Volume IV – Arco 13
Capítulo 114: Intermédio da Rainha
Isolados da batalha, os súditos do caos aguardavam informações de Seth, exceto por Nubi. A garota estava sentada com as pernas cruzadas e aura ativa, perto somente de Nobura. Junichi andava de um lado para o outro, martelando sua perna de pau contra o solo, enquanto assistia aos barcos com seus homens cruzarem o portal de Seth.
— Essa garotinha veio aqui só para atirar a caixa e soltar o rio? Vai ficar parada aí até quando?
— Recomendo permanecer em silêncio — Seth respondeu — Digama perde a concentração muito facilmente.
— É mais uma daquelas bruxarias? — apontou para Nobura — Melhor refletir no que tá investindo garoto.
— As técnicas dos súditos são poderes divinos, não feitiçaria. No caso dela, mover objetos com a mente, maiores ou menores. Deixe-me te dar uma demonstração — acenou para que se aproximasse.
— Sem joguinhos, bruxo.
— Alguma movimentação do lado direito? — perguntou Nobura.
— Infelizmente, não — respondeu o feiticeiro — Esta área avançou menos que as outras. E tem tantos homens, que chega a ser praticamente uma fortaleza.
— Já sabe o que fazer — sussurrou para Nubi — Seth, mostre a ele.
— Quero ver somente o necessário — se aproximou do feiticeiro — Não quero suas mãos imundas em mim por muito tempo.
Seth colocou as mãos na cabeça do general. A visão que transferiu para seus olhos era de um lagarto, vagando pela encosta à uma distância segura da luta de Yato e Mutaiyo. Quando de repente um corpo começou a flutuar diante dos adversários, o experimento era arremessado para o outro lado da encosta como uma bala de canhão.
— Como ela consegue fazer isso? — estapeou o braço de Seth, se libertando do transe.
— Digama está controlando o Experimento Aprimorado, e o cânion ao redor do lago — respondeu Seth — Ela tem o campo de batalha nas mãos, ou melhor em sua mente.
— Que seja — cruzou os braços — sem resultados, não me impressiona.
Na base da formação da aliança Orange, Hoshizora avistou o projétil humano subir aos céus novamente, como mais cedo. Desta vez, sua aterrissagem enviou uma onda de choque sentida até onde estava. Kotaru então colocou um cinto de couro, com sua espada embainhada.
Pegando um cavalo e uma dezena de homens para a origem do impacto, alguns já cercavam o projétil que cortou o céu uma última vez, se questionando a respeito do fenômeno. Nagajiyu estava entre eles, escutando as súplicas dos que se aproximavam da fumaça:
— Não teve algo parecido lá atrás?
— E agora veio para cá — um Kishi se aproximava da cratera — Dependendo do que for, a gente só dá uma olhada e reporta para…
— Me ajude. Minha perna — uma voz gritava da fumaça.
Mancando para fora do buraco veio um homem de roupas rasgadas e com as pernas cobertas de sangue. Com os olhos crescidos ele agarrou um Kishi para evitar sua queda, rosnando de repente com sua voz mudando de tom:
— Sai de mim! Isso está me enlouquecendo.
— Se afastem — Nagajiyu puxou um deles para perto — Agora.
— Calma, ele está ferido. Vamos levá-lo para o Cavaleiro e…
O homem caído silenciou-se. De um instante para outro, sua mão se fechou no pescoço do Kishi na sua frente. Nagajiyu se jogou para trás, afastando o único companheiro ao seu alcance, na medida em que os outros sacaram suas espadas.
— Imundos — o homem gritava — Podem tentar o quanto quiserem, não podem nos impedir!
— O que você fez temos que voltar lá — o Kishi protestava contra Nagajiyu.
— Não é seguro — segurava-o pelo braço — Aquilo é um experi… É um daqueles caras de ontem a noite.
— Aqueles da base? — o Kishi afastava os braços do rapaz — Um só não deve ser problema, precisamos pegá-lo!
Os gritos dos Kishis ecoaram pela fumaça. Quando o vento a dissipou todos estavam aos pés do inimigo, debaixo de uma poça do seu próprio sangue.
Quando o agressor dobrava os joelhos para saltar sobre eles, um filete de luz cortou seus olhos ao mesmo tempo que cegou o Kuro disfarçado. A areia arrastou o oponente alguns passos mais longe dos dois, quando um homem se colocou na frente deles.
Sua espada era branca como o Sol no céu. Com um movimento, a luz refletida naquele metal espalhou um calor sentido até pelos que assistiam a tudo pelas laterais.
Na medida em que seus olhos se acostumaram com o brilho, o homem estava na frente deles rodeado por cinco Kishis.
— Vocês fazem parte do fronte resgatado no rio? — perguntou Kotaru se virando para eles.
— Sim, senhor — o Kishi se curvou — Fomos pegos desprevenidos por este inimigo.
A marcha do Aprimorado na direção deles martelava o coração de Nagajiyu. O corpo daquele homem, queimado, repleto de cicatrizes brilhando em negro, era uma visão nostálgica daquele que lutou ao seu lado no passado.
“Aquilo… não pode ser.”, sua mente foi perturbada por memórias, trazendo uma dor de cabeça. “Irmão?!”
Foi então que o enviado dos Kuro fincou as mãos na terra, o chão à sua frente foi arrancado da encosta. Agora era um enorme bloco de pedra e areia, sendo arremessado na direção deles.
— Formação — Kotaru levantou o braço com três dedos erguidos.
Um trio de Kishis ergueu duas mãos de areia que sustentavam o peso do objeto. Outros dois ergueram uma barreira entre eles e o inimigo, que já havia começado a vir na direção deles. Nagajiyu espiou a espada de Kotaru, não era de bronze como a dos outros.
O metal era cromado, o mero vislumbre cegava o olhar desprotegido. O cavaleiro apenas posicionou a lâmina contra o sol. O reflexo espalhou raios pela rocha e depois desceu para o chão, como um corte de uma guilhotina.
Do pedaço de terra arremessado sobrou apenas pó. Contudo, o alvo da técnica permanecia de pé. Apesar dos braços perfurados, ele os movia como se a ferida sequer existisse.
— Como isso é possível? — os Kishis debatiam entre si.
— Atenção — Kotaru alertava — Isso ainda não acabou.
— Não dá para matar ele — a fala de Nagajiyu atraiu olhares enfurecidos.
— Por que diz isso? — Kotaru acalmava seus homens.
— E-e-eu vi ele na noite passada, é uma daquelas aberrações mas… é mais resistente — Nagajiyu apontou para frente — Ele fica mais forte quanto mais impacto ele absorve.
— Senhor, eu nunca vi esse sujeito na vida. Deve ser um Kishi inexperiente querendo se aparecer, esqueça ele e…
— Ele tem razão — interrompeu um dos seus — Parando para pensar, se esse for o caso. Atirar este homem de longas distâncias é uma forma de fortalecê-lo, vamos trabalhar com essa hipótese.
Em um movimento quase que involuntário, Nagajiyu engatinhou com seu disfarce para o lado de Kotaru enquanto pensava:
“Preciso chegar até ele… Meu irmão cobaia daquela bruxa. Mesmo na morte, Itoshi não deixa minha família em paz!”, cerrava o punho com ódio nos olhos.
Nas entranhas do cânion, o lago formado abrigava três embarcações grandes no centro, no qual tripulantes atiravam flechas. Uma outra parte surgia mais a frente, remando barcos menores pelo rio para atacar simultaneamente.
De pé em um dos barcos, Yasukasa terminava com os invasores pelo rio, quando surgiram tremores. Olhando para trás, ela via o lago sob fogo pesado ao mesmo tempo que reparou no que parecia um objeto, voando na direção da retaguarda na encosta esquerda.
— Aquela coisa voou na direção da encosta da matriz, se for um súdito é perigoso demais — ressaltou Riki acima do rio — Podemos abrir caminho para você, Matriarca.
— Difícil, os barcos no lago não nos permitem ir muito longe — Raijin interrompeu — Estamos presos aqui até resolvermos este problema.
As flechas inimigas batiam nos escudos outra vez. Erguendo a vista para o topo da encosta, Mutaiyo e Yato recuavam do seu lado, junto com seus homens, a caminho da retaguarda. Suspirando aliviada, ela se voltou para Tsuruta:
— Você vem comigo. Riki, precisa ajudar Kotaru no topo, deixe os Senshis com Raijin agora.
Auxiliada por Tsuruta, Matriarca ergueu uma plataforma de areia por onde Riki e Raijin subiram para direções diferentes.
— E eu, majestade? — perguntou Tsuruta.
— Só me dê cobertura.
Após a derrota dos barcos a remo, sobraram inúmeros deles boiando sobre as águas do rio, perto do lago. Apenas um ainda guardava homens de preto. Yasukasa pulava entre eles para chegar no último alvo, quando subitamente sua trajetória mudou. Prestes a se chocar com as paredes do rio, ela escorou os braceletes e quicou de volta.
Aterrissando no barco inimigo, os dois inimigos se desequilibraram com a sua chegada, permitindo ela tomar um deles como escudo para se aproximar do segundo. Chegando perto o bastante ela sacou sua espada, atravessando ambos com uma única estocada.
“Mas o que foi aquilo?”, chutou os dois inimigos no rio. “De repente é como se algo estivesse…”
Seu pensamento foi frustrado ao ver um dos seus cavaleiros em queda livre na direção da grande embarcação.
— Riki! — gritou, amortecendo a queda com suas areias.
Para erguer a si mesma e seu cavaleiro caído para a passagem acima do rio, ela fez outra plataforma. Quando estavam prestes a atingir o topo, a estrutura ruiu novamente, embora a dupla tenha alcançado terra firme saltando na última hora.
Sendo recebidos por Tsuruta, eles viram Raijin gritar fogo aos guardas da aliança. Um enxame de flechas desceu sobre a trinca de barcos maiores no lago.
— Vocês também caíram? O que aconteceu? — berrou Tsuruta.
— Como é cínico. Você me deixou cair! — retrucou Riki.
— Eu nunca erro minha técnica, seu insolente. Só olhar para baixo e vai ver…
— Calem a boca — Yasukasa chamou atenção dos dois — Vejam! — apontando para a direção do rio.
As embarcações Kuro continuavam intactas. Centenas de flechas boiavam nas águas, pouquíssimas haviam atingido a proa, sem qualquer efeito.
— Todo mundo desaprendeu a atirar, agora? — trincou os dentes Riki.
— Não. A mesma pessoa que desfez as plataformas de areia e desviou minha trajetória, protegeu os barcos — explicou Yasukasa.
— Outro súdito? Se for aquela mesma de antes, nossa radiação pode afetar o… — sugeriu Tsuruta.
— Se fosse ela, eu não conseguiria descer até lá — Yasukasa olhava de um lado para o outro.
— Não faz sentido. Ele tem que estar por aqui — apontou pro céu — senão como ele conseguiu me fazer cair lá de cima? — questionou Riki.
— Ou então, estão atacando de um lugar remoto como…
— Os portais — Raijin saía de perto dos seus homens — Alguém está nos observando de novo — completou o raciocínio da alteza.
— Covardes! — Yasukasa socou a parede do cânion — Estão nos isolando… e nem ao menos estão aqui para responder por isso — sua aura brotou do corpo — vamos acabar com esses barcos. Preparem-se! Raijin, quero que você se arme com três lanças de fulgur.
Enquanto os cavaleiros se preparavam para uma nova investida, os Senshis protegiam toda a aliança com seus escudos erguidos. Presos entre a passagem estreita e a chuva de flechas do inimigo, estavam os mais jovens do contingente Aka.
— Como podem ter errado tantos tiros de uma só vez? Até eu acertava umas de vez em quando — provocou Emi, batendo no ombro de Masori — melhor você mostrar a eles como é que se faz.
— Aí que você se engana — tomou a frente Usagi — são muitos alvos lá embaixo, é praticamente impossível a maioria das flechas não atingir os barcos pelo menos.
— Está dizendo que… — indagou Effei.
— As mesmas bizarrices de ontem — completou Masori — Só que agora não temos espaço nenhum para nos movimentar.
— E o que podemos fazer? — Katsuo encarou Usagi.
— Aqui? Acho que nada.
— Corta essa Usagi — Nakama deu uma cotovelada no braço do mirim mais velho — vamos ajudar, estamos aqui para…
Nakama caminhava na direção dos Senshis na primeira linha de escudos, quando foi puxado pelo braço queimado por um dos adultos por perto.
— Não lembro de ter dado ordens depois que disse para ficarem aqui — Tomio ergueu a voz.
— É isso então? Vamos só ficar esperando morrer?
— Precisando ou não de vocês para combate, a única ordem é que obedeçam. E agora, estou dizendo para que não banquem os heróis.
De repente uma enorme sombra cobriu os Senshis. Chegando pelo rio, Tsuruta trazia consigo vários Kishis divididos em duplas em cada barco tomado do exército inimigo caído.
— Quero que pressionem os barcos por baixo. Quando minha cobertura falhar, tem a permissão de usar flechas de fulgur, fui clara?
— Sim, majestade — curvou a cabeça.
A cobertura de Yasukasa cobriu boa parte do lago, eclipsando até mesmo o Sol. Junto a ela, por cima da cobertura, Raijin carregava uma lança em cada uma das mãos e Riki protegia os olhos para melhor avistar Tsuruta:
— Proteger o fulgur do Sol é uma coisa, mas atacar com barquinhos uma embarcação de guerra? Quer se livrar logo daquele exibido?
— Esse súdito é diferente daquela que enfrentamos. Se ele nos enxerga de algum jeito, o domo de areia deve bloqueá-lo um pouco — gerava bolas grandes de areia — Dividir nossos ataques também devem dividir sua concentração.
— Pretende testar os limites da habilidade dele? Isso não deu muito certo comigo na última vez.
— Testar não. Comprovar. Eu já tenho uma ideia desse limite — terminou de gerar cinco bolas, levando um dos joelhos no chão suspirando — quando eu estava lá embaixo, o súdito tinha controle sobre as plataformas, mas quando veio a chuva de flechas, pude subir acima do rio.
— Então é como se ele só pudesse se concentrar em uma coisa por vez — percebia Raijin, ajudando Yasukasa a se reerguer.
Quando os três se separaram em blocos de areia distintos, o domo começou a brilhar. A superfície se tornava quente, depois translúcida. Tsuruta reconhecendo o que se passava, olhou para trás e viu Riki alimentando o domo com calor
A alta temperatura subia vapor vindo do lago, até que uma das lanças disparada bem no centro da cobertura, estilhaçando o que havia se tornado um teto de vidro. Ao mesmo tempo, Yasukasa disparou as bolas de areia, que durante a trajetória se desmancharam em cacos do mesmo material, para logo em seguida Tsuruta e os Kishis nos barcos atacarem com flechas de fulgur.
Os projéteis atirados diretamente sofreram curvas que os desviaram dos barcos, indo parar na água. Contudo, a cobertura que se desmanchou, choveu vidro contra os atiradores dos barcos. Do barco diretamente abaixo da ruptura, todos estavam caídos.
Longe dali, a súdita responsável soltou um leve gemido. Aos grunhidos ela recompunha sua aura, na medida que sangue escorria para fora de suas narinas.
— Parece que nosso filhote saiu do ninho cedo demais — disse Seth, olhando para Nobura.
— Faça o portal. Estou pronto — indagou Suzaki.
— Você fica — Nobura o segurou pelo braço.
— Quanta enrolação, estão dando a eles as vitórias que tanto querem! — se soltou do braço do mascarado — Não é você que tem o poder para enfrentar exércitos? Então por que continua escondido aqui?!
Junichi assistia à disputa entre os súditos contendo as risadas. A discussão continuou até que Nubi voltou a protestar com a dor. Seus grunhidos se transformaram em um grito:
— Não.
Duas lanças, foram arremessadas junto a queda do domo. Rápidas, quase imperceptíveis. Nubi desviou a primeira, que caia sob a água, porém falhou em conter a outra que atingiu em cheio a proa do segundo barco. A sua ponta de fulgur brilhava, e com o impacto gerou um estouro, que começou a fazer a embarcação ruir.
“A habilidade de Raijin é gerar uma camada de vento ao seu redor que pode transpassar até mesmo a rocha com a velocidade certa. Com o fulgur, ele pode fazer o mesmo com esses arremessos”, refletiu Yasukasa sorrindo. “Vocês, súditos, não são tudo isso”.
A explosão desencadeou outras erupções no lago, onde as flechas de fulgur descansavam dos desvios de Nubi. Uma após a outra elas sacudiram a água e destruíram as embarcações que sobraram.
Escondido por trás dos Kishis, Nagajiyu assistia a sombra do seu irmão rasgar suas defesas.
“Meu irmão, será que ainda resta algo… como o que está em mim?”, se perguntava vislumbrando sua mão. “Se for o caso, nossa vingança realmente terminou aquele dia?”, refletia olhando ao redor, percebendo os Kishis.
O Sol passará de seu ápice. Depois de um tempo a luz da espada de Kotaru incidia bem nas costas do experimento, de frente para ele. O cavaleiro olhou para sua espada, depois virou para seus companheiros. Uma parede de areia surgiu nas costas de seu inimigo, projetando uma sombra sobre os dois lutadores.
Com um soco, o Aprimorado o jogou no chão e o pegou pela cabeça, preparando outro golpe. Kotaru colocou a lâmina de lado, frente ao seu rosto. A luz cegou os olhos do oponente, que começou a jogar os braços para o lado. Kotaru então fincou sua espada no chão, angulada na direção do Sol que passava pelo muro à frente.
— Não, espera — Nagajiyu empurrou os Kishis para o lado.
A luz que refletiu para a espada era um feixe grosso, feito um aríete, porém pontiagudo como uma lança. O raio tomou forma acertando o experimento em cheio até atravessar seu estômago, o pregando contra a parede erigida em suas costas.
— Ele ainda está vivo — ficava de pé, percebendo a aura do aprimorado crescendo em sua ferida — então é verdade.
De repente passando por Kotaru, um Kishi saia da formação se aproximando do sujeito preso entre o feixe luminoso e a rocha, ao tempo que o cavaleiro gritava:
— Ei! O que está fazendo?!
— Não, não — tentava encostar na lança luminosa mas a mera proximidade queimava suas mãos — não deve acabar assim — sussurrava, notando os gritos dos Kishis que assistiam.
— Você… — o homem ferido estendia suas mãos a Nagajiyu — eu lhe reconheço.
— Hiro, você ainda está aí? — segurava nas mãos dele — O que fizeram com você?
— Tiraram tudo de mim… preciso tomar deles — tentava se soltar, sua aura crescia.
— Temos que sair daqui se quisermos…
— Eu vou destruir todos eles!
— Você não — uma dor de cabeça aguda perfurou sua cabeça — droga! — sacou sua espada, uma fumaça começou a ser expelida ao tempo que Nagajiyu se contorcia — pela reunificação!
— Capitão — um Kishi apontou — O que é isso? — os dois eram tomados por uma fumaça negra, porém o feixe de Kotaru permanecia intacto.
— Não se aproximem — ordenou ameaçando pegar na bainha de sua arma a qualquer momento.
Sem ver o que acontecia, o cavaleiro de repente notou um brilho reluzente e imediatamente gritou:
— Protejam-se!
Uma explosão foi gerada pela arma de fulgur que estava com o Kuro disfarçado, com a poeira se dispersando Kotaru notava a muralha de areia erguida ruindo ao redor de uma sombra que pulou em sua direção.
Mesmo com a estaca de luz ainda em seu corpo, o aprimorado avançou batendo seu corpo contra o chão entre as rachaduras, afastou a formação de Kishis. Que se moviam diante a poeira de areia, que parecia tomar forma entre eles como um nevoeiro.
“Essa dor, essas vozes que não são minhas de novo”, usava sua aura escondido na fumaça. “Não posso deixar meu disfarce cair agora. Se eu quiser fugir para me vingar com o meu irmão eu…”, uma memória visitava a mente de Nagajiyu.
Os olhos vermelhos arregalados de um garoto enquanto ele se esperneava:
“O que pensa estar fazendo? Quer que eu fuja daqui? Depois de tudo que fiz?!“
“Estou dando algo que ninguém te deu: uma chance de terminar diferente… Viva, só assim vai poder fazer valer a pena.“
Se lembrou Nagajiyu escutando o berro do experimento que restou de seu irmão, enquanto a poeira se aglomerava sob sua garganta. O kuro disfarçado usava de seu próprio poder para sufocar o aprimorado.
— Temos que tirá-lo daqui — Kotaru via os navios afundando no lago à distância.
— Mas para onde vamos levá-lo?
— Não importa, se ele não morre e continua se fortalecendo com impactos, a batalha depende que ele não fique próximo da posição da princesa Hoshizora!
Kotaru ergueu sua espada para o céu. Com as duas mãos ele a colocou na altura de seus olhos. Seu alvo estava de costas se ajoelhando enquanto cuspia sangue, ao tempo que o brilho ao redor do seu corpo se transformava em cicatrizes profundas. Nagajiyu se aproximava da aberração que continha os poderes de seu irmão.
— Essa fumaça… irmão é você — dizia o aprimorado tossindo — por favor, me liberte… me salve — implorou aos pés de Nagajiyu.
— Sinto muito, mas… nossa luta acabou Hiro — deixou uma lágrima escapar — você se foi com ela.
Inesperadamente a luz do próximo golpe de Kotaru refletiu no rosto de Nagajiyu, que se jogou para trás. Assim que o inimigo se virou, um feixe intenso e contínuo empurrou o experimento, arrastando seus pés no chão até que finalmente ele começou andar para frente.
O Aprimorado era empurrado para a beirada, relutando enquanto de repente uma onda de areia o cercou ajudando o feixe de luz, tornando o solo que seus pés empurravam flácido.
A poeira se desfazia, Nagajiyu se recuperava do clarão ainda no chão observando o experimento sendo empurrado contra o penhasco. Mesmo com a força coletiva dos Kishis e seu cavaleiro, o adversário continuava marchando em frente.
— Esse cara é um monstro! — gritou um dos Kishis — está se energizando!
— Não desistam! — ordenou Kotaru.
A relutância por parte deles, apenas só enfraqueceu mais a tentativa de empurrá-lo, fazendo o aprimorado ganhar alguns passos de distâncias da queda. De repente um jato de faísca o atingiu pelos lados, o tombando para trás.
Kotaru percebeu vindo de trás o elemento de chamas, ao tempo que uma mulher se colocava entre os demais Kishis:
— Você demorou, Senhora Mutaiyo.
— Tivemos que contornar o topo, algo estava impedindo nossa travessia — Yato dizia, enquanto riscava suas duas espadas.
— Kishis, me dêem o controle — Mutaiyo ficou na frente deles, colocando as mãos no chão.
As areias se tornaram mais espessas e rígidas. Pelos lados, elas se entrelaçaram nos braços cruzados de seu alvo os puxando para o lado e abrindo caminho para o raio. O homem com as memórias de Hirojiyu estava à beira da queda.
“Eu devia ter morrido aquele dia com você”, pensou Nagajiyu, desviando o olhar da luz e tapando os ouvidos. “O que devo fazer?!”
Com um rugido que ecoou pelo cânion, o experimento foi lançado no lago, levantando um gêiser de água em seu impacto. Yasukasa e os cavaleiros perceberam a queda livre do corpo na confusão de pequenas explosões na água, a matriarca fitou seus olhos por um momento com o topo, sorrindo após notar que o lado de sua irmã estava seguro.
Os gritos de vitória por parte dos cavaleiros, geraram uma grande comemoração dos exércitos da aliança. Nubi levava as duas mãos na cabeça gemendo em dor, quando Nobura foi para perto e impôs-lhe a mão.
A agonia de Nubi cessou. Seu corpo havia ficado imóvel. Somente a aura de Nobura permaneceu por um tempo até que a súdita voltou para sua posição de antes. Seus olhos agora estavam tomados por preto.
As águas do lago se agitaram. A maré subiu, alimentada pelo rio ao lado, que seguia o caminho contrário da corrente. Uma grande onda se formou.
— Mas o que é isso? Saiam daí! — gritou Yasukasa para os que estavam próximos.
— Meu divino — se espantava Tsuruta.
Na crista da onda estavam os navios destruídos e o resto do fulgur, que começou a explodir graças às chamas espalhadas do ataque anterior.
A enxurrada se aglomerou com a última lança que ainda restava no centro do cânion, gerando uma enorme explosão que abalou a base, levantando fumaça dos explosivos e de vapor por todo o campo de batalha.
Quando Seth terminou de relatar, Suzaki correu para Nubi que cuspia sangue, mas foi contido por Mayuri.
— O que você fez?! — gritou o príncipe renegado.
— A essa altura tenho que concordar com o pirralho — Junichi cruzou os braços — se os outros não podem lidar com essa bagunça, melhor enviar ele logo. Olha só para mim, concordando com a ralé só porque você usa Kuros incompetentes — apontou para Nobura — É melhor que você resolva isso, garoto.
— Digama precisava de forças para concluir sua missão. Está feito. Os homens nos barcos já cumpriram seu papel. O aprimorado ainda está no campo de batalha. Deixe-o finalizar o que ela começou — dizia Nobura, deixando Nubi encolhida no chão.
Ao tempo que Suzaki antes contido, ia ao seu socorro notando que a garota estava acordada porém permanecia com a face colada ao chão completamente inexpressiva.
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.