Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume IV – Arco 13

Capítulo 109: Abertura

Ao pé da torre central de Oásis, lar da família dinástica, desembarcou um trio de Senshis. Assim que avistaram a pessoa de Chaul e o Supremo, os Kishis cederam o terreno para a carruagem dos Aka estacionarem. Dentro da torre, a dupla andava na frente do terceiro convidado, subindo as escada em espiral até o topo.

— Perdoe-me — Chaul tirava sua capa para carregá-la nos braços — É a minha primeira viagem ao estrangeiro em muito tempo. O calor é bastante incômodo.

— As coisas eram muito diferentes naquela época — Ryoma se ofereceu para carregar.

— A única diferença é que estávamos na linha de frente. Saímos das fronteiras do Reino movidos pela guerra no passado, e agora é pela mesma ocasião. 

— Viajar para travar um conflito em território inimigo é uma coisa. Para encontrar aliados é outra.

— Guarde seu otimismo Ryoma — parou de andar por um momento, olhando seu servo de cima para baixo — para quando tudo isso terminar. 

O aceno do rei apenas arrancou um sorriso cínico do supremo, continuando o trajeto logo depois. Abrindo as portas, Hoshizora e Yasukasa os esperavam sentadas lado a lado, atrás de uma mesa de madeira escura. 

Na superfície, ladrilhos em cores intercaladas de branco e preto, um verdadeiro tabuleiro de xadrez inscrito no móvel. O jogo era ocupado por peças de mesmas cores. As pretas do lado dos Senshis, as brancas do lado das irmãs.

— Chegaram, que bom — Hoshizora era a primeira a se levantar para ir até eles — É uma honra finalmente conhecê-lo, rei Chaul. Supremo, prazer como sempre.

— A uma semana de uma batalha tão decisiva e depois do que aconteceu em Nokyokai — Chaul cumprimentava a princesa — diria que o convite foi irrecusável. 

— Uma parte do grupo de Senshis que fez o caminho de volta vieram com cartas, relatando o que se passou lá. Ninguém declara guerra a um continente inteiro sem ter poder de fogo para garantir as ameaças — dizia Yasukasa se levantando para cumprimentá-los, quando reparou no terceiro convidado — Trouxeram ele?

— Com licença — Kusonoki se esgueirava pela porta entreaberta — É uma honra poder estar aqui de novo. Isso me foi concedido graças a meu suporte ao Patriarca no último incidente — semicerrou os olhos ao chão.

— Kusonoki conhece o deserto — Ryoma abria a porta — Se alguém tem dúvidas a respeito da estratégia, será ele.

— Depois da última vez, eu tenho minhas dúvidas — Yasukasa voltava para mesa para se sentar.

— Nós dois não chegamos a nos encontrar de forma calma naqueles dias — Hoshizora cumprimentou o Senshi Principal — mas o que sei é que as coisas não foram como planejado por você — voltou seu olhar a irmã — e nem por nós. 

— Podemos deixar o passado para um outro dia — Ryoma tomou seu assento — A batalha que vem por aí tem o nosso suporte, está nas mãos de vocês conforme os acordos da aliança Orange.

Yasukasa dava de ombros sentando em uma cadeira elevada e condecorada, na medida em que todos se sentavam, Hoshizora mexia nas peças:

— Nunca participei de batalhas de meu pai no passado, porém sempre jogávamos xadrez. Hoje temos uma batalha em mãos, e desejo contribuir. 

— Um jogo de tabuleiro não reflete toda a realidade — Chaul cruzou os braços.

— Sem dúvida. Pense nisso, como uma ilustração de nossa estratégia — Hoshizora jogava contra si mesma, organizando o tabuleiro para um roque das peças brancas — que foi montada em conjunto com o que há de melhor entre os nossos líderes militares.

— As condições são ruins para travar uma luta no deserto — disse Kusonoki se aproximando do tabuleiro. — E esperar que eles venham até nós é arriscado, caso eles tenham uma surpresa guardada. 

— Por isso vamos levar a luta até eles — Hoshizora dizia, enquanto Yasukasa colocava os mapas na mesa — Entre o deserto e a depressão Kuro há um cânion, cortado pelo rio em comum entre os dois territórios. 

— Eu lembro dele — Kusonoki tomava os mapas nas mãos, virando o papel em vários ângulos — Este rio seca neste período do ano! Olhando desse jeito, a sua posição no tabuleiro faz sentido.

— Nossas forças estarão divididas em três camadas. As encostas, nos pontos mais altos do cânion — usou as duas mãos para indicar as duas pontas dos tabuleiros, depois para o meio — os caminhos por dentro da formação, logo abaixo, e a  própria passagem do rio no centro.

— Vamos ocupar espaço — Yasukasa colocava bandeiras nos pontos médios dos lados do tabuleiro — Como referência, usaremos bandeiras a cada território tomado.

— Começamos atacando, para depois defender — Hoshizora prosseguiu, posicionando os dois peões centrais duas casas à frente — E para atacar, a abertura da rainha.

— Suponho que esses peões iniciais seriam para reconhecimento — Ryoma interviu.

— É tanto uma isca para o inimigo, quanto uma forma de medir sua força — explicou Yasukasa — Após isso, eu entro.

— Yasukasa é a mais forte dentre nosso exército. Mesmo que ela avance sozinho no começo, ela terá pleno suporte de seus cavaleiros pessoais do lado direito — apontou para o bispo do lado correspondente — assim como dos Senshis designados para esta região — fez o mesmo com o cavalo.

— É um tabuleiro falso — Kusonoki concluiu — Distribuem as forças igualmente, mas o ambiente estreito permite acúmulo de qualquer lado sem perdas. Se o inimigo atacar sem pensar, pode ser que dê certo. 

Chaul recolheu-se ao encosto de seu assento. O seu suspiro deu a Ryoma tudo o que precisava para intervir novamente:

— Minha única ressalva é qual o plano caso o inimigo não morda a isca?

Hoshizora acenou positivamente com a cabeça a dúvida do Supremo. As peças que outrora estavam na sua mesa, sete dias antes da batalha, agora estão em um tabuleiro menor, diante dela no nascer do dia da batalha decisiva.

A estrategista mantinha seus olhos nas peças dentro de um veículo, no qual a cobria da cabeça aos pés. O local era guardado aos dentes por diversos homens, sendo um deles um dos cavalheiros pessoais da Rainha.

— Princesa — Kotaru a trazia de volta para a realidade — A Matriarca não encontrou contato ainda. Devemos avançar? — berrava do lado de fora. 

— É — colocava um dos olhos para fora do veículo, avançando a rainha no tabuleiro — Sigam o plano.

Kotaru sinalizou para os Kishis ao redor. A informação chegou aos olhos e ouvidos do pequeno grupo comandado por Yasukasa, que só foi parar com cerca de um quarto do cânion percorrido. Durante todo o caminho, passagens entre as encosta e o rio estavam próximas ao ponto de que o exército marchava junto de forma coordenada.

Do alto do vistoso cânion, aves cantavam e escoltavam as tropas abaixo. A partir daquele ponto, os caminhos se afastaram, como se a formação geológica estivesse acomodando um antigo lago já sem água. Cortando o grande círculo na metade, uma linha traçada profundamente na areia. Yasukasa deixou os Kishis irem na frente.

— Alteza — um deles quebrou a linha com os pés — Esse é o mais longe que chegamos ontem. A partir daqui, tudo é novo.

— Então chegamos no primeiro ponto — concluiu Yasukasa, fazendo um sinal com as mãos para as tropas nas encostas.

Os Kishis responderam ao gesto da Matriarca sacando cada lado uma bandeira. Após fincá-las, a luz do Sol refletia na ponta do cabo que as sustentavam na beira de ambas as encostas. Os raios de luz se cruzavam no céu, numa linha amarela. Yasukasa deu a ordem para todos avançaram, quando de repente um mosaico de luzes verdes brotaram no céu e para dentro do cânion.

Eram cinco portais, abertos um em cada ala do campo de batalha. O maior de todos, no rio bem no centro. Os Senshis ergueram seus escudos em um único bloco. Os Kishis se organizaram em flecha, com os líderes da formação na cabeça. Yasukasa era a ponta de suas tropas, vendo em primeira mão o que saía de dentro da fenda.

Nos pontos mais altos, saiu uma guarda montada. Homens vestindo preto, avançando sobre os Kishis com lanças. As passagens acima do rio tiveram suas tropas envolvidas por um pelotão de homens parrudos, com armaduras pesadas, balançando maças enormes. 

De trás dos homens de preto, um último portal transportou uma enorme rocha arremessada em alta velocidade na direção da linha de frente Kiiro. A Matriarca  ergueu da terra um paredão de areia, o impacto estremeceu todo o cânion. Porém a grande rocha foi repelida e absorvida pelos grãos controlados pela filha mais velha de Osíris. 

— Estão transportando artilharia contra nós — concluiu Yasukasa, sentindo outro impacto.

— Temos que destruir a catapulta! 

— Impossível — afirmou repelindo outros arremessos — esses ataques estão longe de nosso alcance — grunhiu.

Assim que os impactos cessaram, os brilhos verdes no céu se desfizeram, a areia da Matriarca se dissolvia diante de seus olhos, dando espaço para o grito da Guarda Pacificadora que ultrapassava um grande portal no solo, indo em confronto direto.

— Esses portais, o que é isso? — a rainha escutava as súplicas de sua tropa.

— Sem recuar — ordenou Yasukasa, erguendo sua espada, indo na frente — Não cedam um centímetro sequer!

Longe dali acima das encostas, um dos súditos do caos brilhava em verde com uma mão cobrindo o olho direito. O feiticeiro era vigiado por outros de vestes negras, com um deles andando inquieto de um lado para o outro. 

— Eles estão revidando — Seth comentou.

— Incompetentes — exclamou o general Junichi, se voltando para os arqueiros — Preparem-se. Eu não quero hesitação. Se eu ver um tiro falho, eu vou matá-los!

Com um balanço das mãos, Seth abriu uma fenda por onde o primeiro grupo preparou seu tiro. As setas vieram nas costas do grupo que vinha pelo rio seco. Outro portal se abria acima da passagem intermediária do cânion, onde estava a maioria dos Senshis. Os Aka a partir de então, alternavam entre escudos altos e frontais.

— Isto deve mantê-los ocupados — Junichi deu as costas para os portais.

— Prepare-se para o pior — Nobura insistiu.

— Esse aviso — o general olhou para os dois súditos do caos, isolados do restante — é para outras pessoas.

As flechas atingiam os flancos das formações. No instante em que eles reposicionaram seus escudos, o portal ressurgia no canto mais enfraquecido. No nível mais baixo, Yasukasa retirava sua espada fincada no peito de um sujeito desnutrido, quando outro portal surgiu acima dela, descendo uma chuva de flechas em sua direção. 

Seus Kishis impuseram as mãos no chão, entregando seu iro ao ambiente. Com a massa de energia depositada, Yasukasa adicionou a sua e ergueu um teto de areia sobre o grupo. Uma flecha, porém, atravessou a barreira, se alojando no pescoço de um de seus homens. 

— Fique atrás de nós, alteza! — um Kishi a puxava para trás das linhas.

— Precisamos recuar, não se sabe quando virá outras flechas.

Do alto da encosta mais à direita, Kotaru assistiu a formação da barreira e os Kishis saindo pelos fundos da formação. 

— Estamos perdendo terreno — socou a carruagem ao lado — o cenário está instável demais para manter a Matriarca lá embaixo. 

— Esses portais vão além da regra do jogo — comentou Hoshizora vislumbrando o tabuleiro — mas não podemos desfazer a formação e por tudo a perder. Isso seria conceder o controle do jogo a eles.

— Com todo respeito, princesa, mas como podemos manter o controle assim? — cruzou os braços. 

— Se confiarmos na formação — ameaçava mover uma peça, com uma das mãos nos lábios.

As tropas da Guarda pacificadora em terra continuavam a castigar as tropas nos níveis intermediários. Os Senshis na retaguarda plantavam estacas e amarravam cordas, se preparando para descer ao rio seco para ajudar, quando um estrondo sacudiu a região.

Na medida em que a cobertura arenosa se desfazia, um brilho amarelo atingiu os olhos das tropas mais altas. A areia e a terra se misturaram até finalmente engolir os homens de preto pelas botas. Em poucos segundos, o rio seco sugou a Guarda pacificadora até o abdômen.

Logo Yasukasa se reergueu daqueles que a cobriam, irradiando sua aura amarela:

— Não vou repetir sobre não ceder nenhum espaço, vocês me ouviram!

Sua ordem e demonstração de poder empolgou os homens que responderam aos urros. Enquanto os Kishis investiram contra os inimigos expostos, a Matriarca buscava no céu uma nova fenda verde. Seus olhos não deixaram escapar as águias que cercavam o cânion, bem acima da passagem.

— Imagino que esteja procurando uma coisa — um homem de vestes vermelhas se aproximou — sinto dizer, mas não irá encontrar. 

— Comandante Yato! Saiu de seu posto sem autorização? 

A pergunta da Matriarca foi frustrada por uma nova leva de flechas em sua direção, no qual ela usou o cadáver de um dos Kuro como escudo. 

— O Supremo me passou a estratégia discutida naquele dia e me incubiu de intervir se algo saísse do comum — disse Yato mostrando seu escudo recheado de flechas — já ouvimos relatos desses portais em outros territórios, mas nunca havia presenciado.

— E no que isso ajuda? — continuou cruzando espadas com outros homens de preto.

— Os portais são imprevisíveis pois são conjurados por alguém, um feiticeiro — ajudava a alteza ceifando as vidas dos que atacavam — De alguma forma está tendo visão do campo de batalha e atacando os pontos certos — olhava ao redor das encostas.

— Artilharia se combate com artilheiros, temos que agir rápido — percebia as zonas intermediárias sendo atacadas — esperamos um portal se abrir e revidamos! 

— Para revidar precisamos de um plano, e a princesa está longe demais. Se houver uma solução, tem que partir de nós — cobria as costas da rainha erguendo sua arma.

— Então você tem alguma ideia melhor? — a Rainha repetia o movimento. 

— Os portais nos encurralam, mais ainda, estão acumulando nossas forças — levava uma mão ao queixo — os maiores ataques estão direcionados a você.

— Então eu serei a isca — pegava um escudo ao chão. 

— Acalme-se — segurou a matriarca — Não é tão simples. Mesmo que o usuário dos portais tenha alvos, seus ataques são generalizados e pouco específicos. Acredito que ele não enxerga o campo de batalha totalmente.

— Então ajudamos ele a me ver melhor e atacamos na abertura?

— Por enquanto, vamos recuar e esperar a próxima chuva da morte — Yato se aproximou retirando a capa vermelha de seu uniforme — depois você tira seu capacete e coloca o meu.

Do lado do general, seus artilheiros disparam contra a fenda recém projetada outra vez. Após o disparo, Seth voltou a cobrir seu olho direito.

— E então, qual a situação?! — questionou Junichi.

— Eles finalmente cederam, mas percebo uma oportunidade para uma reviravolta — dizia o feiticeiro sorrindo, ao tempo que uma águia pousou sob seu pulso direito — preparem o máximo de artilharia possível. 

— Que diabos quer dizer com…

Nobura surgiu nas costas de Junichi, colocando a mão em seu ombro. De imediato, o general entendeu e deixou o feiticeiro trabalhar, ao tempo que acenava e gritava ordens aos seus homens.

No campo de batalha, Kotaru observava os confrontos no cânion do alto, esfregando as mãos em expectativa. Percebia seus aliados recuar alguns metros, até que a areia saiu do chão, criando uma nuvem amarronzada no rio seco.

— Princesa, a sua irmã, eu a perdi de vista — forçava a vista — Esse nevoeiro…

— Yato desceu até ela, imagino que esteja segura — ela balançava a peça da rainha — Mas o que quer que seja, estou percebendo um plano em ação. 

— Estão escondendo ela para que o sujeito se revele? 

— Depende do objetivo dele. É como se ele estivesse trapaceando — encarava as peças pretas — se eu pudesse fazer isso antes do jogo começar, eu iria expor somente os peões, e tentar afetar as peças de trás. 

As aves cantavam sobre o cânion, circulando a névoa marrom. Foi então que um enorme portal surgiu sobre o campo de batalha, com flechas e destroços junto a rochas caindo sem cessar em todos os níveis. Kotaru gritou aos seus homens, que por sua vez criaram outro muro de areia ao redor das tropas.

— Parece que o sumiço de Yasu não estava nos planos dele — concluiu o cavaleiro. 

— Eles estão procurando por ela — deduziu Hoshizora.

Embaixo, na passagem intermediária para a esquerda. Os Senshis encontraram refúgio em uma pequena caverna no cânion. A cada ataque dos portais, o local estremecia, mas permaneceu firme. Um pequeno grupo fez uma linha na porta, na medida em que todos entraram em segurança.

No nível do rio, a névoa não permitia que vissem o ataque até ser tarde demais. Os Kishis se moviam guiados pela luz verde que penetrava na poeira, porém os gritos dos abatidos ecoavam pelo lugar. Aos poucos, o sangue coloria a névoa de vermelho. Um pequeno grupo chegava às paredes do cânion, onde uma corda estava esticada para o caminho entre a encosta e o rio.

— Senhor Comandante, aquele enorme portal está aberto sem cessar. Podemos…

— Não, esperem pela hora certa — respondeu Yato entregando a corda para Yasukasa subir — Eles precisam procurar por ela, querem provocá-la. Estejam atentos ao meu sinal!

— Comandante, perderemos muitos assim — se espantou um dos que escoltava. 

— Vamos perder a todos se não fizermos nada — olhava de um lado para o outro — Ele já nos perdeu de vista.

A poeira se dividiu em duas. Uma parte se dissipou e caiu no chão. A outra se solidificou em um escudo enorme cobrindo a linha de frente. Com clara visibilidade, o portal maior no céu se desfez.

Yato subiu pela mesma corda. Naquela região, ele e a matriarca esgueirava-se pelos escudos, até que ela se desgarrou do comandante, indo para o meio da formação de escudos. Sua aura brilhou em amarelo. Yato fez sinal de espera aos seus homens, erguendo a cabeça para o céu.

Uma única ave pairava contra as nuvens acima deles. Mesmo com a luz do Sol, ele podia ver uma luz verde, emanando dos olhos afiados da águia. Foi então que outra luz maior, brotou de trás das nuvens. Outro portal, despencando flechas sobre eles como chuva.

— Do alto! Cuidado! — prevendo o impacto mortal, Yato só teve tempo junto com seus homens de saltar para longe. 

A formação dos Senshis foi dispersada, quando um projétil e rocha vinda de uma catapulta passou pelo portal, abrindo até mesmo as nuvens. O objeto se precipitou sobre eles, apenas para ser agarrado por outra formação de areia. Sobre esse construto arenoso, estava Yasukasa, jogando sua túnica vermelha para o lado.

Yato também se desgarrou de seus homens e correu na direção da Matriarca. Um brilho verde surgiu sob os pés dela, abrindo um portal, porém não antes do comandante atingi-la com o corpo, a levando para longe do perigo.

— Agora! — gritou o comandante. 

De maneira sincronizada, os Senshis retomaram a formação, convergindo para o portal aberto. Eles bombardearam a fenda com flechas, técnicas de fogo, e sacos de pólvora. Kotaru assistiu à fenda verde, ser engolida pelo brilho vermelho do exército Aka. Quando a poeira baixou, o portal não estava mais ali.

— Eles tinham um plano, princesa  — uma explosão interrompia a fala do cavaleiro — deu certo. 

— Yato fez o dono dos portais achar que iria surpreendê-los — recuava com a peça da rainha — Quando se expõe a rainha cedo, o oponente fica ambicioso. Essa ambição os levou à ruína, graças à força do exército Aka.

Yasukasa ficava de pé, tomando seu capacete de volta. Os portais cessaram, porém ainda havia inimigos à vista. Caminhando para Yato, que permaneceu caído, ela estendeu as mãos.

— Vejo porque o Supremo te designou para cá, comandante. Venha comigo para liderar este novo avanço. 

— Como desejar — retirava uma flecha de sua armadura — alteza. 

Yasukasa usou da terra das encostas para estender a areia em uma ponte conectando com a passagem intermediária do outro lado. Os Kishis do topo daquela encosta já preparavam uma corda para ela subir.

— Continuem avançando sob o rio seco — ela gritava, na medida em que subia — Esta posição é nossa, honrem as vidas dos que foram derrubados! 

Sem os portais, a união dos exércitos Aka e Kiiro dominou o restante da Guarda Pacificadora, que se viu obrigada a recuar. Os gritos de guerra e comemoração de seus inimigos, fizeram o general chutar terra nos corpos chamuscados pelo fogo.

— Que estratégia patética! Perdi toda minha artilharia por você confiar em um feiticeiro de quinta categoria! 

— O objetivo foi concluído — sorria Seth curvando a cabeça — apesar do revés na reviravolta.

— Objetivo concluído mesmo — apontou para os corpos cremados — com fracasso.

— Se está tão insatisfeito, temo que tenha que ver o campo de batalha com os próprios olhos — sugeriu Nobura.

— Era isso mesmo que iria dizer — tomou uma arma para si se aglomerando entre outros homens — chegou a hora de um dos seus pisar lá. 

— Gama — chamou Seth, abrindo um portal — sua deixa. 

— Já tava na hora — dizia Mayuri, tirando o capuz.

A súdita se aproximou da abertura verde, sacudindo os braços e as mãos, ao passo que sua aura negra saltava do corpo. 

— Se fossem tolos a matriarca já estava em nossas mãos — avisou o feiticeiro — Siga o plano.

— Eu não sou uma criança, Beta.

— Está desarmada — citou Suzaki, percebendo a companheira atravessar o portal. 

— Há coisas mais importantes do que segurar em armas numa guerra — respondeu Nobura, segurando o ombro de Zeta — Por isso elas são vencidas pelas mentes e não pelas mãos. 

O portal deixou Mayuri bem no caminho do rio. A areia movediça entrelaçou seus pés por um momento, antes de ser empurrada para o chão. Yasukasa e seus homens percebiam o portal despejando apenas uma mulher. Os Kishis apontaram suas armas para ela que ergueu suas mãos desarmadas esboçando um sorriso. 

O cânion começou a tremer como nunca. Os paredões das encostas desmoronaram, rochas caíram em direção a súdita que saiu do portal, que se ergueu acima dos destroços. Um pedaço de algumas centenas de metros foi arrancado da encosta mais a direita, bloqueando o rio seco.

— E aí, cadê toda aquela coragem? — Mayuri se sentava no topo da barreira de pedras.

Rachaduras apareciam nas encostas, prestes a ceder, com os Kishis em cima e Senshis abaixo. O tremor cessou após o cânion ser partido ao meio com o poder. Os Kishis que antes ameaçavam avançar em direção a garota, agora davam passos para trás.

— Será que isso é… — dizia Kotaru assistindo incrédulo — não, com certeza é. 

— Um dos especiais que o Ryoma citou — concluiu Hoshizora, movendo outras peças em direção a um bispo negro — é a vez deles. 

Subitamente, os soldados do rio seco que se afastaram de repente ficaram paralisados sem ao menos conseguir mover um músculo, quando de repente uma força estrondosa fizeram arrastar suas faces no solo úmido. Dos níveis intermediários, os soldados eram atraídos para a queda livre na direção da plataforma de rocha no qual Mayuri repousava. 

Desse mesmo nível, dois sujeitos de armaduras e vestes longas desciam um de cada lado apontando suas armas em direção ao algoz, brilhando em amarelo.  

— Essa não é aquela convencida do dia da reunião, Riki? — disse Tsuruta.

— É, é ela mesmo — respondeu um dos cavaleiros — Vai ser uma satisfação puni-la pelo seu desrespeito.

— Bem que eu disse um “até a próxima” — estendeu as mãos. 

Os destroços sugados pela súdita, formavam camadas de anéis, circundando ao redor da garota. As armas de todos os Kishis abaixo também foram sugadas pelo vórtice obrigando os cavalheiros a desviarem. Ao perceberem estavam desarmados, com suas espadas tendo voado para as mãos de Mayuri que as roubou concluindo: 

— Darei a vocês a chance de morrerem para um Súdito do Caos.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

 

 



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