco que atingiu os púlpitos como um torpedo de ar concentrado que abriu um rombo na parede.

— É isso? Jogar cadeiras e fugir? Como os outros puderam morrer logo para você?! — girava o braço para outro golpe.

Antes de atacar, Masaki arremessou outra cadeira. Em vez de usar seu golpe no oponente, ele decidiu usá-lo para se proteger, atingindo o assento que vinha na sua direção. Quando percebeu, o Senshi havia se aproximado por um degrau. O Kuro carregou outro tiro, Masaki então arremessou seu companheiro morto. Ele conteve seu ataque. Foi nesse momento, que o Principal veio logo atrás agarrando o pescoço de seu inimigo para uma cabeçada que o deixou zonzo no chão.

— Não preciso nem da minha arma — o pegou de novo pelo pescoço para mais um soco — nem de iro para te vencer.

Após surrar o pretoriano, a Câmara começou a sacudir. O chão se abriu e o teto começou a desabar. Deixando o pretoriano ali, ferido, ele saiu para o lado de fora da fortaleza. Do outro lado, ele se viu acima do pátio principal, a Câmara estava erguida do seu nível normal por uma plataforma de terra, assim como outros pontos da fortaleza, cujos muros haviam sido destruídos no processo.

Uma grande espada viajou pelo ar na direção de Masaki, que saltou para trás. Ele reconhecia aquela lâmina, com uma empunhadura fechada, mais parecendo uma alça. Hidetaka, corria pelo pedaço do muro que havia sobrado da faixa de terra erguida ao redor da Câmara, aterrissando sobre sua arma bem na frente do Principal. Na sua outra mão, estava o martelo do Senshi.

— Um guerreiro como você ainda vivo é um obstáculo para a missão. 

A plataforma inclinou-se jogando a Câmara desabada sobre o prédio principal bem atrás de Masaki, que também era dilacerado pela formação dos pilares de terra. Naquele pequeno terreno, havia sobrado ele e o líder pretoriano.

— Eu te disse que enquanto eu estiver vivo sua operação será um fracasso — ergueu sua espada — pretendo acabar com ela aqui e agora.

— Guerreiros formidáveis pensam igual. Tenha orgulho das suas habilidades, impuro, não são todos que tem a glória de morrer pela minha mão.

— Que pena que para mim você vai ser só mais um dos muitos que já derrubei.

Debaixo de todo caos da batalha, Yanaho, seguia os passos de Makoto e Naohito na dianteira, enquanto eram seguidos por dezenas de outros homens, a maioria sendo de Senshis por dívidas e Anciões. Todos caminhando pelas catacumbas úmidas, o som das próprias pegadas ecoava como tambores de aviso. Naohito tateou as paredes, carregando na outra mão uma tocha. De repente o barulho ficava ensurdecedor, todo o solo tremia, com poeira descendo sob as frestas da passagem do subterrâneo fazendo todos tremerem de medo, com exceção do mais experiente: 

— Quietos, vamos em diante. 

O caminho deles seguiu para uma luz que parecia estar no fim do túnel, Makoto logo se apressou ameaçando tomar a frente de Naohito que o segurou colocando sua bengala na frente.

— O que foi? É a saída. 

— Não, estamos longe ainda — apontou o construto — aquilo provavelmente é uma das aberturas secretas dos salões que levam ao subterrâneo. 

— O que isso significa? — questionou Makoto. 

A pergunta do rapaz foi respondida por uma sombra se erguendo da luz há alguns metros deles: 

— Aquele desgraçado! 

O berro ecoou por todo o lugar, fazendo o pretoriano notar que estava diante de túneis. Foi ao se virar que percebia labaredas de tochas. 

— Uma passagem secreta — crescia seus olhos negros, sorrindo — acham que vão fugir? Impuros — girou seu braço antes de uma rajada de vento atingir todos que se refugiavam. 

O vendaval se assemelhou como se alguém tivesse soprando no duto, arremessando todos na direção contrária, apagando todas as tochas. Os primeiros atingidos eram Makoto e Naohito, que se reergueram em meio a escuridão.

— Senhor, está bem? — se levantou Makoto. 

— Isso foi… é um pretoriano de vento! — percebeu Yanaho. 

— Onde está a urna?! — percebeu Naohito, recusando a mão estendida de Makoto. 

— E-eu devo ter soltado ela por acidente, está adiante de nós! Precisamos derrotar esse sujeito se quisermos sair daqui. Mas a maioria que temos aqui não conseguem lutar!

— Isso não deveria ter acontecido! — se aproximou Yanaho 

— Você e os Senshis por dívida conseguem — ordenou Naohito — vocês vão adiante e vão recuperar a urna. Os anciões e refugiados vão no caminho contrário, eu conheço um atalho. 

— Mas isso é… — ameaçou Makoto.

— Eu afasto ele, vão logo! — tomou a frente Yanaho, juntando suas mãos — Eu recupero a urna! 

Quando passos foram ouvidos adiante, na direção de onde veio o pretoriano. Naohito e os demais viravam de costas ao tempo que Yanaho e outros Senshis cobriam suas costas.

— O que fazemos agora?! Deu tudo errado — Ren segurava no ombro de Yanaho. 

— Eu vou precisar de vocês — despertava sua aura vermelha esbranquiçada — meu próximo ataque irá derrubálo, preciso do máximo de vocês para segurá-lo ainda no chão. Qualquer ferimento letal e essa luta estará ganha — sussurrou Yanaho.

— Posso não vê-los, mas sinto o medo de vocês! — o eco da voz do Pretoriano os ameaçava. 

Todos balançaram as cabeças de acordo, o menino da capa vermelha seguiu o som ainda com as mãos únidas, usando sua aura como guia para os Senshi junto a ele. Com a luz do lado de fora sendo visível novamente, Yanaho notou a sombra do sujeito mancando em sua direção.

O mirim não perdeu tempo, liberando seu ataque, com um Kazedamu forte suficiente para abalar as estruturas, enquanto gritava aos homens que estavam em suas costas:

— Agora! 

A maioria dos guerreiros que ali estavam correram junto a corrente de ar, empurrados junto a ela, prestes a colocarem as mãos no inimigo, foram surpreendidos com os dois braços dele girando, que retardou completamente o efeito do ataque de Yanaho. 

“Ele é poderoso o suficiente para não ser afetado pelo Kazedamu?!”, se espantou Yanaho. 

Ren e outros homens recuaram trêmulos frente a cena. O grupo mais a frente havia sido atingido pelos punhos pesados do golpe giratório. Outro Senshi por dívida se esquivou erguendo uma espada contra o pretoriano de ar, que segurou a mão que levantava a bainha, apertando até que o indivíduo soltasse. 

Depois disso só restou os gemidos dos pouco menos de dez homens encarregados de segurar o algoz, que se certificou de perfurar todos eles com a espada, antes de seguir em frente em direção ao restante:

— Não adianta tentarem fugir, vou matar todos vocês… pela purificação! 

— E agora… o que faremos?! — tremia Ren. 

— Fique atrás de mim — erguia a espada Yanaho.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

 

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