Volume IV – Arco 13
Capítulo 113: Xeque do Corredor
Gritos e estouros perturbam a mente de um corpo que boiava pelas águas. Sua visão alcançava o rastro de luz do céu, que parecia se mover como se estivesse conectado ao caminho da correnteza que o levava.
“Como vim parar aqui?”, as lembranças perturbam a mente dele em transe.
De uma casa em chamas, para uma pirâmide no deserto, depois em um campo florido onde o cheiro de carne queimada do corpo em seus braços agredia suas narinas tanto quanto os barulhos da batalha atual em seus ouvidos.
“Por que ainda estou aqui?”, levava uma mão ao peito.
O gesto trouxe a recordação do último golpe que havia levado em sua última luta. O punho daquele garoto ainda estava inscrito, mas não em seu corpo tanto quanto em sua alma. Pior, quando seu algoz estava prestes a tomar sua vida, escolheu enterrar sua espada junto com seu remorso. Em vez da lâmina, foram suas palavras que o cortaram naquele dia:
“Tudo tem um propósito. Estou dando algo que ninguém te deu: uma chance de terminar diferente. Às vezes a resposta não está onde procuramos, mas ela está esperando ser encontrada. Viva, só assim vai poder fazer valer a pena.”
Uma explosão sacudiu as águas. Nagajiyu nadou para a origem do evento, quando o homem mais próximo esquentou a água. Vapor subiu para a passagem acima do rio.
“Todos esses meses montando a barragem foram para isso. Já fiz a minha parte. O que… Quem me trouxe aqui?”
Sua mente o levava ao campo florido. Um portal abriu diante dele. Enquanto o homem de olhos verdes e túnicas da mesma cor cruzava a fenda, outros guardas o colocaram no chão. Sem forças para resistir. O corpo de seu irmão foi levado por eles.
— Dane-se o propósito. Ninguém leva meu irmão assim. Vou recuperá-lo… somente depois, me juntarei a vocês — escalou o paredão do rio com os olhos no céu.
A escuridão cobria os cadáveres de olhos escuros, sangrando despidos no chão.
Os que ainda estavam de pé, corriam na direção dos Kishis rosnando. Poucos segundos depois de sumir na névoa, uma explosão soprou a fumaça para longe, apenas para Nagajiyu reuni-la de novo.
Um cadáver boiava na água. Ele vestia uma armadura com inscrições douradas de sol. Nagajiyu trincou os dentes, quando alguém se lançou em seus braços. Era um homem de cabelos brancos com rugas e ossos à mostra:
— Vocês todos podem gostar disso, mas eu não! Meu lugar é no templo de Ibu, rezando. Eu não quero morrer!
— Bispo Petro, fique perto de mim — erguia uma faca de seu bolso — estamos em guerra com os Kiiro. Eles estão terminando o que começaram!
Eles caminharam na fumaça alguns passos antes do senhor colapsar no chão com as mãos na cabeça.
— Foi atingido? — Nagajiyu o erguia.
— Nós temos… que matar — empurrava Nagajiyu para o lado — aniquilar as cores primordiais! — berrou Petro.
O sujeito então foi na direção do combate. Gritando sem parar.
— Sim… somos a única raça… — Nagajiyu sussurrava para si até que levou os punhos cerrados à face — por que disse isso? De quem são essas vozes na minha cabeça?!
Nagajiyu caiu de joelhos. Sua cabeça o levava para uma sala, as catacumbas daquela igreja. Deitado, amarrado por tiras de couro, aparecendo no canto da sua visão uma ruiva com olhos escarlate e luvas de couro. Então ele sentiu uma seringa penetrando em seu braço.
— Itoshi e aquela bruxa desgraçada… — rastejou no chão — primeiro fomos escravizados por aquela represa, depois usados como cobaias? Essas memórias, todo mundo explodindo, tudo veio dela.
Os experimentos subiam debaixo de flechas, quem não caía morto para explodir logo depois, era atingido para cair no rio. Nagajiyu saltou para a beirada, salvando um da queda pelo braço.
“Os Kuro nunca serão aceitos, as coisas já foram longe demais”, lutava para puxá-lo de volta, até que uma flecha viajou direto para o crânio do infeliz. “Seu sonho morreu junto com você, meu pai. Eu já sacrifiquei meu irmão no altar desta vingança. Diga-me, por que sou o único vivo ainda?”
Nagajiyu largou o corpo no rio e juntou suas mãos. A névoa sob seu controle acumulou fumaça das explosões, descendo até as águas. Os atiradores perderam a visão dos experimentos que voltavam a subir.
“Não consigo parar o descontrole deles, preciso me concentrar em salvar Petro e o máximo possível.”
O irmão de Hirojiyu passou a ver os Kishis invadirem a fumaça atacando diretamente. Com veias crescendo ao redor de seu corpo, um grito ecoou pela boca de Nagajiyu:
— Pagaremos o preço pela reunificação!
Os Kishis sentiram a fumaça agarrar seus membros, se concentrando até assumir uma forma maciça surgindo uma fagulha, que logo se transformou numa combustão que os engoliu.
O jovem Kuro se espantava com o que acabará de acontecer diante de seus olhos, tampando sua boca, percebia um muro de areia esculpido ao apagar das chamas. Do outro lado, um dos que ergueram a barreira se voltou para o capitão atrás dele:
— Senhor Raijin, são muitos, não sabemos o que pode acontecer se…
— Trabalhar com o “se” é complicado — interrompeu distribuindo sua aura amarela para fortalecer a barreira — se quisermos descansar esta noite, façam o que digo e esperem meu sinal.
Os experimentos sacaram suas facas para rasgar a terra sem sucesso. Entre eles Nagajiyu reconheceu o bispo no meio deles, gritando em uníssono:
— Um continente! Um reino! Um povo! Um destino!
“Aquela palavra, ‘Reunificação’...”, olhou para sua mão com um dedo faltando. “Essa vontade não é minha. Não somos isso…”
A pele de Petro começava a descascar. O brilho negro de sua aura, cresceu com sua pele brilhando em laranja por um momento. Arregalando os olhos, Nagajiyu o puxou para fora do resto:
— Você não quer isso, bispo! Você pertence ao templo sagrado. Não dê ouvidos ao que perturba sua mente. Liberte-se!
O tamanho da aura de Petro vazava para além do muro de areia. Os Kishis se inquietaram, desfazendo o muro. As areias tomavam outra forma para encobri-los em uma onda, quando Raijin avistou o rapaz maltrapilho de cabelos espetados abraçado com o homem prestes a explodir. Por um momento, aquela luz enfraqueceu.
— Nossa chance — respondeu um Kishi — Usem o muro, joguem os rio!
— Não esperem!
Raijin tentou pará-los, a onda que varreu os experimentos de volta ao rio. Na beirada da trilha, o cavaleiro viu Petro espumando pela boca, ao mesmo tempo que lágrimas desciam de seus olhos. Nagajiyu, que havia se separado dele pelo impacto da onda da de areia, o viu esticar os braços implorando:
— Me tira daqui!
Todos desceram ladeira abaixo. Quando o último corpo caiu naquelas águas, uma série de explosões eclodiram até a superfície, espirrando água. Depois, não se ouviu um barulho sequer além da calma corrente do rio.
Foi então que os urros de vitória por parte dos demais era ignorado pelo cavaleiro que se mantinha em transe, indo até a beirada fitando seu olhar calmo com o penhasco.
— Senhor Raijin tudo correu como você previu, não podia se esperar menos de um cavaleiro real.
— Nem tudo — apontou para a correnteza — se não fosse aquele Kuro de cabelo espetado, teríamos problemas.
— Tem razão, suponho que ele tenha a ver com esses lunáticos que explodem, por isso sabe como desarmar — o Kishi comentou, abandonando o cavaleiro sozinho ainda na beirada.
“Por que impediu a explosão? Foi apenas para si mesmo?”
O pensamento do cavaleiro foi frustrado pelos outros que chegavam por trás, afastando Raijin da beirada enquanto comemoravam a vitória daquela noite. Foi neste momento que um braço com um dedo faltando emergiu do rio cheio de corpos, dos derrotados daquela noite que seguiu quieta pela madrugada.
Sem mais ameaças inimigas, os mirins aproveitaram a folga para repousar no topo das encostas. Enquanto alguns já dormiam, outros praticavam seus movimentos em solidão. Katsuo brandia sua espada contra o vento frio daquela noite, embora seus olhos estivessem mais nos pés do que no movimento de seu braço.
— Pés fixos. Segure firme na espada com as duas mãos — sussurrava para si mesmo — Força máxima!
— Ei — Etsuko saía da cabana — Esse teu falatório não me deixa dormir! Pare de treinar, você praticamente não luta.
— Usagi e Masori não deveriam fazer tudo sozinhos — golpeou o ar — Uma hora, alguém deve precisar de mim.
— Dane-se. Eu não me importo — olhou para dentro da barraca e puxou o quadro — Aproveitando, toma esse desenho idiota.
— V-Você salvou ele? — Katsuo largou sua espada e pegou no braço do companheiro, balançando de cima para baixo — Eu nem sei como agradecer! Muito obrigado!
— Sai, sai — afastou o rapaz — Só, treina quieto, tá? E pode ficar com sua arte.
Fechando sua cabana de novo, Etsuko deixou Katsuo a sós consigo. Sorrindo, antes de retornar a sua cabana, passou sua mão sob a tela do quadro do céu estrelado do deserto, antes de dar mais uma olhada para a referência de sua composição no alto.
O sol voltava ao topo do domo, animando as tropas de cor amarela que se moviam diante do calor que os acompanha desde o nascimento. A brisa seca atravessava os entulhos da batalha do dia anterior, com as fendas sendo fechadas por Mutaiyo, acompanhada por outros Kishis.
Observando o feito da mestra de Yasukasa, estava um sujeito de vestes e capacetes semelhantes aos dos demais guardas da Dinastia. Suas roupas úmidas pareciam grandes demais para comportar seu corpo. Esse mesmo guarda estava diante das tropas que estavam em formação, correndo até a retaguarda para transmitir uma mensagem.
“Esse capacete é o que está salvando a minha vida no momento”, pensou o infiltrado, acompanhando as ordens dos Kishis. “Eu poderia morrer como o Bispo Petro e acabar com tudo isso logo, mas… eu preciso saber o que fizeram comigo e com o corpo do meu irmão! Desde que emergi vivo daquele rio, entendi que preciso fugir daqui, essa guerra não é minha.”, refletiu Nagajiyu.
A tropa se deslocou trazendo a informação até a posição de Hoshizora, onde um de seus confiados a recebia retransmitindo:
— Sem presença inimiga no caminho entre as duas bases. Será que recuaram na noite anterior?
— Sem súdito na noite anterior também — Hoshizora mexia no segundo bispo negro — Avançamos com cautela. Se perdermos mais homens e continuarmos no mesmo lugar, ficará difícil.
Na primeira hora, as tropas se moveram em bloco por todos os níveis do cânion sem qualquer contato com os inimigos. Sem a passagem do rio seco, Yasukasa e os sobreviventes da inundação marchavam à frente da passagem intermediária à direita, junto a Raijin.
— O acampamento inimigo está próximo — Raijin alertou — A essa altura eles já tinham atacado as equipes de reconhecimento.
— Mutaiyo e Yato estão na encosta oposta — Yasukasa erguia a cabeça, acompanhando as tropas acima — Nosso trabalho é focar no que está na nossa frente.
O rio havia surgido do portal naquele ponto. A sua força na entrada, erodiu a passagem de um modo que as encostas estavam mais separadas no centro do que antes. O deslizamento provocado pela corrente, fazia com que as duas trilhas rodeassem o lago no centro. Eram nos arredores daquele lago, que a Guarda Pacificadora esperava por eles.
Aguardando a permissão para avançar, Yasukasa assistiu Mutaiyo liderar o seu lado. Os inimigos no topo dispararam flechas assim que os reconheceram, apenas para atingirem as areias que formavam coberturas para os Kishis. Em dupla com um Senshi eles avançaram até as flechas cessarem.
Foi então que as coberturas de areia se abriram como um caixão ,para os Senshis de cada equipe entrar. Quando a nova leva de disparos veio, as coberturas passaram a se mover no chão. Blocos de areia deslizando até cruzar com a primeira fileira de arqueiros, onde as suas paredes se dissolveram, revelando os Senshis ali dentro. Cada um dos blocos, indo mais profundamente na formação inimiga, apenas para entregar mais morte.
Um dos Kishis plantaram uma nova bandeira na orla do lago. A ponta dourada da haste refletiu a luz do Sol daquela manhã, contra as outras bandeiras no cânion. Ao ver aquelas linhas amarelas se conectando, Yasukasa brandiu sua espada:
— Mostrem suas armas, cavaleiros. Não deixe nenhum de pé!
Cada um dos Kishis sacaram lâminas de bronze e fulgur que brilharam com a cor de seu iro. O calor produzido pelo metal era absorvido e transferido para Riki. Quando a formação entrou em contato com os inimigos do seu lado, os Senshis abriram sua barreira de escudos para Riki liberar uma onda que ateou fogo na linha de frente. Após a queda de todos os inimigos da região, um Kishi subiu para plantar mais uma bandeira.
Bastou o fim da manhã para as tropas Kuro serem completamente erradicadas pelas formações Kiiro. Assistindo a aliança descansar sob sangue dos Kuro, estava um lagarto do deserto que se camuflava pelas areias. Por trás daquele brilho verde nos olhos do animal, Seth relatou o ocorrido:
— Todos estão mortos. A rainha pirralha venceu sua segunda contenda.
— Então está na hora — disse Junichi se aproximando de um baú de pouco menos de dois metros — espero que essa porcaria esteja pronta — passava a mão nas arestas para testar a força, quando uma pancada forte amassou o metal por dentro — Esse é o seu experimento estável, garoto? Depois do fracasso de ontem a noite?
— Veja por si mesmo. Depois que lançá-lo em outro território — Nobura trazia Nubi consigo — para que suas tropas façam o resto.
Na medida que Junichi se afastava, Nubi ficou a dois passos de distância do cárcere metálico. Com os braços esticados e mãos abertas, sua aura brotou do corpo até que o objeto ergueu-se do chão.
— Ficou preguiçoso demais para transportá-lo diretamente pelo portal, bruxo? — Junichi cruzou os braços.
— Para surtir o efeito desejado — o feiticeiro explicava — Se faz necessário uma abordagem mais arcaica. Este homem é um bala de ferro maciço, portanto precisamos de um canhão para atirá-lo.
Tomando o peso do objeto para si, Nubi deu três passos para trás, correu e atirou a caixa para os céus com força máxima. Do lado dos Kiiro, as tropas dos dois lados terminaram de passar pelo lago, voltando a aproximar as duas encostas e suas respectivas trilhas.
— Vencemos? — Riki olhava ao redor — Foi contra isso que perdemos um dia todo de batalha?!
— Tinha menos de cinquenta homens deste lado. Duvido que tenha muito mais onde a Matriarca está — Tsuruta ergueu as mãos para o alto — Finalmente, reconheceram a força da Dinastia e se renderam!
De repente, um corpo foi visto no céu. Como um meteoro, ele cortou as nuvens até se chocar na encosta à esquerda estremecendo o cânion.
Subitamente um pequeno grupo cavalgou até a origem do impacto. Antes que o reconhecimento desse a resposta do que havia caído do céu, um portal abriu-se na passagem do rio ao lado.
— Droga — apontou Tsuruta — é aquilo de novo.
— Você foi tolo pensando que eles se renderam — disse Riki crescendo sua aura — pelo menos deu para me aquecer.
O cavaleiro logo recuou seu dedo apontado, quando o único portal verde se distribuiu em outros vários cercando o rio e as tropas Kiiro nos níveis intermediários.
Yasukasa cruzou os braços ao notar barcos com velas latinas cruzarem a fenda recheado de homens como sua tripulação, portando arcos com flechas de fogo. Enquanto outros menores a remo se deslocavam em duplas, usando de cordas ameaçando a escalada para o confronto imediato.
No oeste do topo da encosta, a cavalaria liderada por Mutaiyo e Yato encontrou o projétil que caiu do céu, a poeira subia nas profundezas de uma pequena cratera, onde era possível ver a projeção de uma sombra cambaleando para fora dela.
— Como sobreviveu a uma queda desta? — Yato fechou os olhos, crescendo sua aura.
— Preparem-se! — Mutaiyo dava sinais para os Kishis o cercarem, enquanto tomava à frente — se é uma das aberrações então só pode ser o súdito que…
Uma explosão era ouvida vinda do centro do cânion, interrompendo os anúncios da mestra de Yasukasa.
— O que está acontecendo lá embaixo? — questionou Yato olhou para o lado, emanando sua aura.
— Temos que acabar com isso logo! — respondeu Mutaiyo na beirada da cratera.
— Vou matá-los… — uma voz surgiu do buraco.
A poeira se desfazia, revelando um homem descalço com uma calça rasgada, com sangue escorrendo sob sua cabeça que contava com pontos ao redor, semelhante a uma coroa, com veias pulsantes de seus músculos rígidos cobertos de marcas que brilhavam em preto.
Em um longo salto, o homem agarrou Mutaiyo pelo pescoço, antes de soltar um berro:
— Kiiro! Vou matar todos!
Yato rapidamente sacou sua espada para cortar o braço fora, porém sua lâmina parou no antebraço do agressor, como se fosse feito de pedra. Ele então girou Mutaiyo em suas mãos, acertando o Senshi até ser obrigado a soltá-la quando as areias do deserto seguraram seus membros. Olhando seus arredores, encontrou os Kishis impondo suas mãos sobre o chão que pisava.
— Afaste-se, senhora — os Kishis ordenaram — Não sabemos quanto tempo vamos segurá-lo.
A mulher atingida limpava o sangue de sua boca, no momento que o sujeito libertou-se das amarras arenosas somente com a força dos braços e pernas.
Yato surgiu nas suas costas mirando a espada em sua nuca, e ela estava tão endurecida quanto seus braços de antes. O homem descontrolado então virou-se e deu-lhe uma cabeçada que o afundou no chão, mas o comandante Aka logo se ergueu.
— Saia de nosso caminho! — grunhiu a aberração.
Os braços de Yato brilhavam em vermelho cruzando-os para conter a investida do oponente, que com um soco fez o comandante voar até atingir uma pequena rocha perto.
Com sua espada de fulgur, Mutaiyo cobriu-a com a areia do deserto, formando uma marreta com a qual acertou a cabeça do alvo. Não apenas ele permaneceu imóvel, como revidou virando o braço nela, a jogando ainda mais alto para o ar.
Os Kishis ergueram uma pequena barreira fofa de areia para capturá-la no ar. O tempo para fazer isso abriu brecha para o descontrolado enviado pelos Kuro ir em direção a eles com outro salto. Dessa vez o impacto de seus pés com o chão fez o solo se desfazer em muitos pedaços, ameaçando a abrir outra cratera.
Mutaiyo se recuperava na barreira erguida, que se desfazia ainda com ela por cima. Retomando o controle da areia, a conduziu como uma onda na qual surfou rumo ao oponente.
Tanto os Kishis como o alvo, eram brevemente soterrados, porém apenas aqueles de iro amarelo criavam distância. O Kuro tentava erguer o corpo, porém se engasgava numa coleira de areia que prendia seu pescoço.
— Terá que passar por mim, se quiser eles ou qualquer outro Kiiro — se aproximou Mutaiyo.
— Segure ele — retornava Yato tomando um fulgur de um Kishi atingido — ataques comuns não são o suficiente!
A lâmina brilhava com sua aura. Desistindo de se livrar das amarras de areia, o enviado de Nobura apenas se protegeu com as mãos da espada, que atravessou sua palma, mas foi contida de seu peito por meros milímetros.
O fulgur esquentou até brilhar em branco, quando subitamente explodiu o metal a queima roupa. A onda de choque arremessou todos para o lado. A pele de Yato expulsava os estilhaços com sua regeneração, ao passo que os Kishis e Mutaiyo, suspiravam aliviados, afastados da explosão. Porém uma sombra novamente surgiu da fumaça.
Saindo de dentro dela, o oponente agora contava com todo lado direito de seu corpo coberto pela mancha mais escura.
— Por que acha que espadas são forjadas? — pegava no cabo da espada destruída pela explosão.
— Para proteger o interesse do meu reino, sobretudo meu Rei e meu Supremo — se levantava — e acabar com aberrações como você.
— Não… Não, o que estou fazendo aqui? Onde estou? — balançou a cabeça antes de gritar aos céus — Essa paz que seu continente vive é às custas do sangue da minha família!
— Aquela queda e agora sobrevivendo a essa explosão. Esse cara não morre? — questionou Mutaiyo.
— Este comportamento… — Yato reconhecia — ele é como os homens da noite passada.
— Não é um súdito? — percebiam enquanto o experimento vinha ao chão de joelhos soltando espuma pela boca.
A conversa foi frustrada por mais um avanço do sujeito que urrou em direção a Mutaiyo que ergueu barreiras no caminho do sujeito, dando passos para trás. Os muitos muros foram quebradas um a um pela força do experimento que permaneceu com o punho em direção até a face da Kishi experimente que rolou pelo chão.
“Ele fez mais do que sobreviver. Não me diga que… ficou mais forte?”, limpou o nariz escorrendo sangue.
Yato correu para perto dela, ficando no caminho da fera em formato de homem, quando algo levantou a criatura do chão. Ele protestou com rugidos, socando e chutando o ar, mas era como se estivesse imerso em água.
— Ele perdeu o controle dos poderes? — Mutaiyo ficava de pé.
— Eu não sei se entendo… — Yato se aproximou com sua espada.
Antes que pudessem fazer sentido do que se passava, o homem foi atirado para o céu de novo. A mulher olhou boquiaberta para o fenômeno, acompanhou sua trajetória que terminou bem na encosta do outro lado, perto da retaguarda de Kishis. Sem perder tempo, Mutaiyo trouxe as areias do topo consigo e construiu uma ponte entre as encostas.
— O que está fazendo? — Yato perguntou — Temos que ficar para…
— Hoshizora está lá. Não podemos expor essa região em nenhuma circunstância!
Assim que pôs os pés para cruzá-la, a estrutura cedeu com um tremor fortíssimo. Yato saltou no último instante agarrando da queda e a puxando de volta:
— Perdeu o controle?
— Não. Eu já fiz isso tantas vezes. Algo quer nos afastar de lá?
— Podemos recuar pela encosta para transmitir um aviso. É o melhor que podemos fazer agora.
— Não, aquilo é perigoso demais daquele lado. Se perdermos ela, todo o plano…
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.