Nisoiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume IV – Arco 12

Capítulo 98: Poder

Mesmo meio-dia, o céu cinzento encobria o clima na chegada dos reforços no norte do Império Ao. As forças Aka eram fileiras de cavaleiros e carruagens andando como um só, costurando cada montanha pelo caminho debaixo de um Sol opressor. 

O Monte Nokyokai estava à vista, porém a estrada tinha um bloqueio. Uma barricada guardada por um pequeno número de Heishis bem armados. Um deles colocou a cabeça para fora da barreira e falou com o Iori, que liderava o comboio:

Senshis, sejam bem-vindos a Nokyokai, mas não podem passar por aqui — curvou a cabeça — sou Torigami, Heishi do comando 

— Eu não vejo nenhum outro caminho — respondeu Iori olhando de um lado para o outro.

A estrada era cercada por uma mata fechada, por onde mais homens brotaram. Eram pessoas de baixa estatura, roupas escuras e olhos pintados de preto. O grupo cercou o comboio Aka. Os Senshis puxaram suas espadas, porém Iori deu a ordem para interromperem.

— Estes homens serão seu guia para o campo de batalha — disse o Heishi.

Um dos homens da emboscada subiu na carruagem e sentou-se ao lado de Iori. Sua pele pálida saltava aos cabelos, olhos e até roupas no qual eram destacadas por uma lua minguante. 

— Eu sou Kurome Tsuki — se declarou — Sei um caminho alternativo. 

— Por que soube disso só agora?

— Proteção — interrompeu o soldado de armadura — o Imperador tem inimigos à solta. Informações são dadas no momento certo, sem riscos de espiões. 

— Acredite, ninguém quer vir para cá — complementou Kurome — Quando cruzaram a encosta próxima do Vale do Trovão, sabia que não seriam seguidos.

— Exceto por vocês, pelo visto — retrucou Iori.

— Detalhes — levantou a voz o Torigami — Vieram aqui para ajudar, ou para discutir? Dêem meia volta, estaremos com vocês.

Atrás no comboio, os mirins viram seus superiores cercados pelas forças extras dos Heishis, apenas para ver tudo voltar ao normal. Tsuneo, enfiado nos carros, espiava pela janela a troca de olhares e sinais dos homens que os emboscaram.

— Senhor — chamou o Senshi que conduzia o transporte — Tá tudo bem?

— Agora não é lugar nem a hora, mirim.

— S-Sim, senhor — encolhia a cabeça.

O comboio retornou até uma bifurcação da estrada. O novo caminho que o grupo tomou passou por dentro de uma caverna. A cidade em seu interior estava acesa com lâmpadas nas casas e ruas, porém a população era mínima. A cada rua, um punhado de pessoas capazes de serem contadas nos dedos. 

Iori permaneceu em silêncio durante todo o trajeto. Arata, que vinha logo atrás, não tirava os olhos dos homens estranhos ao seu lado. Quando chegaram do outro lado, a estrada mergulhou para a base do monte, onde o restante das forças imperiais aguardavam por eles.

Guiados por Kurome, Iori e Arata encontraram no centro do acampamento um homem alto e forte, de barba rala e pele escura discutindo com dois subordinados.

— Quantos mais? — perguntou o homem.

— Eles erradicaram praticamente todos — explicou o soldado — Requisitando reforços.

— Assim vamos perder todo o… — se impediu de completar ao ver os recém-chegados.

— Comandante Uchida, os reforços chegaram.

O homem encarou Iori e Arata por cima dos ombros de Kurome. Com um gesto das mãos ele mandou o homem ao seu lado embora, antes de responder:

— Por que demorou tanto, capitão?

— As coisas não parecem boas — deu um passo à frente de Kurome — Sou Iori comandante dos Aka. Viemos aqui para ajudar. Qual a situação?

— Vocês sempre chegam se achando donos do lugar — deu uma breve risada — Mas aqui, vocês jogam pelas  nossas regras. Venha comigo.

Uchida guiou o grupo para uma saída para a floresta, montanha acima. Seus homens trabalhavam na mata, erigindo barreiras e preparando armadilhas.

— Nossos inimigos sobem a cada dia de batalha — apontou para o topo — É como se nossas forças nem existissem.

— Enquanto eles subirem, temos vantagem — observou Arata — Alguns dos nossos Senshis já seriam o suficiente para mandá-los de volta de onde vieram.

— Eu já mandei meus melhores homens para o topo, muito obrigado. Se eles falharem, vou deixar os Kuro ficarem com o topo.

— Como assim? — cerrou a face Iori — Querem que nós ajudemos a proteger a montanha com uma desvantagem do terreno? — aumentou a voz — Que tipo de estratégia é essa?

— Subir a montanha por si só, leva algumas horas. Não conhecemos o inimigo. Prefere avançar lá e encontrar tudo acabado, ou preparar a derrota deles aqui? — apontou para os baús e caixas levados pelos Heishis — Temos artilharia que acabou de chegar. 

— Já ia esquecendo — disse Kurome, mostrando um estojo de frascos de líquido negro — Seus Senshis vão precisar contra os Kuro.

— Por que usam isso nos olhos? — questionou Arata o analisando. 

— O nome é Seiva da Noite. É um líquido que anestesia o corpo. Usada nos olhos, sua visão fica parcialmente comprometida. Isso nos permite negar o poder ocular Kuro de que tanto falam. Eles viram uma silhueta com uma espada nas mãos.

— Não será necessário — respondeu Iori, tomando o frasco de Arata e guardando no estojo — Temos nossos próprios meios. Além do mais, nosso ataque será à distância, correto? Precisamos de visibilidade.

— Vocês, sim. Nós, não — virou-se de costa — Meus homens vão de encontro com a invasão Kuro quando começarem a descer. 

— Já terminaram? — protestou Uchida, levando as mãos na cintura — Temos trabalho a fazer.

Kurome e Uchida deixaram os dois líderes Aka parados na saída para o campo de batalha. Os mirins desembarcavam com a carga, enquanto os Senshis esperavam por ordens do lado de fora da cabana.

— Atenção! — despertou Arata — Nosso trabalho já começou. As equipes de montagem, comigo! Reconhecimento, com Iori. Eu quero nossas armas prontas até o cair da noite!

— Sim, senhor! — disseram em uníssono.

Ao retirar a última caixa da carruagem, junto com Yachi, Tsuneo reparou nos mesmos homens de veste escura de antes. Eles lançavam olhares sobre os mirins, antes de conversarem entre si. 

Reparou saindo de outra cabana outro homem, baixo e rechonchudo, de pouco cabelo, tinha nas mãos um pequeno pergaminho com um selo azul e dourado.

No andar mais alto da casa imperial, a sala que assistia toda população azul do topo contava com o imperador e seu convidado diante a mesa larga. Enquanto Satoru assinava e lia documentos com seu único braço lentamente, Onochi mantinha uma das mãos no queixo encarando o mapa do território Ao

De repente a grande porta novamente era perturbada com batidas, com a entrada concedida pelo dono do local. Adentrando estava o mesmo jovem com cabelos amarrados, erguendo um pergaminho de selo azul e dourado para o Imperador. 

A tensão no ambiente crescia apenas com o tímido barulho da areia descendo pela ampulheta, ao tempo que ainda sentado Satoru lia a mensagem entregue pelo sujeito que cruzava os braços ao lado da porta, sem tirar os olhos do Shiro

— Não me apresentou seu servo — quebrou o silêncio, Onochi. 

— Ele não é muito de falar — deslizava os dedos nas escritas — principalmente com visitas, certo? — desviou o olhar em direção ao garoto. 

— Doku Chisei, filho de Dohana e Tadashi Chisei — apertava seus braços — duas vítimas do usurpador! 

— Eu lamento — respondeu Onochi entristecendo a face. 

— Lamentar não muda nada — levantou a voz passando por Satoru — no fundo vocês e seus companheiros vermelhos estão aqui só por puro tédio. Meu pai me contou do que são capazes! — apontou o dedo na face do Shiro — Então não tome nossos problemas para você, como se fosse seu! 

— Calma — disse Satoru, se colocando entre os dois — tenho certeza que Onochi não sabe de nada — abaixou o braço de seu criado. 

— Não quero tomar problema de ninguém — ergueu uma das mãos — a questão é que Suzaki se tornou um problema para todos, como vocês mesmo noticiaram. 

— Viu só? Ele não sabe de nada — sorria afastando seu servo — Suzaki não se tornou um problema, ele sempre foi — retrucou Satoru.

— Eu e meu irmão, não saímos por aí fazendo inimigos — se ajeitou na cadeira — isso que quis dizer, alteza. 

— Justo — levou o dedo que folheava os documentos ao mapa — mas agora que ele é um inimigo, fico me perguntando o que vocês Shiro fariam com ele em mãos.

O barulho da areia descendo pelo objeto era acompanhado pelo deslize das mãos do imperador pela região de Nokyokai. Percebendo o aguardo da resposta, Onochi suspirou fundo respondendo:

— Bom, eu buscaria entender o motivo disso tudo.

— Me enoja! — se revoltou novamente Doku — ele matou meus pais, o Imperador e praticamente toda a corte das três famílias reais, além dos mais renomados Heishis! — ergueu a mão — eu vou te dizer o que farei com ele: Terei a cabeça dele em minhas mãos! E depois irei exibi-la como troféu para to…

— Seja inteligente Doku — interrompeu o Imperador — Onochi só gostaria de entender o porque ele faria isso tudo. Afinal, como ele pode matar o próprio pai? — se levantou olhando a vidraça. 

— É… por aí — encarou o chão. 

— É o suficiente Doku, está dispensado — ordenou ao seu criado.

Enquanto Onochi ficava sem resposta notando que uma gota de suor escorria sob sua testa, assim como a areia passava pelo estreito caminho da ampulheta.

O topo de Nokyokai, guardava um ar cortante e gélido. Cresciam mais pedras do que plantas no caminho dos Heishis que trabalham alimentando uma velha catapulta. O dispositivo no barranco tinha um mecanismo rígido que dobrava somente até a metade, obrigando os homens a empurrar os grandes e pesados projéteis montanha abaixo com as próprias mãos.

Após lançar outro pedregulho rolando montanha abaixo, o impulso do mecanismo derrubou um Heishi no chão. Ele rapidamente se levantou, enquanto ouvia as próximas ordens:

— Tentaram combate direto? Vocês são inúteis mesmo. Minerar aquelas pedras deve ter fritado mais do que seus olhos. Esses pretos nem são grande coisa. Lancem outra, eles não podem chegar perto.

Perto dali, outro grupo de Heishis empurrava mais um pedregulho com as próprias mãos, sob as ordens do outro chefe. Com sua corda enrolada nas mãos ele rodava a foice na sua ponta:

— Meu sócio e eu fomos muito bem pagos para resolver isso! Se vocês não querem terminar empalados na lâmina do inimigo, atirem tudo que tem neles! — virou para o rapaz loiro — Rui, vem cá!

Quando a próxima saraivada de pedras precipitou, os homens escutaram os gritos do exército rival mais alto. Eles então se viraram para o restante da tropa. Eram Heishis mais fortes, altos, portando espadas em vez de ferramentas de mineração. 

— Vamos mandar todos de volta na base da montanha — Rui então se virou ao segundo no comando — Kaito, está na hora!

— Arqueiros, comigo! — gritou.

Enquanto uma tropa se preparava para descer, os arqueiros fizeram fila logo atrás. Seus disparos soaram como um alarme nos ouvidos dos soldados imperiais, que avançaram assim que a chuva de flechas caíram sobre o outro lado da montanha.

— Malditos, como ainda continuam subindo? — Rui cerrou as mãos.

— Relaxa, a grana já é nossa. Mesmo assim, se a coisa piorar a gente tem como sair. Ninguém vai implicar com isso. É pegar um cavalo e meter o pé — se aproximou Kaito — já passamos por coisa pior.

— Eu ainda quero tentar uma última coisa — puxou uma pedra brilhante de um dos bolsos, enquanto protegia os olhos com uma das mãos — Me entregaram da escavação.

— O Imperador é mesmo muito generoso — se voltou aos arqueiros — O que estão esperando? Disparem de novo!

Abaixo do barranco, as tropas dos Kuro avançaram por cima de cadáveres dos dois lados. Passando por um dos corpos amassados pelo último pedregulho, o sujeito de vestes longas e negras reparava na estratégia do inimigo fitando seus olhos com o morro a frente, quando foi interceptado por outro do mesmo uniforme:

— Seus amiguinhos são covardes, Zeta. Mas inteligentes.

— Eles sabem do poder ocular — respondeu Suzaki, pegando um saco de pano que o cadáver deixou para trás — Estão evitando contato direto, atacando à distância. 

— Você vai avisá-los que nem antes? Ou vai ficar aí parado se achando melhor que eles?

— Até os últimos Heishis, eles estavam enviando trabalhadores das minas. Estão sem pessoal? Não, estão se preparando para o pior. Na descida, devemos esperar dificuldade.

— Está de conversa fiada? — avisou Kimijime, descendo da árvore e buscando cobertura debaixo de uma pedra, gritando — Vá!

Suzaki olhou para cima e viu as flechas descendo contra eles. Sua aura cresceu para além de seu corpo, criando uma bolha magnética que repeliu as pontas de metal. A seguir, vieram os gritos da Guarda Pacificadora mais a frente. Pouco depois, o rugido da corneta imperial. 

— Não me diga que está com peninha — Kimijime saía da proteção — devia ter ficado do lado deles então — caminhava em frente.

No momento que ameaçou correr morro acima, Suzaki bloqueou a passagem de seu companheiro com sua espada. Kimijime abriu um sorriso, erguendo os braços para o alto:

— Vá e mostre o motivo de estar aqui!

Sem dizer mais uma palavra, Suzaki correu para o fronte. Mais flechas caíam do céu. Os Kuro recuaram mais, pressionados pelos Heishis que agora atacavam destemidamente. 

Todos com seus escudos, batendo e recuando num casco de escudos ensaiado para se protegerem da chuva de morte que vinha.  Os coletores de Houkara se escondiam por suas vidas, mas a nova saraivada de setas encontravam seu caminho até seus pescoços.

Suzaki, no entanto, pulou por cima de toda aquela luta, de galho em galho. A bolha ao seu redor o protegia das flechas, enquanto subia ao topo.

“Quem tem poder decide tudo”, pensava Suzaki, vendo outra horda de Heishis passar abaixo dele. “Eu tenho poder. Então por que… Porque não quis decidir? E se eu for o mais poderoso?”

Suzaki desceu das árvores próximo ao topo, atacando a terceira frota de soldados. Empalando o primeiro, ele o usou como escudo humano. Como um aríete e baioneta, ele atravessou mais três inimigos antes de arremessar o cadáver junto com sua arma. O projétil rodopiou entre os inimigos, cortando seus membros, abrindo suas gargantas até voltar para as suas mãos. 

“Olhe só para eles”, arrancou o capacete de um deles. “Alguns podem ser Heishis, mas outros no máximo pegaram numa enxada durante toda a vida. Sacrifícios para os poderosos. Pelos poderosos que decidem.”

Ao emergir no topo, Suzaki não passou despercebido. Os homens de armadura que se preparavam para avançar, retiveram suas lâminas e ergueram seus escudos. Os arqueiros, por sua vez, tinham um novo alvo.

“Nobura está certo. Isso não é um erro ou coincidência. As coisas estão funcionando exatamente como planejado”, Suzaki deu um passo adiante.

A primeira fileira de arqueiros disparou. Suzaki rodou sua lâmina, refletindo todos os projéteis para o lado, na medida que corria na direção da guarda. Os Heishis sentiram seus escudos vibrarem até que um forte puxão os arrastavam pela terra. Alguns cederam, outros seguravam nele. 

Suzaki ceifou as vidas dos desprotegidos, penetrando nas linhas inimigas. Os arqueiros preparavam outro disparo, quando os escudos soltos pelos Heishis se alinharam na retaguarda de Suzaki. Após conter os tiros, com um gesto do braço, o antigo príncipe empurrou os escudos contra eles.

“Eu pensei que poderia mudar isso. Mudar Koji. Mudar o mundo. Mas meu pai também tinha razão. Ninguém me ouviria.”, refletia percebendo sangue se espalhando pelas suas vestes e solo, com pingos de chuva começando a cair. “Olhe para nós, essa guerra estava vindo muito antes de mim”.

De repente, uma corda se entrelaçou em seu pescoço. O Heishi bem na sua frente se preparava para o golpe derradeiro, quando uma descarga elétrica vinda da espada de duas pontas o imobilizou. Suzaki foi puxado pela corda até o chão, onde a próxima imagem que viu foi da ponta de uma lança descendo sobre seu rosto.

Ele ergueu a espada para se defender. Depois, deu uma rasteira em seus oponentes e desatou a corda do seu pescoço para recuar. Seus oponentes recuperaram suas armas, os Heishis o cercavam.

— Não é possível — Kaito ria, balançando sua corda com foice — Você? É o nosso dia de sorte, Rui.

— O imperador vai pagar muito bem pela cabeça dele — girava sua lança — E a gente vai poder terminar o que Tadashi interrompeu — apontou a ponta ao súdito — Não vai dizer nada?

Suzaki soprou ar entre seus dentes trincados. Seus olhos brilharam em azul. Os Heishis o cercavam numa roda. Com um giro da sua lâmina, Suzaki os afastou. Kaito saltou por cima de um deles, amarrando sua corda na empunhadura da lâmina de duas pontas. Uma lança viajou para o príncipe, que a agarrou com uma das mãos, enquanto a outra cedia na disputa por sua arma.

“Mesmo assim, eu matei todos eles. Se eu não queria decidir, por que fiz isso? Eu massacrei todos eles para evitar uma guerra?”, arremessou sua lança de volta em Rui, que a agarrou.

As linhas de energia que o ligavam à sua espada brotaram de seus dedos, mas antes que pudesse alcançá-la, uma flecha atingiu suas costas. Ele olhou para trás e viu um arqueiro de pé. O único. Depois, ele sentiu uma lança perfurar seu ombro. Pregado no chão, ele escutou a voz de Rui:

— Anda acaba com ele!

— Espada legal essa sua, mas é como Rui falou. Você não é essa besta que tanto falam — amarrou a corda em seu pescoço e apertou.

“Sinta a dor”, se lembrou Suzaki enquanto sua visão escurecia, juntando suas mãos perturbando os arredores. 

Uma ventania tomou os arredores, o Kazedamu lançou os três ao ar. Suzaki arrancou a lança de suas costas. A ferida estava maior, mas em pleno ar tomou impulso para arremessar a mesma arma na barriga de Rui.

Usando seu iro puxou sua arma com os fios de energia, desfazendo o nó da corda em seu pescoço puxando Kaito que a segurava. Aterrizando assim com a espada enterrada em seu peito, com o impacto formando uma onda elétrica ao redor.

“Não, evitar a guerra era só uma desculpa”, arrancou sua espada do mercenário. “Era isso que eu queria. Todos muito corajosos com outros para se sacrificarem por eles. Pessoas com poder, encontrando alguém mais poderoso que elas. Alguém que vai decidir as suas vidas”

As poucas nuvens no céu começaram a se agrupar. 

— Covarde — murmurou Kaito cuspindo sangue — Todo aquele papo só para vir e matar quem quiser — elevou o tom — para depois ir embora de novo? Seu covarde!

— Você é um hipócrita! — complementou Rui tirando a lança da barriga — Quem você ajudou além de si mesmo? — ria ao tempo que estancou o sangramento — Bem diferente de seu irmão, nosso legítimo Imperador! — anunciou sorrindo.  

Um trovão ressoou no céu a partir dos olhos arregalados de Suzaki frente a notícia, inclinando a cabeça se levantou:

— Satoru?

— Que-que foi? Ciúmes? O Imperador Satoru está recolhendo os cacos do que você quebrou! É o novo herói de nosso império!

De repente a lança ensanguentada ia novamente em direção de Suzaki, no qual desviou sem dificuldades. Mesmo com sangue escorrendo pelo seu corpo, Rui corria em direção ao súdito levando uma das mãos ao bolso. A poucos passos do alvo, ele sacou sua pedra. De repente, sua aura azul surgia, infectando a pedra com um calor forte.

Reconhecendo o minério, Suzaki arremessou sua espada de duas pontas para o lado, saltando contra o seu inimigo. Ambos caíram no chão, cegos pela luz do minério que havia escapado das mãos do dono.

— Onde conseguiu fulgur?!

— Agora é tarde — alcançando a pedra novamente — Eu te vejo do outro lado!

Unindo as mãos rapidamente, Suzaki se atirou para o ar com o sopro do Kazedamu, mas a pequena explosão ainda impregnou estilhaços em seu corpo. De Rui, restou somente um cadáver negro pelas queimaduras. 

Suzaki grunhiu levando a mão no ombro que se abria com uma ferida profunda, mas se voltou para Kaito, tomando sua arma em mãos perseguiu o mercenário que rastejava para longe. 

— Espera, me perdoe por favor! Eu nem gosto do Satoru de verdade, posso te falar onde ele está! Tenha misericórdia — pedia suspirando fundo — já me pagaram, nunca mais me colocarei no seu caminho!

“O mundo é muito grande. Eu sou pequeno”, pisou em Kaito. “Mas eles também são pequenos. Melhor ainda, são menores do que eu”, perfurou suas costas.

— Para! Garoto você não quer fazer isso, eu faço o que você quiser, eu imploro! 

— Mais alto — torceu a espada.

— Eu imploro! Por favor! — esperneou o sujeito.

“Matei a corte não para evitar a guerra, mas porque queria. Queria vê-los engasgarem no seu próprio poder e implorar pelas suas vidas miseráveis”, estocou Kaito novamente. “Eu vou fazer o mesmo com tudo que represente poder. Ao, Kiiro, Aka. Meu pai esperava que eu destruísse seus inimigos. Foi para isso que eu vim ao mundo. Eu nasci para matar!”

Alguns Heishis acordaram do choque, ao som dos trovões cada vez mais altos. Eles começaram a descer para o outro lado da montanha, quando um relâmpago desceu sobre o topo. 

Do outro lado, os Kuro se digladiavam contra os Heishis. Nenhuma chuva de flechas caiu sobre eles há tempos, nem pedras. A vantagem numérica dos homens do imperador empurrava a Guarda Pacificadora para trás, até que outro relâmpago estourou o terreno na retaguarda inimiga. Kimijime que assistia a tudo, sentado nas árvores, ficou de pé:

— Até que enfim está vendo quem é de verdade! — percebia Kimijime retirando seu capuz — Zeta!

Uma pequena tempestade de raios agrediu o cume de Nokyokai. Encurralados pelos Kuro de um lado, e Suzaki do outro, o que restava das forças azuis impedindo o domínio do monte, foi destruído. Enquanto os homens de Houkara passavam, Suzaki ficou parado. Kimijime foi ao seu encontro:

— Quanta ferocidade! Foi ela que destruiu a corte?

— Não — respondeu Suzaki se voltando para frente — Este é só o começo.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.



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