Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume IV – Arco 12

Capítulo 99: Tormenta Iminente

O cume de Nokyokai foi palco de uma tempestade agressiva. As rochas e barrancos foram desfigurados pelos raios. Dos Heishis que sucumbiram na batalha, sobraram corpos chamuscados, vazando fumaça. As armaduras ainda estavam quentes ao toque. A Guarda Pacificadora foi recebida pelo cheiro de ferro queimado e chuva, que apertava sobre as chamas tímidas do terreno.

Atrás do plantel de homens, os dois Súditos de preto caminhavam em direção a destruição, com Kimijime tomando à frente se aproximando de um cadáver pulverizado:

– Era tudo que tinham? 

– Trouxeram mercenários e arrastaram civis para isso – comentou retirando suas túnicas, pressionando o sangue que escorria pelo braço – Nenhum deles é bom o bastante para guerra.

– A descida vai ser fácil, então – ficou de pé e chutou o cadáver.

– A subida levou mais dias do que o esperado. Neste ritmo, vamos chegar nas cidades tarde demais – respondeu amarrando faixas em seu ombro – Com a chegada das tempestades ninguém entra ou sai daqui – afirmou Suzaki.

Os dois chegaram na beirada para o outro lado da montanha. Atrás deles uma parte dos Kuro vasculhava os corpos dos Heishis, enquanto a outra já descia a montanha. 

– Desce para avisar que ao Houkara que começamos a avançar para o outro lado – puxou um dos homens que passava – Ele vai querer mandar reforços, já que esses amadores deram trabalho para vocês.

O guarda nas suas mãos mantinha a cabeça baixa, acenando com a cabeça.

– Está me ouvindo? Que cara é essa?! – pegou-o pelas vestes, olhando em seus olhos o arremessou no chão logo depois.

A aura de Kimijime piscou, o homem gritava no chão se esfregando e rolando no chão como se seu corpo estivesse repleto de insetos. 

– Alguém faz o que mandei ou será o próximo! – ordenou o Súdito aos outros.

– Senhor, encontramos pegadas descendo a montanha – se aproximou os guardas do outro lado – Alguns Heishis devem ter escapado no meio da tempestade.

– Eles vão avisar que estamos chegando – concluiu Suzaki, colocando novamente a túnica. 

– Bom – começou a esfregar as mãos – quanto mais desespero, melhor.

A união das forças Aka e Ao estavam espalhadas pelo Monte Nokyokai. 

Os primeiros Senshis começaram a subir, ao passo que a base era predominantemente azul. Os poucos vermelhos que restaram na base, coordenam alguns mirins na organização da última linha defensiva.

Os mais velhos cortavam árvores para criar barricadas, abrindo o terreno. Os mais novos vinham logo em seguida para criar covas e plantar estacas no fundo, antes de esconder o buraco com galhos e folhas.

Depois, dois grupos fizeram fila entre si, dividindo uma corda para arrastar as duas balistas para os flancos da base da montanha. Um dos grupos puxava a artilharia à direita do acampamento imperial, quando uma forte trovoada estremeceu o solo. 

O mirim que se segurava no objeto derrapou no solo úmido. Encarando o céu, ele reparou nos pássaros voando para longe do topo. Foi então que um homem obstruiu sua vista das nuvens. Ele não tinha armadura de Heishi, mas tinha olhos azuis:

– Tomou um sustinho, garoto vermelho?

– Não, senhor! – Tsuneo levantou-se e limpou suas mãos nas roupas. 

– Se já está assim agora – virou as costas – melhor dar o fora quando as tempestades chegarem. Vai nos atrapalhar menos.

Tsuneo percebeu o desenho de uma lua minguante estampada nas costas do homem. Ele procurou Heishis com roupas parecidas, mas foi interrompido por um companheiro, que lhe oferecia a corda para puxar a balista:

– Deixou no chão quando caiu. Distraído de novo?!

– Yachi, você sentiu o tremor? 

– É só um raio besta – tomou a frente – agora me ajuda aqui. Já peguei uns virotes, não posso fazer tudo sozinho. 

Eles subiram alguns metros na montanha até uma beirada de rocha. Era possível enxergar o acampamento todo dali. Os Senshis revistavam a construção do equipamento, ao passo que Tsuneo e Yachi montavam os disparos. Os membros do exército azul ficavam ao redor para proteção, deixando os Aka sozinhos.

– Que lixo de lugar – resmungou Tsuneo, abrindo a caixa de projéteis.

– Temos que trabalhar juntos agora  – sussurrou Yachi colocando uma cabeça de metal pontiaguda na haste de madeira – deveria pensar no que seu irmão faria. Nesse momento, a prioridade é a missão. 

– Eles são cegos? – exibiu a mão cheia da terra – O solo está úmido e as nuvens estão cinzas. As tempestades só deveriam vir depois.

– Já passou muito tempo – entregou os virotes pros Senshis na balista – Eu aposto que os Kuro foram atrasados ou recuaram muito. O que é bom, menos risco pra gente. 

– Se as forças da linha de frente estiverem bem armadas, deveria ser impossível para qualquer exército chegar ao topo. Por que tanto cuidado com essas armadilhas? Os esforços deveriam ser investidos na primeira linha e no topo, não agora que a vantagem do terreno será deles.

– E você acha que os comandantes não sabem disso, danado? – bateu na nuca do amigo – A gente nunca enfrentou esses caras antes. Se toca, estamos aqui pra cumprir ordens. A propósito, temos que voltar para o acampamento. 

De volta à base, havia menos Senshis do que antes. Arata e Iori partiram, enquanto as trovoadas permaneceram. Enquanto movia caixas de lugar, os olhos de Tsuneo viam os Heishis despreocupados, exceto por aqueles cujas roupas tinham luas inscritas. 

O sujeito que havia notado sua queda corria de um lado para o outro, acompanhando outro homem que havia visto quando chegou. Era o homem largo, de roupas sociais, ele não parecia uma lutador. Dessa vez, ele posava um chapéu e uma túnica azul cobalto por cima da camisa branca. Enquanto conversavam entre si, esse homem tinha nas mãos outro pergaminho de selo dourado.

Terminando de mover outra pilha, o Senshi na frente de Tsuneo apontou para a floresta, onde montavam as barricadas. O mirim hesitou.

– Qual o problema? Eu mandei você ir! – ordenou o Senshi.

– Senhor – engoliu seco – permissão para fazer minhas necessidades! 

– Como é? – o Senshi olhou para os lados – Saia da minha frente. Volte logo!

Tsuneo correu para os fundos da base. O homem com a carta selada havia acabado de dispensar seus acompanhantes. Os guardas com inscrição de lua passaram pelo mirim sem protestar, indo falar com o Senshi que o liberou.

Seguindo o que sobrou, ele escolheu um arbusto ao lado de uma cabana onde o homem de chapéu entrou. Ele colocou a cabeça para fora e viu outro homem, agora de armadura, entrando. 

Rastejando pelo mato, as vozes deles já se faziam ouvidas. Espiando mais de perto, ele reconheceu o homem de armadura. Era o mesmo da estrada do dia anterior:

– Assinado: Torui Chisei. Este exibicionismo não comove o imperador. Acha mesmo que ele perde o sono lembrando quem são seus mensageiros?

– Mais um motivo para destacar meu trabalho, Torigami. Nossa família se orgulha de servir ao império – amarrava o pergaminho – Ou está liderando a escavação por mera caridade? 

– Calado, seu preguiçoso fedorento. Meu trabalho vai me promover porque ele é realmente importante. Qualquer um faria o seu, e ninguém sentiria a sua falta.

– É mesmo? Que tal eu mandar essa fala para o imperador e verificar se outra pessoa não faz o seu trabalho melhor do que você? Quem sabe seu substituto nos tire dessa batalha mais cedo.

– Trabalhos importantes precisam de tempo. Esses dias que ganhamos serão compensados pela força que vamos obter com isso. E agora, com a chegada dessa raça de sangue, vamos segurar os Kuro sem matar os nossos. 

– Para isso eles servem – uma ave voou para dentro da cabana, pousando no braço do mensageiro – por enquanto.

Torui amarrou o pergaminho nos pés da ave, saindo da cabana. Tsuneo tapou a própria boca e prendeu a respiração. Estava a poucos metros dos dedos, quando o mensageiro liberou sua ave para os céus. O Heishi se despediu, tomando seu cavalo.

Tsuneo esperou Torui voltar para a cabana, para fugir dali. Ao sair dos arbustos, ele foi para a frente do acampamento recolher os troncos derrubados, quando Yachi o viu: 

– Qual foi Tsuneo, o que tá havendo com… – reparou no mirim – Espera aí, que bicho te mordeu? 

– Nada, só… – suspirava fundo – estava com dor de barriga.

Um segundo grupo subia o monte fazia horas. Era alguns Heishis para uma predominância de Senshis, liderados por Arata e Iori. Na retaguarda, puxando as balistas com cordas, estava outro grupo de mirins. 

A subida era íngreme. Um deles sentiu sua bota deslizar pela pedra que escorria da água da chuva de pouco tempo. Ele começou a rolar pelo chão, até sofrer um puxão da corda amarrada na sua cintura. Ficando de pé, ele encarou seu salvador:  

– Vê se olha onde pisa. 

– Valeu – respondeu Yanaho, andando cabisbaixo.

– Deixa ele, Yukirama. Não estamos acostumados com aqui – comentou Umi.

O terreno se nivelou próximo da metade do monte. Um vento intenso soprava do topo da montanha, na medida em que as nuvens circulavam o cume. Mais a frente, Arata advertiu os azuis que o acompanhavam.

– Ei, ô da lua não tinha dito que as tempestades chegariam mais tarde no ano? 

– Numa tempestade real, ninguém conseguiria chegar perto do monte – respondeu um Heishi observando os céus – Isso é diferente. 

Arata deixou os Heishis avançarem. Na medida em que os mirins também atingiam o platô, Iori e ele reuniam seus homens para mais instruções:

– Muito bem, quero que mantenham a formação. Na próxima viagem, chegaremos ao topo.  Estejam preparados para ação. Mirins, sempre atrás de nós – olhava para sua filha na formação – Fiquem próximos ao núcleo, fui claro? 

Os mirins responderam em uníssono. Arata continuou:

– Yanaho deverá ficar junto com os outros – cruzava os braços à frente dos jovens – A princípio você não será um núcleo, mas se a formação quebrar, ou um dos nosso núcleos perecerem, é a sua deixa. 

Uma serena chuva caiu sobre o local depois da explicação de seus superiores. Os mirins se distribuíram pelo terreno ao tempo que improvisavam seus encostos para o breve descanso. 

– Já veio aqui nas suas viagens com o Shiro? – perguntou Umi, ao mirim de capa. 

– Meu máximo foi a fronteira com os verdes, que não é nem perto daqui – um raio iluminou o terreno – Acho que esse é o mais longe que já fiquei de casa.

– Meu pai sempre falou dos azuis para eu e Jin – sussurrava olhando de um lado para o outro – tanto contou dos horrores dos campos de batalha, para agora estar nessa de novo. 

– Você fala demais – se levantou Yukirama, apontando para os Senshis na frente – Acha que eles ficam pensando no que trouxe eles até aqui? Não está mais dentro do internato, então deixe de ser irritante.  

– Sensato – Kazuya apoiava as pernas pra cima num tronco. 

– Não me enche! – reverberou a garota, procurando uma árvore mais afastada para se proteger da chuva.

Alheio à conversa, Yanaho encostou sua cabeça em um tronco. Ele sentia a madeira estremecer com os trovões, as gotas da chuva baterem nas folhas e atingirem seu rosto. Abaixando a cabeça, ele colocou um pé na frente do outro, pensando:

“Será que eu estou pisando onde você já pisou… Suzaki”

De repente a floresta foi tomada por uma debandada de passos incessantes vindos de cima. Os mirins retomaram sua postura, os Senshis foram ao encontro da origem do som.

– Atenção, aí vem eles – gritou Iori.

O que saiu da floresta ao encontro dos Senshis na verdade eram uma avalanche de Heishis. Suas armaduras exalavam fumaça. Estavam rompidas, rasgadas e seus corpos feridos. Eles corriam, choravam, gritavam e se agarravam aos Senshis.

– Ele vai nos matar! Ele está vindo!

– Mas o que significa isso? – questionou Iori, olhando para os Heishis que o acompanhavam.

– Desacato?! – sugeriu um deles – Não pode ser, são muitos. 

A maioria dos fugitivos sequer se sustentava com as duas pernas. Eles cambaleavam, buscando apoio nas árvores, quando não caíam arfando e gemendo na grama. 

– Ei! – os Heishis da formação chutaram um dos feridos – o que pensam que estão fazendo?! 

– É ele… – apontou para o alto antes de desmaiar – O traidor… Ele está no topo. Não sobrou nada.

Com o anúncio, o soldado agressor arregalava os olhos, vendo a mesma expressão nos seus companheiros de formação que engoliram seco. Enquanto isso, Arata e os Senshis ajudaram alguns a ficarem de pé. Cada vez mais chegavam, exibindo as mesmas feridas, com os mesmos testemunhos.

– Os Kuro tomaram o topo? – concluiu Arata – tão rápido.

– Precisam conter qualquer avanço dos Kuro na descida – dizia um dos Heishis, encarando os feridos – Esses daí só precisam ser motivados para voltarem para luta. Eles sabem bem o que acontece se eles falharem.

–  E o que vocês vão fazer?! – Questionou o professor.

– Avisar o alto comando – metade dos Heishis se preparavam para descida – Precisamos montar nossas defesas, caso vocês falhem. As armas já estão montadas, né? 

– Com tão poucos Heishis, seria praticamente a mesma coisa se fizéssemos a proteção de todo esse terreno nós mesmos.

– Vocês podem ir – interrompeu Iori, tomando à frente – mas Arata vai com vocês. Também temos instruções a dar aos nossos Senshis na base. Eu só… preciso dar as últimas instruções a ele – trazia o professor consigo.

– Depressa! – pediu um dos soldados. 

Senshis, levem os feridos da linha de frente – ordenou Iori.

A dupla caminhou para baixo de um trio de árvores que formavam uma cobertura larga. Não havia ninguém por perto para ouvi-los.

– Até que ponto essa exibição foi ensaiada? – Arata bateu num tronco 

– O exército que conheci há duas décadas era mais corajoso que isso – respondeu Iori – Entendo que a maior parte do alto escalão deve ter ido naquele massacre, mas isso é demais. Mesmo assim, não acho que seja uma cena. Aqueles homens foram massacrados de verdade.

– Esse não é o mesmo exército – disse Arata, espiando os feridos – Mal posso chamar aquilo de exército. Eu não vi nenhum deles carregando uma espada

– Qual a chance deles terem mais de um mês de serviço militar?

– Esse desespero, falta de recursos, falta de comunicação. Um mirim com um ano de treinamento tem mais preparo – suspirou, cruzando os braços – O sucesso desta missão é determinante para formar um vínculo entre nós, Aka e Ao. Esta crise não será superada sem muito sacrifício do nosso lado. Se esse acordo não acontecer, todos morrerão por nada.

– Tudo por um lugar que, em alguns meses, ninguém vai querer chegar perto. Independente de um acordo entre as nações, isso não é uma vitória pros azuis? Proteger um território pouco importante com o sangue de uma nação rival debaixo de uma suposta promessa de aliança?

–Isso é… loucura! – disse Arata, passando a mão na cabeça 

– Me escuta, isso é só uma suspeita! Para confirmá-la – Iori segurou nos ombros de Arata – quero que vá junto com eles para a base da montanha. Os Heishis que desceram provavelmente vão contar uma versão diferente do que viram aqui. Com você lá serão obrigados a enviar reforços. Fique atento a reação deles, eu cuidarei daqui. 

– Tudo bem. Até lá, só peço que não arrisque os mirins sem necessidade.

Arata correu ao encontro dos Heishis. Após chamar por eles, o grupo iniciou sua descida pela montanha.  Iori saiu do esconderijo improvisado. Seus homens já haviam recolhido a maior parte dos feridos. Os que não estavam desfalecidos, deliravam nos braços de seus cuidadores:

– O traidor. Ele destruiu a nossa mina… Agora quer tomar tudo de volta! Vai tomar tudo e matar todos! 

– Você trabalhou nas minas?! – Iori agachou na altura do homem para questioná-lo.

– Comandante – um Senshi se aproximou dele – os feridos não param de falar dos Kuro. Um ataque é iminente. Pelo tempo, temos até pouco antes do amanhecer. 

– Estaremos prontos ainda no escuro. Reúna todos!

Enquanto Iori subia numa pedra, todos formavam um semicírculo ao redor dele: 

– Atenção! O inimigo se aproxima! Somos poucos, mas somos suficientes! Foram quase um ano de preparação. Esse será o primeiro passo para encerrar essa guerra. 

Todos ergueram seus punhos cerrados para o alto, aos gritos.

Senshis combatentes – continuou, apontando para o topo da montanha – Vocês serão a primeira linha de defesa. Quero que avancem devagar, mas qualquer barulho na floresta, qualquer pedra que rolar, vocês atacam.

– Sim, senhor!

– Os Senshis-núcleos vão acompanhá-los na retaguarda. Precisamos que vocês protejam a linha de frente e a evacuação dos Heishis que ainda podem vir do topo. Os Mirins vão proteger esses feridos até termos um número bom o suficiente para começar a descê-los. 

Os primeiros Senshis ordenados começaram a avançar pela floresta, seguidos pelos portadores de energia Shiro. Iori desembainhou sua espada.

– Eu estarei nas linhas de frente, coordenando a todos – apontou a lâmina para frente  – Vamos cumprir nosso dever, Senshis!

A euforia tomou conta dos Senshis mais experientes. Os olhos de Iori encontraram Umi na multidão, mas logo se voltaram para o que havia na frente. Os mirins seguiam o grupo, porém não deixavam os feridos para trás. 

– Vocês ouviram, vamos! – chamou Yukirama. 

Kazuya pegava um ferido em cada braço pelas tiras de couro penduradas em seus corpos, ao passo que o restante dos mirins dividiram um único corpo em duplas, pegando mãos e pernas. Quando Yanaho se aproximou de um dos Heishis, havia reparado na sua idade avançada. Ele fedia a metal queimado, estava destituído de qualquer proteção, muito menos de forças para ficar de pé. 

Yanaho então o ergueu do chão para colocá-lo nos ombros. Pelo caminho as auras dos Senshis da linha de frente iluminavam a floresta. A cor vermelha se misturava com o branco dos Senshis-núcleos.

“Imichi e Onochi sabiam que não dava para treinar todos. Mas alguns prodígios podem redistribuir o que sabem. O sangue Aka vira um canal para a energia Shiro. Quem quer que sejam nossos inimigos, eles tem sorte de que os dois são pacíficos”, pensou, quando ouviu tosses vindo do homem em seus ombros. 

– Onde estou? – protegeu sua vista da luz.

– Estou te levando para um lugar seguro – respondeu Yanaho. 

– Como se existisse um lugar assim. Nem minha casa é segura.

– Quando escapar com vida, pode encontrar outro lugar, mas eu preciso que fale o que aconteceu lá em cima

– Aquele garoto… eu lembro daquele rosto – levava as mãos na cabeça, blefando – Ele sempre ficava ao lado de Minoru.

– Faça esforço para lembrar. Tudo é importante – parou de correr, repousando o ferido de baixo de uma árvore. 

O pelotão parou. Kazuya passou por Yanaho, junto com os outros mirins, depositando os feridos todos juntos. Umi chegou por último, ficando como vigia enquanto os outros preparavam-se para um possível ataque mais a frente. 

O sopé da montanha recebia novos convidados. O céu começava a clarear, quando os Heishis chegaram com Arata e seu soldado ferido nos braços. Uchida tomou a frente, jogando os braços para o alto:

– O que o Aka faz aqui? Deviam estar em campo.

– Senhor, tentamos convencê-lo a ficar, mas ele insistiu. O topo já foi tomado – comunicou um dos Heishi – Precisamos contê-los e temos homens feridos para evacuar e…

– Os Heishis do outro lado estavam despreparados para a ameaça que veio até eles – interrompeu Arata – Meus Senshis são capazes, porém reforços vão garantir mais tempo. 

– Reforços? Vocês são os reforços! – puxou o capacete do soldado para baixo, que se desequilibrou caindo – Não vieram aqui apenas para assistir a nossa morte!

O homem nos braços de Arata alcançou as vestes de Uchida. Seus braços fracos balançaram o tecido e sua boca balbuciava a mesma palavra: 

– O traidor… O traidor… Ele que tomou o topo.

– Não me toque, seu imun – Uchida puxou o braço para um tabefe.

Seu braço descia contra o homem ainda nos braços de Arata, quando Kurome o impediu, aparecendo do seu lado. 

– Eu cuido disso – interrompeu o Tsuki – Precisa de reforços? Terá a mim e meus homens. Não vai precisar de mais ninguém. 

Arata concordou com a cabeça. Os preparativos para a segunda partida começaram por parte dos Heishis, enquanto o professor dos mirins colocava o soldado ferido para descansar na cabana mais próxima. 

Na distância, os mirins nas barricadas, quando Aiko apontou para o recém-chegado:

– Ei, o professor deveria retornar tão cedo? Cadê os outros?

Tsuneo cresceu seus olhos. Ele ficou de pé, atropelando os mirins na sua frente até chegar em quem procurava: 

– Professor Arata! 

– Calma aí – sinalizou de longe – Eu não quero nenhum de vocês vindo comigo.

– Não é isso – puxou-o para perto – eu ouvi uma coisa… A gente pode estar correndo muito perigo.

Arata olhou por cima do recruta e viu Kurome e os Tsuki prontos para partir. Ele então puxou Tsuneo para trás de uma cabana.

– Depressa garoto, porque preciso partir.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.



Comentários