Volume IV – Arco 13
Capítulo 116: Ataque Descoberto
No topo da torre no coração de Oásis, Hoshizora posicionou três peças brancas ao redor do último bispo negro no tabuleiro. A peça inimiga era a última ameaça ao rei branco, prestes a tomar um xeque.
— Ao final do segundo dia, no máximo durante a segunda noite — capturava o bispo com a torre — O segundo súdito seria derrotado. Sem grandes ameaças para o terceiro dia.
— O caminho estaria limpo para plantarmos o terceiro e último par de bandeiras cobrindo o último terço do cânion — complementou Yasukasa, tocando nas bandeiras do lado das peças pretas.
— Só tenho uma dúvida: o que estas bandeiras representam para este plano? — Kusonoki inclinou-se para frente — Com todo respeito, claro, mas é que até agora só conquistou território. Nem garantia de eliminar os súditos vocês deram. Qual o intuito deste jogo?
— Foi pra isso que decidi chamar vocês — Hoshizora se ajeitou na poltrona — A estratégia nesta batalha é utilizar o Sol Reluzente.
— Uau, isso é — Kusonoki reclinou-se em seu assento — então todo o cânion…
— Já sabe qual é a nossa próxima pergunta — interrompeu Ryoma.
— A segurança dos Senshis seria uma prioridade. Uma evacuação está planejada.
— Hoshizora afastava alguns peões do centro do tabuleiro.
— Vamos inverter nossa estratégia. Atraímos os Kuro para nosso território, onde cada Kishi posicionado nas bandeiras vai contribuir para os arcos de energia que formam o domo de energia solar. Na manhã do terceiro dia, todo o exército inimigo estará à nosso mercê.
— Todo mundo que presenciou o cerco na Vila da Providência me disse a mesma coisa: o Sol Reluzente tem um poder absurdo — Kusonoki coçava o queixo — Por que usar uma arma tão forte tão cedo? Essa guerra não vai ser decidida agora. Vale a pena mostrar as melhores jogadas de cara?
— Principalmente considerando o quanto é uma técnica fácil de ser desarmada depois que compreendida — complementou Ryoma — Não conhecemos a força do inimigo. Bastou Onochi e Oda para frustrar os planos de seu pai.
Hoshizora suspirou. Após uma longa pausa, ela ergueu sua cabeça.
— Desenhamos esta batalha como uma partida de xadrez por este motivo. O Sol Reluzente depende apenas de um indivíduo, que acumula o poder coletivo dos arcos. Este indivíduo é o rei. Se o perdemos, acabou tudo — tomou a peça branca do tabuleiro — Meu pai cometeu o engano de se colocar em risco no campo de batalha. Nosso rei sequer vai participar do conflito direto.
— O Sol Reluzente não é uma técnica que podemos fazer quando quisermos. Ele depende das condições do Sol, que entra no estado propício a cada quatro anos — Yasukasa explicou — Esta é a primeira batalha aberta do exército Kuro. Eles com certeza virão com o que há de melhor.
— O propósito não é matá-los, mas oferecer, através da destruição iminente das suas melhores forças, uma trégua temporária — Hoshizora acumulou as torres, cavalos e a rainha negra para o centro do tabuleiro — Imagine quantas batalhas seriam evitadas e vidas salvas.
— E se os Kuro não cederem — Chaul questionou — Está preparada para fazer o que é necessário?
— Estamos — respondeu Yasukasa.
— Mas espera um pouco — Kusonoki interrompeu — Você e os cavaleiros estão no centro do tabuleiro. Quem será o rei?
Yasukasa apenas guiou os Aka com os olhos para a garota que segurava o rei nas mãos. Por um breve instante, Ryoma voltou seu olhar de volta para a primogênita de Osíris.
— Hoshi vai permanecer no acampamento mais recuado na encosta leste. Uma pequena fortaleza no comando de um dos meus cavaleiros pessoais. Nosso inimigo terá que passar por muito até chegar nela. Mesmo que passe, poderá ser tarde demais para seu exército.
— As habilidades de minha irmã cresceram muito nos últimos anos. Se ela ficasse recuada, desperdiçaria seus talentos que não apenas pode, como serão decisivos nas batalhas do primeiro dia.
— Princesa — indagou Chaul — Vai carregar o destino de muitas pessoas nas costas.
Os olhos de Chaul penetravam Hoshizora, que respondeu com seu próprio olhar:
— Sinceramente eu montei esta estratégia para conseguirmos vencer a partir do xeque. Porém, se não houver outra alternativa, irei executar o plano.
Agora em uma das cabanas no topo da encosta, ela fechou a palma da mão com o rei branco nas mãos.
“Faltam duas bandeiras. Com o cânion todo coberto, os Kuro não vão ter outra saída. Por mais difícil que isso seja, eu preciso…”
Ela interrompia seu raciocínio ao ouvir a voz de Kotaru vindo do lado de fora. Ao sair, o encontrou ao redor do prisioneiro com mais alguns Kishis que lhe explicavam:
— Ele se recusa a dar qualquer informação adicional. Disse que não sabe nada sobre a estratégia de seu povo.
Nagajiyu estava com as mãos amarradas e pés presos em um poste fincado no chão. Seu olhar estava baixo até que outro cavalheiro se aproximou vindo de trás daquele que o raptou, que perguntou:
— Então era o Kuro de cabelo espetado que dizia?
— Exatamente — respondeu Raijin — Não esperava que tivesse sobrevivido à queda.
— Apesar da suposta boa intenção — abaixou para perto do prisioneiro — você fazia parte de um plano. Eu quero saber qual a próxima etapa dele.
— Não sei a deles — respondeu Nagajiyu — Mas a minha será enterrar uma espada no peito de Itoshi.
Kotaru puxou o Kuro pelas vestes, quando escutou a princesa chamar por ele.
— Kotaru?! O que isso significa?
— As autoridades Kuro apareceram — soltava o prisioneiro — Eles trouxeram reforços e mais dois súditos. Aquela do primeiro dia, o homem dos portais e outros. Estão indo para o tudo ou nada.
— Ele foi trazido aqui antes disso tudo acontecer — Hoshizora dizia — Se ele não sabe, há uma possibilidade de que eles estão improvisando.
— Entre os homens que viu — murmurou Nagajiyu — tinha um mascarado?
— E se eu disser que… — Kotaru dizia.
— Tinha — Raijin interrompeu.
— Precisam sair daqui, e para já — forçou as cordas — Nobura no campo de batalha é a garantia de vitória para os Kuro. Ele é o líder dos súditos do caos e principal recurso de Itoshi. O homem que vale por um exército.
— Acalme-se, homem — os Kishis ao redor o continham.
— Não há como impedir o que vem. Desistam enquanto há tempo.
— Desistir? — uma voz surgiu por trás de todos — Quem deu a palavra a esse intruso?
Ao se virarem, os Kishis fizeram um corredor para a Rainha passar. Hoshizora a interceptou no meio do caminho:
— Eu posso resolver…
— Estava te procurando por outro motivo — estendeu-lhe a mão — Venha comigo.
Hoshizora procurou no olhar de Kotaru confirmação de que poderia se retirar. O cavaleiro tirou as mãos de Nagajiyu, arrancando um suspiro de alívio da princesa.
As duas seguiram para trás da cabana onde Hoshizora passava a noite.
— Se os súditos voltaram com força total, além deste No-nobura… Yasu, sem as seis bandeiras…
— Já olhou as estrelas hoje?
— O quê? — ergueu a cabeça — Não é hora disso Yasukasa, preciso de tempo pra consultá-los.
— Esqueceu que já lutaram contra eles e venceram?
— Era diferente. Os Shiro existiam. Yasu, eu não sou boba. Sei que está aqui porque necessita de uma estratégia — cerrou os punhos — Eu não tenho nada.
— Na verdade, vim passar um tempo com minha irmãzinha.
— Logo você está dizendo isso? — pegou no punho da irmã — Isso é sério, não cobrimos cânion o suficiente para o plano. E sem isso, não temos vantagem alguma para negociar.
— Você sempre foi bem perfeccionista, como nosso pai — acariciou os cabelos da irmã — O campo de batalha é imprevisível. Por isso teremos que se virar com as quatro bandeiras.
— Nosso pai — levava uma mão no queixo, enquanto buscou a resposta nas estrelas — para os líderes darem as caras, geramos algum incômodo. Tudo que precisamos é de um Cavalo.
— Era a peça favorita dele. Mas o que tem?
— Faremos um “Ataque descoberto”. O cavalo cria uma abertura, na qual o rei inimigo em qualquer movimento descuidado é colocado em xeque — pegava a irmã pelos ombros — eles já se moveram!
— O cavalo seria o…
— Sol Reluzente — apontou para o cânion — comecem os preparativos para a evacuação. Depois atraiam os Kuro ao amanhecer.
— Muito bem — abraçou a irmã — esse peso em suas costas termina amanhã, eu prometo.
— Sim. E depois, podemos voltar para casa — abriu um sorriso largo.
No alto da encosta contrária, a vista das luzes do domo hipnotizava Nobura, que guiava seus olhos pelas estrelas. Perto dali, Seth impunha suas mãos no peito do experimento desacordado. O corpo convulsionou, mas logo voltou a ficar inerte.
— Fraco demais para ser reanimado — explicou o feiticeiro — Mais um minuto de atraso, e temo que teria sido tarde demais.
— Esperava mais — Nobura abaixou a cabeça, chutando o corpo.
— Pandora o fez contrair um poder único — comentava Seth se levantando — apesar de reconhecer o poder da jovem Matriarca, nossos amigos répteis me revelaram uma ajuda inesperada no lado inimigo.
— Nagajiyu — cruzou os braços — mesmo definhando, ele é incapaz de se libertar de sua linhagem fracassada. Minha paciência já se esgotou.
Os súditos aguardavam por novas ordens, ao som do ronco de Junichi. Suzaki estava escorado em sua arma longa, com um olho em Nobura e outro em Nubi, que deitava de olhos abertos:
— Valeu a pena?
— Acho que vale a pena você ficar calado e obedecer — respondeu Mayuri — estava indo muito bem até agora.
— Desde que Nobura a encostou, ela não comeu, falou ou se moveu — se levantou se aproximando de Nubi — os olhos dela…
Aos gritos ela estapeou Suzaki para longe. O rapaz recuou, enquanto ela deitou dando as costas para ele.
— Já passou da hora de entender uma coisa, principezinho — Mayuri dizia — aqui você não é nada.
Emburrado, Suzaki reclinou-se na sua espada, porém não sentiu o frio toque do metal. Olhando para trás, viu Nobura a segurando:
— Chegou a sua vez. Esta batalha acaba amanhã pela manhã.
— E a gente? — Mayuri perguntou.
— Gama permaneça vigilante. Nubi, qual foi sua intuição a partir de ontem?
— Eles não ligaram para a encosta que estamos. Fora os barcos, a atenção deles foi para o outro lado, fizeram de tudo para tirar o experimento de lá — encolhia a cabeça entre os ombros.
— Então este será o seu alvo, Zeta.
Entregando a lâmina de volta ao seu dono, Nobura dispensou seu súdito. Suzaki caminhou até Seth, que lhe abriu um portal. Olhando para trás, as duas súditas e Nobura viraram as costas para ele. Zeta então cruzou o portal.
Após a chegada dos súditos no campo de batalha, a aliança recuou para a faixa estreita de terra por onde o rio cortava o cânion. Os Senshis recolhiam os acampamentos montados e subiam a carga para o topo das encostas, onde carroças eram abastecidas pelos mirins, exceto por Masori que conversava com seu professor:
— Então é isso? Retirada?
— Esta etapa estava planejada desde o começo — afirmou Tomio.
— E que etapa é esta? — questionou Masori, enquanto o professor desviou o olhar — Estamos preparando a quinta carruagem e eu não tô vendo ninguém partindo.
— O plano é um segredo para todos nós, exceto Yato, as irmãs e os cavaleiros pessoais. Tudo que nos garantiram é que isso é uma medida de segurança, não uma desistência.
— Medida de segurança — Masori ergueu a vista para longe — Há Kishis indo até as bandeiras do lago. Tem a ver com isso?
— Pode ser. Minha única certeza é que o que quer que seja, é a nossa última investida. Tudo o que fizemos até agora é para isso.
— Masori — chamou Emi, apontando para uma carruagem cuja carga quase rompia as portas — vem ajudar aqui, eu acho que ainda cabe mais um…
Explodindo de dentro do transporte os baús e caixas caíram sobre Emi. Usagi e Katsuo correram para levantar o entulho de cima, ao tempo que os outros riam.
— Olha a cara dela. Não foi falta de aviso — Etsuko apontou para a carruagem que chegava — Era só esperar.
— Calem a boca! — reclamou Emi.
— Quem faz as coisas na pressa sempre termina assim — Nakama se voltava para Masori — E você, vai ficar aí parada?
— Por favor, se tiver alguma informação a mais — Masori se despedia de Tomio.
— Vocês saberão.
Abaixo, os Senshis formaram com urgência. Os Kishis voltavam às pressas vociferando ordens. Uma frase cortou os ouvidos de Tomio:
— A barreira vai descer em uma hora. Preparem-se!
— Peguem uma corda e desçam imediatamente! — Tomio ordenou aos mirins.
As bandeiras plantadas no cânion emitiam uma luz amarela que as conectava. Do alto, elas desenharam um retângulo sobre a região, cujo iro era suficiente para iluminar o cânion parcialmente naquela noite. No entanto, uma das pontas do polígono se apagou. Era uma das duas bandeiras que cobriam o lago.
A Matriarca limpava uma nova espada de fulgur em sua posse. Assim que reparou no apagar das luzes, ela ergueu os olhos para o céu. Havia nuvens obstruindo a lua cheia daquela noite.
— Avise a Mutaiyo que ela cuidará deste fronte, os cavaleiros já tem suas bandeiras para proteger — desamarrou um cavalo do acampamento.
— Senhora, a batalha vai começar apenas no raiar do dia.
— O inimigo não vai esperar — montou no animal — contate a princesa se possível, estarei de volta até o amanhecer.
A bandeira ao leste guardada por Kishis recebeu Suzaki, que brotava de seu portal, passando pelos homens da dinastia um a um. Eles lançaram uma onda de areia contra seu inimigo, que com um simples arremesso da lâmina de duas pontas ele neutralizou a ameaça ao atingi-los. A onda se desmanchou aos seus pés, enquanto sua arma ensanguentada voltava para suas mãos.
Pisando sobre um Kishi agonizando, seu pé de apoio afundou na areia. Uma figura de capacete cavalgou ferozmente na sua direção. Saltando da montaria, o sujeito deixou o cavalo atingi-lo em cheio.
— M-Matriarca. Nós não sabíamos que…
— Pegue os feridos e os corpos e corram! Não me atrapalhem!
O cavalo arrastou Suzaki consigo até frear bruscamente. Yasukasa viu seu oponente arrancar sua lâmina do peito do animal, que despencou no chão sem vida.
— Dizem que a melhor defesa é o ataque — sacudia o sangue de sua espada — você deve entender bem sobre isso.
— Não dou ouvidos a criminosos — erguia sua arma brilhante em amarelo — espero que não fuja como da última vez, Suzaki.
— Apertando as mãos de alguém como Satoru — apertou a empunhadura da espada — você não mudou nada, continua percorrendo os mesmos caminhos viciosos, assim como Yanaho.
— Não me compare a esse camponês fajuto — ergueu a voz — Naquele dia prometeram o impossível, e agora querem jogar a responsabilidade do fracasso para os outros? Este é o mundo real. O que você ainda sonha, eu tive que transformar numa ilusão alcançável.
— Olhe à sua volta. Por acaso está mais perto desta realidade do que naquele dia?
— Não pedi para o meu pai ser morto — cortou o ar com a espada — tudo que pedi foi justiça e me entregaram uma guerra para lutar! Pior ainda, é ver o garoto que visitava as vilas todo mês para cuidar das pessoas, se juntando a eles!
— E onde estão essas pessoas agora? — fez um gesto para o lago — seus restos espalhados pelo deserto assim como o responsável pela expedição assassina.
— Está me dizendo que…
— Ele estava nas tropas de ontem a noite. Deve ter morrido, como tantos outros sem nome — voltou-se a Matriarca — Sua guerra é por uma vingança que não existe mais.
— Eu decido quando isto acaba!
Uma brisa atingiu os dois que se colocavam em posição de ataque. A lua cheia refletida nas areias do deserto era a única coisa que iluminava os dois. O Heishi Celestial que se fez renegado e a princesa tornada Matriarca, esperavam por alguns segundos o movimento um do outro.
Quando a arma da rainha começou a sugar a areia do chão em sua espada, formando um chicote com os grãos.
Suzaki rolou para o lado, desviando da tira grossa que estalou no chão de cima para baixo. O chicote arrastou-se até ele, quando uma parede de areia se ergueu nas suas costas. A Matriarca fincou sua lâmina no chão criando uma abraçadeira na parede para capturá-lo. Contudo, Suzaki pulou sobre a armadilha, sacou sua espada e partiu o paredão em dois. .
— Está evitando o conflito, esperando pelo meu próximo movimento como um covarde. Por acaso não percebe que a gente já entendeu essa sua farsa de calmo e ponderado?
— Se você, a Matriarca da dinastia, tem medo de me atacar — estendeu a mão a convidando a atacar — O que vai acontecer quando terminar aqui e ir para aquele acampamento nos fundos desta encosta?
Rangendo os dentes, Yasukasa balançou seu chicote de novo, dessa vez na horizontal. Zeta deslizou por baixo, fincou sua lâmina no chão e saltou para sua ponta. A areia tentou engolir sua arma para chegar aos seus pés, porém seu iro espalhou os grãos em uma descarga de eletricidade.
Yasukasa entrelaçou seu chicote em sua lâmina puxando a arma do inimigo para si. O príncipe renegado projetou seus fios de energia, iniciando um cabo de guerra entre os dois.
Os grãos rastejavam para subir pelos pés de Suzaki, porém sua própria aura dissipou as formações. Por fim, ele liberou a eletricidade através de seu corpo, chegando ao fulgur e atingindo o chicote de Yasukasa.
Pedaços do chicote se transformaram em vidro, até se esfarelar no chão. A lâmina de duas pontas voltava para as mãos de Suzaki.
“De noite não posso usar o poder do Sol, mas essa região é minha. Ele não pode trazer tempestades como fez em Nokyokai.”, atraía novos grãos para a espada. “ Eu só preciso descascar essa proteção em torno dele!”
Dessa vez, Suzaki tomou a dianteira correndo na direção da Matriarca. Yasukasa transformou sua espada em uma marreta bem a tempo de colidir com a espada de seu adversário.
O impacto fez o súdito girar o corpo, enquanto Yasukasa arrastava sua arma para outro golpe. Em vez de colidir diretamente, ele posicionou sua lâmina na trajetória do movimento da arma inimiga, freando seu impulso. Depois girou a outra ponta, atingindo o capacete de Yasukasa que voou para longe, revelando sua face.
— Só isso? — limpou o sangue na bochecha — Para o cara que destruiu a Corte sozinho, estou começando a achar que isso mostra mais sobre a fraqueza dos azuis, do que sua própria força.
— Sua solução é se unir aos fracos? — apontou para a arma da garota.
— Seu nanico hipócrita! Está se unindo com a raça que só se importa consigo mesma!
— Como está Satoru? Conhecendo bem minha laia, deve ter te contado tudo do jeitinho dele.
Espinhos de areia cresceram na direção de Suzaki, formando um círculo ao seu redor. Erguendo a empunhadura acima da cabeça, o impacto da marretada o afundou no chão.
Ela desceu com outra marretada, mas a força a jogou mais trás. Suzaki avançou contra a oponente, que não conseguia abaixar os braços para mover sua arma.
Soltando da arma, ela ergueu uma barreira de areia que absorveu o golpe de Zeta. Passando as mãos na superfície ela formou uma lança.
“Era o metal. Eu li sobre isso em Nokyokai. Suas táticas e trapaças…”, puxava na outra mão uma segunda lança de areia enquanto atacava. “Não vão funcionar comigo!”
Cruzando suas duas lâminas artificiais contra a de seu oponente, elas se desfizeram para rastejarem pela espada de duas pontas. Suzaki agarrou a empunhadura para transmitir a descarga que afastaria os grãos, mas Yasukasa o chutou no abdômen, o afastando da arma.
Quando se recompôs do golpe, Suzaki viu os espinhos que o cercavam ficarem mais próximos. Como uma boca de uma grande fera, o buraco criado pelo ataque da marreta se tornou mais fundo, prestes a engolir o súdito.
— Aproveite a noite aí embaixo — gritava Yasukasa, enquanto a armadilha soterrou Suzaki — depois te darei a chance de perguntar como seu irmão está pessoalmente.
A espada de duas pontas sob seus pés então começou a vibrar. Uma enorme força puxou a arma para o domo de areia que se formou ao redor do súdito. Yasukasa tirou os pés de cima da lâmina e viu o objeto rodopiar pela superfície da sua criação.
Ela cortava a superfície em alta velocidade, abrindo espaço para fios brotarem do solo, conectando-se à arma suspensa no ar. Suzaki então foi puxado das profundezas da terra.
— Suas técnicas são boas. Mas eu sou melhor — retirou as túnicas negras, revelando suas cicatrizes — Tantos morreram para criar essa sua arma… E você a usa para proteger o quê? Desde que ela nasceu na forja, seu único propósito é destruir.
— Isso que farei com os inimigos da minha família! Se não for esta, escolho outra, e outra até acabar com vocês.
— Mesmo assim, aqui está você, tomando de uma nação rival para criar uma muleta. Se a escolha da lâmina pouco importa, porque traçar um acordo com os azuis agora e não antes? Certamente quando não foi benéfico travar uma guerra com os Aka vocês fizeram pouco caso dos Ao, permitindo que lutassem a Guerra do Sangue sozinhos.
— O importante é que quando tomei o comando eu escolhi construir pontes, ao invés de travar uma guerra com o continente inteiro.
— Você certamente fez uma escolha. E quem escavou este fulgur ou teve as terras invadidas nas vilas do deserto , tiverem alguma escolha? — energizou sua espada de duas pontas — você assumiu o comando apenas para repetir os mesmos erros de todos que integram esse sistema. E é isso que a arma em sua mão representa!
— Fala das muletas do império como se não estivesse segurando uma — arremessou sua espada de fulgur para longe — Eu posso te derrotar sem isso, mas e você gênio? Já pensou no que representa a arma que está erguendo?
— Muito bem — fincou ela no chão — Sem armas então.
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.