Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume IV – Arco 13

Capítulo 115: Garfo

A explosão levantou as águas do rio a uma altura que até mesmo Hoshizora pode enxergar de onde estava. O impacto retardado da explosão sacudiu sua mesa, enquanto arrumava as peças.

“Faz um tempo desde que Kotaru partiu”, alcançou um cavalo negro debaixo dos panos da mesa. “Temos que manter a estratégia. Sei que é pedir muito… Mas aguentem!”

Mais a frente naquela encosta, o time liderado por Kotaru assistia em primeira mão as consequências do último ataque Kuro, levantando fumaça para os céus. 

— Aquela coisa causou aquilo? — perguntava um Kishi

— Não diretamente. Tudo deve ter vindo dos barcos — respondeu Yato.

— Fez bem em tirá-lo daqui — dizia Mutaiyo, se voltando a Kotaru — Quem sabe o que poderia ter acontecido se esta coisa tivesse avançado contra a princesa. 

— Pelo visto a Matriarca fez a sua parte. E nós fizemos a nossa — Kotaru guardou sua espada.

— Isso não é o bastante para matá-lo — uma voz surgiu atrás deles — vocês não entendem. Isso vai apenas deixá-lo mais forte. 

Virando de costas, o Kishi intrometido estava cambaleando sob o peso da sua própria armadura. Rosto seco, olheiras fundas e uma voz rouca. Foi então que Kotaru sacou sua espada novamente. O pequeno trecho da lâmina refletiu a luz para suas costas, cegando o rapaz, que tropeçou no chão.

Antes mesmo de recobrar o sentido de sua visão, Nagajiyu sentiu o metal afiado em seu pescoço. 

— Meus homens são imunes às minhas técnicas. Muito menos ponderam minhas ordens.

Removendo o capacete com a espada, Kotaru revelou um rosto fino, com cabelo espetado e escuro, da mesma cor de seus olhos.

— Um Kuro! Infiltrado, mate-o agora! 

— Com as roupas de um Kishi provavelmente o matou — se aproximou Yato — Deve ter vindo da confusão dos resgatados do rio de ontem.

— Escutem, o que estão enfrentando é um experimento dos Kuro — tentava se explicar — alguém está… fazendo testes em nós, transferindo habilidades, eu passei por isso também. 

— Disso nós sabemos. Aquilo se comporta feito os sujeitos de ontem, é instável demais para ser um súdito — explicou Mutaiyo, levando as mãos à cintura.

— É, mas ele não é como os de ontem. O inimigo recebeu poderes divinos.

— E você saberia como vencê-lo? — disse Yato se voltando ao lago, ainda tomado de fumaça — Por que faria isso?

— Isso não importa. Eu… não ligo para mais nada. Só quero sair daqui — rastejou para longe — Ainda não perceberam? Nenhum dos homens que enfrentaram nesta batalha são guardas de verdade.

— Se quisesse fugir teria feito isso quando saiu do rio com vida. Em vez disso, aqui está você, usurpando o traje de um Kishi, interferindo na batalha — voltou a encostar a espada no pescoço — me dê um bom motivo para não morrer agora! 

O gesto de Kotaru desencadeou uma dor de cabeça no Kuro que agonizou aos gemidos, relutando contra as vozes em sua mente quando finalmente abriu sua boca: 

— Eu queria fugir… Queria sumir, mas… os experimentos usam pessoas de técnica notável para transferir seus poderes às suas cobaias. Meu irmão foi uma dessas pessoas. Conheço seus poderes, sei como podem vencê-lo. E eu não vou deixar essa profanação continuar com a minha família. Itoshi… já tirou demais de mim.

A resposta de Nagajiyu fez Kotaru reter sua lâmina, subitamente o jovem Kuro se virou cuspindo sangue por um momento. O cavaleiro se voltou a beirada dando ordens: 

— Ele ficará sob minha custódia. Yato vá na frente. Eu e a Mutaiyo vamos descobrir como vencer aquela coisa. 

— Não demorem — respondeu, descendo. 

— Yasukasa não vai gostar disso — indagou Mutaiyo. 

— Se ele disse a verdade uma vez, ele pode dizer outras — apoiou sua arma no ombro — então garoto, tinha citado algo sobre absorver impacto, correto? 

A maré recuou da passagem acima do rio. Dentro do nevoeiro que se dissipava, as tropas do exército procuravam sobreviventes em meio às vítimas. Corpos perfurados pelo fulgur ou queimados pela explosão surgiam a cada passo.

— Por que diabos a maré subiu?!

— Se não fosse por essa areia que conteve o nível da água, seríamos atingidos — observou um Senshi — Tomio, como podem manipular o rio de forma tão efetiva? 

— Depois do que já vimos, eu diria que esses caras são capazes de tudo.

Voltando a terra firme por meio de plataformas de areia, Yasukasa aterrissou cambaleando na frente de dos dois Senshis que conversavam com seus cavaleiros entre tosses.

— Você está bem? — o professor dos mirins a ajudava a ficar de pé — O que aconteceu ali?

— Não tinha como prever o próximo movimento deles — socou a areia, que se desfazia — não deu tempo de salvar todos. 

— Ainda podemos vencer — Tsuruta se juntava para erguê-la — Os barcos se foram. Aquilo não passou de uma tentativa desesperada de nos atingir. O Sol ainda vai testemunhar nossa vitória hoje. 

Subitamente um corpo se lançou das águas como um projétil contra uma das encostas. Escorado na rocha, ele se lançou para o outro lado com um impulso, indo na direção do exército Orange

— Parece aquela coisa de mais cedo — Riki coçou a cabeça.

— Senshis, em guarda — gritou Tomio.

A primeira defesa dos Senshis foi facilmente rompida pelo impacto do sujeito. Atravessando os Aka como um aríete, ele amassava seus escudos e os jogava no rio.

— Não vão nos impedir! — gritou o Aprimorado. 

Na medida em que se aproximava, Yasukasa reparou no corpo daquele homem tomado por cicatrizes brilhantes na cor negra. Os Senshis coordenados cercaram a anomalia, atingindo ele de todos os lados com suas espadas. Girando seu corpo, seu impulso jogou todos para longe.

— Estou farto de vermelhos no meu caminho! — pegou duas espadas presas em seu torso. 

O experimento foi recebido por um jato flamejante. Tomio exclamou aos Senshis ainda de pé:

— Ataquem juntos, agora!

Apesar do esforço coletivo, sequer uma queimadura aparecia em seu corpo.

— Riki, Tsuruta — puxou sua espada, cambaleando — temos que atacar juntos — respirava fundo. 

— A areia que gerou para cobrir a explosão lhe custou muito — interrompeu Riki — deixe isso conosco. 

— Matriarca! — gritou Yato descendo por uma corda. 

Yasukasa acenou para seus cavaleiros que seguiam rumo a batalha, enquanto o comandante Aka se aproximava. Raijin se reuniu com os três fazendo a guarda da Rainha. 

As chamas sobre o experimento mudaram a trajetória sobrevoando ele. Uma plataforma de areia apareceu logo em seguida, acima dos Senshis, por onde Riki passou absorvendo o calor.  

Saltando sobre ele, o cavaleiro liberou uma descarga que transformou até a areia ao redor em vidro. Mas nem os cacos ou seu ataque surtiram qualquer efeito. Riki viu seu braço ser agarrado pelo inimigo e para revidar, puxou sua espada e transpassou-a no ombro da criatura, que se quer reagiu. 

Revidando, o aprimorado esmagou o pulso do cavaleiro, que puxou sua lâmina de volta para atacar. Porém com o outro braço, o homem defendeu. A espada de Riki lascou com o impacto.

Uma fumaça amarela surgiu debaixo dos pés do experimento. Flocos de areia, brilhando na cor dourada. Tsuruta apareceu por trás com uma estocada, que mal penetrou em suas costas.

— Seu corpo… parece que é de aço — empurrava sua espada para dentro sem sucesso.

Com apenas um pisão, o experimento desequilibrou Tsuruta. Com Riki ainda em suas mãos, ele girou o corpo do cavaleiro indefeso contra seu parceiro, arremessando os dois contra o paredão da encosta.

“Que força é essa? O poder do sol sequer o abalou!”

Tsuruta ainda no chão, viu a sola do inimigo descer sobre ele. Rolando para o lado, ramos de areia se entrelaçaram nos pés do alvo. Sem poder se mover, o homem apenas sentiu o calor vindo nas suas costas, quando Riki se posicionou para atacar.

Assistindo tudo estavam Yasukasa e Raijin na companhia do recém chegado comandante Aka, que foi questionado:

— Onde está Mutaiyo?

— Ela e Kotaru estão juntos descobrindo uma forma de parar essa coisa. Pela nossa experiência ataques diretos não surtem efeitos nele.

— Então isso também não vai…

A fala de Raijin se comprovou na realidade, quando antes mesmo da técnica de Riki cessar, o Aprimorado se livrou das amarras chutando Tsuruta para o lago. Pegando outra espada, ele arremessou contra Riki, que agachou, perdendo alguns fios de cabelo.

Assim que Riki levantou, o inimigo desceu a espada contra sua cabeça, em um movimento rápido defendia o golpe com a lâmina de fulgur que fraquejou com o impacto. De repente, a espada do aprimorado esquentou com o impacto, derretendo em segundos. 

Enfurecido, o aprimorado usou da empunhadura da espada para acertar Riki, que rolou pelo chão. Até que as areias o puxaram para longe, ao mesmo tempo que trazia Tsuruta de volta do lago.

A tentativa de persegui-los foi frustrada por uma luz que veio do alto, que o cegou. O homem caiu no chão, mãos nos rosto, até que as areias empurraram seu corpo de volta para as águas. O feixe era familiar a maioria dos que estavam sob o cânion. 

— Fiquem fora dessa — indagou Kotaru — Temos pouco tempo até que ele escale de volta. 

— E então? Aquele Kuro tinha algo a dizer? — perguntou Yato.

— Que história é essa? — devolveu Raijin. 

— Isso pode esperar. O que estamos enfrentando não é um súdito, mas sim um homem com poderes divinos. Pelo visto ele passou por um processo de aprimoramento artificial.

— Podem fazer um desses processos pro Riki. Ele tá precisando — indagou Tsuruta, tossindo. 

— Cala a boca — respondeu o outro — Ele é pior que aquela primeira. O que você descobriu?

— O poder dele é absorção de impacto. Quanto maior o impacto, mais poder e energia ele gera. São três níveis — fazia o sinal com os dedos — ele se encontra no maior deles agora, quando suas cicatrizes brilham.

— Ele estava desta forma contra nós desde o princípio — Yato trazia na memória — Eu presumi que ele não consegue sustentar isso para sempre. Estava enganado.

— Não, se continuarmos atacando deste jeito. Mas se fizermos ataques indiretos ou cansá-lo, sua energia vai definhar até o segundo nível. Lá vão notar que suas cicatrizes perdem o brilho. E no final, suas cicatrizes começarão a sangrar.no último estágio. Ele finalmente estará vulnerável.

— Lutar contra ele sem atacá-lo — concluiu Raijin. 

— Por enquanto sim. Quando ele estiver no nível dois, podemos atacar com cortes ou restringindo seu movimento. Apenas no três suas feridas vão ceder, até que seja demais para ele absorver.

— Assim como era um risco a luta do lado da encosta de Hoshizora, continuar isso aqui pode comprometer nossa formação — explicou Mutaiyo — se ataques diretos não funcionam, basta apenas enterrá-lo. Mesmo no segundo nível isso pode ser possível.

— O melhor lugar para isso é o mesmo do primeiro contato com ele, a encosta da esquerda — concluiu Kotaru. 

— Temos um plano — suspirou fundo Yasukasa — Kotaru comigo. Raijin ficará encarregado de afastar o alvo. Mutaiyo e Yato vão cobri-lo — virou para a dupla de cavaleiros atrás — já vocês dois fiquem próximos das tropas. Se tudo der errado, o resto é com vocês.

O escalar do aprimorado para fora do lago ecoou em seus ouvidos. Frente a frente com eles, Raijin tomou a frente, alongando os braços e as pernas. Mutaiyo e Yato foram para o seu lado.

— Quando aquela coisa cair um nível e estiver no topo da encosta, entramos — Yasukasa deu suas últimas ordens — Não me faça esperar muito.

— Como sempre apressada — provocou Kotaru. 

Após um breve aceno de cabeça, Raijin virou de frente. Entre ele e o experimento, havia somente os cadáveres dos que cruzaram o caminho do inimigo imparável.

Eles correram um na direção do outro. A besta que brilhava em negro pegou um dos cadáveres do chão. Sua aura se espalhou para o corpo sem vida em seus dedos, infectando o fulgur em sua armadura. Ao arremessá-lo, o projétil humano estava quente, prestes a explodir. Raijin desviou, apenas para Mutaiyo segurá-lo com as areias, absorvendo seu calor.

O Aprimorado preparou um soco, mas Raijin deslizou entre suas pernas, seguindo sem olhar para trás na direção da encosta. As areias que capturaram o Kishi caído rastejam pelo chão, arrastando as pernas do inimigo para longe de Mutaiyo e Yato, porém na direção do cavaleiro pessoal de Yasukasa.

— Ele vai ficar sem saída — Yato corria atrás dos dois.

— Não. Esse é um plano dele — a professora seguia.

Os pés de Raijin formaram uma espiral de ar ao redor das solas. Ao pisar na parede, o pequeno redemoinho manteve pernas na superfície. Na medida em que escalava a encosta, o Aprimorado tomava mais corpos do chão. 

— Eu não vou deixar você desonrá-los!— Mutaiyo cobria os braços do inimigo com areia.

Livrando uma das mãos, o homem agarrou o pescoço da antiga mestra de Yasukasa e a pressionou contra a parede. Uma plataforma de areia o ergueu do chão, mas suas mãos ainda se agarravam em Mutaiyo.

Outro pilar subiu trazendo Yato, que preparava para riscar suas espadas para salvá-la, quando Raijin deslizou pela parede, atravessando o experimento, desferindo inúmeros cortes menores em seu corpo.

Rugindo de dor, seus dedos soltaram a mulher, que se agarrou na plataforma, enquanto ele tombou, fincando os dedos na encosta. Depois, saltou contra Raijin, que deslizou do caminho. 

Vendo que os cortes feitos recentemente brilhavam na mesma cor das outras feridas, ele desceu para atacá-lo, somente para desviar no último instante. O aprimorado continuou o perseguindo atrás de cada golpe em falso, cada desvio, eles cruzavam o paredão da encosta de um lado para o outro.

— Incrível, ele está cansando o inimigo — Yato assistia, guardando sua espada — Entrando em combate sem lutar e ainda por cima levando ele onde queríamos. 

— Raijin é talentoso — observou a mestra — a Matriarca escolheu bem os seus. 

O cavaleiro seguiu desviando até os dois irem parar no topo da encosta. Ali, seguiram não apenas Mutaiyo e Yato, como Yasukasa e Kotaru. O aprimorado então martelou o chão, rachando o caminho por onde o cavaleiro passava. Seus pés, cobertos pela espiral de vento, foram mordidos pela fenda aberta.

Mesmo com o vento cortando a rocha, o inimigo estava perto. Sem tempo para desviar, o soco mandou Raijin rolando para a beirada da encosta.

— Ele é meu — Yasukasa deu um passo à frente.

— Espere alteza — Kotaru pediu espaço, avançando — Vou te dar a chance que deseja. 

O monstro se aproximou para finalizá-lo, quando Kotaru o enforcou por trás com o cabo da espada. O reflexo do metal refletido contra o sol no horizonte, cegou seu rosto, mas não o impediu de tirar o cavaleiro de cima de suas costas.

Com uma mão nos olhos, o experimento atacou às cegas até que sentiu a areia engolir seus tornozelos. O grupo o havia cercado, porém em meio aos ataques Yato foi agarrado pelos pés.

O Senshi sacava uma faca mas com o puxão súbito ele foi arremessado contra o chão. Raijin se ergueu, tomou a lâmina caída e jogou até ele, que furou a mão do experimento.

Ao soltá-lo de suas mãos, ele abraçou Yato contra si. As cicatrizes perdiam o brilho negro. O comandante então deu cabeçadas para que o soltasse. Depois, o Senshi libertou uma das mãos e enterrou uma faca no olho do Aprimorado.

Enfurecido, aquele que herdou as capacidades de Hirojiyu soltou sua presa e deu-lhe um soco certeiro no abdômen. Yato caiu sem ar, apenas protegeu a cabeça do próximo ataque que o lançou sem consciência no chão. 

— Ele enfraqueceu e mesmo assim… — Kotaru apontava sua espada contra o sol poente — Precisamos de mais tempo.

— Isso vai continuar até um de nós morrer? — protestou Mutaiyo, com Yato em mãos. 

— Não vai haver vitória se morrermos aqui — Yasukasa enfiava sua espada na areia — as cicatrizes dele pararam de brilhar, vamos ganhar esse tempo! 

O fulgur coberto por seu iro acumulou os grãos dourados na lâmina, prolongando seu alcance ao mesmo tempo que perdia a rigidez. Quando sacou a empunhadura para fora, a espada havia se tornado um chicote. 

Primeiro, Raijin deslizou pelo lado do inimigo. A espiral de vento em suas mãos cortou os calcanhares do homem, que se apoiou em um joelho. Depois, o chicote da Matriarca enroscou-se em seu pescoço. Yasukasa correu para as costas, usando a forca para derrubá-lo no chão.  

A criatura gemia e gritava de dor, mas sua voz era sufocada pelo chicote em seu pescoço. Seu corpo esperneava, na medida em que sua aura crescia. Cada bater de pernas e do seu único braço livre estremecia o chão, desequilibrando os lutadores com as rachaduras que abria.

Yasukasa perdia o controle de sua espada. As areias escorreram pelo metal, livrando o pescoço do experimento. O sol cruzava o horizonte quando ela percebia que as feridas no corpo começavam a sangrar. 

O aprimorado rastejou em direção a arma de fulgur caída, subitamente Mutaiyo foi em sua direção disputando a posse do metal que absorvia a aura negra do experimento.

— O que pensa que está fazendo mestra?! — gritou Yasukasa.

— Ganhando tempo! — respondeu. 

Em meio a disputa pela espada, a professora usou sua cabeça contra o olho perfurado de seu adversário. A arma solta começava a aquecer quando antes do fulgur explodir, foi envolvido em areia em um invólucro que conteve todo o impacto. 

O nariz de Mutaiyo sangrava, quando recebia um chute do sujeito que começava a mancar. A mulher era segurada por sua aluna: 

— Ficou louca?!

— Ele não tem controle do iro, aquilo iria explodir nas mãos dele  — explicava ainda no chão — o impacto tornaria nosso esforço inútil — cuspiu sangue. 

— Estava tentando se reabastecer — Yasukasa reparava no rastro de sangue no chão — está em seu limite. 

— Vai — Mutaiyo segurou na mão da aluna — é a sua vez agora.

Uma onda de areia cresceu sob o aprimorado. Seus pés passavam a ficar presos no solo que sugava ele para baixo como uma areia movediça. O experimento relutava apoiando os braços, se empurrando para cima. 

Yasukasa berrava, fazendo mais força quando surfando por cima da técnica, Raijin desceu sobre ele com os dois pés carregados com vento, o afundando ainda mais no chão.

Com o auxílio do cavaleiro que perfurou a areia, a areia tomou os braços do aprimorado. Restando apenas sua cabeça, completamente imobilizado com o corpo soterrado.

Raijin retornava a superfície, Yasukasa arfava em exaustão, ao tempo que Kotaru suspirou aliviado. Mutaiyo, imobilizava um dos braços de Yato com faixas, até que o comandante abria seus olhos gemendo de dor, quando foi contido:

— Acabou. Nós vencemos.

— Ele não vai sobreviver muito tempo, nada vai salvar ele dá asfixia — afirmou Raijin — deve durar alguns minutos. 

Todos se reuniram ao redor do lugar onde o inimigo havia sido enterrado, até que Kotaru se separou da roda para olhar o lago abaixo:

— Preciso voltar para a princesa.

— Sim, vamos restabelecer a formação — se aproximou Yasukasa — avançar e… 

— Meus parabéns — um brilho verde surgiu por trás de todos — Nunca teria imaginado que precisaria intervir — a voz suave era acompanhada de palmas. 

— Isso é… — Yasukasa se virou, puxando sua espada.

O feiticeiro de olhos verdes e túnicas escuras se revelou. Um lagarto do deserto rastejava pelo seu ombro, com o portal em suas costas. 

— Chegou a hora de fechar o livro de fantasias e voltar para a realidade — tentáculos brotaram de suas túnicas. 

O portal,nas costas de Seth, cresceu dando espaço para passagem de um mascarado de pouco mais de dois metros, na dianteira de seus súditos. Todos arregalaram os olhos, ao tempo que Yasukasa trincou os dentes.

Os cavaleiros ameaçaram a ir na direção do feiticeiro, quando de repente um pisão da matriarca sob o solo levantou a areia como uma alavanca atirando todo o grupo da aliança para longe dali.

As autoridades Kuro a sós se acomodavam na região no ínicio daquena noite, quando de dentro dos portais saia o general com as mãos para trás:

— O som do desespero inimigo. Música para os meus ouvidos. Finalmente tomou uma decisão correta, moleque. Pode deixar comigo de agora em diante.

Nobura não deu ouvidos. Andando ao redor do lugar onde o Aprimorado estava soterrado, ele parou e apontou com o dedo. Os tentáculos de Seth então escavaram fundo. Coberto de areia e sangue, completamente inconsciente, surgiu o último experimento. 

— Está vivo, mas é inútil dessa forma — Seth o repousava no chão.

— Veja — Junichi apontou para a passagem acima do lago — Parece que aceitaram a derrota.

As areias varreram os destroços dos navios daquela passagem, amontoando tudo em uma barricada que fechou o caminho dos reforços. À distância, eles dispararam flechas, mas não foram o bastante para sequer atingir os cavaleiros no lago, que logo atingiram a terra firma, se reencontrando com as forças aliadas.

— Mayuri — ordenou Nobura — Limpe esta bagunça.

— Avanço com eles para pegar os fujões? 

— Não. Apenas abra caminho.

— Ignorar nossa melhor chance de finalizá-los aqui e agora? — Junichi bateu a perna de pau — Eu ordenei que viéssemos porque perdi a paciência com suas tentativas fracassadas. Olhe para esta coisa — apontou para o Aprimorado — Este é o melhor que tem a me oferecer?

— A recuperação de nossos inimigos pouco importa agora. Esta batalha acaba amanhã. Já temos tudo o que precisamos para vencer — Nobura se virou para Suzaki — será a sua deixa, Zeta. 

O jovem de olhos azuis fitava os olhos com o penhasco, percebendo as muitas vidas cercando o cânion e o curso do rio, desprovidas da escolha de fazerem parte desta batalha.

Todos estavam em queda livre até que uma plataforma de areia surgia logo acima do rio, sustentando a queda de todos ao tempo que Yasukasa passou a tossir de cansaço. 

— O que aconteceu?! — perguntou Tsuruta movendo a areia. 

— Aquela coisa ainda tá viva? — se aproximou Riki. 

— Por que você fez isso, alteza? — se reergueu Kotaru. 

— Aquele é Seth, o feiticeiro que tentou me sequestrar — explicava — é ele quem controla os portais, não temos chance de lutar com eles nestas condi- — um portal maior se abriu mais a frente no cânion — Temos que voltar para as tropas. Agora!

Guardas chegavam com reforços, em números que chegavam às dezenas de milhares. Um mar negro se dirigindo à debilitada aliança Orange. Todos se espalharam em outros blocos de areias menores, se encaminhando as suas posições originais. 

— Não pode ser… Como eles ainda tem tantos — Mutaiyo se surpreendia junto a Yato que tinha seu braço enfaixado. 

— Matriarca fez bem em recuar — respondeu Yato — teremos que se preparar pois presumo que dessa vez eles vieram com a força total deles. 


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.



Comentários